sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A VOLTA BREVE AO ROMANTISMO



Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


       As correntes filosóficas praticamente se esgotaram e os filósofos desapareceram. Ficaram apenas a poesia e seus poetas. Na publicação de Um depoimento pós-moderno, Edições, Cirandinha, Teresina, 1989, eu dizia já prever a volta do romantismo no começo do séc. XXI, porque poetas e leitores não vivem sem poesia.
            Acabo de receber notícia do grande poeta renovador mineiro, Márcio Almeida, que conheci pessoalmente, nas décadas 1960/1970. Como disse, ele revolucionava a poesia brasileira com seus livros e ações em torno dos movimentos poéticos. A notícia veio por intermédio do também poeta mineiro Paschoal Motta, amigo dele e meu. Leiamos o teor:
        “Meu caro Paschoal, ‘Não panfleteie ideologia, / não holografe em atari, / não louversonhe as maras, / não palavre: Signatari’ (Márcio Almeida, Assassigno, 1987). Versinhos em homenagem ao Décio Pignatari, n. 20-8-1927 (Jundiaí) – f. 02-12-2012 (São Paulo), para quem o poema é o disigner da linguagem, que conheci em evento, quase um fracasso absoluto, em Belo Horizonte, juntamente com Carlos Ávila, que também perdeu o pai faz pouco tempo, escrevi a quadra, inclusa no Assassigno, cujo revival agora está de volta na publicação deLeituras indesejáveis, que você receberá nesta semana. Outro dia você me mandou um e-mail que também me deixou um pouco perplexo. É que as pessoas boas estão morrendo, os jornais mal e porcamente registram e rapidamente caem em esquecimento quando não no silêncio cínico, caso dos nossos Henry, Adão, Duílio Gomes, José Afrânio Moreira Duarte e tantos outros que se vão e pronto. E assim será, com toda certeza, também conosco. Temo pelo absoluto ostracismo em menos de uma década após a nossa morte. Meus filhos nunca me perguntaram o que estou produzindo, nunca leram artigo meu publicado em jornais, não conversam comigo sobre Literatura, nunca me perguntaram sobre a qualidade de um livro que lêem. Amanda já anunciou que quando eu morrer vai dispor de minha biblioteca em dois tempos: a chegada e a saída do caminhão para doar tudo para uma entidade. Isto, comigo. Não tenho referência se existe uma biblioteca com o nome do Adão que o reverencia, idem com o Henry e assim sucessivamente. O neoliberalismo com sua forçada equiparação por baixo faz com que as pessoas se achem todas no mesmo nível e assim todas se dão o direito de serem rigorosamente iguais em tudo. Dia desses quase rompi com um amigo porque ele estava espalhando via internete que para produzir miniconto o conhecimento da gramática era inútil, desnecessário. Sou pessimista em relação à sobrevivência da Literatura do futuro-já, mormente com a expansão do tablete e você lerá eu já tratando do assunto em Leituras indesejáveis. As pessoas (bem menos do que hoje) continuarão lendo, mas textos curtos, impactantes, encomendados. O que chamamos de Literatura tornar-se-á cult, arte devocional de apreciadores muito especiais. É um palpite. Sem uma Sociedade dos Poetas Mortos, sem uma ‘Sociedade’ que nos lembre a todos, indistintamente, além de virarmos pó, nossos nomes serão apagados de quase tudo. Seremos lembrados historiograficamente: ou porque, no seu caso, foi editor do SLMG (Suplemento Literário do Minas Gerais), ou porque foi professor de uma faculdade em DV, ou porque nasceu SPF e construiu uma biblioteca. Quantas pessoas se lembraram de um poema nosso? E quando essas pessoas morrerem? Lembra-se do filme Farenheit 45, do François Truffault? Não é à toa se ele é um dos meus prediletos. Sou mesmo veementemente contra Academia, mas ela tem uma vantagem: respalda vida e obra dos autores; conserva sua memória, vira e mexe, traz à tona o legado daqueles que realmente tem valor. Outro dia li na Folha de São Paulo que amigos cariocas do Bartolomeu Campos de Queirós iam prestar homenagem a ele no Rio, com exibição de documentários, exposição de suas obras etc. Está claro que sua morte ainda é recente, mas foi lembrado. Dinorah Maria do Carmo me enviou e-mail ontem à noite convidando para a leitura de poemas de Bueno da Rivera, em Santo Antônio do Monte, que também está sendo lembrado. O que falta mesmo é uma sociedade que preserve a memória dos autores, não os permita serem esquecidos e os mantenha vivos para os pósteros, pois em vida foram lidos, premiados, serviram de exemplo, dignificaram Minas” (e-mail de 03-12-2012).
         Na resposta do poeta Paschoal Motta há jóias como: “Há muito que fazer, Márcio, e principalmente pela humanização da Poesia Escrita, começando com a retomada do lirismo.”
               São três depoimentos em favor da volta da poesia mais suave, mais doce, mais amiga, mais gente falando que desenhos e figuras. Esse é o lirismo poético de um Márcio Almeida, autor deste depoimento fabuloso que nos enviou, assim como o do próprio Paschoal Motta. Romantismo numa linguagem nova, com a originalidade de cada um para todos. O fogo da Literatura deve ser passado à frente como o das tochas Olímpicas. Todos os povos são românticos e querem sobreviver por terem feito alguma coisa boa. E os escritores, justo porque escrevem, naturalmente pensam na escrita, na prosa e na poesia e no próprio nome, como forma de sobrevivência histórica.  “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. (Evangelho, segundo São João). Acredito também que no fim também é o Verbo e o Verbo é Deus. E Deus é poesia.  E tudo isto é linguagem, tudo isto é poesia, tudo isto é lirismo e romantismo.

Fonte: blog Revista Cirandinha

2 comentários:

  1. Elogio em boca própria é vitupério, não é bem isto que quero dizer. Mas, meu caro Elmar, meu artigo em blog ficou perfeito, uma gracinha.Aliás seu blog é digno de todos os elogios, vem sempre com matérias importantes, suas principalmente. Você tem me saído um prosador de mão cheia. Parabéns.
    abraços
    francisco miguel de moura

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, caro Chico Miguel.
    Um elogio como o seu é um estimulante para que a gente prossiga na caminhada. Valeu!

    ResponderExcluir