quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Pecado que não cometi




Pecado que não cometi


Carlos Rubem 


Nesta data em que assinala o nascimento de Cristo da Palestina — 25.12.2021 — como diria o lunático Geraldo Sá, acordei tarde. Na noite anterior, participei da ceia natalina na casa do vovô Joel. Muita reza e comilança. A petizada brincou pra valer!


Feita as abluções diárias, tomei meu café, ainda sonolento. Pelas 11h, dirigi-me à casa do meu avô paterno, Natu Reis, situada no coração de Oeiras, isto é, na Praça das Vitórias, donde se descortina evocativo cenário colonial.


Lá, encontrei as minhas irmãs Ceiça e Amada que foram visitar a tia Dóris, solteirona. A prima Darinha se fazia presente. Caiu um chuvinha mansa, fazia um friozinho gostoso. Afloram muitas lembranças familiares. 


Então, relatei um fato que me marcou para sempre, adiante exposto.


Natal de 1965. Os meus avós maternos passavam temporada na Casa-de-Fazenda Canela, encravada, hoje, no perímetro urbano. Quando pulei da rede, vi os presentes que Papai Noel me trouxe. Fiquei exultante!


Num quarto contíguo havia uma bicicleta que a mana Amada ganhou. Apesar das rodinhas laterais, ela não se aprumava neste veículo.


Sem que ninguém notasse, montei-me na bicicleta. Rumei-me ao centro da cidade. Passei na residência dos meus pais localizada na Rua da Feira. Estive na Igreja da Conceição onde era celebrada uma missa. Permiti que meninos do me tope desse umas voltinhas.


Depois, fui à casa do vovô Natu. Ao estacar defronte à calçada, a tia Dóris, deduzindo apressadamente, veio me parabenizar pelo presente que havia sido contempla.Nada lhe disse, porém. No fundo, queria que fosse verdade.


À tardinha, o meu pai, Ditinho Reis, como de praxe, usando um terno de linho branco, foi fazer parte da tradicional roda com seus irmãos, também enfatiotados, e demais familiares, na casa de seus pais. E ficou sabendo que eu teria dito que aquela bicicleta era minha.


Carrancudo, muito severo, à noite daquele dia, papai apareceu na Casa do Canela. Chamou-me às falas. Asseverei-lhe que não havia dito que a bicicleta a mim pertencia. Não acreditou. Aplicou-me três lapadas de palmatórias em cada mão. Pisa conversada para que nunca invejasse brinquedos das outras crianças.


Tudo se deu pela atrapalhação da tia Dóris. Nunca me esqueci desta injustiça sofrida. Por outro lado, não sou afeito ao pecado da cobiça!   

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