sexta-feira, 28 de março de 2025

É DOS CARECAS QUE ELAS GOSTAM MAIS?


Foto vista no livro Poemágico

É DOS CARECAS QUE ELAS GOSTAM MAIS?


Elmar Carvalho

 

No cruzamento das ruas Lizando Nogueira com David Caldas, encontrei o Nonato Teixeira, dedicado servidor da Caixa Econômica Federal. Como ele quebrasse um chapéu de lado, como diz a canção popular, disse-lhe que voltaria a fazer uso dos meus. Respondeu-me que usava chapéu por necessidade, uma vez que os raios solares já lhe estavam prejudicando a pele.

 

Contei-lhe que, no dia da eleição, a presidente da seção comentou, ao ver minha carteira de identidade, que eu estava muito novo na fotografia. Disse-lhe, a título de curiosidade, que eu molhara bem os cabelos, para que parecessem curtos, pois na época eu usava uma avantajada e encaracolada cabeleira. Em resposta, ela me disse que hoje eu quase já não os tinha, como se eu próprio não o soubesse. Retruquei-lhe: “E o tempo levou”, em trocadilhesca alusão ao inesquecível filme americano com esse título.

 

Nessa já remota época, após o banho, eu não queria saber de pente, nem de escova; sacudia com força os cabelos, para um lado e para o outro, para cima e para baixo, para que eles ficassem ondulados ao secar. O Nonato, no seu estilo bonachão, aduziu que o tempo nos roubara a juba, ou algo semelhante. Isso me inspirou a fazer estes versos cretinos, sem nenhum valor literário: “Já fui senhor de cabeleira basta, / mas o tempo que todo me devasta, /a vasta madeixa me desbasta.”

 

O poeta Castro Alves, que tinha boa aparência física e teve vários amores, usava uma volumosa cabeleira encaracolada. Conta a história literária que quando ele ia sair para uma de suas noitadas boêmias ou à caça de alguma conquista amorosa, quase sempre vestido de preto, penteava cuidadosamente os cabelos, frente ao espelho, e advertia, embora apenas para si mesmo: “Tremei pais de família! Don Juan vai sair.” Apesar da imponente juba, o poeta aparece, em algumas fotografias, usando também um chapéu.

 

O uso de chapéu não deve ser entendido apenas como sinal de vaidade; ao contrário, pode servir como símbolo e advertência de que existe algo ou alguém acima de nós. Apesar da afirmativa peremptória da antiga marchinha carnavalesca, não tenho certeza se é dos carecas que as mulheres gostam mais. De qualquer sorte, pelo menos a minha, foi contra eu fizesse implante capilar. O meu bolso, penhorado, agradece.

 

Não resta nenhuma dúvida, estou mesmo decidido: voltarei a usar chapéu, seja como proteção contra a devastação dos raios solares, seja por vaidade, que já me é quase finda.

2 de novembro de 2010

2 comentários:

  1. Não sei se elas gostam mais dos carecas. Mas, tenho percebido que, muitas se derretem, diante dos grisalhos.
    Wilton Porto

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  2. Parece, mestre, que a perda de cabelos deixa brechas para a criatividade entrar na cabeça e se alojar no cérebro.

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