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Vila do Poti, Vila Nova do Poti,
Teresina
José Pedro Araújo (*)
Teresina foi a primeira cidade
brasileira planejada. E isso se deu justamente para ser a capital do estado do
Piauí. Oeiras, a primeira capital, situada no sertão central da província,
distava muitos quilômetros de distância para o principal meio de acesso para o
restante do território, o rio Parnaíba.
Com a sua situação geográfica estrategicamente mal escolhida, a primeira
capital foi substituída pela nova, Teresina. E isso já vinha sendo planejado
desde muito tempo antes, existindo até o mesmo o local já escolhido para tal
mudança. Contudo, a reação dos moradores da velha capital era tremenda, e
postergou durante muito tempo a mudança. Até que o corajoso José Antonio
Saraiva, na época o jovem Presidente da Província, resolveu encarar o desafio e
fazer a tão esperada mudança. E como parte dos brasileiros desconhece
completamente a bela história desta cidade que hoje completa 170 Anos desde a
sua fundação, faremos aqui uma breve e sucinta narração da sua história.
O local escolhido para situar a
nova capital precisou ser alterado, ou mais precisamente, substituído por outro
a cerca de uma légua de distância da confluência dos dois rios, Parnaíba e
Poti. Por esse tempo, a vila criada no local idealizado por Maia da Gama já
estava em franca expansão quando Saraiva a visitou e se decidiu pela mudança. O
comércio local vicejava e se expandia com rapidez, até já possuía uma capela
erigida em intenção a Nossa Senhora do Amparo, e também um vigário, Mamede
Antonio de Lima. Este, aliás, um dos três personagens mais importante no
processo de instalação da cidade que logo passou a ser chamada de Teresina,
juntamente ao próprio Saraiva, além do mestre de obras português, João Isidoro
de França.
Formada na intercessão dos dois
rios desde primórdios do século XVIII, a Vila da Barra do Poti demorou mais de
um século para adquirir pequena população, pois possuía lento desenvolvimento.
Seus moradores viviam da criação de gado, da pesca e da produção de alimentos.
A construção da capela em intenção a Nossa Senhora do Amparo, deu-se ainda no
século XVIII, suprindo uma lacuna reclamada pelos moradores
Somente em setembro de 1827 o
imperador D. Pedro I elevou o local à condição de Freguesia, concedendo-lhe
foro eclesiástico e civil. E cinco anos depois, em 1832, novo ato imperial
elevava a povoação à condição de Vila.
O pároco local, Frei Mamede Lima,
teve importância preponderante no convencimento da população da Barra do Poti
para proceder a mudança. Ativo, envolvente e respeitado pelos seus concidadãos,
logo se juntou a um grupo de moradores importantes da vila, e partiram para a escolha
do lugar ideal para situar a nova povoação. O local escolhido ficava nas terras
pertencentes ao sesmeiro Manoel Domingues Gonçalves Pedreira, área situada nas
margens do rio Parnaíba, mas em local elevado e plano, com terreno firme, sem a
presença dos baixões alagadiços da velha Vila da Barra do Poti. Neste ponto
entra em cena o outro personagem importante: João Isidoro da Silva França, ou,
Mestre Isidoro França. Foi ele o responsável pelo planejamento urbano da nova
vila, como de resto pela construção das primeiras edificações, como a Igreja do
Amparo, primeira edificação da nova vila, da Cadeia Pública, do Cemitério
Velho(São José), e do Quartel de Polícia.
Este momento histórico importante
está registrado em carta dirigida pelo mestre de obras ao Presidente da
Província, José Antônio Saraiva. Este é o outro personagem importante nessa
história, quiçá o maior deles. Ativo e organizado, o mestre Isidoro deu a
conhecer ao administrador o fruto inicial do seu trabalho: “Tenho a grande
honra e satisfação de levar ao conhecimento de V. Exa. que no dia 25 do
corrente teve lugar a primeira pedra no alicerce da Porta do Evangelho da nova
Matriz”. Obra de maior porte em execução, a Matriz transformou-se em problema
para a administração central, uma vez tendo apresentado problemas nas suas
fundações, o que provocou enormes rachaduras. E isso obrigou o governo a
suspender a sua construção por avultado tempo. Enquanto isso, a fofoca corria
solta na vila sobre a segurança da obra, incomodando sobremaneira o governo
instalado na nova sede.
Pelo que se pode ver, nem um
palácio para o governo se tinha, obrigando-se o Presidente da Província a se
instalar em casa alugada, situação que permaneceu por muito tempo assim. Depois
de pouco mais de dois anos a frente do governo, Saraiva foi embora para a Bahia
para desempenhar por lá mandato de deputado provincial. Por aqui, os recursos
do tesouro eram tão escassos, que a simples perfuração de um poço cacimbão para
abastecer de água os moradores de Teresina, foi motivo de registro em relatório
apresentado à assembleia provincial, pelo sucessor de Saraiva. Alegava o
administrador aos deputados haver necessidade de se construir mais alguns, mas
que as combalidas finanças públicas não permitia. O poço foi perfurado no Largo
da Constituição, em frente ao palácio do governo, hoje Praça da Bandeira ou
Deodoro.
Era essa a Teresina da época. A
maior parte das obras em execução na cidade foram feitas por gente da antiga
Vila da Barra do Poti que, convencidos por Saraiva, haviam acreditado na
transferência da sede do governo para a Vila Nova do Poti (Teresina). Do mesmo
modo, a pedido do Presidente da Província, esses mesmos moradores construíram
novos prédios para a instalação das repartições públicas, para a escola de
artífices e, sobretudo, para servirem de residência, tanto às autoridades
quanto para os demais funcionários transferidos de Oeiras para a nova sede do
governo provincial.
Vila da Barra do Poti virou um
bairro de Teresina, o Poti Velho e, segundo o Censo de 2010, viviam em torno de
3.730 habitantes. N. S. do Amparo, a santa padroeira de Teresina tem morada em
dois templos: o primeiro, transformado hoje em capela, fica exatamente no Poti
Velho, e guarda em um nicho construído no seu adro, a imagem da padroeira
trazida de Portugal em 1832, doada pela família Pedreira, proprietária da
sesmaria onde a nova cidade foi erguida. A Matriz de Nossa Senhora do Amparo,
foi construída depois de 1852, no marco Zero da cidade de Teresina, é um dos
mais belos templos religiosos do Brasil. A capital, portanto, possui duas
moradas para a sua padroeira. E também realiza festa para ela em duas datas: 16
de agosto, em Teresina. E 25 de novembro, no Poti Velho. O templo situado na
Praça da Bandeira, com a frente virada para o rio Parnaíba, já passou por
inúmeras reformas, e teve as suas duas torres em estilo neogótico erigidas em
1950 para as comemorações do primeiro centenário da cidade, e dela própria.
Teresina teve o seu traçado
planejado a partir do Marco Zero. Em formato de xadrez, o planejamento inicial
da cidade previa a distribuição, de forma gratuita, de sete quarteirões para o
lado sul, e três para o norte. As ruas possuíam forma retilínea, e partiam da
Igreja do Amparo em direção ao Poti. Demorou pouco tempo para a cidade começar
a tomar forma.
Teresina é hoje uma das mais
belas cidades brasileiras, com suas ruas largas, suas avenidas arborizadas, e
seus parques instalados ao longo dos rios, e em diversos pontos do seu traçado.
Valeu muito a pena a luta de José Antonio Saraiva para instalar na Chapada do
Corisco, em pleno sertão, uma comunidade para sediar o governo. A cidade hoje
possui as suas contradições, as suas carências, como todas as outras existentes
no nosso país, mas como é bela, agradável e charmosa! Parabéns, Teresina, como
é gratificante viver aqui!
(*) José Pedro Araújo, é engenheiro agrônomo, funcionário público aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.
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