sábado, 11 de agosto de 2018

ENTRE A CABOTINICE E A DISSIMULAÇÃO


Fonte: Google
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ENTRE A CABOTINICE E A DISSIMULAÇÃO

 Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                De antemão, devo confessar que leio qualquer livro que me caia às mãos, ou que, procurando, consiga encontrar em livrarias ou sebos. Muitas vezes faço, não com intenção ou pretensão de passar por crítico literário, mas por diletantismo ou exercício cognitivo, comparações entre as leituras de certas obras, de que, ou gostei deveras ou deveras abominei. Ainda no campo das confissões, preciso me desculpar perante nosso maior best-seller – no instante, no átimo da criação, quase não lembro o nome do famoso escritor –, Paulo Coelho: tenho tentado, porém, não consegui ler, integralmente, quaisquer de suas obras; como também tentei, todavia, abandonei logo às primeiras páginas, um livro, do qual talvez faça eu parte da minoria que dele não gosta, chamado – Ih! Quase esqueço o título da preciosidade, novamente (mas não é Alzheimer, nem senilidade, ainda: testes médico-psicológicos afirmaram que continuo, mentalmente, até mais sadio do que mereceria), O Apanhador no Campo de Centeio. Atribuo a sonolência que se abateu sobre mim durante a leitura do exemplar da obra-prima de J. D. Salinger, à tradução; palavrões, expressões chulas e piegas, não só no caso de esse, especificamente, mas sempre, afastam-me de qualquer leitura que pretenda fazer imbuído de alguma seriedade. Até aceito ouvir obscenidades, porque sem elas eles não seriam possíveis, em shows humorísticos ou em incontáveis, quem sabe melhor dizer, imprestáveis filmes nacionais.

                Já me sinto, diante do até aqui escrito, um tanto cabotino. A propósito, expressão que um velho e dileto amigo gosta de citar em suas observações sobre homens e seus procederes, mas que, tenho quase certeza, não aplicaria à figura que pretendo chamar agora à cena: o escritor José Sarney, em razão de, por este, meu chapa nutrir certa e comedida admiração.

                Admito, porém, que talvez mais cabotino do que me considerei ao falar, resumidamente, de autores que não tive oportunidade - ainda que um pouco de vontade e curiosidade houvesse – nem paciência de ler obras suas, pareceu-me o imortal José Sarney em alguns trechos de seu recente livro Galope à Beira-Mar – Casos e acasos da política e outras histórias. Outros, no curso do longo calhamaço, poderão tomá-lo por bairrista, corporativista, dissimulado, politicamente quase correto; concordo com esses, mas não me absteria de, reiteradamente, considerá-lo cabotino. Millôr Fernandes, em crítica acidamente humorosa a obra do prezado ex-governador, presidente, senador, mais longevo político que o país já possuiu, considera-a feito de um escritor sem estilo. Pois bem, no livro citado no início deste parágrafo, em pequenas frases ou orações, Sarney despeja, subliminar e/ou implicitamente, grandes maledicências ou vitupérios contra certos escritores, como também o faz, contrariamente, atribuindo imensuráveis e rasgados elogios ou encômios a outros, amigos ou aduladores. Com relação a H Dobal, como é mais conhecido aqui e alhures, ele tenta diminuí-lo ou não lhe dar o devido lugar e honra que merece no cenário literário nacional, ao tratá-lo, não pelo conhecido pseudônimo, mas pelo nome verdadeiro – Hindemburgo Dobal, a quem poucos, entre esses, os grandes amigos e admiradores, reconhecem como sendo um dos grandes poetas mafrensinos. Dele, cita ideia que, acidentalmente, casa com o contexto que pretende dar a uma situação específica, que não comentarei.

                Preferi começar este parágrafo com outro escritor, coincidentemente, também piauiense, a quem Sarney, por linhas transversas, tenta diminuir, inclusive, fisicamente: Assis Brasil que, certamente, escreveu mais que o autor de Marimbondos de Fogo, livros bem melhores que esse. Citá-lo em seu Galope à Beira-Mar como sendo autor de apenas um bom livro – Beira Rio Beira Vida -, esquecendo-se de que criou dezenas de boas obras, a ponto de, por conta de alguma delas, ser premiado com a comenda Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, é quase um acinte. O episódio em que menciona o nome do parnaibano é um sarau de poesia, em barzinho ludovicense dos idos de Sarney jovem, em que, a um jornalista-contista, Erasmo Dias, segundo o próprio, intelectual de rara inteligência, Assis Brasil apresenta um poema de sua autoria, havido pelo jornalista, após sua oitiva, como de qualidade pífia, capaz de ser feito, apenas, por um péssimo poeta.

                Não diria, até porque não ousaria arvorar-me crítico literário, como já falei, que Sarney seria um escritor ruim – sem parcimônia, muitos já afirmaram que ele não é muito bom -; fizesse isso e estaria, sumariamente, depreciando a Academia Brasileira de Letras, à qual pertence,  fórum literário e celeiro de grandes talentos intelectuais, mormente, de antanho, bem mais que de hoje; fato é, todavia, que o grande político – como tal, não resta dúvida de que é monstro - pinheirense, não é escritor nem crítico literário com cacife suficiente para afirmar que Assis Brasil é autor de apenas um bom romance: Beira Rio Beira Vida. Continue escrevendo, imortal Sarney: quem sabe seu próximo livro não seja, enfim, uma obra-prima literária.   

Um comentário:

  1. Caro AFCS,
    Já identifiquei quem é o seu amigo intelectual, inimigo implacável e imperdoável dos cabotinos e cretinos.
    Abraço,
    Elmar

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