sábado, 13 de novembro de 2010

PADRE MATA BISPO E MORRE A PAULADAS

Foto ilustrativa

José Maria Vasconcelos (*)

Não sabe da última? Padre dirige-se à residência do bispo, aplica-lhe três balaços. Brutal episódio repercutiu nacional e internacionalmente. A fatalidade, porém, voltou-se contra o próprio sacerdote: tempos depois, foi encontrado morto a pauladas. Qual motivo para dupla tragédia? Duas mulheres, Maria José Martins e Quitéria Marques, amantes do sacerdote, segundo os fofoqueiros. Amarrei você no interesse desta história de sangue e sexo, vamos aos detalhes, e, olhe, já se vão 53 anos, 1957, 1 de julho, tão arrepiante que você me acompanhará até o final. Juro.
Dom Expedito Lopes, filho de Sobral, formou-se padre, defendeu tese em Roma, regressou à terra natal. Sagrado bispo, estabeleceu-se em Oeiras, 1948. Em 1955, o Vaticano designou-o para assistir na diocese de Garanhuns, Pernambuco. Dom Expedito já sabia dos conflitos naquela diocese, onde quatro sacerdotes se envolviam com questões políticas e amorosas, sob comentários e censuras da comunidade.
Beatas comentavam o envolvimento de Padre Hosana (ou Ozanã para alguns), vigário de Quipapá, juridição de Garanhuns, com uma “prima”, Maria José Martins, com quem residia na casa paroquial. Dizia-se, até, que o vigário provocara dois abortos em sua companheira de serviço. Falava-se, ainda, da esperteza do padre na cobrança exagerada das taxas litúrgicas. Convocado por Dom Expedito, o sacerdote negou as histórias, lamentando a maledicência dos paroquianos. Quando D. Expedito decidiu visitar Quipapá, Pe. Osanã já havia despedido Maria José; admitira outra, Quitéria Marques, nos seus afazeres. O padre jurava inocência, cuidando de suas crias em seu sítio. O bispo exige-lhe que despeça Quitéria; o vigário desobedece, insistindo na inocência, e acusa outro sacerdote, Padre Acácio, futuro bispo de Palmares, um dos mentores dos boatos.
A pedido de Dom Inocêncio, o Vaticano demite Padre Hosana das funções sacerdotais. O bispo autoriza Padre Acácio a divulgar o documento. Padre Hosana exige direito de resposta e lhe é negado pelo colega, padre. Irritado, dirige-se à modesta residência de Dom Expedito. Bate-boca. O sacerdote saca arma e atinge o prelado com três tiros, foge e se recolhe ao Mosteiro S. Bento, Garanhuns, confessando ao prior sua desgraça, o qual o denuncia às autoridades.
Dom Expedito agonizou 8 horas no hospital. Últimas palavras, o perdão. Preso em Recife, Hosana foi a julgamento, três vezes, condenado, no último, a 19 anos de cadeia, em 1963. Solto em 1968, por boa coduta, voltou a celebrar, mesmo excomungado, e se dedicou à agricultura, residindo em Correntes, Pernambuco. Em 1997, foi encontrado morto com sinais de cacetadas, motivo, talvez, das encrencas por terras e dinheiro que emprestava. Dom Expedito virou nome de cidade piauiense, nome de ruas e praças no Ceará, tese de mestrado, campanha de canonização.
Criança, meu pai ouvia noticiário da rádio, eu o imitava. Aprendi a gostar das notícias planetárias. O repórter Esso informa a tragédia do bispo. Ouço com atenção. Não fosse meu querido pai, Martinho, não redigiria esta crônica. A educação começa em casa.

(*) Cronista. E-mail:
josemaria001@hotmail.com

2 comentários:

  1. Conheci Dom Expedito, em Simplício Mendes, onde nasci. Ele deu a extrama-unção ao meu irmão, falecido em 1952. Era um bispo bondoso e ciente de sua missão. Lamentamos profundamente essa tragédia. Rita de Cássia.

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  2. Eu tinha apenas seis anos, mas lembro bem dessa tragédia que chocou o país e enlutou minha família. Dom Expedito era primo de minha mãe.

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