quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O MOSQUITO


O MOSQUITO

Pádua Santos – APAL, Cadeira nº 01

                Há um dito popular sertanejo que reza o seguinte: “Homem que bebe e joga; mulher que erra uma vez; cachorro que come bode; são errados todos três”. Decorei isto quando menino, e,se agora o relembro, é porque ficou na minha lembrança a imagem de um fato trágico – uma triste cena do holocausto que infelizmente era feito, à época, aos infelizes cachorros que aprendiam com as onças a mania de comer bodes.

            Foi na minha fazenda São Pedro da Boa Sorte, mais conhecida por Alto dos Borges, localizada no município de Caxingó, onde presenciei a aplicação desta draconiana e consuetudinária lei. E lembro bem que na hora da execução, como se tratava de uma cadela simpática e querida pelos moradores da localidade, tornou-se difícil a escolha do carrasco. Mas o certo é que ela foi executada, e quem teve a coragem de aceitar friamente o posto de algoz foi um elemento que pouco se sabia do seu nome, posto ser conhecido apenas e simplesmente pela alcunha de “Mosquito”. Vê-se, portanto, que ali naquela margem do Rio Longá, foi o “mosquito”o grande temor dos cachorros delinquentes.

                Mas não se atribua somente aos cachorros tal temeridade. É atualmente de igual modo aterrorizante o famoso mosquito “Aedes Agegyti” - o transmissor da Dengue, da febre “Chikungunya” e do danoso vírus “Zica”- malvado pernilongo voador que desde os anos cinquenta judia com as pessoas e, como se não bastasse, aparece agora com a novidade de fazer com que as crianças venham ao mundo com microcefalia. É ele atualmente a maior preocupação da saúde de vários países, por ser o animal que mais provoca temor às mulheres, principalmente naquelas que se encontram em estado interessante.

                Por outro lado, nem tudo é novidade. Já faz muito tempo que os mosquitos perseguem os homens. O sempre festejado escritor Humberto de Campos, no seu excelente livro de crônicas intitulado Lagartas e Libélulas, dá conta de que em prisca era, mais precisamente no apogeu das grandiosas conquistas romanas, quando triunfava a bravura do regime dos Césares, o glorioso Imperador Tito Flávio Vespasiano Augusto morreu repentinamente por força de um insignificante mosquito que penetrou em suas narinas.


                Desse modo, podemos conjeturar com larga margem de acerto:o aparentemente mesquinho mosquito que vem atualmente, na sua qualidade de vetor biológico, preocupando governos, provocando febres, dores, coceiras, conjuntivites, dengues e microcefalia,pode muito bem ter sido o mesmo minúsculo inseto que no passado remoto foi causador de considerável baixa no incontrastável Império Romano. Eita bicho desalmado! O que tem de pequeno tem de perigoso.  

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