segunda-feira, 18 de julho de 2022

APRESENTAÇÃO DO LIVRO HISTÓRIA DE TERESINA

 



APRESENTAÇÃO DO LIVRO HISTÓRIA DE TERESINA


Teresina Queiroz

Historiadora e escritora

 

Nos anos 1920, os profundos revisionismos das formas até então aceitas de conhecimento sobre o mundo resultam em notável giro cultural. Esse giro dá as costas a grande parte da herança oitocentista, havendo assim um recuo de teorias consolidadas, modificações no campo da política e alterações nas crenças, no seu sentido mais amplo. Nesse conjunto de deslocamentos gestam-se as noções “novas” de organização do corpo social, bem como outros códigos de legitimação do conhecimento. As for- mas anteriores, ditas “velhas”, serão vergastadas não apenas na esfera da política, mas sobretudo nas formas de significação do mundo. Nesse cenário, as reconquistas feitas pela Igreja Católica deslocam antigos valores do catolicismo iluminista, desqualificam as práticas da religiosidade popular e silenciam cada vez mais os discursos anticlericais, assim como fustigam parte dos valores racionalistas. Ao mesmo tempo, no campo da cultura intelectual e artística, seguindo modelos das vanguardas europeias, explodem os modernismos artísticos e literários. No Brasil, com a Revolução de 1930, sacramenta-se esse desprezo pelo passado e assume-se a apologia do novo e a presença efetiva do século XX.

Os vendavais modernizadores e as inclinações modernistas do século XX produzem o apagamento da memória e o abandono de grande parte das escritas e do interesse por autores vindos do final do século XIX e início do século XX. Verifica-se aí uma cisão e um esquecimento de boa parcela do passado. As gerações da segunda metade do século XX, já distanciadas daquelas disputas e daquelas dores, sentem falta desse passado, inquietam-se com o silenciamento daquelas vozes e procuram ouvi-las. Nessa audição primeira, o estranhamento prepondera. Em paralelo às camadas de reconhecimento das experiências comuns, emergem as percepções de mundos que se perderam. Essa dialética do comungar e estranhar marca seguramente nossa relação com esses textos do passado.

Clodoaldo Freitas pertence àquelas gerações esquecidas e silencia- das. Sua extensa obra adormeceu em velhas coleções de jornais do norte do Brasil, por muitas décadas. Apenas no final dos anos 1980, ressurge o interesse por sua escrita. Essa redescoberta da obra e seu novo consumo cultural têm início com a publicação do História de Teresina (FREITAS, 1988), pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves em 1988.  Nos anos 1990, ocorrem a publicação da segunda edição do livro Em roda dos fatos (FREITAS, 1996) e a segunda edição do Vultos piauienses: apontamentos biográficos (FREITAS, 1998).

Ao tempo em que a Fundação Cultural Monsenhor Chaves editava o História de Teresina, dei início à pesquisa mais sistemática sobre a obra de Clodoaldo Freitas, que já estudava desde o ano anterior para a composição de trabalho acadêmico na Universidade de São Paulo (QUEIROZ, 1988). Os anos seguintes foram dedicados aos trabalhos de pesquisar, transcrever, datilografar, digitar e catalogar os resultados das buscas em diferentes locais, entre eles, Teresina, São Luís, Fortaleza, Belém, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Entre 1987 e 1992, foram localizadas mais de 800 matérias assinadas por Clodoaldo Freitas, ora com o próprio nome, ora com o uso de pseudônimos. Entretanto, o trabalho mais intensivo com essas matérias, tendo em vista a publicação de livros impressos ocorreu a partir de 2007, no âmbito do projeto de pesquisa Escrita e Sociedade: os homens de letras e suas múltiplas produções, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). No âmbito do projeto, ocorreu a preparação dos livros de Clodoaldo Freitas originalmente publicados na imprensa sob a forma de folhetim.

A publicação da obra literária inédita de Clodoaldo Freitas teve início em 2001. A preparação dos originas de O Bequimão (FREITAS, 2001) resultou de uma solicitação do presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Jomar Moraes.  A AML preparava, em convênio com o go- verno daquele estado, parte da produção da Coleção Maranhão Sempre.

No início do milênio, as formas de recuperação, preparação e manuseio de fontes primárias já haviam passado por sua revolução tecnológica. As cópias manuscritas tornavam-se relíquias medievais e os textos datilografados já não tinham função em um acervo. Face a essas mudanças, no ano de 2000, dei início à digitação de todo o acervo de obras de Clodoaldo Freitas resultante da pesquisa para a tese Os literatos e a República (QUEIROZ, 1992). A pesquisa mais intensiva acontecera entre os anos de 1988 e 1992, ainda subordinada ao processo de cópias manuais nos arquivos físicos e teve continuidade nos anos posteriores, especialmente durante a década de 1990. Assim, o acervo fora transcrito manualmente e datilografado ao longo de mais de uma década.

Por volta de 2007, a AML preparava as festas comemorativas de seu primeiro centenário, que ocorreriam no ano de 2008. No âmbito das publicações festivas apareceu a série Fundadores, homenagem da instituição aos seus criadores. Clodoaldo Freitas foi contemplado com a primeira edição do livro O Palácio das Lágrimas (FREITAS, 2008b), que recebeu o número 7, na coleção. A preparação dos originais foi realizada no âmbito do projeto Escrita e Sociedade, socializando mais uma vez a pesquisa realizada em anos anteriores e configurando a parceria entre a AML e o referido projeto. O projeto de pesquisa Escrita e Sociedade: os homens de letras e suas múltiplas produções, tinha como objetivo, dentre outros, organizar e publicar a obra literária de Clodoaldo Freitas e apresentá-la a novos leitores e pesquisadores. Objetivo adicional era o de constituir esforço coletivo de investigação e contribuir para a formação de discentes dos cursos de Licenciatura Plena em História, Licenciatura Plena em Letras, do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil (PPGHB) e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Piauí (PPGL) como pesquisadores. Uma de suas metas era ampliar o espectro da cultura do passado, conferindo-lhe visibilidade e permitindo a exploração científica e literária de obras até então inéditas, por estudiosos de diferentes disciplinas, compreendendo o estudo das relações entre os campos da História e da Literatura. A obra literária de Clodoaldo Freitas era revisitada também com o propósito de expandir o conhecimento das conexões entre as experiências sociais e a produção intelectual da virada do século XIX para o século XX, possibilitando explorar as virtualidades da história contidas no produto literário. O Projeto contou com bolsistas dos cursos acima referidos.

Ao longo da pesquisa para a tese de doutorado já havia localizado 46 textos literários desse autor. Quarenta e três desses títulos foram seleciona- dos e compuseram oito volumes publicados entre os anos de 2008 e 2010, a saber: Memórias de um velho (FREITAS, 2008a); O Bequimão (FREITAS, 2009b), Os bandoleiros (FREITAS, 2009c), Por um sorriso (FREITAS, 2009d), Coisas da vida (FREITAS, 2009a) e Um segredo de família e outros contos (FREITAS, 2009e); O Palácio das Lágrimas (FREITAS, 2010b) e Os Burgos e outros contos (FREITAS, 2010c). Na sequência dessas publicações também editamos Biografia e crítica (FREITAS, 2010a), coletânea privilegiando biografias de literatos, crítica literária e cultura popular.

A publicação desses romances-folhetins e sua divulgação propiciou o surgimento de dezenas de artigos científicos, apresentações em eventos, monografias e dissertações sobre Clodoaldo Freitas, abordando diferentes aspectos de sua extensa obra. Tomamos como exemplos os trabalhos de Antônio Fonseca dos Santos Neto, Maria do Socorro Rios Magalhães, Pedro Vilarinho Castelo Branco, Paulo Gutemberg de Carvalho Sousa, Mara Lígia Fernandes Costa, Neusa Maria Sales Brito, Ramon de Araújo Rodrigues, Angélica Vieira Santos e Camila de Macêdo Nogueira e Martins Oliveira.

Na Academia Piauiense de Letras (APL), a partir dos anos 1900, Celso Barros Coelho é o acadêmico que mais escreve sobre Clodoaldo Freitas. Foi responsável pelo capítulo sobre ele no livro Os fundadores (COELHO, 2018, p. 83-100). Coordenou, em 2005, as comemorações dos 150 anos de Clodoaldo Freitas; publicou artigo sobre ele na Revista Presença (COELHO, 2006, p. 8-12). No âmbito da Coleção Centenário da Academia Piauiense de Letras foram publicados publicadas a terceira edição de Em roda dos fatos (FREITAS, 2011), a terceira e a quarta edição de Vultos piauienses: apontamentos biográficos (FREITAS, 2012; FREITAS, 2014), a segunda edição de Os fatores do coelhado (FREITAS, 2019b) e A Balaiada (FREITAS, 2019a).

No conjunto dos livros publicados por Clodoaldo Freitas, o História de Teresina, agora em segunda edição, é o mais documentado, no sentido de ser tributário de grande e variada pesquisa arquivística – realizada em documentos oficias como relatórios de presidentes da província, mensagens dos governadores do estado, coleções de leis e decretos, leis orçamentárias, atos de nomeação e demissão de funcionários públicos, relatórios técnicos de engenheiros e construtores e correspondências diversas de agentes ligados ao Estado Imperial e à administração da coisa pública. Verifica-se também o uso da fonte hemerográfica, evidentemente tudo permeado por modos próprios de significar essas fontes e adicioná-las às suas lembranças e sensibilidades afetivas e políticas. O livro guarda certa tensão entre o tributo às fontes escritas e os posicionamentos dos antigos liberais que persistem no âmago da memória dos seus afetos e desafeições. Verifica-se busca de equilíbrio entre o radicalismo político de marca oitocentista e alguma contemporização episódica com o poder nos tempos republicanos.

Os livros têm sua história. Com este não é diferente. No final dos anos 1980 fizemos a transcrição do folhetim diretamente dos exemplares (ainda se pesquisava manuseando os jornais físicos) do Diário do Piauí.  Feita a cópia manual, que levava dias, a depender da extensão do documento, as matérias foram inicialmente datilografadas e, seguindo a evolução tecnológica em curso, aplicada ao trabalho do historiador, o volume foi digitado, tendo em vista a publicação na forma de livro. Entretanto, verificamos que havia muitas falhas e lacunas nas cópias, tornando imperativo o retorno ao Arquivo Público do Piauí. Mudanças na política de consulta já não possibilitavam o acesso direto aos jornais. O fato de o Arquivo dispor dos microfilmes produzidos pela Biblioteca Nacional não foi suficiente, pois a instituição não dispunha das máquinas leitoras apropriadas ao uso dos rolos de microfilmes. Assim as coisas foram não acontecendo, até que outras novas tecnologias viabilizaram as correções do texto, na medida do necessário à produção de uma revisão detalhada e rigorosa.

Nesse passo do cotejo entre o material já em parte produzido e as revisões finais de que resulta esta edição, utilizamos os recursos valiosos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Com esses recursos foi possível preencher informações, conferir a completude das cópias anteriores e estabelecer o texto com o maior grau de fidelidade possível a empreendimento dessa natureza. Esse acesso permitiu recuperar as citações na sua exatidão e indicar as fontes respectivas, descobrir e apresentar alguns equívocos do autor, ao realizar suas próprias transcrições de fontes e deixar bem remarcado para o leitor onde estão as falas documentais e as partes dos textos propriamente de autoria de Clodoaldo Freitas. Essas distinções não eram muito nítidas na leitura da fonte em seu veículo original e sob a forma folhetim. Com esse procedimento, buscamos facilitar a compreensão dos textos, desde que os leitores atuais já os consomem debaixo de convenções muito próprias, em que os regramentos, inclusive da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), constituem metalinguagem consensual no mundo acadêmico. Nas regras de estabelecimento do texto, optamos pela utilização do sistema autor-data, o que torna o livro mais aproximado da versão original e pela adição de notas explicativas, quando havia alguma dificuldade para o entendimento do texto ou o autor incorria em equívoco na indicação da fonte ou na exatidão da informação. A partir dessa etapa, o trabalho passou a ser feito em parceria com Ronyere Ferreira e todos esses procedimentos foram realizados seguindo discussões e ajustes negociados passo a passo entre os organizadores.

História de Teresina é a mais extensa produção historiográfica de Clodoaldo Freitas e também a primeira história da cidade. Com raras exceções de avanço no recorte cronológico, pode-se afirmar que trata dos primeiros 50 anos da história da segunda capital do Piauí. Nesse recorte, é seguido por outra importante história de Teresina, a de Monsenhor Chaves – Teresina: subsídios para a história do Piauí, de 1952 (CHAVES, 1952).

Clodoaldo Freitas pesquisou, redigiu e publicou o folhetim História de Teresina, em concomitância a sua gestão como primeiro diretor do Arquivo Público do Piauí, instituição criada por Anísio de Abreu, em 1909.  Ao tempo em que organizava a variada e desordenada documentação oficial, elaborava as matérias que iam sendo publicadas no jornal Diário do Piauí.

Por fim, gostaria de fazer algumas observações acerca das práticas escriturísticas nas primeiras décadas do século XX. O fascinante mundo da escrita e da leitura está muito mais próximo da efervescência da vida dos que podem supor essas décadas iniciais do século XXI, seduzidas por uma extraordinária variedade de meios de expressão e comunicação, pela pluralidade de suportes midiáticos e pela verdadeira parafernália de recursos de interação global. Esse mundo de palavras, em parte já perdidas, era um mundo que desejava apaixonadamente transformar o texto em modelador social, interferindo na esfera da política em seu sentido mais largo, em que se podem incluir os espaços mais recônditos da vida privada e o incitamento às silenciosas revoluções nos costumes. A palavra muitas vezes é delicada e sutil. Ainda mais, a palavra é punhal, fuzil e navalha. É ardil e verdade, força e persuasão, redenção e vingança. Transpõe a barreira do sagrado e imerge no profano no suspender da pena ou no ranger do prelo. Dominá-la é domar a corrente do tempo, é modelar a opinião. Palavra é poder na mais radical expressão do termo. Escrever, para muitos, é o senti- do mesmo da vida. Dessa forma, boa parcela da produção escrita dos séculos XIX e XX deve ser compreendida como uma das mais legítimas formas de expressão de uma pulsante vida social, experimentada e construída sob o signo de um imaginário já agora em parte perturbador para nós.

 

Teresina, 10 de agosto de 2020.

 

REFERÊNCIAS

 

CHAVES, Joaquim (Mons.). Teresina: subsídios para a história do Piauí. Te- resina: [s.n.], 1952.

 

COELHO, Celso Barros. Clodoaldo Freitas: homem representativo. Revista Presença, Teresina, ano 21, n. 36, p. 8-12, 2006.

 

COELHO, Celso Barros. Clodoaldo Freitas: inteligência superior. In: COSTA, Nelson Nery (Org.). Academia Piauiense de Letras: os fundadores. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2018. p. 83-100.

 

FREITAS, Clodoaldo. História de Teresina. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1988.

 

FREITAS, Clodoaldo. Em roda dos fatos. Prefácio de Teresinha Queiroz. 2 ed. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1996.

 

FREITAS, Clodoaldo. Vultos piauienses: apontamentos biográficos. Prefácio de Maria do Socorro Rios Magalhães. 2. ed. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1998.

 

FREITAS, Clodoaldo. O Bequimão: esquisso de um romance. Prefácio de Antônio Fonseca dos Santos Neto. São Paulo: Siciliano, 2001.

 

FREITAS, Clodoaldo. Memórias de um velho. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2008a.

 

FREITAS, Clodoaldo. O Palácio das Lágrimas. Apresentação de Jomar Moraes. São Luís: AML/EDUEMA, 2008b (Série Fundadores).

 

FREITAS, Clodoaldo. Coisas da vida. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2009a.

 

FREITAS, Clodoaldo. O Bequimão: esquisso de um romance. 2. ed. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Prefácio de Antônio Fonseca dos Santos Neto. Imperatriz: Ética, 2009b.

 

FREITAS, Clodoaldo. Os bandoleiros. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2009c.

 

FREITAS, Clodoaldo. Por um sorriso. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2009d.

 

FREITAS, Clodoaldo. Um segredo de família e outros contos. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2009e.

 

FREITAS, Clodoaldo. Biografia e crítica. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2010a.

 

FREITAS, Clodoaldo. O Palácio das Lágrimas. 2. ed. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2010b.

 

FREITAS, Clodoaldo. Os Burgos e outros contos. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. Imperatriz: Ética, 2010c.

 

FREITAS, Clodoaldo. Em roda dos fatos: crônicas. 3. ed. Brasília; Teresina: Senado Federal; Academia Piauiense de Letras, 2011. (Coleção Centenário, 2).

 

FREITAS, Clodoaldo. Vultos piauienses: apontamentos biográficos. 3. ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras/EDUFPI, 2012. (Coleção Centenário, 4).

 

FREITAS, Clodoaldo. Vultos piauienses: apontamentos biográficos. 4. ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras/EDUFPI, 2014. (Coleção Centenário, 4).

 

FREITAS, Clodoaldo. A Balaiada. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2019a. (Coleção Centenário, 142).

 

FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Te- resina: Academia Piauiense de Letras, 2019b. (Coleção Centenário, 87).

 

QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as tiranias do tempo. 1992. Tese (Doutorado em História Social). São Paulo: USP, 1992.

 

QUEIROZ, Teresinha. Notas sobre o anticlericalismo na literatura piauiense. São Paulo, 1988. (Monografia inédita).

domingo, 17 de julho de 2022

TRAGICOMÉDIA

Fonte: Elmar Carvalho

 

TRAGICOMÉDIA

 

Elmar Carvalho


Preso no

ventre estreito

do Universo,

tenho um acesso

de claustrofobia.

Fruto mau

de árvores boas,

sou estéril

(para não ter maus frutos).

Nasci prematuramente

e morrerei depois

da hora.

(Sou teimoso como

um joão-teimoso.)

Guiado por cego

e conversando com

surdo-mudo,

fui tachado de

débil mental.

Mas isto é um

eufemismo:

eu sou mesmo é

um doido varrido,

por força da necessidade.

Sou triste.

Mas eu vejo a tristeza

como lágrimas

nos olhos do diabo.

 

           Pba. 09.77

sexta-feira, 15 de julho de 2022

No Cemitério da Ressurreição

 



No Cemitério da Ressurreição

 

Elmar Carvalho

 

Cheguei cedo, ontem, ao Cemitério da Ressurreição, já que o horário do sepultamento do Dr. José Ramos Dias da Silva Filho fora adiado para as 17:30 horas. Assim, fui dar uma olhada no jazigo que adquiri décadas atrás, e felizmente ainda não “inaugurado”. Como não o localizasse de plano, fiquei olhando as lápides de túmulos, que julguei ficassem no seu entorno. Tendo essa busca resultado infrutífera, fui à administração para receber a sua localização precisa. Um prestativo funcionário me levou ao jazigo.

Como tudo estivesse em ordem, inclusive a pequena lápide de identificação, me dediquei a verificar quais eram os meus “vizinhos”. Mais uma vez constatei que o sepulcro contíguo da direita pertencia ao saudoso amigo Maury Mauá de Queiroz, de sonoro nome, quase musical. Ele possuía um estabelecimento comercial, no cruzamento da Rua Olavo Bilac com a 24 de Janeiro, na realidade um bar conhecido como o Bar do Repórter.

Entre outros jornalistas, era seu cliente o apresentar de TV Luís Carlos Maranhão, que se tornou piauiense por se ter radicado em Teresina. Nesse bar bebi algumas vezes, em minha juventude, com o notável poeta Jamerson Lemos, pernambucano, mas que também se radicara em nossa capital.

Ao ver atentamente a lápide de seu túmulo, me recordei desse tempo feliz de minha juventude. Nela constava que Maury nascera em 01/01/1938 e falecera em 12/02/2005. Portanto, falecera com 67 anos de idade. Havia a seguinte citação de Santo Agostinho, numa versão um pouco diferente e ampliada: “Uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao trono de Deus.”

Ao ler o pedido de oração e ao me lembrar que certa vez o amigo que se chamou Maury Mauá de Queiroz se preocupou comigo fiz breve oração, em que pedi por sua salvação. O fato singelo foi o seguinte: após tomar umas poucas talagadas de cuba libre, numa época em que não havia lei seca, e ainda no vigor e entusiasmo de minha juventude, fui embora em minha motocicleta. Mal cheguei a minha residência, o telefone fixo tocou. Era o poeta Jamerson que ligava, por insistência do Maury, que desejava saber se eu chegara bem. Foi com essa comovente lembrança, que fiz minha oração.

Na cerimônia antecedente ao enterro, o Alberto, em seu conciso pronunciamento, disse com muita ênfase e firmeza, que seu irmão, o Juiz de Direito José Ramos Dias da Silva Filho, tinha como principal qualidade ser um homem bom, que procurava não prejudicar quem quer que fosse. Creio não existir melhor virtude que a bondade. Nas eloquentes palavras do já citado Agostinho, bispo de Hipona, padre da Igreja, verificamos que “o amor é a beleza da alma”. Diria que quem tem amor é bom, e quem é bom é porque tem amor.

O Alberto poderia ter desfiado os títulos de José Ramos, os cargos que exercera, as comarcas de que fora titular; que ele descendia dos desembargadores Augusto Ewerton e Silva e Fernando Lopes e Silva Sobrinho, e era irmão do Des. Fernando Lopes e Silva Neto, atual corregedor-geral da Justiça. Mas preferiu se referir às virtudes que lhe ornavam a alma, entre as quais primava a bondade.

Ao ouvir suas palavras não pude deixar de me lembrar do episódio em que um forasteiro presenciou um sepultamento em cidade interiorana. Ante a notável quantidade de pessoas presentes ao campo santo, ele perguntou a um homem que chorava copiosamente se o morto era um homem muito importante, ao que o interpelado teria respondido, entre soluços: “Não sei se ele era importante. Sei que era um homem bom.”

Da mesma forma direi, corroborando as palavras de seu irmão: José Ramos era um homem bom. E agora está numa das moradas do Senhor.   

terça-feira, 12 de julho de 2022

LANÇAMENTO DE POEMITOS DE/NA PARNAÍBA

Lili Machado, Mestre Ageu, Elmar, Cego Bento e Janaína Sampaio
Vicente de Paula, Zé de Maria, Elmar e Cosme Sousa
Janaína Sampaio, Fernando Gomes e B. Silva
Alcenor Candeira Filho

 

OBSERVAÇÃO: as fotos são de um lançamento posterior, sob o patrocínio do SESC-PI.


LANÇAMENTO DE POEMITOS DE/NA PARNAÍBA


Elmar Carvalho


No sábado passado aconteceu o lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, substancialmente enriquecido com as excelentes charges de Gervásio Castro, que se encontrava presente, assim como o seu irmão Fernando, também mestre nesse tipo de arte plástica. A solenidade aconteceu no auditório Testa Branca, na sede da Academia Parnaibana de Letras – APAL.

Revi muitos amigos e confrades. O poeta Alcenor Candeira Filho, com a sua maestria de sempre, discorreu sobre os autores das charges e dos poemas e sobre o livro, analisando as produções escritas e visuais. Na minha explanação, falei que a História não é feita somente pelos chamados grandes homens, mas também pelas figuras simples e humildes, como as que inspiraram os poemas de meu livro. Reforcei o meu discurso citando o poema Quem faz a História, de Bertold Brecht.

O presidente Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, em ritmo de crônica, mas com grande proficiência, interpretou a obra e falou dos personagens que inspiraram os textos e as charges. O prefeito Zé Hamilton, mestre consumado do improviso, arrematou com chave de ouro o discurso de todos os oradores que o precederam. Já publiquei o belo texto do Alcenor em meus blogs. O Pádua ficou de me enviar o seu para essa mesma finalidade.

Foi exibido o vídeo Parnaíba no Coração, em que há um pequeno depoimento meu sobre os tempos em que morei em Parnaíba e clips de alguns dos meus chamados poemas parnaibanos. Esse vídeo foi realizado pelo Sebastião Amorim, com imagens e textos que lhe forneci. Tudo parecia conspirar para que o DVD não fosse exibido. O meu computador e o aparelho de data show criaram uma incompatibilidade.

A acadêmica Dilma Pontes foi decisiva para a solução do problema, pois mandou buscar em sua casa seu aparelho de DVD, que lhe auxilia em sua função magisterial na UFPI. Mesmo assim houve conflito entre seu aparelho e o cd. O conteúdo teve que ser transferido para um pen drive, e finalmente a incompatibilidade foi vencida e o audiovisual exibido. Creio ter sido válido esse esforço, pois o trabalho foi bastante aplaudido e elogiado pelos presentes. 

A confreira Dilma foi muito solícita e empenhada em resolver a dificuldade midiática, de modo que lhe sou muito grato por isso. Também contei com a ajuda e a solicitude da Conceição Teles, amiga de minha mulher. Entre muitos outros amigos, se fizeram presentes o Canindé Correia, o Antônio Gallas, Vicente de Paula, o Potência, Bernardo Silva, Florentino Neto, Régis Couto, Marçal Paixão, que levou um exemplar para o amigo Genésio Costa, que não pôde comparecer.

Compareceram dois representantes do grupo d' O Piagüí, que é responsável pelo jornal impresso e portal de mesmo nome, o Daniel Ciarlini e o Arlindo Leão. É uma turma de muito valor, tanto pelo esforço em manter esses órgãos, como pelo mérito intelectual e literário. Noto neles outras grandes qualidades: reconhecem o valor alheio e não são dados a ciúmes e picuinhas, tão encontradiços nos mesquinhos e invejosos. Abrilhantaram a festa cultural os confrades padre Soares, Wilton Porto, Maria do Amparo Coelho, Cristina Moraes Souza e Dilma Pontes.

Considerando as apresentações escritas do Alcenor, do Pádua Santos, um notável artigo escrito pelo poeta Wilton Porto e mais o prefácio do Cunha e Silva Filho, posso dizer que o livrinho já tem a sua fortuna crítica. Durante a sessão de autógrafo, no quintal, foi servido o coquetel. No final, já com menos pessoas, o Zé Hamilton, que é um mestre na arte da conversação, entreteve animada roda com uma sequência de casos anedóticos engraçados, coadjuvado por alguns dos presentes.

3 de abril de 2010

domingo, 10 de julho de 2022

Seleta Piauiense - Clóvis Moura

Fonte: Google

 

Soneto Marinho

 

Clóvis Moura (1925 – 2003)

 

Entre o meu riso e o teu sorriso – o mar.

Um mar ausente, imaginário, salso

que expande em translúcidos luares

e atira estrelas nos teus olhos fundos.

Entre nós dois um mar incandescente

de ausências cristalina. Estelares

constelações retidas na memória

e as estrelas marinhas tatuadas.

Tatuadas em nós e no silêncio

desses faróis eternos e apagados

que apontam a praia e a crista dos rochedos.

Esse mar invisível e enigmático

chama e convida. A quê? Sabê-lo cansa

pois teu sorriso é a dúvida que penso.

 

São Paulo, 10 de outubro de 1991.

 

Extraído de “Duelos com o Infinito”, SEDUC, 2005   

sábado, 9 de julho de 2022

Farinha com açúcar



Farinha com açúcar

 

Pádua Marques

Cronista, contista e romancista

 

Raros foram os meninos de meu tempo que não comeram farinha com açúcar. No fantasioso mundo de um menino pobre não existia melhor merenda do que farinha com açúcar. Melhor até que um pedaço de rapadura, uma cocada de abóbora, um pedaço de doce de goiaba, quebra-queixo, um bombom de açúcar queimado. E mais ainda se era escondido de nossa mãe e dentro de uma xícara. Havia a tensão, o medo da descoberta pelo malfeito e isso era que nos dava prazer.

Comer farinha com açúcar era uma merenda barata, mas pra se conseguir os ingredientes muitas das vezes nos custava uma surra ou um puxão de orelhas. Mas era aquele pedaço de nosso dia mais rico de aventuras. A viagem até a cozinha e em lá chegando se descobrir onde estavam as duas latas, a de farinha branca e a do açúcar, aquela que daria um toque de sabor se dependendo de quantas colheres seriam necessárias na mistura.

E os olhos e os ouvidos da gente apurados no sentido da porta a procurar qualquer vestígio um barulho que pudesse ser de nossa mãe vindo nos pegar com a mão na massa. Uma a uma as colheradas de farinha e de açúcar indo pra dentro da xícara e depois os passos cheios de medo indo até a porta e de lá alcançando o fundo do quintal. Pronto, a aventura estava realizada, comer farinha com açúcar!

Nossas mães nunca gostavam de saber ou descobrir que os meninos andavam mexendo na cozinha atrás de lata de farinha e de açúcar. Diziam que quem comia estava criando lombrigas e a gente com esse bicho na barriga morria mais cedo. Mas não adiantava esse carão. Às vezes até elas mesmo, sem saída pra nossos pedidos, acabavam fazendo a receita maravilhosa. E até acrescentavam naquela mistura umas gotinhas de leite de vaca. Uma maravilha!

Da mesma forma que farinha com açúcar, outra coisa boa de se comer escondido era leite em pó. Naquele tempo agora é que estava aparecendo nas quitandas o tal leite em pó Ninho. Vinha numa lata pequena e com rótulo amarelo e a gravura de um ninho de passarinhos. E a curiosidade era que dentro da lata vinha um papeirinho de folha de Flandres. A lata de leite era trazida pelo pai quando recebia dinheiro e a gente acabava de ganhar um irmão.

Aquela lata embrulhada no papel tinha um significado: que o nosso irmão, aquele que mal engatinhava, acabara de ficar no canto. Era como se dizia com aquele que perdia o trono, o lugar no colo da mãe e as atenções de todos que eram gente grande. E a gente achava quando havia um descuido de nossa mãe, de procurar a mais cobiçada de todas as coisas da casa naquele momento, a lata de Leite Ninho, e de posse de uma colher encher a boca. Ruim era quando aquele negócio grudava no céu da nossa boca ou por um descuido caía de cheio na nossa cara.

  

Farinha com açúcar

 

Pádua Marques

Cronista, contista e romancista

 

Raros foram os meninos de meu tempo que não comeram farinha com açúcar. No fantasioso mundo de um menino pobre não existia melhor merenda do que farinha com açúcar. Melhor até que um pedaço de rapadura, uma cocada de abóbora, um pedaço de doce de goiaba, quebra-queixo, um bombom de açúcar queimado. E mais ainda se era escondido de nossa mãe e dentro de uma xícara. Havia a tensão, o medo da descoberta pelo malfeito e isso era que nos dava prazer.

Comer farinha com açúcar era uma merenda barata, mas pra se conseguir os ingredientes muitas das vezes nos custava uma surra ou um puxão de orelhas. Mas era aquele pedaço de nosso dia mais rico de aventuras. A viagem até a cozinha e em lá chegando se descobrir onde estavam as duas latas, a de farinha branca e a do açúcar, aquela que daria um toque de sabor se dependendo de quantas colheres seriam necessárias na mistura.

E os olhos e os ouvidos da gente apurados no sentido da porta a procurar qualquer vestígio um barulho que pudesse ser de nossa mãe vindo nos pegar com a mão na massa. Uma a uma as colheradas de farinha e de açúcar indo pra dentro da xícara e depois os passos cheios de medo indo até a porta e de lá alcançando o fundo do quintal. Pronto, a aventura estava realizada, comer farinha com açúcar!

Nossas mães nunca gostavam de saber ou descobrir que os meninos andavam mexendo na cozinha atrás de lata de farinha e de açúcar. Diziam que quem comia estava criando lombrigas e a gente com esse bicho na barriga morria mais cedo. Mas não adiantava esse carão. Às vezes até elas mesmo, sem saída pra nossos pedidos, acabavam fazendo a receita maravilhosa. E até acrescentavam naquela mistura umas gotinhas de leite de vaca. Uma maravilha!

Da mesma forma que farinha com açúcar, outra coisa boa de se comer escondido era leite em pó. Naquele tempo agora é que estava aparecendo nas quitandas o tal leite em pó Ninho. Vinha numa lata pequena e com rótulo amarelo e a gravura de um ninho de passarinhos. E a curiosidade era que dentro da lata vinha um papeirinho de folha de Flandres. A lata de leite era trazida pelo pai quando recebia dinheiro e a gente acabava de ganhar um irmão.

Aquela lata embrulhada no papel tinha um significado: que o nosso irmão, aquele que mal engatinhava, acabara de ficar no canto. Era como se dizia com aquele que perdia o trono, o lugar no colo da mãe e as atenções de todos que eram gente grande. E a gente achava quando havia um descuido de nossa mãe, de procurar a mais cobiçada de todas as coisas da casa naquele momento, a lata de Leite Ninho, e de posse de uma colher encher a boca. Ruim era quando aquele negócio grudava no céu da nossa boca ou por um descuido caía de cheio na nossa cara.  

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Pequeno comentário ao poema Insônia

Fonte: Google


Pequeno comentário ao poema Insônia


Des. Brandão de Carvalho


Querido Elmar … li e apreendi “as contendas” das palavras do ícone Drumond de Andrade, de nosso perfeccionista Elmar Carvalho, do nosso cientista das ciências exatas e inexatas, o monstro sagrado professor Jônathas Nunes; mesmo que Carlos Drumond de Andrade, tivesse criado simbolicamente “ a pedra no caminho”, nós outros pela vasta experiência, sabemos “ os caminhos das pedras ", passamos por elas como num processo de levitação, ou arrodeios, e ainda teremos a oportunidade de talhá-las de pedra bruta que são, para pedras polidas se adequando aos nossos nobres e santificados princípios maçônicos! Parabéns pelo texto, diga ao presidente Zózimo, que sou um notívago insone, só chego aos braços de Morfeu, através de soníferos específicos … dizem que há um ponto positivo nestes casos, se vive mais, para os que sabem aproveitar as horas indormidas!  

A Insônia e a pedra no meio do caminho

Arte de Elmara Cristina

A Insônia e a pedra no meio do caminho

 

Elmar Carvalho

 

Nesses dias publiquei o meu poeminha Insônia no meu blog e em vários outros sítios da Internet, inclusive no grupo de WhatsApp da Academia Piauiense de Letras. O pequeno poema foi escrito, creio, no final dos anos 80 ou nos 90. Sua gênese, como o nome sugere, foi mesmo uma insônia, que me acontece muito raramente. Hoje me deparei com a seguinte postagem do Comandante Jônathas Nunes, confrade de muita inteligência e argúcia, e de notável sinceridade e franqueza, que considerei pertinente:

“Comandante Elmar,

Mesmo sem rima e sem métrica, seu sugestivo poema INSÔNIA traz a marca inconfundível da veia poética. Desde criança, aprendi a ser reticente a toda poesia desprovida de rima e de métrica. Fui despertado desde bem jovem a admirar o ritmo e a cadência dos poemas de Castro Alves, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Gonçalves Dias e tantos outros luminares da pirâmide literária brasileira. Sempre vi e vejo, com justa apreensão, ainda hoje, a Semana de Arte Moderna de 1922, no que ela pretendia trazer, no campo da literatura, de ruptura com o passado romântico do sec. XIX. Nesse sentido, cultuo com especial desvelo a produção literária pré-Semana de Arte Moderna, de fevereiro de 1922. A Arte Lusófona desde então, se torna especialmente exigente ao mergulhar nas águas lustrais da crítica literária. Se tudo que é belo é rítmico,  como mergulhar no sentimento de beleza de um poema pós- semana de arte moderna? Inobstante, Drummond conseguiu com maestria e altivez atingir a glória literária, com o poema, hoje universal – No Meio do Caminho Tinha uma Pedra!

 

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra.

Tinha uma pedra no meio do caminho,

No meio do caminho tinha uma pedra.

 

Pasme! Sem métrica e sem rima! Feito pra poucos! Muito poucos! Pouquíssimos!

E agora, décadas após, já em pleno sec. XXI, o nosso estimado Acadêmico Elmar, no poema - INSÔNIA, reedita o fascínio de – NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA, de Drummond.

 

INSÔNIA

 

No silêncio abissal

Da noite estagnada

A engrenagem pesada

Do tempo se desenrola

E desaba sobre mim.

 

As botas cadenciadas

Das horas, marcham

- lentas lesmas -

Marcham Infinitamente

Na noite sem fim.

 

DRUMOND deve ter se valido do clima das Alterosas.

ELMAR deve ter provado o Veneno das Horas de Hardi Filho em alguma madrugada mal dormida em Parnaíba.

A  APL  ESTÁ  DE  PARABÉNS.”

 

Em seguida o presidente Zózimo Tavares, um mestre da palavra e da concisão, sem perder o seu senso de humor, cravou o seguinte comentário, que muito me desvanece: “Vê-se, confrade Jônathas, que, em matéria de poesia, o vate Elmar não dorme no ponto.”

Ato contínuo, ao receber o exímio e milimétrico passe, o confrade Reginaldo Miranda, com a sua argúcia e olhos de águia e de Argos, que um bom historiador como ele deve ter, chutou para fazer um gol de placa ou cinematográfico: “Excelente análise e oportuna a comparação com o poema de Drummond. No entanto, percebo pela hora da postagem que o comandante Jônatas também estava com insônia, o que demonstra a produtividade literária nas noites indormidas dos nossos acadêmicos.”

O acadêmico e poeta Luiz Ayrton, não menos apetrechado que os demais colegas, ao receber a pelota, emendou de primeira, em primoroso voleio: “Ótima reflexão. Seria um conflito de gerações? Sou apaixonado pelos poemas não rimados, o poema que brinca com as sílabas e palavras soltas, a poesia visual, a literatura underground…”

Zózimo Tavares voltou à contenda para comentar o comentário do Reginaldo: “E o confrade Reginaldo, como bom fazendeiro, é madrugador.” E, logo em seguida, o do Luiz Ayrton: “Em ambos os casos, a luta com as palavras, como ensinava o Drummond.” Fazendeiro, estudioso e pesquisador, acrescento eu, referindo-me a Miranda.

Não me restou opção, senão agradecer os amigos e confrades pelos seus comentários, todos pertinentes e untados de certa jocosidade, conquanto tenha me dirigido mais ao amigo Jônathas Nunes, que foi o estopim de tudo isso:

“Excelentes e muito inteligentes as suas análises e observações ensejadas pelo meu poeminha Insônia, e muito lisonjeado fico por ele ter sido comparado ao celebérrimo poema drummondiano titulado "No meio do caminho tinha uma pedra".

Devo dizer que lanço mão de rimas, só que sem rigidez, e vez ou outra; e que, embora não use propriamente a métrica, procuro e, às vezes, alcanço polimetrias em certas composições, bem como não dispenso o ritmo das palavras ajustadas e rejuntadas.

Gostei das postagens subsequentes dos confrades. Assim, peço licença a todos para fazer um alinhavado de montagens e compor um texto a várias mãos, que publicarei aqui e em outros sítios internéticos. Obrigado a todos os amigos e confrades!”

Espero tenha saído esse texto uma aconchegante colcha de retalhos, embora sem a beleza das confeccionadas pelas artesãs, já que este costureiro não lhes tem a habilidade e perícia; e tampouco seja um monstro de Frankenstein, por falta de preparo e perícia deste cirurgião.

 

P.s.: após ter enviado o texto acima para os meus contatos, recebi, por WhatsApp, o seguinte comentário do poeta Walter Lima:

“Pesadas de valor e levíssimas palavras no reconhecimento do teu valor de poeta; (A)Note-se Poeta e dos bons da galeria de tantos Vates piauienses.

Nada foge, nada deve,  na produção, na qualidade, no esmero com a Palavra,  aos outros confrades da finíssima arte do poetar....

Parabéns pela riqueza que já tem produzido e também pelo muito que ainda tem a produzir, não no sentido quantitativo, mas sim, no sentido da qualidade.

Muito comparo um poeta a abelha que no silêncio faz seu trabalho tão importante, não precisa do alarde como das hienas, que só vivem de risos histéricos e o apropriar-se da caça alheia.

Avoé Poeta El-Mar!”

Recebi também a seguinte mensagem do Irm.: Fernando Rocha:

"Pela primeira vez, ouso opor minha opinião à sua.  O trabalho traçado por suas palavras, de certo modo, trouxe à minha mente a figura do ponto Paris - utilizado pelas exímias bordadeira da Parnaíba para unir peças da arte do bordado alinhavadas em tecidos avulsos, revelando a beleza do conjunto sem, contudo, desmerecer a beleza individual de cada parte agora unida por este enlace - uniu a singeleza de cada comentário, transformando-os em um único corpo, porém, mantendo-se fiel ao estilo individual de cada pena que os escreveu. Fantástico!

Com um fraterno abraço,

Fernando Rocha

Cadeira 32 da AMALPI

quinta-feira, 7 de julho de 2022

ARROUBOS DE SUBSERVIÊNCIA

Fonte: Google

 

ARROUBOS DE SUBSERVIÊNCIA


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Costumam dizer os ficcionistas, diante de um texto, áudio ou vídeo, no qual descrevem ou mostram atos ou fatos com algumas similaridades ou características comuns a pessoas, coisas ou lugares reais, que não fora sua intenção fazer aquilo e que, pois, qualquer semelhança teria sido mera coincidência. O mesmo acontecerá conosco daqui em diante.

             Já há algum tempo ele vinha manifestando arroubos de subserviência política e militar. De tanto treinar, o menestrel do besteirol se especializou no assunto. Politicamente, dualista: aqui, torce pela esquerda; lá, pela direita; em ambos os casos, como não é nenhum bobo, defendendo a manutenção do status quo. Ética e moral que se lixem.

                Naquela oportunidade, viria a público, assomaria faceiro tentando, subliminarmente, reavivar nossas recordações - acalmadas, tranquilas, sossegadas, conformadas, graças à ação do tempo - sobre uma chaga política que julgávamos já extirpada do nosso meio: o “mapismo” eleitoral, assunto desenterrado após décadas de salutar e confortável lisura nos processos de votação. Que oportuno o ressoar, o retomar do tema, agora, com o início formal de um período que culminará – queira ele ou não – com um grande e democrático pleito eleitoral, do qual se espera, senão que seja dos mais pacíficos e tranquilos, dos mais legítimos, justos e honestos. De sua ação deletéria, chama as forças armadas para testemunhar.

                Parece querer a figura – talvez porque vislumbre que, consumado o processo eleitoral, o resultado das urnas eletrônicas não agradaria seus ídolos políticos – que voltemos nossas ações, ou melhor, as que ele nos propõe, às benditas urnas, às quais indivíduos, cujo pensamento sobre o assunto coincide com o dele, de repente, passaram a considerar frágeis, violáveis, enquanto receptáculos do voto digital individualizado, pois, indevassáveis, se a intenção, segundo os mesmos céticos, for fiscalizá-las, auditá-las; daí, quererem o retorno, ainda que não em sua totalidade, do voto impresso e, no seu rastro, a possibilidade da fraude eleitoral; há décadas, bom que relembre, cidadão, sua lisura, eficiência e segurança foram comprovadas aqui e alhures; na verdade, ela é um dos poucos motivos de orgulho, do ponto de vista eleitoral, para a nação e os brasileiros sérios. Se houvesse razões suficientes, tempo e custos prontos para serem ignorados, caso lhes fossem aplicados inéditos ou inusitados procedimentos visando depreciá-las, após negadas as suspeitas, será que vaticinadores de desgraças, como certos fanfarrões, admitiriam ter dado com os burros n’água? Elas deixam os cidadãos que preferem uma boa disputa política tranquilos, sossegados; surpresas, em havendo, talvez as decorrentes de mudança de intenção do eleitor na hora de registrar seu voto, frustrando candidatos, partidos e pesquisas perniciosas, fictícias, feitas para tentar enganar pessoas comprometidas com um processo eleitoral legítimo e justo.

                Que as forças armadas fiquem nos quartéis, nas casernas, casamatas, executando ou articulando planos e ações visando a segurança do povo brasileiro e a manutenção da soberania nacional; permita, prezado, que das urnas e de todo o desenrolar do processo eleitoral cuidem as autoridades judiciais legítimas, competentes. Manifestação como a daquele, só se justificaria na hipótese de estar saudoso dos tempos em que a população civil, por ser perigosa, na visão dos ditadores, é que precisava ficar intramuros, no recinto das cidadelas domiciliares, enquanto elas saíam às ruas para vigiar-nos, impedir que fizéssemos ou disséssemos algo que não soasse bem diante do script idealizado.

                Se isso for exigido nos autos que a arguirem, que a interpretação da Constituição seja feita por quem de direito. Em tempo de eleição, ideal é que órgãos e pessoas, legalmente, responsáveis pelos procedimentos eleitorais, e não leigos ou falastrões, se manifestem; que, no momento em que se faça necessário, qual seja, o do depósito do voto nas urnas eletrônicas, e após a apuração dos resultados, possa vir a Justiça eleitoral para, ainda que todo o processo haja transcorrido de forma exitosa, dar prazo para recursos julgados cabíveis, em seguida, anunciar, oficialmente, os nomes dos eleitos. A maneira mais eficiente de as forças armadas se mostrarem presentes e atuantes, nesses momentos, é se mantendo ao largo, cuidando de suas atribuições individuais e corporativas que, bom ressaltar, necessariamente, não incluem atividades eleitorais.

                Apenas reiterando, a quem interessar possa, por aqui, ninguém é mais competente para imiscuir-se em processos e procedimentos eleitorais do que a Justiça Eleitoral – assim não fosse, por que já não extirpada do organograma administrativo do Poder Judiciário? -; do mesmo modo, ninguém entende mais do Métier que as forças armadas desempenham – zelar pela segurança de todos os brasileiros ou habitantes do Brasil, manter e garantir a soberania nacional – do que elas mesmas.

                Menos mal que pretensa incitação à intromissão no processo eleitoral pelas forças armadas, em que alguém vaticina, inclusive, sobre sua não realização, caso aquelas não sejam ouvidas, seja pregada por voz, senão inaudível, de baixa intensidade; de individuo, cuja inexplicável subserviência talvez devesse ser matéria de estudo psicológico ou psiquiátrico.   

quarta-feira, 6 de julho de 2022

INSÔNIA

Fonte: Google


INSÔNIA


Elmar Carvalho

 

No silêncio abissal

da noite estagnada

a engrenagem pesada

do tempo se desenrola

e desaba sobre mim.

 

As botas cadenciadas

das horas marcham

– lentas lesmas –

marcham infinitamente

na noite sem fim...

terça-feira, 5 de julho de 2022

PAULO DE TARSO

Fonte: Google


PAULO DE TARSO


Alcione Pessoa Lima

Poeta e cronista


Boas lembranças nunca devem ser esquecidas. Principalmente, as do tempo de criança, onde se faz muitos amigos. Acontecem entre vizinhos; colegas da escola; nas boas peladas no campinho de várzea; e, principalmente, em turmas reunidas na calçada, brincando, conversando e fazendo traquinagens.

Assim, dentre essas pessoas memoráveis, conheci Paulo de Tarso Moraes, uma figura humana simples, mas que, mesmo com todas as dificuldades da vida, tornou-se jornalista, cidadão respeitado em nossa Capital, para surpresa minha, pois, somente muitos anos depois, o reencontrei brilhando no cenário das comunicações da cidade (embora sem graduação na érea e, sim, em Filosofia, concluída próximo ao seu falecimento), obviamente, sua aptidão recebeu grande força e orientações de seu tio, imortal da Academia de Letras de nosso Estado, escritor Herculano Moraes. 

Quando vizinhos, era assíduo frequentador de minha casa, não somente para brincadeiras, mas, principalmente, para junto dos amigos, assistir TV, na época, somente com os canais Clube, iniciando, ou Tv Ceará, que era repetidora da extinta Rede Tupi. Entre filmes, jogos, novelas, lá estava ele, com uma camisa em tamanho bem superior ao seu, sentado no chão, igual a todos, e cobrindo-se com a referida peça, até os pés, para proteger-se do clima, naquela época bem mais ameno, em razão de ainda existir muita vegetação nativa e pouca moradia ao redor. Paulo de Tarso era um garoto querido por todos, e parceiro, tendo sua característica maior, a discrição, e, demonstrando ter um objetivo traçado (já exímio leitor), que o levaria ao êxito alcançado. 

Contudo, a maior surpresa foi a notícia da sua precoce e fatídica partida, após acidente de motocicleta, que comoveu a cidade, amigos, e a imprensa de modo geral de nossa Capital. 

O respeito e reconhecimento alcançado, diria, não na proporção de Torquato Neto, que de maneira semelhante, também deixou a terra muito cedo, com um legado, fato devidamente demonstrado, recentemente, em maravilhoso texto compondo a Revista Revestrés, edição que levou o seu nome. 

Assim, vejo que muitas pessoas, embora vivam em periferias, com muita dificuldade financeira, nascem com uma estrela, ou têm ao seu redor pessoas que os alimentam em seus sonhos e objetivos. Lamentável, apenas, a sua vida abreviada, mas o tempo de Deus é assim mesmo, e cabe a Ele, apenas, a explicação; contudo, Sua provisão ao presentear-nos com espíritos iluminados, como o de Paulo de Tarso, é fato gratificante a todos nós. Deus o tenha em um bom lugar!   

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Lançamento inusitado e não previsto

 

Elmar, Antônio Moura e Alcione



Neste domingo (03/07/2022), por volta das 11 horas, a bordo do Pangaré, na porta da casa do poeta Alcione Pessoa Lima, lancei o meu livro Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara, devidamente autografado, ao médico Antônio Moura, amante dos livros, sobretudo os de história e genealogia.

Parafraseando o escritor Eduardo Galeano, direi que a possibilidade de um livro chegar a um bom leitor, que realmente vá lê-lo e compreendê-lo, é a mesma de se lançar uma garrafa com uma carta ao mar e ela vá chegar ao seu destinatário.

Mas o meu livro, com certeza, chegou a seu destinatário, chegou a boas mãos; foi entregue a um leitor arguto, que irá lê-lo com a devida atenção. E é isso, penso, que todo autor deseja. Espero que o livro não lhe seja uma mera perda de tempo.

Alcione foi testemunha ocular e documentou fotograficamente o singelo evento. À sombra de frondosa árvore tivemos uma breve e enriquecedora conversa.  

domingo, 3 de julho de 2022

Seleta Piauiense - Newton de Freitas

Fonte: Google

 

Privilégio

 

Newton de Freitas (1920 – 1940)

 

Tenho um lápis na mão, vou escrever como sempre.

É noite, mas choveu a tarde toda e faz frio agora.

A lua está mais pálida, boiando,

envolta na gaze das nuvens alvas e redondas,

brincando de esconde-esconde com as estrelas...

Mas, por que amo a luz, os astros e o luar?

Por que descubro poesia em centenas de paisagens?

Eu nasci para amar a Natureza inteira,

para admirar as grandezas de Deus,

para glorificar o Amor e a Beleza.

Eu nasci para compreender a linguagem das cousas,

para extasiar-me ante o sublime.

Ver o sorriso das estrelas piscando nas noites bonitas,

a música do vento a espantar os silêncios

e a luz abençoada revelando a formosura.

Eu nasci para amar,

para viver de joelhos, em alumbramento!

sábado, 2 de julho de 2022

Aniversário de Lucas Mateus

 

Foto meramente ilustrativa   Fonte: Google

      Ao meu amado filho Lucas Mateus

 

      Hoje é o seu, aniversário,  meu filho amado,  mas quem sempre ganha o presente todos os dias sou eu, desde que você nasceu, pois você traz luz e alegria à nossa família.

      Ainda que mil palavras eu dissesse, não conseguiria mensurar o meu amor por ti, filho, visto que amor de pai não tem medida. Como diz a música do Engenheiros do  Havaí: "A medida de amar é amar sem medida". É  assim que te amo.

        Como diria  o cantor Ivan Peter:        "Relembro a hora em que você nasceu; a alegria que você me deu; me lembro que até chorei..."

... Nesse instante,  enquanto escrevo,  as lágrimas teimam em cair pelo meu rosto de imensa felicidade, filho.

 

        Lembro da primeira vez que vi você  dando os primeiros passos; as primeiras palavras ditas por você; o seu primeiro dia na escola; as vezes que você ficava esperando com sua mãe e sua irmã pra vocês voltarem do SESI na carroceria do caminhão, comigo. Lembra,  filho? As lembranças estão vivas na minha memória.

      Devo dizer que chorei escondido quando você partiu rumo ao desconhecido para realizar a obra de Deus em Teresina, apenas com dezesseis anos,  mas já com muita responsabilidade,  típica  do seu caráter até hoje,  filho.

        Hoje,  você não é mais aquela criança,  tampouco um adolescente.  Hoje você já é um homem abençoado por Deus,  como sempre foi. Sinto-me orgulhoso de ser seu pai e amigo.

 

      Sei que muitas coisas não foram ditas aqui; talvez elas não cabessem num livro.

Ivan Peter diz em uma de suas músicas: "Meu filho hoje é seu aniversário; estou feliz de ver assim crescido; essa canção te dedico com amor; pois esse dia para mim é tão bonito..."

       Hoje eu me perguntei: qual presente de aniversário darei ao meu filho nessa data tão especial? Resolvi escrever esse singelo texto.  Que Deus continue abençoando você por todos os seus dias. Eu te amo com todas as forças que existem em meu ser. Feliz aniversário, filho amado. Que Deus sempre te cubra de saúde,  fortuna , felecidades e muita paz.

 

De seu pai

Sousa Filho 

Parnaiba, 02/07/2022    

sexta-feira, 1 de julho de 2022

REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS

 

Time do Caiçara, vendo-se à direita, de camisa preta, o goleiro Coló

Time do Comercial, vendo-se à esquerda o goleiro Beroso, de camisa preta.
Goleiro Zé Olímpio, quando garoto. Foto gentilmente enviada pelo grande artista plástico campomaiorense João de Deus Netto. As duas outras (acima), foram publicadas originalmente em seu blog Bitorocara



REMINISCÊNCIAS GOLEIRÍSTICAS E OUTRAS


Elmar Carvalho


No sábado passado foi comemorado o aniversário natalício do amigo Zé Francisco Marques. Ele é filho do senhor Gerson, amigo de meu pai, e que foi seu colega no velho DCT – Departamento de Correios e Telégrafos. De forte inclinação musical, toca violão e teclado eletrônico, além de cantar. Seu repertório é sofisticado, porém eclético, sem preconceitos elitistas. É ainda radialista e professor de inglês.

Não pude comparecer a sua comemoração natalícia, em razão do lançamento de meu livro PoeMitos da Parnaíba, ocorrido nessa cidade do litoral piauiense, onde morei por muitos anos. Vi depois a notícia na internet, e sei que foi concorrida, com a presença de vários amigos. Houve forte libação e farto churrasco. De já advirto, não posso perder a próxima.

No início de minha adolescência, fui goleiro de um time do qual faziam parte ele, seu primo João Bartolomeu e o nosso amigo comum Assis Capucho, hoje médico de nomeada em São Paulo, com direito a proferir conferências na área de neurologia pelo Brasil afora. Com a minha ida para Parnaíba, em junho de 1975, não mais nos vimos por mais de duas décadas.

Voltamos a nos rever em 1996 ou 1997, na chácara Alto da Olaria, no bairro Flores, de belo, florido e cheiroso nome. Esse local aprazível, cheio de velhas e frondosas árvores, de onde se tem uma bela e panorâmica vista da velha Bitorocara, pertence ao amigo João Alves Filho, fundador e animador de várias associações, inclusive da Academia Campomaiorense de Artes e Letras. No Alto da Olaria, disse certa vez (e se não disse deveria ter dito), parafraseando Napoleão, a contemplar a torre da catedral de Santo Antônio do Surubim: Velha Bitorocara, do alto desta colina quase três séculos te contemplam!

Conversamos e logo nos identificamos, e restabelecemos fraterna amizade. Na época, meus pais haviam retornado a Campo Maior, enquanto quase todos os meus amigos tinham ido embora da cidade. Disse-lhe que quem me dava assistência e me fazia companhia quando eu vinha a passeio era o Zé Henrique, de quem minha irmã Maria José ficou viúva três anos atrás. Contei-lhe que o Henrique me havia dito que quem fosse seu amigo não mais o procurasse, pois pretendia entrar na lei seca, tornando-se radical abstêmio.

O Zé Francisco, com providencial presença de espírito, respondeu-me que me pediria exatamente o contrário, e que eu não o deixasse de procurar quando viesse a Campo Maior. Retomamos a amizade a partir de então. Claro está que o saudoso Zé Henrique não cumpriu a promessa por muito tempo, e muitas vezes estivemos juntos com o Zé Francisco. Sempre que vou a minha cidade natal o procuro, e o faço quase mensalmente.

Numa dessas vezes, Zé Francisco contou-me um fato que eu já esquecera completamente. Narrou-me que, numa das vezes em que eu havia prometido defender a meta de seu time, eu fora a uma festa na noite anterior, de modo que quando ele e o Assis Capucho chegaram à residência de meus pais eu estava dormindo.

Acordado de um sono profundo misturado com ressaca, que me puxava para a rede de dormir, e não para a das traves de um campo de futebol, que sequer as tinha, honrei a palavra empenhada e fui cumprir a minha sina de goleiro. Disse-me ele que eu era um bom goleiro. Creio que se eu não tivesse algum valor ele e o Assis não me procurariam, pois ambos moravam, na época, distante de minha casa.

Cultivo a sua amizade porque é ele um cidadão de forte interesse cultural; mantém-se atualizado com o que acontece na chamada aldeia global, cada vez mais aldeia e mais global; gosta de arte, sendo ele próprio um artista musical; tem interesse literário, e além de bom de papo é bom de copo, ou vice-versa, sendo certo que é um boêmio no bom sentido da palavra, porquanto bebe com sabedoria socrática, é bom pai, bom marido, bom amigo e é ferrenho cumpridor de seus devedores magisteriais, pelo que tem o respeito de sua comunidade e de seus amigos.

2 de abril de 2010

Chá das 5: "Morra, é corcunda!"