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ENTRE A CABOTINICE E A DISSIMULAÇÃO
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
De antemão, devo confessar que leio qualquer livro que
me caia às mãos, ou que, procurando, consiga encontrar em livrarias ou sebos. Muitas
vezes faço, não com intenção ou pretensão de passar por crítico literário, mas
por diletantismo ou exercício cognitivo, comparações entre as leituras de
certas obras, de que, ou gostei deveras ou deveras abominei. Ainda no campo das
confissões, preciso me desculpar perante nosso maior best-seller – no instante,
no átimo da criação, quase não lembro o nome do famoso escritor –, Paulo
Coelho: tenho tentado, porém, não consegui ler, integralmente, quaisquer de
suas obras; como também tentei, todavia, abandonei logo às primeiras páginas,
um livro, do qual talvez faça eu parte da minoria que dele não gosta, chamado –
Ih! Quase esqueço o título da preciosidade, novamente (mas não é Alzheimer, nem
senilidade, ainda: testes médico-psicológicos afirmaram que continuo,
mentalmente, até mais sadio do que mereceria), O Apanhador no Campo de Centeio.
Atribuo a sonolência que se abateu sobre mim durante a leitura do exemplar da
obra-prima de J. D. Salinger, à tradução; palavrões, expressões chulas e
piegas, não só no caso de esse, especificamente, mas sempre, afastam-me de
qualquer leitura que pretenda fazer imbuído de alguma seriedade. Até aceito
ouvir obscenidades, porque sem elas eles não seriam possíveis, em shows
humorísticos ou em incontáveis, quem sabe melhor dizer, imprestáveis filmes
nacionais.
Já me sinto, diante do até aqui
escrito, um tanto cabotino. A propósito, expressão que um velho e dileto amigo
gosta de citar em suas observações sobre homens e seus procederes, mas que,
tenho quase certeza, não aplicaria à figura que pretendo chamar agora à cena: o
escritor José Sarney, em razão de, por este, meu chapa nutrir certa e comedida
admiração.
Admito, porém, que talvez mais
cabotino do que me considerei ao falar, resumidamente, de autores que não tive
oportunidade - ainda que um pouco de vontade e curiosidade houvesse – nem
paciência de ler obras suas, pareceu-me o imortal José Sarney em alguns trechos
de seu recente livro Galope à Beira-Mar – Casos e acasos da política e outras
histórias. Outros, no curso do longo calhamaço, poderão tomá-lo por bairrista,
corporativista, dissimulado, politicamente quase correto; concordo com esses,
mas não me absteria de, reiteradamente, considerá-lo cabotino. Millôr
Fernandes, em crítica acidamente humorosa a obra do prezado ex-governador,
presidente, senador, mais longevo político que o país já possuiu, considera-a
feito de um escritor sem estilo. Pois bem, no livro citado no início deste
parágrafo, em pequenas frases ou orações, Sarney despeja, subliminar e/ou
implicitamente, grandes maledicências ou vitupérios contra certos escritores,
como também o faz, contrariamente, atribuindo imensuráveis e rasgados elogios
ou encômios a outros, amigos ou aduladores. Com relação a H Dobal, como é mais
conhecido aqui e alhures, ele tenta diminuí-lo ou não lhe dar o devido lugar e
honra que merece no cenário literário nacional, ao tratá-lo, não pelo conhecido
pseudônimo, mas pelo nome verdadeiro – Hindemburgo Dobal, a quem poucos, entre
esses, os grandes amigos e admiradores, reconhecem como sendo um dos grandes poetas
mafrensinos. Dele, cita ideia que, acidentalmente, casa com o contexto que
pretende dar a uma situação específica, que não comentarei.
Preferi começar este parágrafo
com outro escritor, coincidentemente, também piauiense, a quem Sarney, por
linhas transversas, tenta diminuir, inclusive, fisicamente: Assis Brasil que,
certamente, escreveu mais que o autor de Marimbondos de Fogo, livros bem melhores
que esse. Citá-lo em seu Galope à Beira-Mar como sendo autor de apenas um bom
livro – Beira Rio Beira Vida -, esquecendo-se de que criou dezenas de boas
obras, a ponto de, por conta de alguma delas, ser premiado com a comenda Machado
de Assis, da Academia Brasileira de Letras, é quase um acinte. O episódio em
que menciona o nome do parnaibano é um sarau de poesia, em barzinho ludovicense
dos idos de Sarney jovem, em que, a um jornalista-contista, Erasmo Dias, segundo
o próprio, intelectual de rara inteligência, Assis Brasil apresenta um poema de
sua autoria, havido pelo jornalista, após sua oitiva, como de qualidade pífia,
capaz de ser feito, apenas, por um péssimo poeta.
Não diria, até porque não
ousaria arvorar-me crítico literário, como já falei, que Sarney seria um
escritor ruim – sem parcimônia, muitos já afirmaram que ele não é muito bom -; fizesse
isso e estaria, sumariamente, depreciando a Academia Brasileira de Letras, à
qual pertence, fórum literário e celeiro
de grandes talentos intelectuais, mormente, de antanho, bem mais que de hoje; fato
é, todavia, que o grande político – como tal, não resta dúvida de que é monstro
- pinheirense, não é escritor nem crítico literário com cacife suficiente para
afirmar que Assis Brasil é autor de apenas um bom romance: Beira Rio Beira
Vida. Continue escrevendo, imortal Sarney: quem sabe seu próximo livro não seja,
enfim, uma obra-prima literária.
Caro AFCS,
ResponderExcluirJá identifiquei quem é o seu amigo intelectual, inimigo implacável e imperdoável dos cabotinos e cretinos.
Abraço,
Elmar