11 de julho Diário Incontínuo
AS ROSAS DA SAUDADE E DO ABANDONO
Elmar Carvalho
Tarde após tarde, a idosa, com muita dificuldade,
arrastava a cadeira em que costumava sentar-se à porta do abrigo
para idosos. Vendo quanto era penoso o esforço da anciã, um vizinho
se dispôs a ajudá-la na condução da cadeira, mas ela recusou o
auxílio:
– Não, por favor, não me ajude não. Eu quero que
os meus filhos vejam que eu ainda posso puxar a minha cadeira.
A velhinha ali ficava, às vezes com o olhar perdido,
mergulhado nas profundas sombras de uma tristeza infinita; às vezes,
a perscrutar determinado ponto, de onde supunha surgiriam seus
filhos. Ficava nessa ocupação solitária e paciente até o
encerramento melancólico do espetáculo do crepúsculo, quando se
recolhia a arrastar sofridamente a cadeira. Era sempre assim. E tarde
após tarde, crepúsculo após crepúsculo, os filhos nunca
apareciam.
Como estivesse há várias semanas sem ver a anciã, o
vizinho estranhou essa ausência prolongada, e foi perguntar a um dos
moradores da casa o que acontecera. Soube então que a velhinha
falecera. Contaram-lhe que ela fora deixada no abrigo por dois
filhos, que lhe prometeram vir visitá-la, sempre que possível, mas
que nunca cumpriram a promessa. Era por isso que ela, ao entardecer,
ansiava pela visita deles, e os esperava em vão, porém sem nunca
perder a esperança de reencontrá-los, para lhes abraçar, e matar a
saudade que estava lhe matando.
A pessoa que recebeu o visitante, conduziu-o até o
quintal, e lhe mostrou uma roseira, em plena floração. As rosas se
abriam em todo o seu esplendor, e delas recendia um perfume suave e
maravilhoso. O morador do abrigo esclareceu:
– Foi ela quem plantou a roseira, para dar aos filhos
uma coroa de rosas, quando eles lhe viessem visitar. Plantou a
roseira para que eles sentissem que ela sempre os amara, e jamais os
esquecera. Jamais se queixou dos filhos. Nunca disse que eles foram
ruins ou ingratos.
Todavia, os filhos nunca vieram, e portanto nunca as
flores lhes foram dadas. Aquelas rosas vermelhas pareciam o símbolo
vivo e ardente do amor da velha mãe, e ficaram a denunciar a
ingratidão filial. Esse caso me foi contado por minha mulher, que o
ouviu em uma palestra religiosa. O pregador foi a testemunha que
presenciara a dedicação inglória da anciã, na frustada espera dos
filhos ingratos, que a internaram e abandonaram naquela casa de
caridade, em que estranhos, como bons samaritanos, cuidaram dela.
O poeta exprime o espírito das coisas,torna de fruição as crônicas e, permeia de sentido o triste e solitário vazio...
ResponderExcluirFelisardo.
Prezado vate, veja o que rascunhei quando aquele "passarinho" que o visita pousou na minha janela:"Deixei de ser gota de óleo para ser sal na água. Entretanto, estou exposto ao Sol e sinto dolorosamente cada gota da minha água evaporando-se. Quero interromper esse processo. Alguém me dê uma tampa fria! Condensem-se minhas gotas!!!! Voltemos a ser solução homogênea!"( Nelson Rios)
ResponderExcluirFez-me lembrar da época em que uma pena e um papel era um canteiro de obras da imaginação...
Excluir(Felisardo Santana)