sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os massacres nos Estados Unidos: algumas hipóteses sobre as causas



Cunha e Silva Filho

Vez por outra, nos Estados Unidos um jovem ou um adulto de repente comete uma insanidade de uma só vez, matando inocentes em lugares tais como uma escola, o interior de um cinema ou outro lugar qualquer. Motivo das tragédias: vários ou nenhum explicitamente declarados. Com a facilidade amparada por lei, de se comprar armas de fogo no país qualquer um cidadão americano pode portar consigo uma arma registrada e sair à rua. Relata-se que o primeiro crime de arma de fogo contra várias pessoas ao mesmo tempo ocorreu na terra do Tio Sam em 1927. De lá para cá, a espaços de meses ou anos, tem havido casos de matança de pessoas inocentes. Porém, os Estados Unidos é a terra do faroeste, do bang-bang, do tiroteio, dos combates entre soldados americanos  e tribos indígenas. Isso, contudo, mais mostrado no cinema como entretenimento ainda que com cenas violentas.

Entretanto, algum tempo atrás, havia revistas americanas que chegavam até ao meu estado, o Piauí, onde reportagens e reportagens descreviam, com os mínimos detalhes, os crimes hediondos acontecidos em diversos estados americanos. As revistas traziam fotos terríveis que me causavam horror e, não sei por que, com o tempo, fui associando aqueles tipos abomináveis com algo habitual na sociedade americana.

Naturalmente, devemos entender que crimes hediondos existem em toda a parte do mundo, porém, no caso específico dos EUA, esse tipo de crime de jovens ou adultos massacrarem grupos de pessoas indefesas, pessoas que, em geral, os assassinos nunca viram ou lhes fizeram mal algum, dão o que pensar, suscitam nossa atenção sobre o comportamento individual de algumas pessoas que inegavelmente são diferentes, indivíduos solitários, ensimesmados, que não mantêm interação social com outras pessoas e, em geral, têm poucos amigos ou conhecidos. Na situação desses indivíduos, as famílias deveriam ter por eles uma atenção especial, encaminhando-os a tratamentos com psicólogos ou psiquiatras a fim de descobrirem alguma patologia séria que possa levar os jovens  de atitudes estranhas a cometerem atrocidades contra a sociedade. Esta seria uma primeira medida a ser tomada pelos familiares. Poder-se-ia afirmar que este aspecto envolvendo massacres de inocentes seria uma hipótese  para argumentarmos como uma das causas dos crimes desta natureza.

Um segunda hipótese que se poderia aventar seria analisar, através de estudos sociológicos e antropológicos, ou mesmo estudos desenvolvidos de forma transdisciplinar, as implicações do mundo contemporâneo versus sociedade de tecnologia altamente avançada com que o indivíduo moderno, sobretudo nas cidades adiantadas e de alta densidade populacional, tem que lidar no seu dia-a-dia sentindo-se fragmentado na sua individualidade e no imediatismo pragmático imposto pelo estilo de vida atual. Quer dizer, ao indivíduo, seja o jovem, seja o adulto, diante da complexidade em escala planetária que o mundo agora lhe oferece, se não está ancorado numa base familiar saudável e harmoniosa, tende a sentir cada vez menos fragilizada a sua personalidade. Essa realidade automatizada, robotizada, individualista, que faz valer mais os bens materiais em detrimento de um desenvolvimento de seu mundo interior mais enriquecido, se fosse compartilhada com um nível maior de interrelacionamento social e de trocas de experiências positivas que  integrassem   o jovem ou adulto mais adequadamente ao meio social propício à sua formação integral, é  bem possível  seria que tivéssemos pessoas mais sadias psicológica e socialmente.

A indústria cultural pouco ajuda ao aperfeiçoamento saudável dos jovens de hoje. Os tipos de lazer oferecidos, desde tenra idade, em nada contribuem para melhorar a formação biopsíquica dos jovens, sejam exemplos os tipos de brinquedos ou gadgets eletrônicos que são, em muitos casos, verdadeiras apologias ao crime e à violência. Ora, do mundo virtual ao mundo real, a distância é enorme.

Contudo, se o espírito de uma criança, ou de um adolescente que tenha inclinação natural à violência, é exposto a ela de forma continuada, tenderá naturalmente a internalizar na mente da criança ou do jovem tão profundamente  o seu  universo virtual  selvagem, ou a embaralhar as ações de  brutalidade, que essas violências  virtuais terminam por  banalizarem as  percepções infanto-juvenis no que concerne à valorização e respeito à vida do ser humano.

Há um excesso perigoso de exposição a cenas de crimes tantos nos brinquedos eletrônicos quanto no filmes produzidos nos Estados Unidos. Esta é uma via errada e perigosa à formação de mentes sadias de crianças e adolescentes. Por que não aproveitar tantos temas de alta importância  educativa e recreativa a serem explorados pela indústria cinematográfica americana? Liberdade de expressão não é deixar fazer o que bem querem diretores de cinema ou da indústria de jogos eletrônicos ávidos pelos milhões de dólares arrecadados com a exibição de filmes violentos que vulgarizam a vida. A legislação nos Estados Unidos e de outros países ( o Brasil em grande escala) que gostam de copiar o que por vezes há de pior nos EUA, deve repensar urgentemente questões desta ordem.. Pais e filhos, governo e sociedade devem unir esforços no sentido de deslanchar uma campanha nacional chamando a atenção dos legisladores para os males que têm sido causados à sociedade americana e de outros países, que é a manutenção desses tipos de indústria cultural desagregadores da formação moral e educativa de crianças e adolescentes.

Um terceira hipótese a ser considerada como fundamental para uma rediscussão de fôlego e isenta de partidarismos ideológicos seria a permissão que a Constituição americana assegura para qualquer cidadão comum comprar e registrar armas de fogo para a proteção própria. São milhões de armas nas mãos da sociedade. Ora, caso essas armas caiam nas mãos de alguém desequilibrado, fácil é percebermos como será a consequência do porte de arma em várias situações da vida cotidiana, além do agravante de as armas chegarem ao alcance de crianças sem idade suficiente para aquilatar os riscos que correm longe dos pais. No nosso país, muitas vidas se perdem com o uso de armas de fogo nas mãos de crianças como se estas fossem brinquedos . Tiros são disparados contra quem está por perto, geralmente outros irmãos também crianças, e daí decorrem as tragédias familiares.

Por conseguinte, a questão do uso indiscriminado de arma de fogo nos Estados Unidos tem que ser prioridade social e o assunto tem que ser discutido em todo o território americano mobilizando-se a sociedade e os poderes públicos. Uma boa ideia seria uma emenda constitucional que refundisse profundamente o uso de armas de fogo pelo cidadão americano, deixando o seu emprego somente para os setores de segurança, as Forças Armadas. A alegação de que a arma de fogo faz parte da cultura americana carece de fundamentação e lógica.

É evidente que, ao abolir ou, pelo menos limitar drasticamente o uso de armas de fogo para o cidadão, os legisladores têm que reforçar a fiscalização, a vigilância e a competência das forças de segurança no combate sem trégua ao contrabando de armas e à possibilidade de armas serem surrupiadas ou desviadas dos arsenais militares. Nos EUA, há expertise para cuidar bem desta questão de desvio e de contrabando de armas leves ou pesadas. Da mesma forma, há que redobrar os cuidados na questão das penalidades correspondentes aos graus de infração de uso indevido de armas de fogo. Naturalmente, nunca haverá um grau zero de impossibilidade para que alguma arma chegue a alguém por uma forma ou outra.. O importante é que haja penalidades severas para o uso indevido de armas de fogo nas mãos da sociedade.

Todos os americanos devem entender que uma mudança de comportamento com respeito ao uso de armas deve ser feito sem delongas., em especial as indústrias de armamentos, que faturam milhões de dólares com o comércio de armas para uso privado, devem refletir sobre esta momentosa questão e assim procurar salvar vidas humanas perdidas tragicamente pelas recorrentes matanças de inocentes, sobretudo crianças, como é recente exemplo o que se deu na cidade pacata de Newtown. Não houvesse a facilidade para a aquisição de armas vendidas à população, muito sangue, dores, sofrimentos e traumas seriam evitados. A proibição de armas de fogo nas mãos dos americanos tem que ser considerada como questão de segurança nacional e ao Presidente Barak Obama imediatamente e sem parcialidade compete dar o primeiro passo no encaminhamento ao Congresso de um projeto de Lei a fim de que o debate sobre o uso de armas seja iniciado junto com o apoio da sociedade. Se o fizer, ou seja, se uma emenda constitucional for aprovada favoravelmente à proibição do uso de armas pelo povo, ressalvados os usos delas para os setores de segurança vital para a defesa da ordem pública e da soberania nacional, o Presidente estará contribuindo para tornar a nação americana sintonizada com a complexa dinâmica aberta pelo século 21 que não mais admite que certos modos da tradição cultural sejam mantidos à custa das vítimas de armas assassinas.



  • NOTA: Neste final de ano, para piorar ainda mais a escalada de psicopatas assassinos, um ex-condenado, que passou dezessete anos na prisão, por haver matado a avó (!) cometeu outro massacre, incendiando casas e assassinando inocentes. Entre as vítimas, havia bombeiros. Confessou o psicopata que “gostava” de matar pessoas! É mesmo o fim do mundo no cotidiano universal e não nas profecias dos mapas dos maias. Se não se tomar logo uma medida urgentíssima, os Estados Unidos serão  o país campeão de psicopatas, incendiários etc.

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