Carta sem resposta
Carlos Rubem
Em julho de 1979, estudante da Faculdade de Direito do Ceará, vim, como de costume, gozar férias em Oeiras. Tempo bom!
Por essa época, a Vanúzia França, que reside (ou residia) em Anápolis, cá veio rever sua parentela, conhecer melhor a terra natal de seus pais.
Tratava-se de uma supimpa morena de longas madeixas. Esbanjava beleza, simpatia e cordialidade.
Muito desejada pela rapaziada. Quem abocanhou o troféu fui eu. Interessante: um preterido questionou-lhe a escolha. Tomei conhecimento ao vivo dessa irresignação, porém nada disse a este “mui amigo”. Não tinha tempo a perder. Marcantes dias juntos passamos. Fizemos maravilhosos passeios.
Bola prá frente! Retomei meus estudos em Fortaleza. Ela retornou para aquela cidade goiana. A partir de então, passamos a trocar amáveis missivas. A vida nos afastou. Nunca mais dela tive notícias.
Há quarto anos localizei uma epístola da Vanúzia. De posse do endereço dela constante no envelope correspondente, redigi-lhe uma carta sem obter resposta, adiante transcrita:
Oeiras, 28 de agosto de 2018
Caríssima Vanúzia
Mesmo correndo o risco dessa carta nem chegar à sua destinatária — afinal, faz 38 anos que trocamos as últimas correspondências — torço por isso e, mesmo, ouso esperar que você a receba...
É que, remexendo meus arquivos implacáveis, encontrei uma supersimpática cartinha datada de 28 de fevereiro de 1980. Falando francamente, nem sei dizer, ao certo, se a respondi na época... Espero que sim, mas isso não vem ao caso. O que importa, mesmo, é relatar a emoção que senti ao lê-la hoje à tarde. Várias memórias voltaram... a nossa amizade, o carinho e a admiração mutuamente confessados, as confidências. Lembrei-me, também, de como a achava bonita e como me sentia bem fazendo inveja aos colegas quando saia com você. Gostarei se puder compartilhar essas memórias com você e, para tanto, estou-lhe enviando cópia xerox daquela missiva.
Sua carta faz referência ao livro, por mim editado em 1979, do meu “tio–herói” Gerson Campos e tenho imenso prazer de lhe informar que realizei, em 2013, uma segunda edição – ampliada e revisada – dos “Sonetos e Retalhos”. Naquele ano fazia 40 anos a morte do tio Gerson. Estou-lhe enviando um exemplar, por mim autografado, daquela obra póstuma.
Ansioso por saber se recebeu essa encomenda, despeço-me, com um terno e fraternal abraço.
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