Caderno de Letras Meridiano[1]
Carlos Evandro M. Eulálio
Da Academia Piauiense de Letras
(cadeira 38)
É com grande alegria que
celebramos hoje o lançamento do livro Meridiano Caderno de Letras, com
apresentação primorosa da acadêmica Maria do Socorro Rios Magalhães. Numa
edição crítica, nele reunimos os três únicos números dessa notável revista.
A revista Meridiano Caderno de
Letras foi idealizada pelos imortais da Academia Piauiense de Letras, M. Paulo
Nunes, H. Dobal e O. G. Rego de Carvalho aos quais rendemos efusivas
homenagens. A revista teve curta duração, mas constitui valioso significado
para a memória literária do Piauí. Circulou em Teresina, nos meses de outubro e
dezembro de 1949 e setembro de 1950. Seu último número é todo dedicado à obra
do poeta Da Costa e Silva, falecido no Rio de Janeiro em 29 de junho desse
mesmo ano.
Agradeço sensibilizado o apoio
que recebi da presidente Fides Angélica Ommati que compreendeu o propósito de
minha iniciativa, viabilizando, por meio da Editora Nova Aliança e do governo
do Estado do Piauí, a publicação desse importante periódico sobre o qual apenas
se sabia de sua existência, mas se desconhecia a riqueza de seu conteúdo,
inédito há quase 80 anos.
O Caderno de Letras Meridiano é considerada um marco na literatura do
Piauí e um importante veículo de divulgação de nossos escritores que atuaram em
Teresina na década de 1940 e 1950. Eram vozes diversas, inquietas, abertas ao
novo — vozes que, mesmo em um contexto de escassos meios editoriais,
compreenderam a importância do momento de transformação literária em nosso
meio. Sobre o aspecto inovador que a revista representava na época, diz M.
Paulo Nunes:
“O caderno de Letras Meridiano,
mesmo sobrevivendo somente até o terceiro número, significou o momento de
renovação da literatura piauiense e marcou época, inaugurando a tomada de
consciência de que era preciso mudar algo na literatura piauiense”.
Em suas páginas lemos artigos de
nomes da importância de Edson Regis, Da Costa Andrade, Martins Napoleão,
Francisco Pereira da Silva e outros, além dos primeiros contos de O. G. Rego de
Carvalho, dos artigos do professor Clemente Fortes, que só agora deles
tomaremos conhecimento, dos magníficos ensaios de crítica literária de M. Paulo
Nunes, das poesias e traduções de H. Dobal, que também escreve o admirável
artigo D. Quixote versus Robson Crusoé.
Sobre esse ensaio diz o poeta e
crítico literário Mário Faustino, em carta ao filósofo Benedito Nunes,
residente em Belém do Pará. Mário se encontrava em Teresina, visitando parentes
e amigos. Eis o trecho da carta datada de 27 de dezembro de 1950:
“[...] Agora a surpresa: sabes
que aqui tem gente culta, inteligente, moderna e de espírito à beça. Se eu
arranjar, vou te mandar os três números de uma revistinha de novos daqui:
Meridiano”. Tem um rapaz que escreve uns belos poemas, muito simples, muita
poesia e muito bom gosto, traduz otimamente ingleses e americanos (inclusive o
Eliot e o Cummings). Eu dizendo tu não acreditas. Desse mesmo rapaz, que não só
tem talento, mas também uma boa cultura, li um interessantíssimo artigo sobre o
egoísmo inglês e a generosidade e o heroísmo espanhóis, sobre a solidão e a
solidariedade dos saxões e dos latinos, intitulado “D. Quixote versus Robinson
Crusoé”. Esse rapaz cita Santa Teresa, Lope de Vega, Quevedo, Calderón,
Shakespeare, Unamuno, Bunyan, John Donne, com uma seriedade espantosa. Só tu
vendo. Nessa revista tem gente que escreve falando em Claudel, Péguy, Rilke,
Göethe, uma coisa incrível! Esse Norte é mesmo o tal! Tem muita gente estudiosa
por toda a parte, até no Piauí!!!” (Faustino, 2017, p. 29)[2].
Ao organizar este livro, procurei
não apenas compilar documentos, mas realizar um trabalho de pesquisa, visando
aproximar o leitor de textos raros da nossa historiografia literária. Que esta
obra cumpra não apenas o papel primordial de resgatar preciosos textos da
literatura piauiense para a posteridade, mas também sirva como um material de
pesquisa, indispensável aos nossos professores, estudantes e todos aqueles que
apreciam a boa leitura.
[1] Lançamento da obra Meridiano Caderno de
Letras, organizado por Carlos Evandro M. Eulálio, em sessão solene na Academia
Piauiense de Letras, realizada no dia 6 de dezembro de 2025.
[2] FAUSTINO, Mário. Meu caro Bené: cartas de Mário Faustino a Benedito Nunes / Organização, apresentação e notas de Lilian Silvestre Chaves – Belém: Secult, -PA, 2017.

Nenhum comentário:
Postar um comentário