José Luiz de Carvalho, Edilson Sousa Jr., Elmar Carvalho, Claucio Ciarlini e Antonio Gallas |
Discurso de Lançamento – Academia
Parnaibana de Letra
Discurso de
lançamento do romance O NÁUFRAGO do SS Eugene Thayer – Parnaíba 1942 –,
pronunciado pelo autor, o médico Edilson Sousa Junior, em solenidade da
Academia Parnaibana de Letras, ocorrida no dia 17/10/2025. O auditório Testa
Branca estava lotado, com a presença de familiares, amigos e admiradores do
escritor, que é professor da UFPI e acaba de concluir o seu pós-doutorado.
Excelentíssimos membros da
Academia Parnaibana de Letras, ilustres convidados, amigos, familiares e
conterrâneos parnaibanos, é com profunda emoção que me dirijo a todos nesta
Casa que é, mais do que uma instituição, um símbolo vivo da inteligência e da memória
cultural de Parnaíba. A Academia, carinhosamente reconhecida como a Casa de
João Cândido, abriga o espírito dos que, com a força da palavra e da
sensibilidade, edificaram o pensamento literário e histórico da nossa cidade.
Cada cadeira aqui representa um legado de resistência, de arte e de amor à
terra, transmitido de geração em geração. Estar entre vocês é, portanto, mais
que uma honra: é um reencontro com as raízes profundas da nossa identidade
parnaibana, com a chama intelectual que continua a iluminar este Delta e a
inspirar os que acreditam no poder transformador da cultura.
É com imensa emoção que retorno à
minha terra natal (40 anos depois) , a querida Parnaíba. Como as tartarugas
marinhas que, após longas travessias pelos oceanos, regressam à mesma praia
onde nasceram para perpetuar a vida, também eu retorno agora ao berço que me
formou, trazendo comigo uma desova simbólica: o fruto de anos de pesquisa, de
escrita e de amadurecimento – o livro O Náufrago do SS Eugene Thayer – Parnaíba
1942.
Este momento representa não
apenas a culminação de uma jornada literária, mas também um tributo à nossa
terra, à sua história rica e aos fios invisíveis que tecem o destino de uma
cidade e de seu povo. Permito-me, nesta ocasião, compartilhar com vocês os
pilares que sustentam esta obra, exaltando o que me moveu a escrevê-la e as
lições profundas que dela extraí.
Motivação e Descobertas
“Uma vida não examinada não merece ser
vivida.” — Sócrates
O impulso que deu origem a este
livro nasceu do meu desejo de compreender os mistérios da nossa Parnaíba. Como
filho desta terra, sempre me intriguei com o fato de que, no início do século
XX, nossa cidade era o maior entreposto comercial do Nordeste do Brasil — um
porto efervescente, por onde navios de várias bandeiras escoavam a riqueza do
nosso povo: carnaúba, babaçu e tantos outros produtos.
Mas, com o tempo, essa força se
dissipou, como ondas que se afastam da praia. O que aconteceu? Por que perdemos
essa posição privilegiada?
Foi essa interrogação que me
impulsionou a mergulhar em arquivos, relatos orais e memórias esquecidas.
Neste livro, por meio da história
fictícia — mas enraizada em fatos reais —do náufrago alemão Anton, sobrevivente
do torpedeamento do petroleiro americano *SS Eugene Thayer* na costa do
nordeste em 1942, busco compreender o declínio de um entreposto em meio às
tensões globais da guerra e às transformações econômicas. Durante a pesquisa,
redescobri fatos e pessoas até então desconhecida para mim e para muitos
parnaibanos, como a presença espiritual de Nossa Senhora de Montserrat e a
genialidade de Nestablo Ramos, polímata cuja memória ilumina a cultura
parnaibana.
Ao longo dessa jornada, outras
descobertas igualmente significativas emergiram — personagens, documentos e
símbolos esquecidos que, reunidos, ajudam a reconstruir a tessitura histórica e
espiritual de Parnaíba. Cada achado revelou-se uma peça essencial desse
mosaico, e muitos deles estão detalhadamente apresentados neste livro, que
busca não apenas registrar fatos, mas também despertar um sentimento de
pertencimento e reverência à nossa herança cultural.
Transformação Pessoal
A criação desta obra foi uma
travessia de treze anos — um período de profundas transformações. Nesse tempo,
não apenas reuni fatos e documentos, mas vivi uma verdadeira odisseia humana.
Conheci pessoas generosas( em saudosa memória: JOÃO RENOR FERREIRA DE CARVALHO,
DIDEROT MAVIGNIER), ouvi histórias que
me tocaram e percebi que escrever sobre Parnaíba era, na verdade, escrever
sobre mim mesmo. Assim como o náufrago Anton se reinventa em terras estranhas,
também eu me reinventei ao redescobrir as raízes de minha origem. Este livro
não apenas narra a história de uma cidade: ele registra minha própria
reconciliação com o passado e minha celebração do presente.
Essa longa jornada revelou-se, de
certa forma, um caminho de aprendizado interior. Descobri que o percurso da
criação não é linear, mas feito de fluxos e pausas, encontros e desvios, todos
com um sentido próprio. Caminhei, influenciei e fui influenciado por pessoas
que cruzaram minha trajetória — mestres, amigos, leitores e anônimos que
ajudaram a moldar minha visão de mundo e de mim mesmo. Entre arquivos
empoeirados, silêncios fecundos e conversas transformadoras, aprendi que
escrever é também desapegar — deixar que as palavras encontrem seu próprio
destino. Ao final, não me vejo como um escritor pronto, mas como um aprendiz,
alguém que segue o movimento da vida, aberto ao que ainda virá.
Gratidão e Homenagens
Nada disso seria possível sem o
apoio e o amor da minha família, que compreendeu minhas ausências e partilhou
meus sonhos.
Sou grato aos mestres que me
guiaram em cada etapa da vida acadêmica — mestrado, doutorado e pós-doutorado —
e, de modo especial, à minha primeira professora, Rosângela, que plantou em mim
a semente do amor pelo conhecimento.
Professora Rosângela, sua
influência perdura em cada página deste livro — obrigado por ser o farol
inicial dessa jornada.
Que O Náufrago do SS Eugene
Thayer inspire todos nós a refletir sobre o passado, valorizar o presente e
sonhar com o futuro da nossa Parnaíba.
Assim como as tartarugas que
voltam à praia onde nasceram, que possamos sempre retornar às nossas origens —
não apenas para lembrar, mas para semear.
Muito obrigado pela presença de
todos
Edilson Carvalho de Sousa Junior
Muito bom. Valeu
ResponderExcluirMuito importante o discurso parabéns
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