sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

METAPOEMAS COMENTADOS (continuação)

Fonte: Google

METAPOEMAS COMENTADOS (continuação)

Alcenor Candeira Filho

2ª  P A R T E

T E O R I A    D O    T E X T O

1.            REPORTAGEM
                            
          o faro
          o fato
          o signo
          a hora

          a causa
          o efeito
          o agente
          o jeito

          (passado
          presente
          futuro)

          e acima
          de tudo
          - o furo.

C O M E N T Á R I O     Nº  09

     Reportagem é o trabalho jornalístico que reúne informações sobre assuntos ou fatos do cotidiano. É a notícia.
     O repórter trabalha com os seguintes questionamentos:
     - o quê?
     - quem?
     - como?
     - quando?
     - onde?
     - por que?
   
     O poema , apesar da grande economia de palavras, enumera os elementos básicos que  a reportagem deve conter:
     - o faro: vocação profissional
     - o  fato: acontecimento
     - o signo: código, palavra
     - a hora: momento do evento
     - o efeito: consequência
     - o jeito: o modo como se deu o fato
     - o furo: publicação da notícia em primeira mão.

2.            ROMANCE

      2.1 – ESTRUTURA

   narrativa em prosa
   via de regra longa                         
   com núcleos dramáticos
   múltiplos ou vários.

   liberdade inteira
   de espaço e de tempo
   com protagonistas
   com antagonistas
   e mil peripécias
   em curso de enredo.

   linear relato
   ou não-linear
   descritiva parte
   ou dissertativa...

   - o que importa é a arte.

C O M E N T Á R I O      Nº 10

     Romance é uma grande narrativa de ficção ou de criação imaginária, surgida a partir de fins do século XVIII e início do XIX.
     Segundo Massaud Moisés, em A CRIAÇÃO LITERÁRIA, “o romance é uma visão macroscópica do Universo, em que o escritor procura abarcar o máximo possível com sua intuição. Por isso convergem para ele os resultados das outras formas de conhecimento. A História, a Psicologia, a Filosofia, a Política, a Economia, etc., colaboram  permanentemente e de vários modos para essa recriação do mundo. O contrário ocorre, quer dizer, o romance pode servir ao historiador, psicólogo, filósofo, etc., para erguer algumas de suas específicas interpretações -, mas em diferente dose. Por outro lado, a macroscopia posta na mundividência faz que exista subjacente no espírito do romancista, ou melhor, na obra produzida por ele, a mesma ambição de todo filósofo: englobar a variedade infinita do Universo num sistema unificador. Em suma: buscar um sistema de ideias, pensamentos e imagens que unifique num só corpo a extrema variação do Cosmos.”
     A obra de ficção é expressão da imaginação criadora em que predomina a narração, “correspondendo ao velho instinto humano de contar e ouvir estórias, uma das mais rudimentares e populares formas de entretenimento”, conforme Afrânio  Coutinho.
     O romance surgiu na Inglaterra com HISTÓRIAS DE TOM JONES (1749), de Henry Fielding.
     No século XIX podem ser lembrados como grandes romancistas: Sthendal, Balzac, Zola, Dickens, George Eliot, Dostoievski, Tolstoi, Gogol, Eça de Queirós, José de Alencar, Machado de Assis.
     Os elementos da ficção correspondem às seguintes indagações que podem ser feitas diante de uma obra desse gênero:
     - quem?  (personagem)
     o quê?  (o que as personagens fazem, ou o que é feito a
                    elas)
     - onde?  (o lugar dos fatos)
     - quando?  (o tempo em que a ação decorre)
     - como?  (de que modo se desenvolve a ação)
     O poema faz alusão às principais características do romance:
     - longa narrativa em prosa
     - várias células dramáticas
     - liberdade de tempo e espaço
     - personagens (planas ou redondas)
     - enredo: (“intriga”, “história”, “assunto”)
     - enredo  linear: (começo-meio-fim) ou não linear
       (saltos na sequência da ação):
                   - cortes = ações subentendidas
                    - flashback = mistura de presente, passado e
                                                futuro
     - tempo cronológico ou histórico, que é o tempo do calendário ou do relógio, e o tempo psicológico, que transcorre no interior de  cada ser humano ou de cada personagem
     - pode  conter passagens dissertativas (texto opinativo) e descritivas (retratação dos seres, coisas e paisagens).

     Sendo o romance sobretudo um monumento estético, o poema “Estrutura” termina com os seguintes versos:

                    - o que importa é a arte.         
              
2.2 – CLASSIFICAÇÃO

               social
               sentimental
               passional
               científico
               político
               histórico
               erótico...

C O M E N T Á R I O     Nº  11

     É ampla a lista de tipos de romance. No livro A CRIAÇÃO LITERÁRIA, Massaud Moisés menciona: “linear”, “progressivo”, “vertical”, “analítico”, “psicológico”, “introspectivo”, “de costumes”, “de ação”, “de personagem”, “de drama”, “de espaço”, “de  formação”, “de evolução”, “de época”, “de chave”, “de sociedade”, “de terror”, “de tempo cronológico”, “histórico”, “picaresco”, “policial”, “romântico”, “realista”, “moderno””, etc.
     O poema “Classificação”, com  rimas paralelas consoantes agudas e esdrúxulas, se limita a registrar alguns tipos de romance.

2.3 – FOCO NARRATIVO

       narrador-personagem
       narrador-onisciente
       narrador-observador.

C O M E N T Á R I O     Nº  12
     Foco narrativo é a fala de quem conta o episódio.
     O poema alude aos tipos de foco narrativo:
a)            narrador-personagem: quem expõe um episódio de que participou (1ª pessoa)
b)           narrador-onisciente: quem expõe o episódio na condição de sabedor de tudo
c)            narrador-observardor: quem expõe um acontecimento do qual não participou diretamente (3ª pessoa).

2.4. – PERSONAGEM

       personagem-plana 
 ou também redonda
 com perfil moral
 e/ou anatômico.

C O M E N T À R I O     Nº 13

     Existem no romance as personagens principais (protagonistas), secundárias (deuteragonistas) e/ou antagônicas (antagonistas).
     As personagens podem ser descritas interiormente (retrato moral) e/ou anatomicamente (retrato físico), classificando-se em:
a)            personagens planas ou bidimensionais: caracterizadas epidermicamente, sem profundidade psicológica ou dramática, pertencendo ao romance de tempo cronológico.
b)           Personagens redondas ou tridimensionais: pertencem sobretudo ao tempo psicológico e têm profundidade, revelando-se por uma série de características, diferentemente das “planas”, identificadas pelo desenvolvimento irregular de uma virtude ou de um defeito.

     Notar que o poema se constitui de versos pentassilábicos e rimas alternadas consoantes.

2.5 – FALA E ESPAÇO

          diálogo direto
          discurso indireto
          e indireto-livre
          em espaço físico
          ou psicológico.

C O M E N T Á R I O     Nº 14

     O poema reporta-se a dois elementos de narrativa: a fala da personagem e o espaço ou local do desenvolvimento da  ação.
     A fala diz respeito às três modalidades de discurso mencionadas no texto, cada qual com as seguintes características:
a)            discurso direto:
- é a personagem falando
- fala visível da personagem
- uso de verbo dicendi ou de um dos seguintes sinais de pontuação: dois pontos, travessão, aspas
- destaca a personagem
Exemplo: Hoje estudei matemática  -  disse o aluno.
b)           discurso indireto:
 - é o narrador falando pela personagem
      -  verbo dicendi
      - destaca o narrador
   
 - verbo na 3ª pessoa do singular na oração subordinada substantiva.
Exemplo:
- O aluno disse que hoje estudara (tinha estudado) matemática.

c)            discurso indireto livre:
– é o narrador reproduzindo o pensamento da personagem
- ausência de verbo dicendi e de dois pontos, travessão e aspas
- destaca ao mesmo tempo o narrador e a personagem, isto é, a linguagem do narrador funde-se com a própria linguagem espontânea da personagem.
Exemplo:
                            “O suor umedeceu-lhe as mãos duras. Então? Suando com medo de uma peste que se escondia tremendo?” (Graciliano Ramos – VIDAS SECAS).

2.6 – TEMPO E DESFECHO

     tempo cronológico
     ou imaginário
     com desfecho trágico
     ou com fecho cômico.
   
C O M E N T Á R I O     Nº 15

      Poema de versos pentassílabos (redondilha menor) com rimas no esquema a-b-b-a.
     O tempo é a época do fato, classificando-se em:
a)            tempo cronológico: tempo do relógio
b)           tempo psicológico: tempo interior da personagem ou do narrador.
O desfecho do romance pode ser triste (trágico) ou alegre (cômico).         

3.            – CONTO
         narrativa escassa
         de uma ação somente
         presa ao presente
         menos ao que passa,
         no discurso o diálogo
         dominante sempre.

         o relato lerdo
         ou relato lento
         sem lugar no conto,
         circunscrito a
         - singular espaço
         - tempo de relógio
         - flashback  raro
         - personagem pouco.

         no ensinamento
         de  Massaud Moisés,
         “plástico” e “objetivo”
         com dado criativo
         subpondo-se ao
         dado observado.

         tipos importantes:
         conto de ideia
         conto de cenário
         conto de ação.

         na lição de Mário
         conto é o que conto
         se chama. E pronto!

C O M E N T Á R I O     Nº 16

     A palavra conto origina-se do latim “computu”, que significa “cálculo”, “conta” e remonta aos primórdios da própria arte literária.
     O conto, ao lado da novela e do romance, é uma das  formas de ficção. De todas, a menos extensa.
     Segundo Afrânio Coutinho, em NOTAS DE TEORIA LITERÁRIA, “entre o ‘romance’ e a ‘novela’ a distinção é mais quantitativa do que qualitativa: a ‘novela’ é obra de menor extensão, cobre um cenário mais reduzido, lida com menor número de personagens e  incidentes, limita-se a maior economia no tempo e no espaço (...). Já a caracterização do ‘conto’ em relação ao ‘romance’ e à ‘novela’ é tanto qualitativa quanto quantitativa.”
     Eis as principais características do conto:
     - unívoco, univalente: um só conflito, uma só história, uma só célula dramática
     - predomínio do diálogo (raras ou poucas linhas dissertativas ou descritivas)
      - espaço da ação é limitado (a história pode transcorrer numa rua, num hospital
     - unidade de tempo: a ação ocorre num restrito lapso de tempo, horas ou dias
     - número reduzido de personagens
     - foco narrativo: qualquer um pode ser empregado: narrador-personagem, narrador-onisciente e narrador-observador
     - flashback raro
     - enredo linear.
     A estrofe final do poema “Conto” faz alusão ao escritor paulista Mário de Andrade, a quem se atribui a frase  -  “conto é o que conto se chama”.

4.            NOVELA
4.1 – ETIMOLOGIA

     palavra do italiano “novela”
     (vinda do latim “novellus, a, um”)
     derivando depois para  “enredado”
     e daí “narrativa enovelada”.

C O M E N T Á R I O     Nº  17  

Já vimos que novela, romance e conto representam as
três formas de ficção. Naquela oportunidade, foram evidenciados os traços que as distinguem.
          O poema se divide em seis partes. Na primeira – “Eti-
mologia” – título e texto já dizem tudo.

4.2. – AÇÃO

   novela: fundamentalmente
   multívoca, polivalente:
   série de unidades dramáticas
   ligadas todas entre si
   fieira de contos encadeados
   com início, meio e fim.

C O M E N TÁ R I O   Nº 18

     Poema de versos octossílabos com rimas paralelas e alternadas.
     Os  versos  se referem a algumas características da novela:
     - multívoca: apresenta vários núcleos dramáticos
     - células dramáticas interligadas
     - enredo linear.

4.3 – ESPAÇO  E  TEMPO

          ausência de unidade espacial
          e tempo presente,  aqui e agora,
          marcado quase sempre por relógio
          ou por convenção social.

C O M E N T Á R I O     Nº 19

     Poema com rimas encadeadas e paralelas: a-b-b-a.
     - espaço: múltiplo
     - tempo: predomínio do presente.

4.4 – LINGUAGEM

      direta metáfora,
      simples, despojada:
      só vai o narrador
      ao ponto que importa.

C O M E N T Á R I O     Nº 20

     Poema de versos em redondilha menor e rimas consoantes emparelhadas.
     A linguagem deve ser objetiva, concisa, clara, simples.

4.5 – TIPOLOGIA

     de cavalaria, na idade média;
     depois bucólica e sentimental;
     além de histórica, e de picaresca
     - novela de mistério e policial.

C O M E N T Á R I O     Nº 21

     Os tipos mencionados nos versos são incompletos, mas talvez os principais.
     Observar o emprego de rimas alternadas (a-b-a-b), sendo uma consoante (média/picaresca) e outra toante (sentimental/policial).
     No DICIONÁRIO DE TERMOS LITERÁRIOS, Massaud Moisés comenta sobre os tipos de novela:

                                              “Quanto às novelas de cavalaria,
               nasceram na Idade Média, em consequência da
               prosificação das canções de gesta. As novelas sen-
               timentais e bucólicas remontam a ‘Dáfnis e Clói’
               (século III  a.C.), mas só foram continuadas no sé-
               culo XIV, graças a Boccacio (‘Ninfale d’Ameto, 1341
               ou 1342). (...) A novela picaresca iniciou-se, como
               vimos, pela ‘Vida de Lazzarillo de Tormes y de sus
               fortunas y adversidades’, de autor anônimo, e atingiu
               o ápice no século XVII, com ‘Gusmán de Alfarache’
               (1599), de Matco Alemán, ‘Rinconete y  Cortadillo
               (1613), de Cervantes. (...)  A novela histórica, que se
               caracteriza pela recriação do passado remoto ou re-
               cente por meio de documentos verídicos, principiou
               com ‘Waverley’ (1814), de Walter Scott. (...) A mais re-
               cente caracterização da novela é a  policial ou de mis –
               tério, iniciada por ‘The Murders in the  Rue Morgue’
               (1841), de Edgar Allan Poe.”

4.6. -  CONCEITO E EXEMPLIFICAÇÃO

                              rolo
                     que se desenrola
                 menos que o romance
                 e mais do que o conto.
                                lá
                 bem além do mar
                               com   
     .           “Amor de Perdição”
                 Camilo Castelo
                 no gênero é o tal
                               cá
                 no Brasil amado
                 o baiano Jorge
                               com
                 “Quincas Berro Dágua”
                 não conhece igual.

C O M E N T Á R I O     Nº 22

     Já falamos noutra página deste livro sobre o conceito de novela: série   de histórias interligadas.
     Como exemplos de grandes cultores do gênero, são citados Camilo Castelo Branco (AMOR DE PERDIÇÃO) e Jorge Amado ( A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO DÁGUA).

(Continua amanhã - sábado)

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