sábado, 10 de abril de 2021

DÍSTICOS DESAUTORIZADOS À SÊNECA

  


DÍSTICOS DESAUTORIZADOS À SÊNECA

Antônio Francisco das Chagas Sousa

Escritor, cronista e poeta

 

Meu mui respeitado Sêneca, por que não dá para ser estoico,

quem quer ter livros e mais livros, feito um paranoico?

Falaste mal deles, ou de tê-los em abundância

aqueles aos quais não os livram da ignorância?

Para aqueloutro Mestre, se “a alma não é pequena”,

tudo, inclusive, livros em profusão, vale a pena.

Rechaçar livros, à mão cheia, aos montes,

e se não for filosofia, mas falta de horizonte?

Avaliar o outro, como a si próprio vê: pobre,

não seria atitude estoica, nem das mais nobres.

Fingir hipócrita humildade, às vezes, encobre

atos suspeitos de um demagogo esnobe.

Vivesses entre nós, hoje, Sêneca, não teria outro jeito,

ou te transmutarias de estoico em cínico, ou nada feito.

Precisa usar conhecimentos contundentes nas argumentações,

o filósofo que se porta preconceituosamente em suas pregações.

Não seria inveja, daquele, não querer estar lá,

para não ter que cruzar com alguém que já lá está?

Hipocrisia ou não, dizer que não quer ir longe demais,

quando o que mais teme é não ter forças e ficar para trás?

Se não é ato de covardia afirmar estar muito bem aqui,

chamar do que, o de quem fica por medo de partir?

Mestre Sêneca, muita tranquilidade e um certo cuidado:

pois, com alma que não quer reza, deve haver algo errado.

Relembras o que sobre Júlio Canus certa vez, tu disseste?

Apesar de contemporâneos, sua grandeza é inconteste.

No que tange ao filósofo, tu te redimiste, é bem verdade;

até para um estoico, Mestre, é difícil livrar-se de toda vaidade.

 

A buscar tranquilidade para a alma, Sêneca, tu nos inspiraste;

fazer toscos versos como estes, claro que não: era outra tua arte.

 

(Poema feito após leitura do Livro Sobre a Tranquilidade da alma, de Sêneca, em 09/04/2021, 23:00h)

Nenhum comentário:

Postar um comentário