quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Caderno de Letras Meridiano[1]



Caderno de Letras Meridiano[1]

 

Carlos Evandro M. Eulálio
Da Academia Piauiense de Letras (cadeira 38)

 

É com grande alegria que celebramos hoje o lançamento do livro Meridiano Caderno de Letras, com apresentação primorosa da acadêmica Maria do Socorro Rios Magalhães. Numa edição crítica, nele reunimos os três únicos números dessa notável revista.

 

A revista Meridiano Caderno de Letras foi idealizada pelos imortais da Academia Piauiense de Letras, M. Paulo Nunes, H. Dobal e O. G. Rego de Carvalho aos quais rendemos efusivas homenagens. A revista teve curta duração, mas constitui valioso significado para a memória literária do Piauí. Circulou em Teresina, nos meses de outubro e dezembro de 1949 e setembro de 1950. Seu último número é todo dedicado à obra do poeta Da Costa e Silva, falecido no Rio de Janeiro em 29 de junho desse mesmo ano.

 

Agradeço sensibilizado o apoio que recebi da presidente Fides Angélica Ommati que compreendeu o propósito de minha iniciativa, viabilizando, por meio da Editora Nova Aliança e do governo do Estado do Piauí, a publicação desse importante periódico sobre o qual apenas se sabia de sua existência, mas se desconhecia a riqueza de seu conteúdo, inédito há quase 80 anos.  

 

  O Caderno de Letras Meridiano é considerada um marco na literatura do Piauí e um importante veículo de divulgação de nossos escritores que atuaram em Teresina na década de 1940 e 1950. Eram vozes diversas, inquietas, abertas ao novo — vozes que, mesmo em um contexto de escassos meios editoriais, compreenderam a importância do momento de transformação literária em nosso meio. Sobre o aspecto inovador que a revista representava na época, diz M. Paulo Nunes:

 

“O caderno de Letras Meridiano, mesmo sobrevivendo somente até o terceiro número, significou o momento de renovação da literatura piauiense e marcou época, inaugurando a tomada de consciência de que era preciso mudar algo na literatura piauiense”.

 

Em suas páginas lemos artigos de nomes da importância de Edson Regis, Da Costa Andrade, Martins Napoleão, Francisco Pereira da Silva e outros, além dos primeiros contos de O. G. Rego de Carvalho, dos artigos do professor Clemente Fortes, que só agora deles tomaremos conhecimento, dos magníficos ensaios de crítica literária de M. Paulo Nunes, das poesias e traduções de H. Dobal, que também escreve o admirável artigo D. Quixote versus Robson Crusoé.

 

Sobre esse ensaio diz o poeta e crítico literário Mário Faustino, em carta ao filósofo Benedito Nunes, residente em Belém do Pará. Mário se encontrava em Teresina, visitando parentes e amigos. Eis o trecho da carta datada de 27 de dezembro de 1950:

 

“[...] Agora a surpresa: sabes que aqui tem gente culta, inteligente, moderna e de espírito à beça. Se eu arranjar, vou te mandar os três números de uma revistinha de novos daqui: Meridiano”. Tem um rapaz que escreve uns belos poemas, muito simples, muita poesia e muito bom gosto, traduz otimamente ingleses e americanos (inclusive o Eliot e o Cummings). Eu dizendo tu não acreditas. Desse mesmo rapaz, que não só tem talento, mas também uma boa cultura, li um interessantíssimo artigo sobre o egoísmo inglês e a generosidade e o heroísmo espanhóis, sobre a solidão e a solidariedade dos saxões e dos latinos, intitulado “D. Quixote versus Robinson Crusoé”. Esse rapaz cita Santa Teresa, Lope de Vega, Quevedo, Calderón, Shakespeare, Unamuno, Bunyan, John Donne, com uma seriedade espantosa. Só tu vendo. Nessa revista tem gente que escreve falando em Claudel, Péguy, Rilke, Göethe, uma coisa incrível! Esse Norte é mesmo o tal! Tem muita gente estudiosa por toda a parte, até no Piauí!!!” (Faustino, 2017, p. 29)[2].

 

Ao organizar este livro, procurei não apenas compilar documentos, mas realizar um trabalho de pesquisa, visando aproximar o leitor de textos raros da nossa historiografia literária. Que esta obra cumpra não apenas o papel primordial de resgatar preciosos textos da literatura piauiense para a posteridade, mas também sirva como um material de pesquisa, indispensável aos nossos professores, estudantes e todos aqueles que apreciam a boa leitura.

 

[1] Lançamento da obra Meridiano Caderno de Letras, organizado por Carlos Evandro M. Eulálio, em sessão solene na Academia Piauiense de Letras, realizada no dia 6 de dezembro de 2025.

[2] FAUSTINO, Mário. Meu caro Bené: cartas de Mário Faustino a Benedito Nunes / Organização, apresentação e notas de Lilian Silvestre Chaves – Belém: Secult, -PA, 2017. 

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