segunda-feira, 14 de setembro de 2020

ARAKKËN, O CEARENSE VIKING

Desenhos de Diana Couto, 13



ARAKKËN, O CEARENSE VIKING

Vitor de Athayde Couto

Escritor e cronista

Os novos ricos dos anos 70 usavam camisas e gravatas de cores berrantes e paletós com ombreiras. Quem captou essa imagem cafona, contemporânea do Abba, com suas capangas, cintos e sapatos de fivelão, foi o cearense Didi Mocó, nos Trapalhões. Ele vestia roupas da Mesbla, com etiquetas à mostra, para provar que a roupa era nova.

Não bastassem os privilégios do regime militar, os locupletados ainda queriam ser nobres. Mas novos ricos raramente lêem livros. Nos obscuros anos de chumbo, livros coloridos só serviam para decorar suas estantes. Os decoradores compravam livros por metro. Só não podiam comprar a Enciclopédia Larousse, porque tinha capa vermelha. Os agentes da censura diziam que isso era coisa de comunista, e que Larousse significava “A Rússia”. Nas fotos da revista Manchete (ainda não existia “Caras”) viam-se sub-celebridades fazendo pose diante de metros de livros coloridos que decoravam salas de estar. Arquivos de fotos podem provar que essa mania de fazer pose na frente de bibliotecas não é de hoje. É de ôôôje! – como dizem os baianos, com sabedoria.

Sem mercado para livros, as editoras passaram a produzir brasões, impressos em papel, com vários nomes de famílias. Escravos africanos, vendidos no Brasil, recebiam os mesmos sobrenomes dos donos. É daí que vem esse murundu de Silvas e Souzas, e outros nomes muito comuns, predominantemente portugueses. Um líder do movimento negro informou ser essa a razão de existirem muitos Oliveiras no Recôncavo Baiano. Assim, é fácil deduzir por que os novos ricos brasileiros não tinham nenhuma dificuldade de encontrar seus “brasões”. Além do nome, havia representações de armas, escudos, elmos, crescentes, estrelas, até sãos jorges combatendo dragões.

Nos últimos meses, vem-se observando uma onda de novos ricos, fardados e togados, em busca de suas origens. Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Mais uma vez os empresários redescobrem esse promissor nicho de mercado da vaidade humana. Grandes laboratórios lucram com o DNA de cidadãos dispostos a pagar para identificar seus antepassados. Lucram com os pagamentos dos usuários do serviço e sabe-se lá o que fazem com informações genéticas dos clientes, dados pessoais ultra sensíveis. Foi aí que um pessoal do Ceará resolveu gastar a sua fortuna. Um laboratório americano concluiu que o DNA dos cearenses analisados é 17,7% viking.

Memes à parte, muita gente ainda crê nas narrativas de guias turísticos, com base nos Schwenhagens e Dänikens da vida, que “comprovaram” serem os vikings os primeiros ocupantes do Piauí. Quando Erich visitou as Sete Cidades, encontrou logo uma “prova”: seu guia, embora fosse nativo, chamava-se Walkyr. Mas ele ainda não tinha visto nada. Hoje, os recém-nascidos têm nomes mais complicados do que os dinamarqueses.

Foi aí que Arakkën Studart, um cearense faceiro, já de posse do seu valioso título pago com dólares americanos na Blackstone-Ancestry, o laboratório que comprovou sua ascendência escandinava, resolveu botar no Google a palavra-chave “viking”. Ao clicar em imagens, assustou-se com o que viu: todos os seus antepassados tinham chifres!

Já desconfiando da esposa, dona Francisca Britto (sic), gritou por socorro a São José de Alencar e confessou: Sou índio, sim! Melhor ser Tabajara do que viking chifrudo!

Tadim do Arakkën. Ele não sabe que vikings capacetados com chifres só existem em Hollywood e na internet. Mesmo assim, muitos brasileiros compram esses capacetes chinguelingues quando visitam a Dinamarca. Afinal, turismo também é cultura, né?

Falando em cultura, um cearense amigo meu visitou a casa de Sherlock Holmes, em Londres e comprou souvenirs. Eram réplicas da capa, chapéu, lupa, cachimbo, tudo igualzinho ao que o famoso detetive usava no mundo real… do sanatório geral.

Elementar, meu caro Watson – frase que o senhor Holmes nunca disse.     

domingo, 13 de setembro de 2020

MEU CORAÇÃO


 

MEU CORAÇÃO


Elmar Carvalho 


Meu coração

é uma moeda

de várias faces

mas de um só

sentimento: o amor.

É uma moenda

por onde escorrem

sentimentos e emoções.

Meu coração

pedra mó

pedra moenda

pedra moendo

e remoendo

dores e angústias

em seu batuque

puro silêncio.

Meu coração

é uma catedral

cheia de colunas e fantasmas

onde os sinos repicam

sem sineiros

no triste chamado sem resposta.

É um saco de pancadas

das fatais mulheres que amei.

É um tapete persa

pisoteado pelas frívolas mulheres

às quais eu o dera.

Meu coração

é uma bomba incendiária

mas muitas vezes tem servido

de bobo da corte

para os fúteis e vulgares.

É um bumerangue

que partiu, partiu-se,

e retornou ao meu peito

de onde não mais partirá.

Ah, velho coração,

eras um frágil cofre de cristal,

mas o duro mundo

em blindado te transformou.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Homero e a saga dos Castello Branco


Link: https://www.youtube.com/watch?v=LXLeIXCgR_E&t=109s

 



quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais 1

 


DIÁRIO

[Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais 1]

Elmar Carvalho

10/09/2020 

Cerca de vinte dias atrás o professor Dílson Lages Monteiro, titular do importante site cultural Entretextos, me convidou para participar da live Leituras Compartilhadas, em que seriam feitas leituras com os respectivos comentários de poemas do meu livro Rosa dos Ventos Gerais.

Foram leitores de poemas e comentaristas os professores e escritores Dílson Lages Monteiro, Claucio Ciarlini, Ernâni Getirana, Osalda Pessoa e Washington Ramos, que leram ou fizeram referência a alguns poemas, e fizeram a interpretação desses textos, tanto sobre seu conteúdo como sobre aspectos formais, estruturais e visuais.

Mestre Dílson, além de ter feito a abertura do evento virtual, como lhe competia na qualidade de anfitrião, traçou uma visão geral de minha produção literária, em prosa e em versos, além de ter pontuado alguns aspectos biográficos. E leu os poemas que escolheu e os comentou como previsto na programação.

Em data posterior à exibição da live, que se encontra disponibilizada no You Tube, o Dílson me disse o seguinte por WhatsApp: “Procurei resumir o que havia anotado... Entretanto, além da exaltação do sentimento, há também a contenção da subjetividade sobre influência concretista também, conforme bem acentuou Ernani e Osalda. A preocupação em evidenciar o contexto social, ressaltado por Claucio. Creio que geramos um bom arquivo. Fiquei feliz com o resultado final”. Fiquei feliz digo eu com as suas palavras, com as quais concordo, embora o autor seja sempre suspeito ao falar de si mesmo.

Em 06/09/2020, numa espécie de autocrítica, Dílson Lages, através do mesmo meio de comunicação acrescentou: “Apenas um lapso grave: não destacamos sua obra romancística. Mas ela ainda será alvo de entrevista futuramente. Só me dei conta agora, ouvindo aqui o arquivo postado. Como o foco é a leitura da obra em si e não a biografia, não destacamos o conjunto das obras, mas é algo a pensar em edições futuras. Em não destacando biografia, citar os livros publicados e não somente o dos textos analisados”.

Na realidade, Dílson foi excessivamente rigoroso consigo mesmo. Até me lembrei deste trecho da Bíblia: “Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?”  (Eclesiastes 7:16). Não houve lapso e nem erro. O foco da live era o meu livro Rosa dos Ventos Gerais e a leitura e análise de alguns poemas nele inseridos, e isso foi feito na forma prevista e anunciada. E eu sou grato a todos os participantes por isso.

Quando me foi passada a palavra, após as leituras e comentários, eu disse que todos haviam comentado os textos lidos de forma apropriada, de modo que eu não tinha nenhuma ressalva a fazer. Que todos fizeram a análise do conteúdo e da forma ou linguagem com argúcia e percuciência. É evidente que alguns textos comportam uma interpretação mais literal, mais ao pé da letra, enquanto outros, por terem mais desvios de linguagem, uma linguagem mais metaforizada e com mais figuras de estilo, permitem um “olhar” mais criativo, mais livre, conforme as leituras, experiências e criatividade do analista. E ainda outros, são herméticos, alguns com viés esotérico, pertencentes a uma linhagem sibilina, e por isso mesmo quase interditos ou vedados a uma interpretação.

Algumas pessoas me têm cobrado novos poemas, e na live o professor Washington Ramos, após se referir a alguns de meus poemas, entre os quais Noturno de Oeiras, Elegia a Campo Maior e Galo Magro, disse que havia conhecido um homem cuja alcunha era Galo Magro, e me perguntou se o meu Galo Magro seria o mesmo seu, ou seja, o que ele conhecera. Não lhe pude responder porque o tempo de Leituras Compartilhadas já estava quase no fim, e, embora o Dílson Lages tenha me dito que poderia abrir mais um outro bloco, eu preferi não lhe causar esse trabalho a mais. Adiante responderei à pergunta do comentarista.

Na minha fala, expliquei que infelizmente não poderia atender aos que me pedem para escrever novos poemas porque eu era um poeta cuja cacimba se encontrava esgotada, que minha pequena cacimba já “batera” na laje, e já não jorrava como outrora; dessa forma eu não poderia aprofundá-la em busca de novos lençóis freáticos. Foi mais ou menos isso que pude dizer, em face do esgotamento do tempo. Agora passarei a dizer as coisas que gostaria de ter falado, ao tempo em que responderei à pergunta do professor Washington.

Não posso afirmar que o Galo Magro, menino em meu poema, seja o mesmo Galo Magro já adulto que ele conheceu. O de meu poema, se não estou enganado, por falhas em minha memória, era um garoto obviamente pobre, um tanto alvarinto e, claro, magro. Não tinha amizade com ele; apenas o conhecia da prática futebolística. Soube depois que ele, por ser pobre, fora embora para uma cidade maior, onde se tornara motorista de táxi, e que, depois, ainda na juventude, fora assassinado, não sei por que motivo. Fora isso, nada mais sei sobre ele, exceto o que disse ou sugeri em meu poema.

Com relação ao fato de que a cacimba de minha “inspiração” já batera na laje, o poeta Chico Acoram, que cognominei de cacique da Tribo dos Marataoãs, por ser ele barrense, me disse que hoje existem modernas perfuratrizes, com brocas rotativas e diamantadas na extremidade, no ponto em que faz contato com a rocha, que poderia aprofundá-la. Mas, retruco-lhe, agora, que meu caso é sem jeito, que o próprio lençol das águas profundas já se encontra exaurido. E, invocando o excelso poeta Da Costa e Silva, diria que o sabiá que outrora em mim cantava, já hoje não canta mais.

No próximo registro deste Diário, acrescentarei outras coisas que gostaria de ter dito em Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais, mas que, por culpa minha, não disse, uma vez que o poeta e escritor Dílson Lages Monteiro me facultou fazê-lo. Contudo, repito, declinei para não cansar os participantes e futuros assistentes.

Futuros assistentes disse, porquanto Leituras Compartilhadas se encontra disponibilizada no You Tube, graças ao dinamismo e boa-vontade de Dílson, que a mandou gravar, editar e postar nessa  importante plataforma de audiovisual.  

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A ERA DA ELETRICIDADE - Parte I

 


A ERA DA ELETRICIDADE - Parte I


Celson Chaves

Professor, escritor e historiador

 

AS USINAS ELÉTRICAS MUNICIPAIS: de 1932 a 1970.

 

A primeira Usina Elétrica de Campo Maior foi inaugurada, em 03 de janeiro de 1932, pelo prefeito nomeado Francisco Alves Cavalcante, conhecido popularmente pela alcunha de coronel Chico Alves, com a presença do Interventor Federal Landri Sales Gonçalves e outras autoridades municipais e estaduais.

 

A Usina Elétrica Municipal 04 de Outubro, denominação oficial da empresa fornecedora de energia, possuía um gerador de baixa potência. O combustível usado para geração de energia foi à queima de lenha, depois passou a ser o óleo diesel. A extensão da rede elétrica era curta. Os postes de luz continuavam de madeira.  Alguns da época dos antigos lampiões.   

 

Usina Elétrica Municipal “04 de Outubro” -1932.

A fonte de iluminação pública mudou dos lampiões para a energia elétrica. Contudo, os problemas do setor permaneciam. Não havia regularidade no fornecimento de luz. A cidade convivia com os apagões. O abastecimento de luz não durava a noite toda. Funcionava das 18 às 23 horas. Por conta disso, a vida noturna na cidade era limitada, prejudicada. 

 

Maquinário da Usina Elétrica Municipal 04 de Outubro.

Por meio do decreto-lei nº 07 de 30 de junho de 1942, o prefeito Raimundo Ney Baumann, abriu um credito especial no valor de Cr$ 224.840.000 para construção da nova Usina Elétrica Getúlio Vargas. No ano seguinte, o mesmo prefeito destinou mais duzentos mil cruzeiros (decreto-lei nº32 de 25 de fevereiro de 1943) para a conclusão da referida obra. Contudo, a segunda Usina Municipal de Campo Maior foi inaugurada na gestão do prefeito Acendino Pinto Aragão.

 

No mês de novembro de 1944, houve um incêndio na Usina Getúlio Vargas provocado pelo “excessivo aquecimento das caldeiras e sua muito próxima colocação do assoalho de madeira já sobremodo ressequido”. O prefeito Edgar Miranda encarregou-se da reconstrução da Usina em 1945. Segundo ele a Usina ficou bastante danificada após o incêndio: “o fogo, apesar de devido às providências tomadas no momento, não ter atingindo às máquinas, atingira, entretanto a todo o pavimento central do prédio, deixando-o sem teto, portas, janelas, revestimento das paredes e até partes destas”. Foram gastos na recuperação do edifício Cr$ 11.817,30.

 

A Usina Elétrica Municipal Getúlio Vargas, mesmo com geradores mais potentes que da antiga Usina 04 de Outubro, não conseguiu resolver o velho problema da falta e da distribuição de energia elétrica em Campo Maior. O prefeito Waldeck Bona, em 1948, abriu concorrência pública para aquisição de máquinas e todo o material necessário para restabelecer o serviço de fornecimento elétrico. A rede de distribuição era pequena e deficiente, enquanto o consumo de energia só aumentava. Em 30 de julho de 1950, o prefeito Ivon Pacheco tentou organizar o serviço de iluminação pública da seguinte forma: um mecânico (chefe do departamento), três eletricistas e um vigia. Ivon Pacheco também pôs à venda a “maquinaria velha da Usina Elétrica”.

 

Em 1940, o gasto com a produção de energia foi de 123.600,00. Na década de 1950, a despesa da prefeitura no setor elétrico aumentou de forma assustadora. No ano de 1955, consumiu-se a cifra de Cr$222. 600,00. A prefeitura tomava empréstimos e usava parte de repasses financeiros do governo estadual e federal para manter o setor funcionando. Em 1956, o gasto saltou para Cr$ 402.245.60. As despesas centrava-se na compra de combustível (óleo diesel), lubrificantes, lâmpadas, concertos e serviços na rede elétrica. No ano seguinte (1957), foi utilizado Cr$ 452.245.60. Os dispêndios com energia oscilava entre a terceira e o quarto maior custo orçamentário do município.  De 1960 a 1965, as despesas com a produção de energia saltaram de Cr$1.461. 946.00 para Cr$13.056.640.00. Crescimento assustador.

 

Além da iluminação pública, o prefeito José Olímpio da Paz, por meio da lei nº 493 de 16 de gosto de 1962, resolve fornecer energia gratuitamente a entidades educacionais particulares como o Ginásio Santo Antônio e o grupo escolar Vilagran Cabrita.  Sem o auxílio da prefeitura era praticamente inviável para essas instituições particulares manter o ensino noturno. 

 

Sede da Usina Elétrica Municipal Getúlio Vargas, depois quartel e delegacia de Campo Maior. Hoje o prédio encontra-se abandonado. Cruzamento das ruas coronel Antônio Maria Eulálio Filho com a capitão Manoel Oliveira.

Foram estabelecidas as primeiras taxas municipais de energia para bancar as despesas do setor. O tributo foi aumentado algumas vezes. O custo de manutenção era alto. Em 1952, Maria Gondim Uchoa fez uma petição direcionada a Câmara contra a cobrança excessiva da taxa de energia elétrica. A moradora argumentava que possuía apenas um rádio como eletrodoméstico. A taxa era fixa, não existia contador. Grande parte da energia gerada pelas Usinas Municipais destinavam-se para iluminação pública, enquanto o consumo residencial ficava limitadíssimo.

 

O deputado federal Demerval Lobão sugeriu a Câmara Municipal um estudo para a privatização da Usina Elétrica Getúlio Vargas, em 1953. O prefeito José Olímpio da Paz tentou programar, em 13 de novembro de 1955, o serviço de “energia elétrica diurna”. Para isso buscou recurso junto ao Banco do Nordeste. Por meio da lei de nº 398 de maio de 1959, José Olímpio da Paz conseguiu contrair um empréstimo de 8 milhões de cruzeiros para ser aplicada na compra de um gerador capaz de suprir a demanda crescente da época e reformar toda a extensão da velha rede elétrica, boa parte ainda do tempo da antiga Usina 04 de Outubro. José Olímpio da Paz foi o último prefeito antes da chegada da energia elétrica fornecida pelos potentes geradores da Usina Hidroelétrica de Boa Esperança, localizada entre os municípios de Guadalupe-PI e São João dos Patos-MA. 

 

Foto da Avenida José Paulino. Em destaque a antiga rede elétrica das Usinas Municipais (04 de Outubro e Getúlio Vargas). O poste de madeira continuava sendo o principal suporte para suspensão da fiação e iluminária. Vista do cruzamento da Avenida José Paulino com a rua padre Manoel Félix.

As praças Bona Primo e Rui Barbosa receberam um tratamento especial dos gestores quanto à iluminação pública. As duas praças representava o centro comercial e administrativo da cidade. A maioria dos consumidores residia em torno das duas praças. A vida noturna era intensa nas proximidades da Bona Primo e Rui Barbosa por conta da concentração de bares, lanchonetes, hotéis, cinema e da própria Igreja Matriz de Santo Antônio. Geradores foram instalados nas proximidades das praças para reforçar o fornecimento de energia nos dois principais points da cidade.        

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Pádua Marques vai lançar livro sobre a Parnaíba no início do século XIX


 

Ainda sem data fechada para lançamento, o livro Vinte Contos para Simplício Dias, de autoria do jornalista, romancista, contista e cronista Pádua Marques, tem como tema a vila de Parnaíba nos trinta primeiros anos do século XIX. É um livro que está sendo esperado desde quando saíram as primeiras publicações nas redes sociais em 2019.

Escrito entre março e outubro do ano passado, o livro segundo o seu autor, reconstitui o cenário de Parnaíba com seu porto, seus nobres, os escravos, os ricos negociantes, índios, mulheres e a rotina desta parte do Piauí, que decidiu apoiar o movimento pela independência do Brasil. “Mas lembro logo, Simplício Dias nessa obra é apenas parte da cena”, diz.

O livro Vinte Contos para Simplício Dias teve o apoio do Amostragem, Opinião e Mercado, Instituto Piauiense de Opinião Pública. Segundo Pádua Marques, os acertos sobre a data de lançamento estão sendo mantidos com a Fundação Raul Bacellar, mas ainda precisa ser tratados devido às medidas e cuidados por conta da pandemia do coronavírus.   

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Acróstico: Elmar Carvalho (*)

Charge da autoria de Gervásio Castro


Acróstico: Elmar Carvalho (*)


Claucio Ciarlini


Ecletismo poético em linhas mais que reflexivas...

Letras que seu coração bem sabe transformar em arte

Mente extraordinariamente fértil, além de incansável,

Autor de obras que já alcançaram o nível de eternidade

Razão e Emoção em equilíbrio por deveras admirável

 

Cancioneiro do ar, do fogo, da terra, da água (Ventos Gerais).

Articulador de feitos, não apenas pessoais, mas coletivos!

Registra através de sua pena, o que lhe toca, comove ou fere

Viajando, ora pelo cosmos, pela natureza ou até pelo tempo!

Acadêmico, daqueles que não só pertencem, mas trabalham

Literatura está no seu sangue, dela, faz uso, consome, bebe!

Homenageando figuras do bem, desde os célebres aos do povo. 

Orientado pela bússola da moral e da sinceridade. Um amigo de verdade.  


(*) Este acróstico me é uma grande homenagem; pelo seu conteúdo, que não mereço em sua íntegra, e pelo valor pessoal de quem o escreveu.      

 

sábado, 5 de setembro de 2020

Anotações preliminares

Carlos Rubem lendo o livro de Zózimo Tavares


Anotações preliminares 


Carlos Rubem


Não me perguntem como, o certo é que adquiri, à sorrelfa, um exemplar do livro “Dirceu Arcoverde - Esperança Interrompida”, de autoria do jornalista Zózimo Tavares, Presidente da Academia Piauiense de Letras - APL. A obra ainda não foi lançada em face das restrições acerca da pandemia que vivenciamos.


A capa do livro estampa uma fotografia apanhada em 1978 onde se vê o biografado rodeado de correligionários no interior da Farmácia Popular, em Oeiras, que pertenceu a Ditinho Reis, meu pai.


Conheci o Dr. Dirceu Arcoverde, médico, em meados de setembro de 1971, na qualidade de Secretário de Saúde da gestão Alberto Silva, oportunidade em que este mandatário instalou seu governo, por três dias, em Oeiras.


Depois, vi-o em diversas oportunidades, inclusive quando também instalou por cá o seu governo (1975 - 1978) no dia 24.01.1978, data em que se comemora a verdadeira “Adesão do Piauí ao Grito do Ipiranga”, em 1823. Muitas inaugurações, festa bonita!...


No dia 14.08.1978, desincompatibilizou-se do cargo de governador para concorrer à uma vaga no Senado Federal. A campanha eleitoral daquele ano foi acirrada. Disputou contra Alberto Silva. Logrou êxito.


Até há pouco guardava uma puída camiseta constando os seguintes dizeres: FAÇA COMO EU VOTE EM DIRCEU.


São cinco os capítulos que compõem o livro. Começa com “Horas de tensão, dias de angústias”, no qual o autor relata as circunstâncias em que o perfilado fez sua estreia na tribuna parlamentar, no dia 09.03.1979, ocasião em que sofreu um Acidente Vascular Cerebral - AVC, levando-o à morte sete dias depois.


Fiquei impactado com o que li logo no primeiro capítulo. Revelações que não cabem aqui declinar. Suspendi a leitura para fazer estas anotações preliminares.


Tomara que, em breve, a obra venha a lume para que todos possam ter a possibilidade de saborear informações instigantes.


Dr. Dirceu foi um pró-homem!  

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais

 


Leituras Compartilhadas de Rosa dos Ventos Gerais de Elmar Carvalho


Convido meus amigos e frequentadores do blog a participarem da live de leituras compartilhadas do meu livro Rosa dos Ventos Gerais.

Não precisa que fiquem na sala virtual o tempo total da live, mas apenas o tempo que desejarem, ou seja, entre quando quiserem, e saiam no momento que o desejarem.


Data: 05/09/2020, às 16H00
Sala: 714 1906 3497
Senha: mxYW0E
Endereçohttps://us04web.zoom.us/j/71419063497?pwd=UFZkV1QwQmVQQW5Wazd6L1lkNzRMdz09    

A morte espera no caminho da escola


 

A morte espera no caminho da escola


Pádua Marques

Romancista, cronista e contista

 

Benício, o mais velho dos quatro primos, ia caminhando na frente dos outros por cima da linha de ferro entre o Catanduvas e a casa da professora Vicentina Brandão no Macacal naquela manhã de sol que prometia ser forte àquela hora da manhã daquele março de 1928. Depois e por baixo na vereda, formada entre a linha e o barranco, vinham os irmãos Vicente e Joana e fechando a fila, Jonas, irmão de Benício. Uma obrigação de todos os dias desde quando entraram na escola pra desarnar nas primeiras letras.

Lá longe e chegando já perto de algumas casas de taipas cobertas de palha de carnaúba, uma mulher estendia roupas de dormir numa cerca. Do outro lado da linha de ferro, descendo o barranco, naquele imenso capinzal com uma carnaubeira aqui e ali a perder de vista no rumo do Sossego, algumas vacas magras e de chifres pequenos, coisa de cinco ou seis, comiam de cabeça baixa aquela grama úmida da madrugada. Decerto que as roupas na cerca de varas eram pra secar depois de terem sido mijadas durante a noite por algum menino pequeno ou um velho.

Os meninos passaram e seguiram caminho no rumo da Parnaíba. A mãe de Benício havia dito que no ano seguinte ele e o irmão Jonas já iriam estudar no Grupo Escolar Miranda Osório, de seu Zé Narciso. Sobre os primos Joana e Vicente, ainda era coisa não decidida pelos seus pais. Por enquanto a escola era aquela de Vicentina Brandão, no Macacal, com outras doze crianças pobres, calçadas de tamancos, de rostos suados e roupas encardidas, vindas do Catanduvas, dos Campos e até da Coroa, quase chegando na beira do rio Igaraçu.

E naquela caminhada pra escola de dona Vicentina Brandão, sem ninguém por perto, os três meninos e a menina sobem e descem a linha de ferro, saltam e colocam pedras entre os dormentes e os trilhos, abrem os braços, gritam pra ouvir o eco, jogam pedras dentro das poças de água cheias de cabeças de pregos. Jonas sempre está com a baladeira dentro do saco de pano e corre se agachando à procura de piçarras pra atirar nos xexéus e nas catirinas que ficam em cima dos tocos de cercas. Benício vem à frente apontando esse ou aquele calango. O tiro come solto e os calangos fogem.

Mais à frente avistam uns urubus que estão devorando um animal grande dentro do mato. Não dá pra ver o que seja, mas só pode ser algum jumento velho ou uma vaca, mordido de cobra ou morto do mal, assim se babando todo. Aquela carniça no meio do tempo faz com que os meninos coloquem as camisas ou as mãos nas ventas.  Benício e Vicente pegam piçarras e jogam na direção pra espantar os bichos. Os urubus levantam voo e vão se acomodar na copa de carnaubeiras ou nas cercas de estacas dos terrenos dos Borges. Os meninos comemoram aquela façanha e seguem caminho.

Quando chegam na porta da escola de dona Vicentina Brandão outros meninos e meninas já estão esperando a professora abrir a porta de casa e logo em seguida todos se acomodam nas cadeiras. Silenciosos e em fila cada um vai se sentando. Agora não é mais preciso que cada um traga seu tamborete. Mas mesmo assim os doze assentos são disputados. Os menores mais à frente, os maiores mais atrás. A professora queria que as cinco meninas sentassem nas cadeiras da frente e puxassem as saias cobrindo os joelhos.

Os bolos de palmatória, objeto de terror da sala de aula e ali segura por um prego na parede mal pintada, podem começar logo cedo se este ou aquele menino se comportar mal, responder errado, fizer zoada, incomodar os outros e se apresentar em desalinho. Benício, o maior de todos na pequena sala de aula daquela escola do Macacal, é o disciplinador de todos, de seu irmão Jonas e de seus primos Vicente e Joana. Em algumas ocasiões pode ir buscar a palmatória e dar bolo em qualquer um a mando de dona Vicentina Brandão.

A casa onde está a escola de Vicentina Brandão é até que de bom tamanho, caiada de um azul bem claro, de taipa e coberta de palha de carnaúba. Duas janelas pra frente da rua no Macacal, com a porta de meia. Na sala da frente era de ser pra sua família, as duas irmãs, o pai seu Raimundo Inácio, pescador e a mãe dela, dona Joana, que fica na cozinha o dia inteiro.  A sala de aula, no meio da casa, com entrada por dentro, fica ao lado com duas janelas dando pra o quintal, onde se criam galinhas e patos, tem o jirau de lavar a louça de cozinha. As plantas são dois pés de mangas, um limoeiro e outro, um pé de goiabas.

O chão é de tijolo de barro cru.  E tem um corredor grande e escuro onde estão nas paredes os armadores das redes de dormir das moças. Mobília pouca. Um banco de potes, os canecos, um armário, tamboretes e uma mesa de bom tamanho. Decerto que o lugar das refeições da família. Nas paredes os quadros de santos, São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, São Raimundo Nonato.

Vicentina é a única das filhas de seu Raimundo Inácio e dona Joana a ter estudado. Mas isso foi há muito tempo em São Luís, no Maranhão, quando morou com uma madrinha. Quando voltou pra dentro da casa dos pais foi logo dizendo que queria abrir uma escola. Era coisa de se admirar a rua inteira no Macacal, a filha de seu Inácio, sendo professora, a casa cheia daqueles meninos com os calções remendados, uns limpos, outros nem tanto, as brincadeiras e as risadas deles, as perguntas dela e as respostas deles, tímidos, curiosos, de olho em tudo que vinha da lousa. Um dia quem sabe Vicentina podia ser até chamada pra ser da Escola Normal.

Um quadrado de madeira escura, preto mesmo, de pouco mais de um metro, pendurado na parede. E ela, Vicentina Brandão, também professora de catecismo, fica ali na frente da lousa ensinando a contar, diminuir, multiplicar e dividir, ler e escrever. Faz perguntas o tempo todo a um e a outro. Tem satisfação do que está fazendo. Olha um por um e conhece todos eles.

Sabe ela quais são os mais necessitados, os mais pobres dos mais pobres. De repente um menino, perto de Vicente começa a bater um tamanco contra o outro e aquilo incomoda. Uns enredam, chamam por ela.  A professora vai certeira com o olho e a unha pra um puxão bem dado na orelha e um carão. A sala de aula é tomada por um silêncio de medo. Outros meninos não querem ter o mesmo castigo. Ninguém manga ou acha graça. Aos poucos vão uns mais afoitos voltando ao que é ordinário na sala de aula e na esperança de que ela encerre mais um dia. Finda a aula daquele dia todos voltam pras suas casas.

No caminho as mesmas brincadeiras de atirar em calangos, assustar os passarinhos, caminhar se equilibrando com um pé só nos trilhos da estrada de ferro, caminhando em fila e contando nomes e coisas de adivinhação, contando histórias, fazendo brincadeiras da boca de forno. No meio do caminho Jonas se lembra de que é preciso voltar pra pegar sua sacola de pano e a tabuada de aprender a contar. Voltou na mesma hora. Os outros seguiram caminho se combinando que ele depois iria atrás. Seria por pouco tempo indo e voltando.

Mas a tentação de mexer em tudo, de ver tudo, de conhecer tudo fez Jonas seguir o trem de ferro que naquele momento fazia manobras dentro da estação saindo de Parnaíba. Ficou abismado com aquela máquina soltando fumaça e aqueles homens rudes, sujos de graxa, suados, praguejando por isso e aquilo, falando nome feio. Não se conteve e subiu num dos últimos vagões. Passou a caminhar dentro de um deles e quando se deu conta estava o trem em movimento saindo noutra direção.  Jonas quis saltar, gritou pedindo pra sair. Não deu. Saltou e foi colhido por uma das rodas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A ERA DOS LAMPIÕES: 1850 a 1930

O acendedor de lampiões.
Fonte: Museu Afro Paranaense.

 

A ERA DOS LAMPIÕES: 1850 a 1930


Celson Chaves

Professor, escritor e historiador

 

DOS LAMPIÕES ÀS LÂMPADAS DE LED: PRIMEIRO ARTIGO.

 

HÁ 170 ANOS, CAMPO MAIOR teve sua primeira experiência de iluminação pública.

 

Até 1850 a iluminação das ruas em Campo Maior era exclusivamente natural. Nas noites sem lua, a escuridão reinava. Ao cair do dia, as pessoas se recolhiam em suas residências, poucos se arriscavam aventurar-se pelas ruas desertas e escuras. Quando saiam eram de candeeiro na mão. Os candeeiros eram mais presentes nas casas abastadas. As residências eram também iluminadas por velas caseiras, principalmente as feitas da cera de carnaúba.  No final do século XIX, a Câmara Municipal taxava os fabricantes de velas de carnaúba (milheiro) entre 2$000 réis a 3$000 réis.

 

A partir de 1850, iniciam-se as primeiras discussões na Câmara Municipal para instalação da iluminação urbana. A Câmara sob a presidência do vereador Florêncio Alves da Fonseca Mendes, do partido Conservador, encarrega-se de comprar entre 10 a 20 lampiões, a serem instalados em três locais estratégicos: Largo da Matriz, Cadeia e a própria Câmara. Usaram os lampiões à base de azeite. As principais cidades e vilas do Brasil Colonial, a exemplo de São Paulo, usavam lampiões à base de azeite de mamona, de peixe ou baleia. Eram os mais eficientes.

 

Além da iluminação das ruas e praças, a Câmara Municipal mantinha as dependências da Cadeia Velha, das Igrejas de Santo Antônio e Nossa Senhora do Rosário e da sede da própria Câmara com lampiões. De 1838 a 1840 destinava-se 15: 00 réis para compra de “15 frascos de azeite” para os lampiões da Cadeia Velha. Nos anos de 1848 a 1849 a despesa triplicou. Na década de 1850, a compra de “frascos de azeite” dobrou, mas o preço se estabilizou. Até reduziu em alguns anos.’

 

Os lampiões eram instalados em postes de madeira. Pequenos espaços eram iluminados. Os aparelhos consumiam muito azeite. Não havia acendedores de lampiões. O serviço ficava por conta dos próprios moradores. Os lampiões eram fixados nas paredes dos principais prédios (Câmara e Cadeia) da vila e/ou em postes estrategicamente situados no Largo da Matriz, onde ficava o pelourinho.

 

O governo municipal esperava contar com a ajuda financeira do governo provincial para manter o fornecimento de luz. Infelizmente, não aconteceu. Com isso, o projeto de iluminação pública em Campo Maior ficou limitado e prejudicado. O transporte de azeite para Campo Maior era difícil e dispendioso. Por conta do alto custo, a iluminação pública ficava limitada “as noites escuras”. Em dias de lua cheia, os lampiões não eram acesos para economizar azeite. As pouquíssimas ruas e o Largo da Matriz eram naturalmente clareados pela luz da lua.

 

O Piauí vivia na completa escuridão. Os primeiros projetos de iluminação pública surgiram com a promulgação da Lei nº 20 de 04 de julho de 1835, que mandava instalar 50 lampiões em Oeiras e 30 na Parnaíba.  As despesas iniciais ficariam por conta do governo provincial até que as respectivas Câmaras estabelecessem recursos necessários para o referido serviço. Em 1845, depois de reiteradas tentativas de execução da lei, o projeto não passou de um simples ensaio e nada foi resolvido. Oeiras perdeu o status de capital para Teresina e não conseguiu realizar o almejado melhoramento público.

 

Em 1896, houve a troca dos lampiões à base de azeite para os lampiões a querosene. O Conselho Municipal, hoje Câmara Municipal, sob a presidência de Raphael Archanjo de Oliveira remete cópia da sessão ordinária ao governador do Piauí na época, Doutor Raimundo Arthur de Vasconcelos, informando-lhe da decisão tomada pelos conselheiros campo-maiorenses e a inclusão das despesas com a iluminação a querosene no orçamento do município. No ano seguinte (1897), o presidente do Conselho Municipal, Lysandro Pereira da Silva, em sessão extraordinária determina abertura de um edital para o serviço de iluminação pública. Alguns historiadores acreditam que a efetivação dos lampiões a querosene ocorreu apenas em 1904.

 

Junto com o novo modelo de iluminação veio também um conjunto de normas acrescentadas pelas gestões seguintes no sentido de tornar o serviço mais eficiente. Na lei nº 46 de 24 de dezembro de 1909, que orçava a receita e fixava as despesas do município de Campo Maior para o ano de 1910, visou preservar os postes e lampiões de vândalos ao estabelecer no artigo 34 “É proibido amarrar-se animais nos postes da iluminação pública, danificar por qualquer forma os mesmos postes, quebrar vidros e mangas dos lampiões, sob pena de 5$000 réis a dez mil réis de multa a pagar o dano causado”. Na mesma lei, os legisladores locais não se esqueceram do profissional responsável por acender os lampiões, ao dispor no artigo 40 salário de “240$000 réis anuais” para o “encarregado da iluminação pública”. O emprego de acendedor de lampiões foi extinto na cidade no ano de 1949.

 

A Gazeta de Teresina, em edição de 20 de novembro de 1904, divulgou com satisfação o melhoramento da iluminação pública, com a instalação de 43 lampiões entre as quase 20 ruas e 03 praças da acanhada Campo Maior. A mesma Gazeta também noticiou, no dia 30 de janeiro de 1913, a intenção do antigo Conselho Municipal, hoje Câmara Municipal, de implantar a iluminação a base de acetileno (carbureto). O poder público chegou-se a fazer encomenda do produto no Ceará e Pernambuco. Contudo, o plano não prosperou.

 

Além da iluminação pública, o Conselho Municipal ficava responsável por abastecer de luz às dependências da cadeia e do próprio prédio do Conselho. A cadeia era o ano todo. O custo ficava em torno de 40$000 (quarenta mil réis), enquanto o Conselho, a luz domestica era apenas para as noites de festividades nacionais. A despesa saia por 10$000 (dez mil réis). Nas igrejas centrava-se nos períodos de festejos.

 

A vontade do Conselho Municipal de querer melhorar o serviço de iluminação pública era grande. Porém, esbarrava nas limitações orçamentárias. O sistema era oneroso e deficiente. Não havia regularidade no fornecimento de luz. A cidade, boa parte do ano, vivia às escuras. Em 1920, o intendente  municipal Luiz Rodrigues de Miranda, substituiu os lampiões à base de querosene por uma nova fonte de energia, mais dinâmica e promissora. Surgem os lampiões a gás.

 

O intendente municipal Pergentino Lobão Veras até ensaiou planos para instalação da luz elétrica em Campo Maior no final da República Velha. Contudo, a Revolução de 1930, interrompeu o projeto do coronel Pergentino, ao dissolver os Conselhos Municipais, destituindo os mandatos de intendentes e vice-intendentes no Brasil. A Era Vargas recriou o cargo de prefeito. Francisco Alves Cavalcante foi o político mais beneficiado pelo novo regime implantado pela Revolução de 1930. Ele foi nomeado primeiro prefeito campo-maiorense da Era Vargas. Como chefe do executivo municipal, o coronel Chico Alves, como era apelidado Francisco Alves Cavalcante, adota série de medidas de grande impacto político na execução de obras e serviços públicos, como a inauguração da primeira Usina Elétrica Municipal, sepultando assim a chamada Era dos Lampiões.      

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Poesias e crônicas de Paulo Couto



DIÁRIO

 [Poesias e crônicas de Paulo Couto]

Elmar Carvalho

02/09/2020

Dias atrás o cronista e poeta Paulo de Athayde Couto, por WhatsApp, me solicitou meu endereço, pois pretendia me enviar um livro de sua autoria pelos Correios. Na quinta-feira a encomenda chegou a minha residência. Tem uma bela capa produzida por Norma Couto, artista plástica e professora universitária. Como não é volumoso, no domingo pela manhã concluí sua leitura.

Com vista a este registro, fiz pequenas anotações e marquei alguns trechos, que pretendo comentar. Também procurei tirar algumas dúvidas e lhe fiz algumas indagações, para enriquecer esta crônica. Um dos trecos grifados  é o seguinte, que consta no prefácio, da autoria do seu irmão Vitor Couto:

“Uma palavra resume a poesia de Paulo Couto: sentimento.

Mas não é qualquer sentimento. É, ao mesmo tempo, o sentimento da província e o ‘sentimento do mundo’. Com sua poesia, Paulo Couto universaliza a aldeia.

Honesto e transparente (como concerne a todo poeta pessimista), resume, no poema ‘Sentimentos’, o maior de todos: o ‘sentimento morto’. Por vias das dúvidas, mortal.”

Conheço-o desde março de 1977, quando iniciamos o curso de Administração de Empresas, no Campus Ministro Reis Velloso – UFPI. Fomos colegas de turma até sua conclusão em 1980. Para minha satisfação, numa de suas crônicas ele recorda nossa amizade e esse período de nossa vida:

“Nos anos 70 quando iniciei o Curso de Administração de Empresas na UFPI, Campus Reis Velloso, tive um colega de turma chamado Elmar Carvalho. Tenho boas lembranças de todos os colegas, mas com o Elmar foi diferente. Ele era poeta e numa das muitas conversas que tivemos, ele ficou sabendo que eu tinha escrito algumas poesias. O Elmar me levou na gráfica do Jornal Norte do Piauí e lá eu conheci o proprietário Mário Meireles. Minha primeira poesia publicada foi nesse Jornal.”

Nesse pequeno texto memorialístico, de menos de uma página, titulado Como foi que tudo começou, Paulo relata fatos interessantes do seu início de literato. Conta que foi sempre incentivado a escrever pelo seu pai, o professor Lima Couto, com quem tive várias conversas em sua residência, quase todas sobre o magistério ou literatura, já que ele lia os grandes escritores e poetas nacionais. Revela que passou a escrever crônicas, quando leu uma da autoria de um primo seu.

Em seus frequentes contatos com a oficina do jornal tipográfico Folha do Litoral, no qual mantinha a coluna “Cosmo”, conheceu seus redatores, gerente e empregados, entre os quais cita Bernardo Silva, Rubem Freitas, Batista Leão, Batistinha e Xixinó. Vários deles já são falecidos. Narra que chegou a fazer a revisão desse hebdomadário, “a título de colaboração”. Por fim, confessa que nessa época surgiram vários jornais alternativos, tendo sido colaborador de muitos deles, com crônicas e poemas.   

Quase todos eram confeccionados no formato apostila e “impressos” em mimeógrafo. Eu e ele fomos colaboradores, com crônicas e/ou poemas dos seguintes: Inovação, Batalha do Estudante, Querela, Abertura, bem como da página cultural do jornal O Dia. Fizemos parte da diretoria do Abertura, que era assim composta: Olavo Rebelo Filho (presidente), Paulo Couto (vice-presidente), Elmar Carvalho (secretário) e Francisco Filho (tesoureiro).

Em 1978/1979, quando fui presidente do Diretório Acadêmico 3 de Março, do Campus Ministro Reis Velloso, empreendi vários eventos e realizações no setor de esporte e cultura, entre os quais conserto dos equipamentos da sala de jogos, torneio futebolístico, festival de música, jornada cultural, em que houve palestra de Israel Broder e Antônio José Medeiros, fora outros conferencistas. Além disso, publiquei um cartaz com poemas e o livro Poesia do Campus, de que fizemos parte eu, Paulo, J. L. de Carvalho, Adrião Neto, Antônio Albuquerque Monteiro, José de Ribamar Ferreira e Wilton de Magalhães Porto. Muitos fizeram sua estreia literária através desse despretensioso opúsculo.

No seu notável trabalho “O produto cultural alternativo dos anos 70 em Parnaíba”, o escritor e poeta Alcenor Candeira Filho assinala que “foi e é da maior importância para a história cultural de nossa cidade a atividade intelectual, gerada sob o império do arbítrio, desempenhada em Parnaíba, nos anos 70".

Além da proliferação de jornais alternativos, houve significativa publicação de coletâneas ou obras coletivas mimeografadas em Parnaíba. Na segunda metade dos anos 70 também houve uma acentuada aproximação literária entre a Princesa do Igaraçu e Teresina. Parece que havia certo distanciamento entre as duas cidades, não sei se ainda resquício da silenciosa e quase invisível rivalidade entre as duas urbes, desde os áureos tempos do apogeu do extrativismo econômico, em que Parnaíba imperava no Estado do Piauí, com as suas poderosas empresas, tais como Casa Inglesa, Casa Marc Jacob, Moraes S. A., Pedro Machado, etc.

Pois bem, na segunda metade dos anos 1970, houve ainda a publicação de várias coletâneas, congregando autores teresinenses e parnaibanos. Essas obras eram lançadas na capital e em Parnaíba. Também alguns autores da capital proferiram palestras na litorânea cidade. Eu, o Paulo, o Kenard Kruel e o Alcenor participamos de muitas dessas publicações.

Acho importante citar algumas dessas obras com seus autores: Galopando (Elmar Carvalho, Josemar Nerys, Paulo Couto, Paulo Machado e Rubervam Du Nascimento), Em três tempos (Kenard Kruel, Paulo Couto e Elmar Carvalho) e Aviso Prévio (Paulo Machado, Afonso Lima, Raimundo Alves Lima, o RAL, João de Lima, Menezes y Morais, Alcenor Candeira Filho, Rubervam Du Nascimento e Cineas Santos, seu editor). Conquanto de forma esporádica ou eventual, eu e Jorge Carvalho fomos colaboradores da Revista Cirandinha, editada em Teresina por Francisco Miguel de Moura.

Paulo participou também de outros periódicos e coletâneas, que ele refere em sua síntese biográfica, dentre eles Salada Seleta, Fresta, Tetéu, Neojornal, etc. Mais recentemente participou de duas importantes obras coletivas: A poesia Parnaibana (2001) e Parnárias – poemas sobre Parnaíba (2017), organizadas a primeira por Adrião Neto, Alcenor Candeira Filho e Elmar Carvalho, e a segunda por Alcenor Candeira Filho, Elmar Carvalho e Inácio Marinheiro.

O poeta nasceu em Parnaíba, em 25 de fevereiro de 1956, um mês e alguns dias antes de mim. Seu livro individual, que ora apreciamos, foi lançado em 7 de março do corrente ano, dia do aniversário de sua esposa Marta Cerqueira Couto, com quem teve os filhos Tiago, Luíza e Júlia. Portanto, antes da pandemia, quando ele já completara 64 anos de vida. Dele disse, com muita propriedade, Emanuel Carvalho, seu genro, na festa de lançamento:

“Teve parte de sua vida dedicada ao Banco do Brasil, onde trabalhou por trinta anos, cercado de protocolos, normas, horários, números, cédulas e papéis. Apesar de sempre responsável e dedicado nunca se conteve com o formato mecanizado e um tanto quanto cruel de trabalho, por isso fazia da literatura um subterfúgio, sentia-se muito mais à vontade junto às palavras que com as cifras. É como dizia Ferreira Gullar: ‘A arte existe porque a vida não basta’.”     

Como bem disse Vitor Couto no prefácio, a poesia de Paulo Couto é referta de sentimento, e ele é de fato um poeta honesto e transparente. Não se lhe pode aplicar por conseguinte os versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.” De fato ele é sincero, e por isso é honesto e transparente, avesso que é às simulações e dissimulações.

A ele, com as devidas adaptações ou mutatis mutandis, poderiam ser aplicados alguns versos do Poema em Linha Reta do mesmo enorme poeta: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo / eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil.” Claro, ao meu amigo Paulo Couto não poderia ser endereçado o último verso desta segunda citação, porque ele é um ser humano digno e decente, porém sem hipocrisias e falso moralismo.

Ele, como todos nós, levou as suas “porradas” da vida, só que ele, ao contrário de muitos de nós, teve a coragem de as confessar em suas pequenas, porém densas, crônicas memorialísticas. Todos nós revelamos que temos eventuais e fugazes tristezas, mas nunca ou quase nunca admitimos ter tido a terrível depressão, que parece ser o mal deste século. Numa página pungente, revestida de profunda sinceridade e tom confessional, ele relata sua experiência, da qual julgo importante transcrever o seguinte trecho, para que nos possa servir de advertência:

“Muita gente já passou por isso. Ter depressão é uma coisa terrível. Eu não desejo isso para ninguém. É difícil descrever o que a pessoa sente. No meu caso foram quatro anos e meio com a doença. Foram cinco psiquiatras e dois psicólogos. Nenhum desses profissionais conseguiu entender o que eu sentia. Seria tristeza, seria...  Tive, depois de muito estresse, uma depressão profunda. Fui medicado com remédios que provocavam delírios. Chegaram a pensar que eu estava com esquizofrenia. (...) O tempo passou e um dia qualquer descobri por mim mesmo o que tinha ocasionado a doença: assédio moral no trabalho.”

Suas crônicas, sempre pequenas, compactas em sua exemplar concisão, são em boa parte evocativas, memorialísticas, e relatam passagens de diferentes quadras de sua vida, como da meninice, em que nos fala dos jogos e brincadeiras que praticava, da juventude, e do emprego, que, se lhe proporcionou segurança financeira, não lhe deu alegria. Vejamos o que ele diz sobre o início de sua carreira e de sua vida de casado, na pequena e distante cidade de Elesbão Veloso:

“Fiz o concurso para o Banco do Brasil em 1982. No fim de 1983 recebi o chamado para trabalhar em Elesbão Veloso. Eu me casei em 06 de janeiro de 1984 e dez dias depois assumi o emprego. (...) Fiquei uns dias numa pensão até alugar uma casa para morar. Minha esposa foi um mês depois para aquela pacata cidade. Foram dois anos de lua de mel que acabou quando o primeiro filho nasceu.”

Verificando que muito já me alonguei neste registro, farei agora uma síntese dos poemas e crônicas do livro. Com sentimento, transparência e honestidade, falam de variados assuntos, como as mazelas sociais e os desvios da política, do consumismo, da solidão no meio da multidão, nas lembranças da Parnaíba de sua infância, adolescência e juventude, de sua vida escolar e de bancário, dos prédios e logradouros que lhe povoaram as lembranças e a saudade.

Paulo Couto é um homem de muitas leituras e de muita experiência no mister de escrever, e, portanto, conhece teoria literária e as diferentes figuras de estilo e linguagem. Por isso, se o desejasse, poderia ter injetado em seus textos os mais diferentes artifícios e pirotecnias da arte literária.

Mas não o fez, porque na concisão, na simplicidade e na limpidez de sua escrita, buscou mesmo expressar seu sentimento e emoções com sinceridade, desiderato que não seria alcançado com os malabarismos e firulas de um estilo rebuscado e cheio de fogos de artifício. 

 

Obras consultadas:

Poesias e crônicas (2020) – Paulo Couto

Aspectos da Literatura Piauiense (1993) – Alcenor Candeira Filho

Seleta em Verso e Prosa (2010) – Alcenor Candeira Filho

Anos 70: por que essa lâmina nas palavras? (1993) – José Pereira Bezerra   

terça-feira, 1 de setembro de 2020

3 POEMAS DE WALTER LIMA

 

Elmar visto "camonianamente" por Gervásio Castro (*)

3108.01 

 

Como se fizesse parte de um drama

Um belo-drama onde  bela frase ecoa:

Lá vai lá vem

“Le Bateau Ivre” – no mar atroz

Lá vem firme o homem

Livre –                   El Mar feroz.

 

“homem livre, hás de ser sempre amigo do mar. ”  (**)

O barco um homem

Trazem na Sina desde nascimento – o Mar.

 

Homem a Sina na data

Natalícia (***) : homônimo do Baudelairianismo

Contendo tanto Mar e Air.

 

A herdade na ponta da pena

De quem navega datas e assina

Marcas nas ondas do dia a dia.

 

“homem livre, hás de ser sempre amigo do mar. “

RP, SP, 31.08.2018.

(*) O texto é uma homenagem que me foi prestada pelo poeta e amigo Walter Lima. Na charge, em outra "homenagem", o amigo Gervásio Castro me travestiu de Camões, que era caolho e gênio, enquanto eu não sou nem uma coisa nem outra. 

(**) Trecho do poema O Homem e o Mar, de Charles Baudelaire – 09.04.1821 a 31.08.1867.

(***) O poeta Walter Lima se refere à mera coincidência de eu haver nascido no mesmo dia em que nasceu Baudelaire, ele em 1821, eu em 1956.


0606.1

 

Nem Julius poderia prever

A vinda dela...

- Donna Vitória do Quinhão de César -

Imitando Caesar na Batalha de Zela

Veni- de peito aberto

Tendo certeza da vitória.

 

Dai a César o que é...

O tempo contribuiu, Vidi.

As palavras certeiras

Como armas no dia a dia.

César, na  vida somos perseverantes,

Vici.

 

O exemplo do Imperador segui

As estratégias de luta...

Veni, Vidi, Vici.

 

 

V.lima

06.06 2019.


1710.1

 

Como no romance de V. Nabokov (Lolita)

No meu conto real uma Annabel

De meus dias descrevo:

As testemunhas caminhões e veículos

Menores daquele posto Shell

De beira de estrada...

 

Ah Anabell, aquele momento

Poderia ser semelhante a Nobokov...

Seria tão perfeito, não fosse

Teus joelhos pernas pés trêmulos

E a boca muda e gelada, olhos inquietos

Como se eu estivesse tocando

Literalmente uma joia in natura...

 

Ah Anabell, aquelas testemunhas ao longe,

Simplesmente foram as únicas

Do único – primeiro momento de Annabell...

 

Virei a partir dali

Misto-mistura de Nabokov

Que nunca esqueceu a Annabel

Daquele episódio inesquecível.

 

 

V_Lima.

17/10/2019.