terça-feira, 17 de janeiro de 2023

SAUDADES DE MINHA INFÂNCIA

 

Rio Parnaíba, visto da Toca do Velho Monge, na Várzea do Simão


SAUDADES DE MINHA INFÂNCIA

 

Ana Paula Rodrigues de Souza

Especialista e mestranda

 

Morei toda minha infância e adolescência no interior chamado Gameleiras 7 km até a Comunidade Várzea do Simão, Município de Buriti dos Lopes - PI.

Estudar naquela época sempre foi meu foco, e meu pai sempre fala: “O futuro de quem mora no interior é o estudo”.

Com os livros colocado em uma sacola de pano ou de sacos plásticos ia ao encontro de minhas primas e pé na estrada de barro e poeira, passando por carnaubais e matas de campestres destino a escola, Unidade Escolar João Simão, escola na qual cursei até 4ª série do Ensino Fundamental. E para cursar o Ensino Fundamental maior e Ensino Médio e Faculdade cursei na cidade de Parnaíba. Então, naquela época minha mãe (Maria do Amparo) minha maior incentivadora, naquela época era professora, além de outras como Maria dos Remédios a (tia Remédios, minha professora na época) e Srª Gorete, (falecida). Eu acordava cedinho corria para Lagoa Boa Fé tomava banho, meu café com leite mugido, Cuscuz e ovos mexido, pegava meu material na sacolinha e pé na estrada poeirenta.

Naquela época, íamos para a escola caminhando e não recamávamos, na escola tirava notas azuis e morria de medo de notas vermelhas no meu boletim. Tinha que ser acima de 7. Tempo em que não tínhamos Bolsa Família nem auxílio emergencial, o meu fardamento e material escolar, todos quem comprava era meu pai com muito suor do trabalho forçado.

O calçado era conga, ou havaianas de cabresto grosso e se quebrasse colocávamos um prego no cabresto e assim íamos para escola feliz. Mas o meu sonho de consumo era o sapatos All Star (tive um! ); não tínhamos celular e nem internet. Na minha casa naquela época tínhamos apenas a luz de lamparina e lampião, eu estudava a luz de lamparina e era assim que respondia todas as tarefas vindo da escola.

Na escola adorava quando a professora usava mimeógrafo e aquele cheiro do álcool tomava conta da sala, e quando íamos estudar a tabuada e fazer a lição, (leitura de texto). As pesquisas eram feitas em livros velhos guardado na escola, não tínhamos dinheiro para ter enciclopédias em casa. O trabalho era escrito à mão e na folha de papel almaço, a capa era feita com papel sulfite. Tinha dever de casa para fazer, a Educação Física era de verdade, brincávamos na areia na hora do intervalo de queima, pega bandeira e pula elástico, torcia para o intervalo não termina. Na hora da chamada tínhamos que responder à chamada da professora dizendo presente, não podia chegar atrasado e ainda cantávamos o Hino Nacional no pátio antes de ir para a sala de aula. Mas, as vezes chegamos atrasados porque quando era inverno tudo alagava e íamos para escola de canoa e lá seguíamos eu e minhas primas para a escola, então demorava mais até que chegávamos.

Na escola tinha o Gordo; a Magrela; Quatro Olhos; a Baixinha; Olívia Palito; o Palitão; o Cabelo Bombril, a branca azeda, a espeto de assar manjuba, o cavalo de zé da Graça, a Burra pampa, a Dente de burro e por aí vai... Todo mundo era zoado, às vezes até brigávamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a amizade... Era brincadeira e ninguém se queixava de bullying. Existia o valentão, a zangadona e até aquela que chorava de mais. Mas também existia quem defendesse.

O lanche servido na escola era o melhor de todos, a sopinha de letras ou de número, aquela carne de jabá e até o mingau de aveia, hummm uma délicia!!!, não tinha quem reclamassem. Na hora do descanso, era o momento mais lindo todos deitados no chão da sala de aula e lá mesmo cochilávamos sem se preocupar com nada.

Época em que ser gordinho(a) era sinal de saúde e se fosse magro, tínhamos que tomar o Biotônico Fontoura e comer bastante para engordar.

Ao entardecer a palavra já para casa! suava alto e eu: "peraí mãe " era para ficar mais tempo na frente de casa brincando de roda ou de pega-pega e não no computador ou no celular!!!...

Colecionávamos pedrinhas, elásticos, figurinhas, papéis de carta, etc. Eu tinha vários elásticos e uma caixinha de dominó que meu pai comprou na época. As brincadeiras eram saudáveis, brincávamos de bater em figurinhas e não nos colegas e professores, de jogar pedrinhas, de jogar dominó, etc. Na bolsa de material eu carregava a cartilha, a tabuada, lápis e borracha, mas não podia faltar as pedrinhas e o elástico para minhas brincadeiras preferida.

No interior, as brincadeiras era jogar bola, queimado, pular corda, subir em árvores, pique bandeira, pular elástico; pique-esconde, polícia e ladrão; andar de bicicleta, tomar banho na lagoa da Boa Fé ou brincar na casa de forno do vô Domingos Mendes, pai de meu pai. Muitas vezes com a minha mãe ou a minha tia Claúdia olhando a gente brincar, elas nunca deixavam nós sozinhos, era uma chatice, mas era o jeito.!!!. Comia as vezes na casa da vó Raimunda Mendes mãe de meu pai, mas só quando meu pai sai para cuidar do gado e minha mãe ia trabalhar. Na escola não importava se meu amigo era negro; branco; pardo; rico; pobre; menino; menina, todo mundo brincava junto e como era bom. Bom não, era maravilhoso!...

Que saudades desse tempo em que a chuva tinha cheiro de terra molhada! Em que pisar na poça de lama e depois ir para escola era divertido. Época em que nossa única dor era quando passava Merthiolate ou violeta nos machucados. Felizes em comparação com esse mundo de hoje onde tudo se torna bullying. Nossos pais eram presentes, mesmo trabalhando fora o dia todo, educação era em casa, até porque, aí da gente se a mãe tivesse que ir à escola por aprontarmos. Nada de chegar em casa com algo que não era nosso, desrespeitar alguém mais velho tínhamos que pedir desculpas. Era um puxão de orelha, ou castigo logo ou só aquele olhar de “vc vai ficar sem brincar la fora hoje”.

Tínhamos que levantar para os mais velhos sentarem. Fico me perguntando, quando foi que tudo mudou e os valores se perderam e se inverteram dessa forma? Meu Deus! Hoje, os filhos não respeitam mais os pais, filho grita alto com os pais, os pais não tem mais domínio sobre os filhos. Que geração é essa de hoje? Quanta saudade, quantos valores, que para esta geração não vale nada! por tudo que vivi e aprendi. Que saudades da minha infância.   

Um comentário:

  1. Que maravilha de texto! Quantos ensinamentos e aprendizados. Os tempos são os e textos assim, refrescam a nossa memória. Parabéns!

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