segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Discurso de Lançamento – Academia Parnaibana de Letra

José Luiz de Carvalho, Edilson Sousa Jr., Elmar Carvalho, Claucio Ciarlini e Antonio Gallas



 

Discurso de Lançamento – Academia Parnaibana de Letra

 

Discurso de lançamento do romance O NÁUFRAGO do SS Eugene Thayer – Parnaíba 1942 –, pronunciado pelo autor, o médico Edilson Sousa Junior, em solenidade da Academia Parnaibana de Letras, ocorrida no dia 17/10/2025. O auditório Testa Branca estava lotado, com a presença de familiares, amigos e admiradores do escritor, que é professor da UFPI e acaba de concluir o seu pós-doutorado.

 

Excelentíssimos membros da Academia Parnaibana de Letras, ilustres convidados, amigos, familiares e conterrâneos parnaibanos, é com profunda emoção que me dirijo a todos nesta Casa que é, mais do que uma instituição, um símbolo vivo da inteligência e da memória cultural de Parnaíba. A Academia, carinhosamente reconhecida como a Casa de João Cândido, abriga o espírito dos que, com a força da palavra e da sensibilidade, edificaram o pensamento literário e histórico da nossa cidade. Cada cadeira aqui representa um legado de resistência, de arte e de amor à terra, transmitido de geração em geração. Estar entre vocês é, portanto, mais que uma honra: é um reencontro com as raízes profundas da nossa identidade parnaibana, com a chama intelectual que continua a iluminar este Delta e a inspirar os que acreditam no poder transformador da cultura.

É com imensa emoção que retorno à minha terra natal (40 anos depois) , a querida Parnaíba. Como as tartarugas marinhas que, após longas travessias pelos oceanos, regressam à mesma praia onde nasceram para perpetuar a vida, também eu retorno agora ao berço que me formou, trazendo comigo uma desova simbólica: o fruto de anos de pesquisa, de escrita e de amadurecimento – o livro O Náufrago do SS Eugene Thayer – Parnaíba 1942.

Este momento representa não apenas a culminação de uma jornada literária, mas também um tributo à nossa terra, à sua história rica e aos fios invisíveis que tecem o destino de uma cidade e de seu povo. Permito-me, nesta ocasião, compartilhar com vocês os pilares que sustentam esta obra, exaltando o que me moveu a escrevê-la e as lições profundas que dela extraí.

 

 Motivação e Descobertas

 “Uma vida não examinada não merece ser vivida.” — Sócrates

O impulso que deu origem a este livro nasceu do meu desejo de compreender os mistérios da nossa Parnaíba. Como filho desta terra, sempre me intriguei com o fato de que, no início do século XX, nossa cidade era o maior entreposto comercial do Nordeste do Brasil — um porto efervescente, por onde navios de várias bandeiras escoavam a riqueza do nosso povo: carnaúba, babaçu e tantos outros produtos.

Mas, com o tempo, essa força se dissipou, como ondas que se afastam da praia. O que aconteceu? Por que perdemos essa posição privilegiada?

Foi essa interrogação que me impulsionou a mergulhar em arquivos, relatos orais e memórias esquecidas.

Neste livro, por meio da história fictícia — mas enraizada em fatos reais —do náufrago alemão Anton, sobrevivente do torpedeamento do petroleiro americano *SS Eugene Thayer* na costa do nordeste em 1942, busco compreender o declínio de um entreposto em meio às tensões globais da guerra e às transformações econômicas. Durante a pesquisa, redescobri fatos e pessoas até então desconhecida para mim e para muitos parnaibanos, como a presença espiritual de Nossa Senhora de Montserrat e a genialidade de Nestablo Ramos, polímata cuja memória ilumina a cultura parnaibana.

Ao longo dessa jornada, outras descobertas igualmente significativas emergiram — personagens, documentos e símbolos esquecidos que, reunidos, ajudam a reconstruir a tessitura histórica e espiritual de Parnaíba. Cada achado revelou-se uma peça essencial desse mosaico, e muitos deles estão detalhadamente apresentados neste livro, que busca não apenas registrar fatos, mas também despertar um sentimento de pertencimento e reverência à nossa herança cultural.

 

Transformação Pessoal

 

A criação desta obra foi uma travessia de treze anos — um período de profundas transformações. Nesse tempo, não apenas reuni fatos e documentos, mas vivi uma verdadeira odisseia humana. Conheci pessoas generosas( em saudosa memória: JOÃO RENOR FERREIRA DE CARVALHO, DIDEROT MAVIGNIER),  ouvi histórias que me tocaram e percebi que escrever sobre Parnaíba era, na verdade, escrever sobre mim mesmo. Assim como o náufrago Anton se reinventa em terras estranhas, também eu me reinventei ao redescobrir as raízes de minha origem. Este livro não apenas narra a história de uma cidade: ele registra minha própria reconciliação com o passado e minha celebração do presente.

Essa longa jornada revelou-se, de certa forma, um caminho de aprendizado interior. Descobri que o percurso da criação não é linear, mas feito de fluxos e pausas, encontros e desvios, todos com um sentido próprio. Caminhei, influenciei e fui influenciado por pessoas que cruzaram minha trajetória — mestres, amigos, leitores e anônimos que ajudaram a moldar minha visão de mundo e de mim mesmo. Entre arquivos empoeirados, silêncios fecundos e conversas transformadoras, aprendi que escrever é também desapegar — deixar que as palavras encontrem seu próprio destino. Ao final, não me vejo como um escritor pronto, mas como um aprendiz, alguém que segue o movimento da vida, aberto ao que ainda virá.

 

Gratidão e Homenagens

 

Nada disso seria possível sem o apoio e o amor da minha família, que compreendeu minhas ausências e partilhou meus sonhos.

Sou grato aos mestres que me guiaram em cada etapa da vida acadêmica — mestrado, doutorado e pós-doutorado — e, de modo especial, à minha primeira professora, Rosângela, que plantou em mim a semente do amor pelo conhecimento.

Professora Rosângela, sua influência perdura em cada página deste livro — obrigado por ser o farol inicial dessa jornada.

Que O Náufrago do SS Eugene Thayer inspire todos nós a refletir sobre o passado, valorizar o presente e sonhar com o futuro da nossa Parnaíba.

Assim como as tartarugas que voltam à praia onde nasceram, que possamos sempre retornar às nossas origens — não apenas para lembrar, mas para semear.

 

Muito obrigado pela presença de todos

 

Edilson Carvalho de Sousa Junior

2 comentários: