quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O CANTAR DA FOGO - APAGOU

Fonte: Google

O CANTAR DA FOGO - APAGOU

Antonio Gallas

Ao ler crônica do confrade Pádua Marques (Academia Parnaibana de Letras) com o título "A morte suspeita do bem-te-vi", lembrei-me de uma crônica que consta em meu livro FRAGMENTOS  sobre quando criança, juntamente com outros meninos da época saíamos à caça de pequenos pássaros que cantarolavam nos galhos das frondosas árvores dos nossos quintais.  Transcrevo  a seguir a referida crônica por mim escrita no ano de 2008.

Acordei ouvindo o canto de uma rola fogo – apagou. Veio-me à memória o tempo em que quando criança ia passar as férias no lugar Itaperinha ou Taperinha onde meu pai possuía uma pequena fazenda de gado. Hoje essa propriedade me foi deixada por herança.

Mal os primeiros raios de sol iluminavam a manhã, pulávamos da rede, pegávamos armas e munição – baladeira (estilingue), araçá verde, pitombas  e ganhávamos às matas para a matança de rolinhas, pipiras, bem-te-vis, colibris e outros pequeninos seres da natureza que nenhum mal faz ao homem. Até mesmo os inofensivos calangos que encontrávamos pelo caminho eram sacrificados com os tiros de nossas baladeiras.

Em nossa mentalidade de criança e no afã de mostrarmos quem matava mais pássaros ou quem era melhor na pontaria, esses inofensivos pássaros eram sacrificados sem qualquer sentimento de culpa de nossa parte.

  Longe estávamos de imaginar que de certa forma contribuíamos para a devastação da nossa natureza.

Eu nunca fui bom de pontaria, pelo menos com baladeira, mas tinha um negro, o Sebastião do Badí, filho de um agregado[1] de meu pai que era um verdadeiro “demônio”. Atirava com as duas mãos e não errava um tiro. Disse-me para eu ter uma mão certeira eu teria que comer cru, o coração de um beija-flor.

Matei um indefeso colibri, arranquei-lhe o coração e o engoli de uma só vez, sem mastigá-lo. Meu estômago “embrulhou” tal qual quando tomávamos óleo de rícino para expulsar as lombrigas, coisa que todo menino no interior tem pra dar e vender.

De nada adiantou. Continuo não tendo boa pontaria com estilingues.

 Depois da experiência de comer cru, um coração de beija-flor, o primeiro tiro que dei errou o alvo e acertou bem no olho esquerdo da minha irmã Izabel, a Belinha. Quase fica cega, a pobrezinha! Ainda hoje ela tem problemas na visão por causa desse tiro.

Ao rememorar essas lembranças de infância fico pensando quão rude o homem é, quando desenfreadamente procura destruir o que é de mais útil para sua existência - a natureza.

Por que isso? Que razões levam o homem a poluir o meio ambiente, devastar as floresta e matar desenfreadamente milhões de animais todos os anos?

É preciso parar para pensar, caso contrário, em pouco tempo, animais, pássaros, peixes e insetos estarão extintos.

 E o que será então do próprio homem?


[1] Morador da fazenda

3 comentários:

  1. Professor Gallas, esse sentimento de culpa também carrego comigo. Menino interiorano, caçava sem dó nem piedade esses pequenos seres que hoje devolvem o malefício com doses grandiosas do seu melodioso canto nos nossos quintais.Pago a minha dívida diariamente alimentando cerca de cinquenta rolinhas livres todas as manhãs.Vou fazer isso enquanto forças eu tiver!

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  2. Meu caro José Pedro, fazíamos isso levados pela nossa inocência de criança interiorana, não por maldade. Também à época não tínhamos as informações e a consciência que temos hoje. Continue alimentando as rolinhas do seu quintal. Qualquer pequena atitude que fizermos em defesa desses pequeninos seres e de outros da natureza, estarmos contribuindo para salvar nosso planeta e nos redimindo de um pecado inconsciente que, com certeza Deus já nos perdoou. Um grande abraço,
    Antonio Gallas

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