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METAPOEMAS COMENTADOS (continuação)
Alcenor Candeira Filho
5. CRÔNICA
flagrante da vida real
notícia do dia a dia
para revista ou jornal.
fino texto bom na lavra
de Machado de Drummond
de Veríssimo de Braga...
crítica sempre num ponto:
mesmo muito semelhante
não se confunde co’o conto.
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Como está escrito na primeira estrofe,
crônica é o registro de fatos cotidianos, sendo publicada via de regra em
jornais, revistas, blogues, portais.
Um dos maiores críticos literários do
Brasil, Antônio Cândido,
diz no prefácio de um livro que
reúne crônicas de quatro grandes cultores do gênero:
“A
crônica não é um gênero maior. Não
se imagina uma literatura
feita de grandes cronistas,
que lhe dessem o brilho
universal dos grandes ro-
mancistas, dramaturgos e poetas. Nem se
pensaria
em atribuir o Prêmio Nobel
a um cronista, por me-
lhor que fosse. Portanto,
parece mesmo que a
crônica é um gênero menor.
(...)
Graças a Deus, - seria o caso de dizer,
porque sendo assim ela (a
crônica) ficou perto de
de nós. E para muitos pode
servir de caminho não
apenas para a vida, que ela
serve de perto, mas para
a literatura.”
A segunda estrofe faz referência a grandes
cronistas brasileiros - Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade,
Luís Fernando Veríssimo e Rubem Braga -,
enquanto a derradeira lembra que, apesar das semelhanças, crônica e conto não
se confundem.
6. CRÍTICA
crítica aberta
crítica autônoma
impressionista
historicista
ideológica
reflexiva
não dogmática...
sobretudo
texto
sobre
texto
a pretexto
de opinar.
C O M E N T Á R I O Nº
24
A crítica literária tem por objetivo o
estudo dos gêneros literários.
A crítica tradicional até recentemente era
voltada para a análise dos elementos extrínsecos ou exteriores da obra literária: meio, raça,
momento. É a crítica de feição histórica, sociológica e biográfica.
A crítica moderna é a crítica estética,
voltada para os elementos intrínsecos da obra literária.
Das
modalidades de crítica mencionadas no poema destaca-se a crítica
impressionista, “expressão das impressões despertadas no espírito do crítico
pelo contacto com as obras”, segundo Afrânio Coutinho.
7. POEMA
7.1 – TEORIA DO POEMA – I
intuitiva arte
da tinta na folha
branca de papel.
arte da palavra
carregada em parte
de significado
e em parte repleta
de significante
que harmonicamente
unem-se e
completam-se
a fim de que o poema
(através de um verso
que seja somente)
sobreviva ao poeta.
C O M E N T Á R I O Nº
25
O soneto acima se propõe definir o poema:
arte da palavra carregada de significado (fundo) e de significante (forma) que
harmonicamente convivem.
Se de certa forma literatura é “ânsia de
imortalidade” e se “a vida é breve e a arte longa”, então o poeta deseja que
pelo menos uma linha poética a ele sobreviva.
7.2 – TEORIA DO POEMA
- II
melodiosa palavra
não melosa entretanto
palavra com ideia
tão livre quanto vento.
palavra para o ouvido musical
palavra para a imaginação
visual
palavra para o
pensamento real
código para se decodificar.
palavra que na síntese
das sínteses poundianas
é sinal igual a
melopeia
fanopeia
logopeia.
C O M E N T Á R I O Nº
26
A poesia é um fenômeno linguístico e
estético destinado a ser lido ou ouvido e decodificado pelo leitor.
Poesia é expressão rítmica do belo, sendo elaborada
com palavras melodiosas mas não melosas, palavras livres como o vento, palavras
para:
- o ouvido musical (melopeia)
- a imaginação visual (fanopeia)
- o pensamento real (logopeia).
O soneto em tela contém uma referência ao
poeta e ensaísta Ezra Pound, que no livro A ARTE DA POESIA: ENSAIOS ESCOLHIDOS
ensina:
“Se eliminarmos as classificações que
se aplicam à forma exterior
da obra, ou à sua cir –
cunstância, e se examinarmos o que
realmente acon-
tece, digamos, na poesia,
verificaremos que a língua-
gem está carregada, ou
energizada, de várias manei-
ras.
Vale dizer, há três
espécies de poe-
sia:
Melopeia, na qual as
palavras estão carregadas, aci-
ma e além de seu significado
comum, de alguma qua-
lidade musical que dirige o
propósito ou tendência
desse significado. Fanopeia, que é uma atribuição
de
imagens à imaginação visual.
Logopeia, a dança do
intelecto entre palavras,
isto é , o emprego das pala-
vras não apenas por seu
significado direto mas levan
do em conta, de maneira
especial, os hábitos de uso,
do contexto que esperamos
encontrar com a pala-
vra, seus concomitantes habituais,
suas aceitações
conhecidas e os jogos de
ironia.”
7.3 – INFLUÊNCIAS LEGÍTIMAS
paráfrase
paródia
centão
alusão
tradução
imitação.
poema:
tudo de velho
sob o céu
tudo de novo
sobre a terra.
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27
Embora cientes de que a expressão escrita
criativa é um fenômeno pessoal, subjetivo e intransferível, - não se conhecem
escritores que se abasteçam só em seus próprios celeiros. Direta ou
indiretamente, consciente ou inconscientemente, todos se nutrem em obras
alheias.
No livro DAS FORMAS DE INFLUÊNCIA NA
CRIAÇÃO POÉTICA, reporto-me às várias formas de influência citadas no poema em
análise:
• PARÁFRASE:
No DICIONÁRIO AURÉLIO SÉCULO XXI está
registrado:
“PARÁFRASE. [Do grego ‘paráfrasis’, pe-
do latim
‘paraphrase’] S. f. 1. Desenvolvi-
do texto
de um livro ou de um documento
conservando-se as ideias originais; metá –
frase.”
Exemplo:
PARÁFRASE DO POEMA “MEMÓRIA”, DE
C. D. A
Realizar a paz
não
pode, jamais,
o homem,
meu irmão.
Nada pode o
horror
contra a
ordem de amor
à pátria, à
nação.
As coisas
terríveis
tornam-se
insensíveis
ao pé do
canhão.
E as guerras sangrentas,
bem mais
que violentas,
permanecerão.
MEMÓRIA
(Carlos Drummond de Andrade)
“Amar o
perdido
deixa
confundido
este
coração.
Nada pode o
olvido
contra o sem sentido
apelo do
Não.
As coisas
tangíveis
tornam-se
insensíveis
à palma da
mão.
Mas as coisas
findas,
muito mais
que lindas,
essas
ficarão.”
• PARÓDIA
– Palavra oriunda do grego “paroidia”, canto ao lado de outro. “Designa toda
composição literária que imita, cômica ou satiricamente, o tema ou/e a forma de
uma obra séria. O intuito da paródia
consiste em ridicularizar uma tendência ou um estilo que, por qualquer motivo,
se torna conhecido e dominante” (Mas-
soud Moisés -
DICIONÁRIO DE TERMOS LITERÁRIOS).
Exemplo:
“Minha terra tem
palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de
lá.
(...)
Não permita Deus que eu
morra
Sem que volte pra São
Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São
Paulo.”
(Oswald de Andrade -
CÂNTICO DE RE-
GRESSO
`PÁTRIA)
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
As aves, que aqui
gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Não permita Deus que eu
morra,
Sem que eu volte para
lá;
(...)
Sem que ainda aviste as
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”
(Gonçalves
Dias -
CANÇÃO DO EXÍLIO)
• CENTÃO - Do
latim “centone” (espécie de manta feita de retalhos cosidos uns aos outros para
vários fins), o centão é o tipo de poema constituído mediante o agrupamento de
versos de vários autores.
Exemplo:
Estou contigo, Drummond:
“A vida não presta.”
Estou contigo, Bandeira:
“A vida
não vale a pena e a dor
de ser vivida.”
Estou contigo, Casimiro:
“A vida é um deserto aborrecido.”
Mas não nos matemos.
Não nos matemos de jeito algum.
Afinal de contas
(e aqui estou contigo, Oliveira
Martins),
Cumpre-nos “perceber que da vida
Nem vale a pena nos desfazermos
dela.”
(Alcenor
Candeira Filho - QUASE CEN-
TÃO)
O poema remete aos poetas brasileiros
Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Casimiro de Abreu e ao escritor
português Oliveira Martins.
• ALUSÃO - Do
latim “allusione” (chegar brincando, indiretamente), alusão é o recurso de
estilo de referência, intencional ou não, a outro texto literário.
Exemplo:
“Nem um botão
de ca-
misa nem um
fiapo de
roupa nem um
simples
relógio de pulso pra
identificar o
homem
e sua hora.”
(Cassiano Ricardo – O
HOMEM E SUA HORA)
O texto faz alusão ao livro O HOMEM E SUA
HORA, do grande poeta piauiense Mário Faustino, falecido precocemente em
desastre aéreo no Peru, em 1962.
• TRADUÇÃO
– A arte de traduzir não consiste simples-
mente na substituição de palavras
de um idioma por palavras de outro, mas no trabalho consciente da passagem
de um texto para outra língua,
exprimindo um cunho artístico.
A tradução de um texto poético,
principalmente, requer uma habilidade artística toda especial, exigindo do
tradutor
a assimilação do espírito do
texto original e um profundo conhecimento dos segredos do seu aspecto formal, a
fim de que possa alcançar não somente a equivalência semântico-expressiva, mas
sobretudo o equilíbrio nos efeitos sonoros.
Tratando das dificuldades que surgem no
ato/arte de traduzir obra literária, Kurt Clason -
citado em FENOMENOLOGIA DA OBRA LITERÁRIA por Maria Luíza Ramos –
exemplificou a questão com uma passagem de GRANDE SERTÃO: VEREDAS, em que o
romancista dizia que os cavaleiros passavam “feito faca, feito flexa, feito
fogo”. A tradução literal destruiria a imagem acústica presente na frase, pois
desapareceria a aliteração fricativa que, seis vezes repetidas, traz conotação
de velocidade. Preferiu então o tradutor substituir as palavras do original, de
modo a “criar” nova imagem acústica dentro do mesmo campo semântico
estabelecido pelo romancista. E a frase transformou-se em “Wie die Welle, Wir
der Wind, Wie der Wille, ou seja, como “como a vaga, como o vento, como a
vontade”.
A transformação efetuada no texto alemão
através da alteração de palavras do original não configura exemplo do aforismo
italiano - “traduttori, traditori” –, significando em
verdade que o tradutor penetrou
com intensidade no espírito do romancista, captando-lhe o pensamento tal
como vivido interiormente.
• IMITAÇÃO - Do
latim “imitatione”, que significou inicialmente “cópia”, passando depois a
referir-se a inúmeras diversidades semânticas.
A imitação pode configurar-se só quanto ao
aspecto formal, ou seja, quanto à linguagem, entendida como a expressão de palavras, frases, fonemas
e imagem visual. Exemplo: Camões que, em OS LUSÍADAS, seguindo uma das
características do classicismo, imitou a Virgílio. E foi o que fez Frei José de
Santa Rita Durão, cujo poema épico CARAMURU apresenta quase a mesma estrutura das
epopeias tradicionais, particularmente OS LUSÍADAS.
O poema “Influências Ilegítimas” reafirma
no final o fecho do poema “Forma e Fundo”, já comentado neste livro:
poema:
cabeça
tronco membros:
nada
mais velho
nada
mais novo
7.4. -
INFLUÊNCIA ILEGÍTIMA
no rude
reino da hipocrisia
onde nada se cria
e tudo se copia
- não reina a poesia.
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28
A influência ilegítima se dá através do
plágio.
Do grego “plágios”, pelo latim “plagium”,
significando em princípio o que rouba os escravos alheios ou o que compra e
vende como escravo uma pessoa livre
- plágio é um fenômeno diferente
de tudo o que foi visto em páginas anteriores, principalmente por ser próprio
dos que não têm talento criativo, nem pudor.
O plágio é a “imitação servil”,
consistindo em fazer um autor passar por sua, obra que, na realidade, é de
outro. O plagiador esmiúça sempre um estilo alheio, desmonta-o, penetra em seus
segredos e peculariedades, esforçando-se para assimilar (para em seguida
utilizar) todas as utilezas de técnica de
estilo empregadas pelo escritor-modelo.
O plagiato é crime, porque não passa de uma tradução nada judiciosa com que
alguém procura impor-se na vida
literária às custas de talento alheio. O
plagiador constrói sempre obras banais, vulgares, imprestáveis.
Todo autor tem o direito de ter a obra como sua, sem modificação ou
deturpação. Trata-se de direito
perpétuo e inalienável, vinculado à própria personalidade do autor e amparado
pela lei civil e pela lei penal. E tal proteção legal não abrange apenas o
estilo em si. A criação literária
decorre de dois elementos: a ideia e a palavra, razão pela qual a lei
não permite que alguém se aproveite das ideias ou do estilo do autor. “Para os
efeitos legais, ensina-nos Carvalho Santos, o atentado representa a mesma
gravidade, numa ou noutra hipótese, porque o todo em si, e cada parte desse
corpo, merece por igual a proteção da lei. Assim como não permite a lei que mate alguém e que também se faça ferimento em qualquer parte do corpo do
homem, assim também não permite a lei
que se copie servilmente a obra alheia ou dela se aproprie alguém da ideia, da
concepção, da sua alma, na qual muitas vezes está o seu encanto, o seu valor.”
Abordando o assunto sob o prisma
jurídico-penal, Nélson Hungria, em COMENTÁRIOS AO CÓDIGO PENAL, vol. VII,
ensina “que só é criminoso o plágio
quando alguém usurpa, pelo menos, trechos importantes da obra alheia ou essenciais
de sua estrutura psicológica.”
7.5. -
ESTILOS DE ÉPOCA
pré-barroco
barroco
(neo)clássico
romântico
parnasiano
simbolista
modernista
concretista.
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Com esquema rimático a-a/b-b-b/c-c-c, o poema é uma
enumeração dos principais estilos de
época em sequência cronológica:
• PRÉ-BARROCO -
Estilo de época que antecedeu o Barroco, iniciado em Portugal em 1580, com
a unificação da península Ibérica, e no Brasil em 1601, com o poema épico
PROSOPOPEIA, de Bento Teixeira.
•
BARROCO - O Barroco, iniciado em Portugal e no Brasil,
entre fins do século XVI e início do
XVII, terminou em Portugal em 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, e no
Brasil entrou em decadência no século XVIII, terminando em 1768 com a
publicação de OBRAS POÉTICAS, de Cláudio Manuel da Costa, livro inaugural do
Arcadismo no país.
Características:
- temas contraditórios
- cultismo: jogo de palavras
- conceptismo: jogo de ideias
-
forte influência do catolicismo
- linguagem complexa: inversões
sintáticas, linguagem
ornamentada
- malabarismos verbais
Principais representantes no
Brasil: o poeta Gregório de
Matos e o orador sacro Antônio Vieira.
•
(NEO)CLÁSSICO -
Neoclassicismo, também chamado de
arcadismo, é o estilo de época predominante no Brasil a partir da segunda
metade do século XVIII.
Características:
- bucolismo e pastoralismo, isto é, o
ideal de uma vida
simples, integrada à natureza
- o racionalismo: o uso da razão em
contraposição à fé cris-
tã predominante no barroquismo
- linguagem simples em substituição ao
rebuscamento bar-
Roco
-
exploração de formas clássicas: soneto, ode, écloga, idílio,
rondó, madrigal.
Principais representantes no Brasil:
Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva
Alvarenga, Basílio da Gama e Frei José de Santa Rita Durão.
•
ROMÂNTICO - O
romantismo nasceu na Europa (Alemanha, Inglaterra e França) em fins do
século XVIII e começo de XIX.
• Em Portugal: 1825, com o poema “Camões”,
de Almeida Garrett.
No Brasil: 1836, com “Suspiros Poéticos e Saudades”, de
Gonçalves de Magalhães.
Características:
- subjetividade: expressa uma visão
particular da realidade
-Idealização: motivado pela fantasia e
imaginação, o romântico tende a idealizar vários temas como a mulher, o índio,
a pátria
- paisagismo/ natureza
- sentimentalismo
- nacionalismo
- abrasileiramento da linguagem.
Principais representantes no Brasil:
Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu,
Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Castro Alves; na prosa de ficção: Joaquim Manuel de Macedo
e José de Alencar.
•
PARNASIANO - O parnasianismo nasceu na França em 1866, com
a publicação da coletânea de poemas PARNASSE CONTEMPORAIN.
No Brasil consolidou-se a partir da década
de 1880 com poemas de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
Características:
-
arte pela arte: o objetivo da arte é alcançar a perfeição formal
- o objetividade: distanciamento da
subjetividade romântica
- rimas ricas e raras
- o gosto pelo soneto
- impassibilidade do artista
- ausência de preocupação social
•
SIMBOLISTA - Nascido na França em fins do século XIX (Verlaine, Mallarmé,
Rimbaud), o simbolismo foi introduzido na Brasil pelo poeta catarinense Cruz e
Sousa (“Missal” e “Broqueis”).
Características:
- reação ao descritivismo parnasiano
- culto da vaguidade, do mistério, da
transcendência, do oculto
- retorno ao subjetivismo
- religiosidade
- linguagem sugestiva: sugerir a realidade
e não retratá-l - fascínio pela cor
branca
Principais representantes no
país: Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens, Da Costa e Silva.
• MODERNISTA - O
modernismo foi instaurado no Bradsil em 1922, com a realização em São Paulo da Semana de Arte Moderna.
Características:
- valorização poética do cotidiano
-
utilização incontida do verso livre, isto é, verso que não segue os
padrões da metrificação tradicional
- rompimento com a tradição, com o
academicismo
-
nacionalismo
-renovação e abrasileiramento da linguagem
O modernismo no Brasil apresenta três
fases ou momentos:
- PRIMEIRA FASE: Corresponde à época iconoclasta do modernismo
(1022/1930) em que surgiram movimentos como o PAU-BRASIL (Oswald de Andrade), o
ANTROPÓFAGO (Oswald de Andrade), o VERDE-AMARELO (Cassiano Ricardo, Menotti del
Picchia e Plínio Salgado)
Principais representantes: Oswald de
Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Menotti del
Picchia, Guilherme de Almeida (poetas); Antônio de Alcântara Machado
(romancista e contista).
- SEGUNDA FASE : Corresponde a 1930/1945, quando surgiram
grandes romancistas regionalistas como José Américo de Almeida (A BAGACEIRA),
Rachel de Queiroz (O QUINZE), Jorge Amado (SUOR, CACAU, CAPITÃES DE AREIA),
Graciliano Ramos (SÃO BERNARDO, VIDAS SECAS), José Lins do Rego (MENINO DE
ENGENHO, FOGO MORTO), Érico Veríssimo (CAMINHOS CRUZADOS, OLHAI OS LÍRIOS DO
CAMPO).
Na poesia destacam-se Carlos Drummond de
Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima.
-
TERCEIRA FASE : A partir de 1945.
Principais representantes:
a) Na poesia: João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar
b) No romance/conto: Clarice Lispector, Guimarães Rosa.
•
CONCRETISTA – A poesia concreta foi iniciada em 1956 no Brasil, tendo como
maiores teóricos e poetas Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de
Campos.
Características:
- poemas curtos, com grande economia de
palavras
- aproveitamento do espaço em branco na
folha do papel como elemento orgânico do poema
- rejeição ao verso e à sintaxe
tradicionais
- poesia visual ou verbivocovisual
Exemplo:
nasc
ente
cresc
ente
do
ente
po
ente.
(Alcenor
Candeira Filho - VIDA)
Quando surgiu em meados do século XX a
poesia concreta, muitos perceberam nela a marca da originalidade na medida em
que se abandonou o elemento rítmico do poema tradicional, com desprezo aos
esquemas analítico-discursivos da sintaxe clássica.
Mas um exame mais rigoroso do assunto
mostra que essa técnica do aproveitamento do elemento visual, que põe o estrato
fônico em plano secundário, não exprime originalidade absoluta.
No Egito já se cultivava a arte
figurativa, assim como na Época Medieval.
No Brasil, à época do romantismo, já se
conhecia o poema visual, como neste exemplo de Fagundes Varela, em que o espaço
gráfico apresenta função orgânica no poema, dando-lhe a forma de uma cruz:
“Estrelas
Singelas,
Luzeiros,
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas
vivazes!
Montanhas audazes que o céu tapetais!
Abismos
Profundos:
Cavernas
Eternas!
Extensos,
Imensos
Espaços
Azuis!
Altares e troncos,
Humildes e sábios, soberbos e
grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o
caminho!
Só ela nos fala das leis de –
Jesus!”
Da Costa e Silva, parnasiano e simbolista,
também empregou esse processo de solução formal na poesia “Madrigal de um
Louco”, pertencente ao livro ZODÍACO.
7.6 -
GÊNEROS
bucólico para o pastor
épico para o herói
satírico para o alédico
lírico para o sonhador
didático para o professor
dramático para o ator.
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No PEQUENO DICIONÁRIO DE ARTE POÉTICA,
registra Geir Campos no verbete “Gêneros Poéticos”: “Aplicando à sua
classificação as funções da linguagem (‘representativa’, ‘expressiva’,
‘atuativa’) a estilística moderna divide os GÊNE-
ROS POÉTICOS em três: ÉPICO, LÍRICO e DRAMÁTICO.
Os gregos contavam cinco, acrescentando a estes três o BUCÓLICO e o DIDÁTICO; e
os latinos somavam mais um, o SATÍRICO. Modernamente colocam-se o BUCÓLICO e o
SATÍRICO como espécies de LÍRICO, e o DIDÁTICO como espécie do ÉPICO ou do
próprio lírico.”
Cada verso do poema evidencia a pessoa que
preferencialmente é a destinatária.
Temos assim:
• BUCÓLICO
- D o grego “boukolikós”, relativo aos
pastores, à vida campestre.
O bucolismo é uma das características
marcantes do Arcadismo ou Neoclassicismo, estética literária introduzida no
Brasil a partir da segunda metade do século XVIII.
São poetas representativos do bucolismo no
Brasil Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Ovídio Saraiva de
Carvalho e Silva.
•
ÉPICO -
Do grego “epikós”, palavra, narrativa, poesia.
Gênero criado por Homero, com os poemas
do século IX a. C. ODISSEIA e ILÍADA.
Outras grandes obras épicas: DIVINA
COMÉDIA, de Dante (século XIV), OS LUSÍADAS, de Camões (1572), ORLANDO FURIOSO
de Ariosto (1516) e JERUSALÉM LIBERTADA, de Milton (1580).
O maior poeta épico em língua portuguesa é
Luís Vaz de Camões, autor de OS LUSÍADAS, monumental poema de exaltação ao
ilustre povo português e à sua história,
como se vê na abertura (CANTO I, lª e 2º
estrofes):
“As armas e os barões
assinalados
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes
navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força
humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto
sublimaram.
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras
viciosas
De África e de Ásia andaram
devastando;
E aqueles que por obras
valerosas
Se vão da lei da morte
libertando
- Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho
e arte.”
O poema é constituído de dez cantos, que
se desenvolvem através de 1.102 estrofes de oito versos decassilábicos, com o
total de 8.816 versos.
A
obra de Camões obedece à estrutura da epopeia clássica ou tradicional,
apresentando as seguintes partes:
a) PROPOSIÇÃO : Apresentação resumida do assunto.
b) INVOCAÇÃO: O poeta pede a proteção divina para que possa
realizar a extensa obra.
c) DEDICATÓRIA: Dirigida ao rei D. Sebastião, morto
precocemente em sangrenta batalha.
d) NARRAÇÃO: Desenvolvimento dos episódios. Parte mais
extensa do poema.
e) EPÍLOGO: O fecho do poema.
*SATÍRICO -
Segundo Massaud Moisés, em DICIONÁRIO DE TERMOS LITERÁRIOS, do “latim ‘satira(m)’, de lanx satura, prato
cheio de frutos sortidos que se ofereciam a Ceres, deusa das sementeiras (‘satum’).”
A obra satírica visa a ridicularizar
defeitos ou vícios individuais ou
coletivos.
(Continua na segunda-feira, dia 20.02.2017)
Caro Alcenor Candeira:
ResponderExcluirSaudações
V., debruçado sobre alguns poemas seus e com essa série de estudos, só fará bem a quem se dedica à literatura e até mesmo a leitores que se interessam por literatura, seja em prosa, seja em verso. seja em ensaio. Comentando, em linguagem bem didática, seus metapoemas e poemas de outros autores e se valendo de uma bibliografia bem seleicoada mas sem exageros bibliográficos como suporte obrigatório em estudo dessa natureza, V. consegue preencher aquele papel tão especial que exerceu e, se não me engano, ainda exerce, no ensino médio e superior de Letras.
Ora, nada melhor do que o próprio poeta para acrescentar mais uma visão de sua produção.. Não se quer afirmar com isso que somente aos poetas é dado o ofício relevante e necessário de analisar poesia. Para isso, tem-se o crítico literário que não é poeta ou até pode sê-lo como no caso seu.
Agora, me recordo de uma conferência do crdítico Eduardo Portela ao afirmar, em tom de tristeza, que nunca conseguiu escrever um poema, ele - digo eu -, que tem passado a vida estudando poetas e ficcionistas desde a mocidade.
Vejo que nessa sequência de bem dosadas análises de metapoemas, espécie de estudo que não é tão frequente, que eu saiba, entre os poetas brasileiros, exceção maior talvez de Manuel Bandeira, com o seu indispensável "O itinerário de Pasárgada."
No Piauí, Elmar Carvlho já incursionou um pouco nesse tipo de análise. Não me lembro de outros que o tenha feito.
Portanto, ao meditar principalmente sobre as sua poesia, V. está prestando um auxílio inestimável a futuros pesquisadores que venham estudar sua produção poética, aliás muito rica em se fazer presente com poemas metalinguístico, não simplesmente sobre o gênero poético, mas sobre, poemas seus e de outros poetas e mesmo não ooetas que se voltam para o exercício de metalinguagem no tocante a outros gêneros poéticos e ficcionais.
Ao final, já terá páginas suficientes para um outro livro, quem sabe, a ser posto na mercado livreiro. Quem sabe.não é?
Tive sempre prazer de ler poetas-críticos. Sinto, no fundo, algo especial que eles possam me ensinar ou me apontar no domínio da teoria literária e da crítica.
Lembro de que T.S. Eliot foi mestre, entre outros, na análise da poesia.
Um crítico passado e ainda bem digno de ler foi Álvaro Lins, um crítico de invulgar penetração na análise e julgamento de poesia. Ele mesmo dizia que chegaria um dia em que, nas universidades brasileiras, haveria o chamado professor, crítico e criador, não só na ficção mas também na poesia. E essa antevisão eloquente de Lins realmente aconteceu e está acontecendo.
Que seus estudos de metapoemas tenham um bom termo.
É o que espera o seu coestaduano e colega na seara docente e nas lutas literárias.
Cordialmente,
Cunha e Silva Filho
Nota: V. leu o meu comentário sobre um texto seu postado neste site do Elmar Carvalho anteriormente aos seus estudos de metapoemas. Confira, pois, o que lhe escrevi.