quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Discurso proferido pelo Sr. Francisco da Silva Cardoso por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Honorário de Teresina



Discurso proferido pelo Sr. Francisco da Silva Cardoso por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Honorário de Teresina (*)


O rio atinge os seus objetivos porque
aprendeu a contornar os seus obstáculos.

André Luiz


Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Teresina, digníssimo vereador Rodrigo Martins,
Ilma. Sra. Vereadora Tereza Brito, autora da proposta que me concedeu o honroso título de Cidadão Teresinense, em nome de quem cumprimento os demais parlamentares deste Senáculo e agradeço a todos os amigos que vieram me prestigiar.
Digníssimas autoridades, aqui presentes ou representadas, já nominadas
Minha querida esposa Maria de Lourdes Brandão Cardoso, companheira de todas as horas. Diletos filhos Aline, Elaine e Alexandre. Queridos genros Manoel Paz Filho e Leonardo Bluhm. Idolatrados netos Ingrid, Isabele, Giovanna, Lara, Gabriela e o grande Mateus, com quem, ao lado da minha irmã e segunda mãe Maria Cardoso, do mano velho Antônio Cardoso, companheiro de aventuras, de outros familiares aqui presentes e dos amigos, divido essa alegria, que a Câmara Municipal de Teresina me proporciona neste momento singular de minha vida.
Meus senhores e minhas senhoras,
Conferir um título de cidadão honorário é a maior homenagem que o poder legislativo municipal de qualquer cidade presta a uma pessoa. Razão pela qual ser agraciado com essa importante honraria é motivo de alegria, contentamento e orgulho, especialmente quando se trata de uma das mais importantes cidades do país, como é o caso de Teresina, a querida e encantadora Cidade Verde, capital do nosso Estado.
Este título é um privilégio destinado a poucos. Mas, não somente por ser um desses poucos, como também pela reciprocidade da correspondência do amor que tenho por esta terra, sinto-me pleno de felicidade e profundamente emocionado pela significativa deferência.
Ao me conceder este honroso título a câmara municipal de Teresina me proporciona um dos momentos mais importantes de toda a minha vida, fazendo com que o meu coração transborde de alegria.
Para demonstrar minha gratidão pela benevolência desta Augusta Casa Legislativa, por ter chancelado meu nome para constar na galeria dos teresinenses, inicialmente devo agradecer à vereadora Tereza Brito, minha ex-colega de trabalho na CHESF, pela generosidade em descobrir em mim méritos necessários para o referendum. Agradeço também a todos os demais edis, que de forma unânime acataram a proposta.
Meus senhores e minhas senhoras,
Esta sensibilizadora deferência com que o Parlamento Municipal me distinguiu, patenteia o imensurável gesto de nobreza dos vereadores e das vereadoras, que bem representam o povo desta terra, que agora também é minha.
Este diploma é a prova indelével do bem querer que sempre existiu entre mim e esta cidade, pois desde quando aqui cheguei a adotei como minha terra, e agora, ela, que sempre tão bem me acolheu, adota-me oficialmente como um dos seus filhos.
Em julho de 1957, depois de uma passagem pela cidade de Campo Maior, para onde minha família mudou-se de Barras, em razão da transferência de meu pai, que era funcionário de carreira dos Correios e Telégrafos, decidi tentar a vida em Teresina.

Ainda me lembro daquela saudosa manhã em que, como passageiro do ônibus-gaiola da empresa Zezé Paz, chegamos no ponto final da viagem, que no caso era a Praça Saraiva. Ao descer na agência, gerenciada pelo “seu” Zé Baú, pai de “dona” Desterro, viúva do proprietário da empresa, recebi meus pertences constituídos por uma velha mala de madeira e minha bicicleta, que vinham no bagageiro instalado acima do teto daquele transporte de passageiros, que era conhecido popularmente como “horário”.
Ao contemplar a cidade grande, onde já havia estado, tive a certeza que estava no lugar certo para alavancar a minha vida estudantil, social e profissional.
Em Campo Maior, vivi parte da infância e adolescência. Foi lá, na inesquecível “Terra dos Carnaubais”, onde, como aluno do Grupo Escolar Valdivino Tito, concluí o curso primário iniciado no Grupo Escolar Matias Olímpio, em minha terra natal.
Lá também, como estudante do Ginásio Santo Antônio, iniciei o curso ginasial, mas antes da colação de grau, transferi-me para Teresina, onde passei a estudar no Colégio São Francisco de Sales para, enfim, concluí-lo e iniciar o Curso Científico, que teve continuação no Colégio Desembargador Antônio Costa e no tradicional Colégio Estadual Zacarias Góis, o famoso Liceu Piauiense, que à época possuía o melhor corpo docente do Estado, constituído, entre outros, pelos professores Camilo Filho, Paulo Nunes, A. Tito Filho, Nelson Sobreira, João Alfredo e o Dr. Petrarca Sá.
Apesar da falta de oportunidade da época, resolvi seguir em frente nos estudos e com muito esforço me licenciei em Geografia e OSPB (Organização Social e Política do Brasil), pela Faculdade Católica de Filosofia do Piauí, onde, com apoio dos colegas presidi o Departamento Nacional do Estudante e o Diretório Acadêmico “Dom Avelar Brandão Vilela”. E, como tal, a convite do então governador do Estado do Piauí, Dr. Petrônio Portela Nunes, juntamente com o presidente do Diretório da Faculdade de Direito do Piauí, Pedro Nolasco, e do presidente da Faculdade de Odontologia do Piauí, Vespasiano, fomos ao Palácio de Karnak para cumprimentar o Excelentíssimo Sr. Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, e reivindicar pela criação da Universidade Federal do Piauí, fazendo com que o primeiro mandatário do país empenhasse a sua palavra e viesse posteriormente atender ao nosso pedido.
Ainda como líder estudantil, fui secretário de Educação e Cultura do Centro Estudantal Piauiense.
Na vida funcional trabalhei como funcionário da Casa Marc Jacob S/A, no Colégio Agrícola de Teresina e na Companhia Hidro Elétrica de Boa Esperança, que posteriormente foi encampada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, onde exerci várias funções.
Em 1994, na véspera da minha aposentadoria, enveredei pela seara da literatura, escrevendo meu primeiro livro intitulado “Memórias da Adolescência – Venturas e Aventuras em Campo Maior”.
A obra, fruto das minhas reminiscências, tem como cenário e pano de fundo a “Terra dos Carnaubais” e, como personagens, além do próprio autor e seus colegas de travessuras, inclui muitas pessoas da cidade, especialmente as figuras folclóricas.
Alguns dos fatos narrados nesse livro foram transcritos por Reginaldo Lima, em “Geração Campo Maior – Anotações para uma Enciclopédia”, editado em 1995.
Com a publicação desse meu primeiro livro, que a priori foi feito apenas por diletantismo, ingressei no meio intelectual, passando a conviver com alguns expoentes das letras. Dentre eles, para não me alongar muito, menciono apenas João Alves Filho, atual presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras; o poeta e magistrado campomaiorense Elmar Carvalho, que muito me incentivou a dar os primeiros passos na carreira literária, e o dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista Adrião Neto, autor da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, bem como do “Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos”, editado em 1998 e do “Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses”, editado na Internet, nos quais tenho a honra de figurar, com generoso verbete biográfico, na seleta galeria dos escritores ali imortalizados.
Sentindo-me estimulado pela inclusão nessas duas importantíssimas obras, tomei gosto pela arte de escrever, vindo posteriormente a publicar dois outros livros, intitulados “Memórias de Campo Maior” e “Trajetória de um Guerreiro”. Além do mais, escrevemos também dois outros trabalhos a serem publicados brevemente, sendo um deles sobre minha vivência como estudante pobre em Teresina.
Recordando a minha chegada aqui na capital, que já vai para mais de meio século, guardo gratas lembranças daqueles tempos quando a cidade ainda era “menina-moça”, cheia de alegria, de amor e meiguice. Daquela Teresina sem drogas, sem bandidos, sem violência e sem muita maldade.
Relembro da vida feliz em companhia dos colegas, como Pedro Policarpo, Custódio Prado, Norberto Mendes, Jesus Boaneres, Arimateia Teles, Sales e Aderbal Lopes de Aquino.
Muitas vezes, para sairmos da rotina do colégio, do cinema e da Pedro II, à noitinha, gaseávamos as aulas do Diocesano e, em bicicletas, fugíamos para as quermesses nos festejos das igrejas da Praça Saraiva, da Piçarra e da Vermelha.
Algumas vezes íamos até a cidade de Timon para as festividades católicas em homenagem a São José. A travessia era feita em canoas movidas a varas, singrando as águas claras e espumantes do “Velho Monge”, a nos deleitar ao som da voz de ouro de Aderbal imitando Nelson Gonçalves, o grande seresteiro do Brasil.
Recordo também da panelada do guarda civil Carneiro, no seu “freje”, situado próximo à ponte do Mafuá; do cafezinho e do filé à cavalo, servidos no bar e restaurante Acadêmico, de propriedade de Pedro Quirino; da mão de vaca e da panelada conhecida popularmente como “filé de bainha”, do restaurante Centenário, do “seu” Mário Campelo, ambos situados ao derredor da Praça Pedro II, e do caldo de cana, com pão massa-grossa, do “seu” Sula, ali próximo ao Liceu.
Trazendo o passado para o presente, recordo das “Paradas do Sete de Setembro”, com a participação de todos os colégios a desfilar na Frei Serafim, onde também a briosa Polícia Militar destacava-se, com seu passo cadenciado, seguindo o ritmo das marchas e dos dobrados executados por sua banda, que contagiavam e emocionavam a todos os presentes.
Depois do ato cívico, grande parte dos estudantes concentravam-se na parte de cima da praça Pedro II para paquerar.
Recordo ainda dos carnavais de rua, com o povo a se movimentar nos dois níveis da Pedro II, na Antonino Freire e na Frei Serafim, onde todos dançavam e pulavam numa euforia sem limites.
De lá, a certa hora da noite, parte dos fuliões deslocava-se para o tradicional Clube dos Diários, para brincar e assistir ao desfile dos blocos carnavalescos da alta sociedade, com seus ricos trajes, a desfilar pelo salão.
No entanto, a parte mais interessante do carnaval de rua era os tradicionais corsos em carrocerias de caminhões, sempre muito bem enfeitados, com as raparigas da famosa Paissandu, a dançar e pular extravasando-se de alegria e a saudar a plateia constituída por todas as classes sociais, ocasião em que seus “clientes”, acompanhados dos familiares, viravam a cara para não dar “manchete”.
Recordo das tertúlias domingueiras patrocinadas pelo Clube dos Diários, onde, de cara, os sócios deparavam-se com Marcelino, o porteiro atento e rigoroso, que só deixava as pessoas entrar se estivessem em dias com as mensalidades. Se não estivessem, não adiantava argumentar. Para ele não importava se fosse “filhinho de papai”, o que valia era estar adimplente. Por conta dos “ossos do ofício” e de sua tenaz inflexibilidade muita “gente boa”, foi, literalmente, “barrada no baile”.
Naquele tempo existiam ainda os tradicionais rádios-baile, que aconteciam nas noites de sábado em algumas residências de certas famílias extrovertidas.
Dentre outras reminiscências, recordo com saudade dos banhos nas “coroas” do Parnaíba, bebericando e tirando gosto com piaba frita.
Relembro dos filmes no Cine Rex e no “4 de Setembro”, onde, no escurinho, os casais aproveitavam para fazer uma carícia mais atrevida.
Guardo ainda vivo na memória a própria praça Pedro II de antanho, onde principalmente nas quintas e domingos era tomada por grande multidão, notadamente pela juventude, cuja maioria era do interior do Piauí e do Maranhão. Acorriam ao local para paquerar e para saber notícias de suas cidades.
Recordo dos alienados como Jaime Doido, muito zangado e com mania de ser político; Manelão, também conhecido como Avião, apaixonado por filmes e amigo de crianças; Braguinha, com farta cabeleira e sempre com um paletó surrado ofertado por alguém, a exibir seu horroroso defeito físico que lhe desfigurou o rosto, mesmo assim, considerava-se bonito e cobiçado pelas mulheres.
Relembro dos mendigos que ficavam nas filas dos cinemas, com as mãos estiradas a azucrinar as pessoas, como o Perna de Pistola, o Bebê Chorão e a velha Tustão, que sempre andava com uma rodilha na cabeça.
Recordo de muitas outras pessoas, inclusive das desocupadas, das cinemeiras e das carnavalescas, como Mudinha, Nicinha e tantos outros que vagueavam pelas principais ruas da cidade, especialmente pela Praça Pedro II.
Meus senhores e minhas senhoras, quero lhes confessar que no meu íntimo eu já me sentia cidadão teresinense por conta própria, mas ser reconhecido oficialmente como tal faz uma grande diferença na minha vida.
Estou imensamente feliz e estejam certos, senhor presidente, senhores vereadores, senhoras vereadoras, meus senhores e minhas senhoras que jamais os decepcionarei, continuarei pautando minha vida pela mesma trilha de retidão, só que agora mais enriquecida e com a responsabilidade de honrar este título, que acabo de receber, fruto da generosidade e benevolência dos nobres parlamentares desta terra promissora que tão bem me acolheu.
Finalizando, mais uma vez, quero agradecer de coração a todos que me honraram com suas presenças, especialmente o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Teresina e, principalmente, à vereadora Tereza Brito pela demonstração de amizade e apreço.

(*) Discurso proferido no dia 02 de dezembro de 2013, às 19:30 horas, no Plenário Vereador José Omatti, Câmara Municipal de Teresina.

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