sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Alcenor Candeira Filho lançará mais um livro: “PARNAÍBA: MEU uniVERSO”



          Advogado, professor e poeta com várias obras publicadas, Alcenor Candeira Filho lançará no primeiro semestre de 2014, ano em que se registra o 170º aniversário da cidade, o livro “PARNAÍBA: MEU uniVERSO”.

          Ao publicar em 2010 a “Seleta Em Verso E Prosa”, reunião de textos em que Parnaíba é um dos assuntos predominantes, Alcenor Candeira Filho fez a seguinte advertência: “Aos poucos que democraticamente criticam meu parnaibanismo (de que resultou o livro Memorial da Cidade Amiga) respondo: não adianta, porque Parnaíba foi, é e será sempre no meu coração a cidade berço-cama-mesa, universo e verso reais.”

          “PARNAÍBA: MEU uniVERSO” focaliza poeticamente aspectos históricos, geográficos, econômicos, turísticos, paisagísticos, arquitetônicos e culturais da cidade e se constitui de 24 poemas com total de 1.128 versos, dos quais 804 são inéditos em livro e escritos recentemente.

          Como assinalou no prólogo, o autor “espera que o leitor sinta durante a leitura o prazer de quem bebe o mundo inteiro nas águas barrentas do rio Igaraçu e mata completamente a sede.”   

RAMON E JULIANA


RAMON E JULIANA
Osvaldo Monteiro
Membro da UBE/PI

Título do novo romance do escritor Adrião Neto. Muita pretensão de minha parte “resenhar” a obra de um escritor do porte de Adrião Neto. Até porque me falta qualificação, pendores e vivência técnica. Nem escritor acredito ser. Na UBE os amigos me batizaram de cronista! Talvez estejam certos os primeiros mestres que me apontaram como tal – Hardi Filho e Chico Miguel.

De fato tudo que escrevo inconscientemente me intrometo lá dentro do texto; isso caracteriza a crônica literária moderna. Aparecer o EU do autor é crônica.

Vamos ao que interessa: Ramon e Juliana me parece até agora obra prima do autor. Transita no conto, na crônica, na reportagem com pitadas de poesia e uma caliente paixão.

Paixão de homem maduro e sua Lolita. Ah! Amigo Nabocov esse enfeitiçamento (behexung em alemão); parece lugar comum com maior intensidade em homem de meia idade. Essa praia conheço bem. Ortega y Gasset chegou a chamá-la de “imbecilidade transitória”. Pois é, a paixão é isso ai, porém graças ao seu próprio demônio criador é uma fogueira que não demora apagar.

Ramon e sua Juliana parecem querer fugir do planeta, brincando de esconde-esconde com esse maravilhoso fogo que acometeu o casal. Resolvem correr o mundo, borboleteando num roteiro turístico mundial e altamente instrutivo para quem gosta e pode viajar.

O autor “lava a égua”, esnoba como Historiador. Apresenta um depoimento confessional, amoroso e apaixonado de uma veracidade catártica!

Tudo no casal é erotismo do mais puro “tesaço”, aço puro qual o sino da matriz do Santo Antônio de Campo Maior no Piauí.

Nenhum registro de uma solene “broxada” tipo “ isso nunca me aconteceu”! Tudo é testosterona em explosão intermitente. Qualquer lugar serve assim como na “doença das cachorras”; Mas a memória me adverte: estamos na era viagra.


Enfim não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acaba – ensina Epicuro. Baixou a libido dos pombinhos e veio o melancólico “the end”.

Bendita seja a alegria que festeja a bondade Daquele que nos criou e nos deu a língua para falar ( sem prejuízo de outras funções), a boca para saborear o vinho do Porto e o corpo de Juliana para o Ramon explorar até a saciedade”. Estas seriam as últimas palavras que o Autor do livro esquecera no Epílogo.

Em tempo: Agradeço ao insigne escritor gaúcho Nelson Hoffmann in “ com Adrião Neto o Brasil leva jeito”.    

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

INVENTÁRIO DA SAUDADE



16 de janeiro   Diário Incontínuo

INVENTÁRIO DA SAUDADE

Elmar Carvalho

Conforme anunciei no registro anterior, falarei de algumas de minhas perdas em 2013. Tentarei, tanto quanto possível, não ser melodramático e nem excessivamente saudosista e emocional. Não falarei sobre as mortes de minha mãe e de minhas cadelinhas Anita e Belinha, uma vez que já lhes dediquei espaço próprio no panteão de minha saudade, através de três crônicas, que podem ser encontradas nos mares da internet.

De forma inesperada, chegou-me no dia 27 de julho a notícia da morte do professor Neto Chuíba, ocorrida de forma tão trágica quanto precoce, o que comoveu a comunidade campomaiorense. Era ele um cidadão amigo, benquisto pelos seus alunos e conhecidos, prestativo sempre. Algumas vezes, em tardes agradáveis, estive no seu aprazível sítio Carajás, à sombra de copada árvore ou em seu alpendre, de onde se descortinava uma bela paisagem do tabuleiro e da pequenina Serra Grande de Campo Maior, a azular no horizonte infindo como um debrum celeste.

Em setembro, após vários exames, descobri que tinha um outro câncer (cujo tratamento radioterápico foi concluído no final de novembro); sobre esse CA me reportarei oportunamente. Fiz os exames solicitados, e hoje retornarei ao doutor José Andrade de Carvalho Melo, para que ele faça a avaliação do resultado da radioterapia. Do primeiro, em Deus, já me considero curado, uma vez que a cirurgia foi feita mais de oito anos atrás.

Em seguida, fui surpreendido com a morte do poeta RAL (Raimundo Nonato Alves de Lima). Eu o conhecia desde a minha juventude. Em certa tarde e noite memoráveis, em que conversamos a valer, de forma alegre e despojada, derrubamos um litro do velho pirata Ron Montilla. Publiquei vários poemas meus em sua página cultural, estampada dominicalmente no extinto jornal O Estado.

Esse espaço cultural prestou inestimável serviço à divulgação da literatura piauiense, numa época em que não havia internet, e em que a publicação de um livro era custosa e complicada, como ainda o é. RAL desenvolveu trabalho de pesquisa sobre o carnaval teresinense, tendo sido ele próprio um carnavalesco da Vila Operária, onde morou durante muitos anos. Li, com agrado e emoção, o seu livro de poemas Canção Permanente. Sem dúvida sua poesia merece permanecer na literatura piauiense.

Nessa sequência de perdas, soube da morte do jornalista e radialista parnaibano Cícero Evandro dos Santos, que conheci através de nosso amigo comum Bernardo Silva, também jornalista, e poeta em sua juventude, e que fez parte da obra coletiva Salada Seleta, de que fui um dos coautores, ao lado de Alcenor Candeira Filho, Paulo Couto, V. de Araújo e Ednólia Fontenele. Não tínhamos amizade antiga, mas sempre que ele me revia demonstrava contentamento, no que era por mim correspondido. De boa índole, cordato, sorridente e de muitas amizades, não sei por que tinha a “carinhosa” alcunha de Holyfield; talvez por ser a mais perfeita tradução antitética do belicoso lutador.

Em seu périplo macabro, a “indesejada das gentes” ceifou a vida de Rubem da Páscoa Freitas, mais precisamente no dia 14 de novembro. Aos 81 anos de idade, era ele o “papa” do jornalismo social em Parnaíba. Era o decano dos jornalistas e radialistas do litoral piauiense, em atividade ininterrupta há várias décadas. Conheci-o em 1975, na redação do jornal Folha do Litoral, do qual fui colaborador.

Uma vez por outra, eu ia até a redação desse periódico, para entreter rápida conversa com os amigos Bernardo Silva e professor Antônio Gallas Pimentel (seu conterrâneo tutoiense), e também com o “compositor” tipográfico Xixinó, sempre alegre e irreverente, a destilar sutis ironias, e lá encontrava Rubem Freitas a redigir ou a revisar a sua coluna Carnet Social, que manteve por vários anos. Mesmo nas notas mais despojadas e sintéticas, a sua linguagem era límpida e castiça, e disso ele parecia ter saudável orgulho. Organizou o livro Pedro Alelaf – Lição de Vida (2001), no qual foi inserto o meu trabalho Craques do Futebol Parnaibano, que depois, devidamente revisado, inseri em meu livro O Pé e a Bola. Era meu confrade na Academia Parnaibana de Letras – APAL.

Neste rosário de vidas ceifadas, que vou debulhando em forma de singelas homenagens, não poderia esquecer o passamento de José João Siqueira. Conheci-o no final da década de 70, quando ele estava prestes a concluir o seu curso de Economia, feito em Belém do Pará. Em seus melhores momentos, isto é, quase sempre, era carismático e alegre. Era um homem bom, amigo do bem e do belo. Fez importante dissertação sobre a extração, industrialização e comercialização da cera de carnaúba. Creio que esse trabalho ainda se mantenha inédito.

Com bom domínio da palavra e do conteúdo que porventura desejasse explanar, era um bom conferencista e talentoso professor da Universidade Federal do Piauí – Campus Ministro Reis Velloso. Sem apego aos metais, preferiu continuar, na qualidade de empresário, a vender tecidos, quando poderia ter migrado para outro ramo comercial mais rentável e menos trabalhoso, talvez por fidelidade à tradição e ao empreendedorismo de seu pai. Acredito que sua loja fosse a mais antiga na comercialização de tecidos em Parnaíba, numa época em que já quase não existem costureiras nem alfaiates, mas apenas a indústria e o comércio varejista massificados de confecções ou roupas feitas.

No dia 19 de novembro fui impactado pela notícia do falecimento de Otaviano Furtado do Vale, também conhecido como Tavico, sobre o qual desejo escrever um registro próprio, bem mais extenso. Foi meu amigo desde o início de nossa adolescência, ambos nascidos no ano de 1956. Ainda bem jovem, creio que aos vinte e poucos anos, foi morar em Brasília, não tendo mais voltado a residir no Piauí.

Por tal motivo, poucas vezes nos revíamos, mas quando isso acontecia a amizade permanecia a mesma, como se nunca nos tivéssemos alongado do convívio fraterno, que sempre tivemos, sem rusgas, mágoas ou queixas. Fomos camaradas de futebol, de alegres libações juvenis, de festas e na conquista de namoradas. Fomos colegas de turma do 3º e do 4º ano do antigo ginásio (no início da década de 70), concluído no Colégio Estadual de Campo Maior. Com a sua morte, rápida e quase diria extemporânea, perdi um de meus melhores amigos e uma das maiores referências de minha vida. Guardarei para sempre a sua lembrança, escoimada de qualquer senão que ele pudesse ter.


Na madrugada do dia 30 de dezembro faleceu a nossa cadelinha Anita, sobre a qual escrevi uma sentida crônica, em que pranteei sua morte. Foi o coroamento de espinhos desse ano de muitas perdas e infaustas notícias. Espero que 2014 me seja mais leve, mais ameno. Assim seja. Amém.          

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Maranhoa de Póvoas e Andrès


Fonseca Neto

Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correram os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor, mais perto de Portugal que todo os outros portos daquele Estado, em derrota muito fácil à navegação, donde se há de ir em vinte dias ordinariamente. 
E por ser terra tal, a fez Sua Majestade governo separado do Brasil”.
Coisa de marqueteiro? Sim. E escrevendo em 1624 sobre a recém-fundada cidade de São Luís do Maranhão, seu primeiro “prefeito” – o presidente da câmara municipal. De nome Symão Estacio da Sylueira, capitão, nauta empresário, vindo ao Maranhão para empreender a organização da cidade, consoante os interesses d’El Rei: assegurar o domínio territorial pela colonização de negócios.
O trecho acima é da “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, feita por Sylueira – Silveira – e é mesmo uma peça promocional dirigida aos reinóis ibéricos, conclamando a se mudarem para a nova terra e enriquecerem. Dir-se-ia um “gestor” talentoso, que, por exemplo, promoveu, a partir de 1619, a vinda para Upaon-açu de centenas de famílias açorianas. Gente do arquipélago açoriano para habitar outra ilha atlântica. Tão importante essa presença fundadora em São Luís, que, quase cem anos depois – 1712/1717 – eram açorianas as famílias que o governo maranhense mandou para habitar a Mocha, primeira vila-município do Piauí.
São Luís foi inventada para capital daquele “governo separado do Brasil”: cabeça de colônia e de Estado e por isso sempre foi governada por autoridades locais e gerais. 
Quando Joaquim de Melo e Póvoas assume o governo do Maranhão (1761), encontra a capital – já sesquicentenária, por óbvio – com características de protoburgo medieval e lidera um processo de “modernização” dela sob as “luzes” daquele século.  Retirou-lhe as muralhas e franqueou os caminhos para dentro. O famoso “caminho grande” da ilha foi prolongado até Pastos Bons, através dos sertões, passando pelo Julgado de Aldeias 
Altas, futura Caxias: estrada real que integrou o sul do velho Estado colonial, de Parnaguá, no Piauí, à capital ludovica. 
Aliás, como governador geral do Estado do Maranhão e Piauí, Póvoas esteve muito preocupado com a capitania do Piauí, que, por volta de 1775 entrou em grave crise política. Saiu ele de São Luís e fez uma espécie de governo itinerante, instalando-o na cidade de Oeiras por algum tempo, pessoalmente operando a burocracia local, tensionada pela Junta liderada pelo ouvidor Morais Durão. Também a vila de São João da Parnaíba foi parte do interesse desse governador, por seu papel portuário estratégico, no provimento da capital, e mais pelos bons negócios que essa vila piauiense garantia no contexto da atuação econômica da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão. Póvoas fez a típica política do seu tio, conde de Oeiras, depois marquês de Pombal. 
A São Luís edificada que hoje todos admiram – “cidade colonial” – é a urbs do tempo de Symão, planejada na traça ortogonal pelo engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita (1615/1616) e deve à liderança de Póvoas seu adensamento físico e demográfico. Demográfico inclusive pela agregação à vida da cidade, como seus construtores, à base de suor e lágrimas, de mais milhares de negros trazidos da África como escravos.  
São Luís é hoje um enorme núcleo urbano. A cidade dos três primeiros séculos constitui seu “centro histórico”, tombado como monumento cultural, nacional e mundial. É “colonial” por sua concreção e espírito dados na expansão comercial ibérica. É “colonial” pela representação de seus valores enquanto patrimônio histórico da humanidade. Representação e realidade que a movem no presente, sob a liderança de artistas, arteiros e letrados, dentre tais distingo o acadêmico Luiz Phelipe Andrès –que, tal Póvoas, esteve também em Oeiras a dignificá-la –e agora é honrada pelo tombamento iphânico.
Claro que toda cidade é obra coletiva. Mas não dana esse princípio louvar homens e mulheres que a dignificam. Mulheres? Sim, São Luís é póvoa marañaguara: “... poesia do nosso chão, cravo perfumado de nosso amor”. E onde tem Camboa e Jordoa é a Maranhoa encantada de Symão.  
(Jomar: perde-se a latinoparla mas não a neologia).      

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Zero cocaína, zero tráfico, não zero coca


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

           Teresina descarrilou de sua já fragilizada segurança para assombrosos e galopantes índices de homicídio, quase sempre envolvendo grupos rivais do tráfico de drogas. Decantada como uma das capitais brasileiras de menor violência, Teresina partiu para o faroeste e acerto de contas, especialmente na periferia da cidade. Dos raros assassinatos ao mês, há algum tempo, agora se contam dois ou três, diariamente. E a tendência é, como no resto do Brasil, jorrar mais sangue por dívida de alguns gramas da droga ou disputa de território. A origem de tanto desassossego nacional encontra-se bem longe. Bem nas fronteiras do Brasil com o Peru, Paraguai, Venezuela, especialmente a Bolívia do presidente Evo Morales, sob o beneplácito das autoridades brasileiras, à sombra de laços amistosos com chefes daqueles países.
          O presidente boliviano orgulha-se de incentivar plantações de coca, a matéria-prima da cocaína e do crack, consumidos no Brasil, sob o argumento de que as folhas servem para produzir chás e remédios. O presidente defende o princípio de que “haverá zero cocaína, zero tráfico, mas não zero coca”. Porque o cultivo da erva se insere na cultura milenar dos povos andinos.
          Na Ciudad del Leste, Paraguai, o chá da folha é consumido, legalmente, a cada esquina, como garapa de cana no Nordeste. Observando grupo de jovens bebericando coca, em shopping da cidade, curioso, solicitei-lhes uma partida. Identificaram-me a nacionalidade: “No Brasil, esta bebida dá cadeia... vocês só bebem chimarrão. Se quiser, nós te mandamos uma porção em teu próprio apartamento, em Nova Iguaçu. Também fornecemos armas.” Ao que retruquei: “Rapazes, sou educador, resido no distante Piauí...” Consertaram: “Não tem problema, você receberá a encomenda lá mesmo.”
          Bebi chá da coca e descobri quanto é fácil traficar a droga e armas. A Bolívia destaca-se, em terceiro lugar, no mercado internacional da coca e cocaína, ao lado da Colômbia e Peru. O Brasil compra quase toda a produção. Evo Morales defende a cultura da folha para fins medicinais. Na prática, todavia, faz vista grossa à produção e comercialização da droga. Estimula a plantação da erva, que já alcança 27 mil hectares. Ousado e antiamericano, desafiou na ONU: “Sinto que a folha da coca vai derrubar o capitalismo.” Talvez mau presságio de anticristo, que vem aniquilando as novas gerações. Aproximadamente, um milhão de brasileiros, vítimas da desgraça, além da família. Músicos e ídolos populares, que contribuiriam com exemplar conduta, vão-se, prematuramente.
          Autoridades brasileiras descobriram, segundo a Veja, cumplicidade do governo boliviano com o narcotráfico. Entre outros fatos, uma conexão direta entre o homem de confiança de Evo Morales e traficantes presos no Brasil. Sua gangue possuía fazendas em Rondônia e interceptava, por mês, 500 quilos de cocaína arremessada por aviões bolivianos. Ex-miss boliviana, alta funcionária do governo Morales, colaborava com traficantes em Rondônia.
          Diante do flagelo provocado pela droga, expiam-se vidas jovens e verbas públicas, sem soluções, enquanto não se declarar guerra ao tráfico nas fronteiras do Brasil e às leis de tolerância à bandidagem. Sente-se o faz-de-conta dos que governam o país. Nunca se viu, nas duas últimas presidências da República, um ataque, pelo menos verbal, ao cartel da droga. Pelo contrário, o crime organizado já consegue eleger parlamentares para defender leis de proteção a bandidos e a menores infratores. Apresentam-se com delicadas e sadias doses de chá de coca, no shopping, mas, por trás das sutilezas e esperanças, o alvo é comércio das drogas, armas e barganha de monumental dinheiro.     

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Morre o advogado Francisco Olímpio da Paz...


Zeferino Alves Neto (ZAN)

...pra mim e pra muita gente amigo dele, era simplesmente Chico Olímpio, ou menos informalmente, Dr. Chico Olímpio... Dessas criaturas que têm folha de serviço inestimável prestada a Campo Maior. Por mais que se já esperasse seu desenlace, vinha resistindo bravamente a uma doença grave desde um bom tempo, seus amigos e familiares ainda estão lamentando profundamente sua morte. Saí da catedral onde está se preparando a celebração de uma missa de corpo presente para fazer esta postagem. Seu sepultamento no cemitério do São João, lado do túmulo de seu pai, o inesquecível José Olímpio da Paz, acontecerá ainda agora pela manhã. Vai na paz de Deus, amigo Chico Olímpio...    

Fonte: Blog Zanzando na Rede

domingo, 12 de janeiro de 2014

Seleta Piauiense - Isabel Vilhena


A Borboleta


Isabel Vilhena (1896 - 1988)


Na transparência viva e luminosa

Dessa manhã de sol, passou fugindo

A borboleta azul, silenciosa,

Ligeira, breve, qual um sonho lindo,


Cabelo ao sol e face cor-de-rosa,

Dedinhos frágeis, gracioso unindo,

Atrás da flor aérea, vaporosa,

O garotinho ansioso vai seguindo.


A borboleta pousa numa flor,

Devagarinho, mudo, cauteloso,

Quase a prendeu! Fugiu... Que dissabor!


Garoto lindo! Borboleta esquiva!

Coração moço, crente, esperançoso,

Em busca da ventura fugitiva!          

sábado, 11 de janeiro de 2014

Afazeres e agruras de um pesquisador



Cunha e Silva Filho

            O final de um ano   é motivo  de  lançar  um olhar  para o que  fizemos  ou deixamos de fazer no cotidiano apressado  do  homem  contemporâneo. Como  os assuntos são  múltiplos e nos apontam para tantas direções, para tantos ângulos  da vida, me limitarei aqui  ao tema das leituras, e aí  se incluem os variados  tipos: o jornal(Folha  de São Paulo, O Globo, a  revista (entre  outras, a Presença, do Conselho  Estadual  do Piauí), a internet, na qual  posso  ressaltar o Gutemberg Project e, last but not  least,  o livro  sobretudo. Quanto ao  último, devo  afirmar que  deixei a desejar: empilharam-se  livros  de diferentes   assuntos, cujas  leituras  assumo comigo  o  compromisso  de fazer no  próximo ano,
         No entanto, num tipo de livro  me detive com maior intensidade, visto que se correlaciona com  uma pesquisa. na  área da crítica  literária. Até julho  do  próximo ano,   estarei  afundado  em leituras  teóricas afuniladas  para  a crítica literária e para a filosofia, história, teoria literária e história literária.
Não é tarefa  fácil  ler  centralmente a  obra  de dois  críticos   brasileiros, Álvaro  Lins e Afrânio Coutinho. Difícil tarefa  porque  temos  o compromisso  intelectual de  ler e, em   algumas situações, reler  praticamente  todo  o grosso  da  obras de cada autor e, além disso,   a leituras de dois  autores  reenvia,  por sua vez,  para outras leituras cruzadas,  para  outros   críticos,  outros ensaístas,  outros  estudiosos,  nacionais  ou  estrangeiros,  traduzidos  ou  no  original.
 Um tema   nuclear como  objetivo  de  desenvolvimento  demanda  uma  mobilização   de leitura  de natureza  transversal, uma vez que nenhum  assunto, tema ou  recorte  de um estudo   se  restringe   ao  insulamento  das obras de autores  selecionados,  por  exemplo, de dois autores,  mas  abre  um   canal  para uma constelação de leituras   paralelas, um feixe de  remissões  a uma  multiplicidade  de  autores, ou seja,  é uma abertura  a um diálogo com  vozes   múltiplas  e  por vezes  diversificadas   em relação  ao  objeto  da  pesquisa. Ou seja,  estudar aspectos  atinentes  à crítica  literária de dois  autores é penetrar  no  domínio da metacrítica e, por isso,  seu   alcance  é universal tanto quanto   estudar  a  literatura  em si.
Outra dificuldade,  encontrar  as obras–chave às vezes  difíceis de serem  encontradas  nos sebos,  nas livrarias  virtuais,  na  internet.  A gente  tem até que  contar  com  a boa vontade de alguns amigos  que  nos ajudam  a encontrar  um livro   que  não  achamos. Outras vezes,   o autor   cita obras que aparecem  na relação das  obras  completas, mas  na verdade  não chegaram a serem  editadas. Eu mesmo  estou vivendo  um momento  desses,       
Estou  procurando  uma obra  de Álvaro Lins, de título Girassol em vermelho e azul, que, segundo  anunciara o próprio autor, em  livros publicados pelas  Edições  de Ouro, seria    editada,  em  1963 pela Civilização  Brasileira. Por sinal,  os estudos   que aparecem  nos livros das Edições de Ouro não passavam  de  capítulos  de obras  anteriormente   publicadas com  outros  títulos.   A algum  provável  leitor  e admirador  daquele   crítico  que  tenha  conhecimento de um exemplar  da  citada  obra, peço,  através desta   coluna,  que me  dê alguma  indicação  ou  lugar  onde  possa adquirir   aquela   obra. Esta  forma de  publicar partes de capítulos  de obras  antes  saídas a lume  por  outras  editoras,  em   estudos  ou artigos  que,  originalmente,  provinham   de reunião e seleção de  artigos  ou   estudos    em  Suplementos   Literários,   embaraça   o trabalho do pesquisador,  como   bem  ressaltou   a  professora  e ensaísta  Adélia Bezerra de Meneses Bolle num  estudo  de muita  penetração  sobre o pensamento  crítico de Álvaro Lins.
O curioso  é que numa  obra   de Lins ele remete  o leitor  para  a referida  obra, que, segundo suas palavras,  seria  uma  espécie de  documentos   complementares por meio de cartas  dirigidas  a autores  por  ele  lidos e analisados durante  o largo  período em que militou  na imprensa,   principalmente no  antigo Correio da Manhã, no  Rio de Janeiro.
Outra dificuldade do pesquisador  é com artigos   publicados em  periódicos, revistas dos anos  1940, 1950 e   1960.Neste caso,   a única  saída  é recorrer à Biblioteca Nacional, à Academia  Brasileira  de Letras ou até entrar em contato com  os  descendentes  ainda vivos   do autor, ou mesmo a depoimentos  de  pessoas que  ainda  estão  vivas e  sobre as quais  sabemos  que  tiveram  contato  mais direto  com  o  autor  pesquisado.
Não está  também   descartada a  possibilidade  de  deslocamento  a  outros  lugares  do país  onde   possamos   fazer   pesquisa. 
No  caso de Afrânio Coutinho,  tem-me sido mais fácil  a pesquisa,  já que  posso contar  com  vários  fontes  aqui  no Rio de Janeiro e eu  mesmo   consegui,graças à gentileza do filho  do crítico,  o  professor  Eduardo Coutinho, da UFRJ,   a maior parte  dos  livros-chaves.
Um  última dificuldade  que  o pesquisador  arrosta neste país  é não  ser algumas  vezes  contemplado com   grandes   instituições de apoio financeiro ao  pesquisador, como  a CAPES  e o CNPq, uma vez que  o número de bolsas  liberadas   é muito  restrito   e a seleção  pode não ser  tão   justa assim. Pesquisar   às suas   expensas  é coisa de  louco  porquanto  se gasta  o que  não se tem  durante  a fase   de levantamento  de dados,  de  aquisição  de livros,  de uso  da internet,  da compra   de material  de impressão,  de  tinta  de  computador, deslocamento  para   diferentes  lugares do   domicílio do  pesquisador e até, segundo  frisei antes,  para outros  estados  da  Federação,  onde se possa  coletar    subsídios de vária  natureza  para  a pesquisa em andamento.       

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A MORTE DE ANITA


Anita e sua fiel escudeira Belinha



10 de janeiro   Diário Incontínuo

A MORTE DE ANITA

Elmar Carvalho

O ano que passou foi para mim de muitas perdas. Em abril, mês de meu aniversário, perdi a minha mãe. Aproximadamente um mês depois, falecia nossa tímida e meiga cachorra Belinha. Sobre essas duas mortes me reportei neste diário. Posteriormente, ao longo de 2013, outras pessoas de minha amizade, de meu bem-querer e admiração, foram convocadas pela velha ceifeira. Sobre isso falarei em próxima oportunidade, até mesmo no intuito de espantar e exorcizar esse velho fantasma, que nos estigmatiza com a ausência e a saudade.

Na madrugada do dia 30 de dezembro, antevéspera de um novo ano, que espero me seja menos carrasco, faleceu a nossa cadelinha Anita. Foi o coroamento de espinhos de um ano de muitas perdas e infaustas notícias.

Essa linda e fofa cachorrinha nos acompanhou por mais de doze anos. Veio para nosso poder ainda em tenra idade, a pedido de Elmara Cristina, que era a sua dona. Encheu a nossa vida e a nossa casa com a sua presença marcante, com a sua companhia, um tanto voluntariosa e possessiva, porquanto ela era nossa e nós éramos dela. Sobre seu temperamento, hábitos e manias já escrevi vários textos, publicados na grande rede, aos quais remeto o leitor eventualmente interessado.

Em sua juventude era portadora de uma exuberante beleza, e chamava a atenção de todos que a viam, adultos e crianças. Certa feita uma menina, encantada com a sua fofa e magnética formosura, tentou acariciá-la, não sem antes perguntar se ela mordia. Advertimos que ela era algo zangada com os estranhos, e não gostava de muitas efusões e intimidades. Mesmo assim a garota tentou afagar a Anita, que rosnou, tentando mordê-la. A menina puxou a mão com incrível rapidez, reconhecendo o óbvio que já lhe fora prevenido: - Ah, ela morde!...

Anita envelheceu sob nossos cuidados. Acompanhamos-lhe a decadência vital, as suas doenças e achaques. Foi levada regularmente às clínicas para consultas, tratamentos, exames, banhos e tosa. Era o mínimo que lhe poderíamos dar, em troca da alegria e ensinamentos que ela nos propiciou, ao longo de nossa convivência. Em sua velhice, tornou-se cardíaca e passou a ter problemas pulmonares, que lhe causavam uma espécie de tosse ou pigarro. Às vezes latia, de forma incisiva, no silêncio das madrugadas. Suponho que sentisse algumas dores ou incômodos, apesar dos medicamentos que lhe ministrávamos, por recomendação da medicina veterinária.

No dia 23 de dezembro, seguimos para Parnaíba, levando-a em nossa companhia. Por ocasião do natal, ela adoeceu, tendo apresentado uma supuração vaginal. Foi levada ao veterinário, que após exame e indagações aos donos, disse que ela apresentava sério problema nos ovários, pelo fato de nunca haver cruzado. De fato a nossa Anita, ao contrário da ninfeta da minissérie global de igual nome, era virgem, e nunca manifestou interesse pelos cães que encontrou em raras circunstâncias. Nossa família, da qual a considerávamos parte, lhe era o bastante, e de nada ela aparentava sentir falta, a não ser de nossos cuidados e de nossa companhia.

Anita teve alta no dia 28, e nesse mesmo dia a levamos para casa, pela manhã. Contudo, na tarde do dia seguinte, domingo, como ela gemesse e demonstrasse estar muito debilitada, a levamos novamente à clínica. Os atendentes acharam que era melhor ela voltar a ser internada, porquanto poderia precisar de aparelhos e medicamentos que não teria em casa. A cadelinha, encontrando uma porta de consultório aberta, para lá se dirigiu, como se precisasse de repouso e isolamento. Diante disso, embora com alguma relutância, tomamos a decisão de entregá-la aos cuidados da casa de saúde.

Para nossa imensa consternação, cedo da manhã da segunda-feira, véspera do final do ano, recebemos, por telefone, a informação de que Anita falecera na madrugada. Segundo nos disseram, sofrera uma parada cardíaca. Ainda lhe aplicaram oxigênio, mas sem sucesso. Espero que ela tenha tido uma boa morte, sem sofrimento, mas disso jamais teremos certeza.

Eu e a Fátima já havíamos tomado a deliberação, alguns anos antes, de que ela seria enterrada perto do memorial a meu cunhado e amigo Zé Henrique, no local onde ele sofrera o acidente motociclístico do qual veio a falecer, e onde já se encontrava sepultada a nossa cadela Belinha, na periferia de Altos, na saída para Campo Maior (1 Km após a linha férrea). Entretanto, eu já antevendo a possibilidade de a sua morte ocorrer em Parnaíba, imaginei que ela deveria repousar para sempre à sombra de verdejante e frondoso pau-d' água, existente no quintal da velha casa da Várzea do Simão, na qual moraram e morreram João Simão e dona Filomena, pais de Fátima, que imediatamente concordou com essa sugestão.

Recebemos na clínica o corpo de Anita, e seguimos para o local do sepultamento. Ao meio dia, bem junto ao tronco do centenário pau-d' água, para ela melhor ficar resguardada, o Reginaldo cavou a sua pequena cova. Pedi que fosse um tanto funda, para que nenhum bicho incomodasse o repouso eterno do pequenino cadáver. Retiramo-lo da caixa e do invólucro de plástico. 

Envolvemo-lo em tecido de algodão, para que ele mais eficazmente se integrasse ao pó da terra, de que somos todos constituídos, e para que melhor a matéria orgânica fertilizasse a terra, e se tornasse seiva que alimentasse a bela e sobranceira árvore que lhe daria abrigo e sombra. Cuidadosa mas firmemente, cobri o corpo de Anita com a terra retirada. Não mais a verei, porém sempre a estou revendo em minhas lembranças, em meu pensamento, em minha saudade. Agradeço a Deus por nos tê-la dado, por mais de doze anos de enriquecedora convivência.

Não sei se os animais têm alma. Se tiverem, sei que a de Anita estará em uma bela e aconchegante morada, porque ela, a seu modo, nos amou e cuidou de nós, em sua fidelidade e bravura canina. Afinal, fomos a única família que ela conheceu e teve. E todas as vezes em que eu vislumbrar o sol reverberando intensamente nas verdes e esmaltadas folhas do imponente pau-d' água, de suntuosa e acolhedora copa, sob a qual, tantas vezes, costumamos ficar, lembrar-me-ei da mimosa e fofa cachorrinha, que nos deu alegria e amor sem jaça, escoimado de qualquer interesse espúrio.    

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

1889


1889

Walter Lima

Mar. Deodoro da Fonseca
do alto-mar vem telegrama
saudação e proclamação
Salvação nos foi dada

adoro fontes cheias
paus-d' arco em flor
mais contemplo:
proclamationis res publica
pátria amada idolatrada!
salvem-se           salvem-se

que importa:
o preço libertas in horizontis

a ruína instalada na Quinta
o que resta ante os louros
comer da Vitória as pedras!    

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Maranhão de César e Jomar


Fonseca Neto

Aqui na borda equinocial da Sul América, desde os primeiros séculos da colonização, o Maranhão se fez uma referência das literaturas. Uma narrativa da fundação da  chamada França Equinocial é um bom exemplo disso, publicada em Paris, em 1614 e 1616, já então a capital francesa um polo difusor da cultura do ocidente latino.

Séculos depois, segunda metade do Oitocentos, um médico nascido no interior, em Caxias, dedicou sua vida a coligir as fontes escritas sobre a formação do Maranhão – aqui entendido, assinale-se, (a) região e a forma de capitania hereditária e real que esse topônimo representou e (b) o Maranhão enquanto Estado. Este, uma forma político-administrativa autônoma em face do Estado do Brasil, de 1621 a 1811, tendo São Luís como capital e sua territorialidade variável no tempo. Estado em cuja jurisdição foi instituída a capitania real do Piauí, em 1718, definitivamente dele separada no referido ano de 1811.

O médico-historiador assim dedicado chamava-se César Augusto Marques – medicou no Piauí em 1857. Publicou ele o mais importante livro que o Maranhão conhece, porque um manancial generoso de fontes inventariadas e que impactam a pesquisa social-historiográfica brasileira até hoje – o Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, com a primeira edição saída em 1870. Acima de tudo, espécie de enciclopedização do conhecimento testemunhal-escritural sobre o antigo Maranhão. Labor de pesquisa muito significativo para o Piauí, em particular, considerada sua vinculação histórica ao Maranhão desde sempre.

O Dicionário é uma espécie de guia de fontes sobre uma enorme gama de temas. Fontes hauridas de arquivos governamentais locais, eclesiásticos, acervos hemerográficos, memórias de diversos modais, documentos manuscritos e tipografados de repartições portuguesas etc.

Ao ser lançada, a obra causou muito impacto e logo foi canonizada, mas sua difusão cobriu o autor do desafio de agregar a ela novos suportes registrais que a primeira edição potencializou – ao evidenciar lacunas e senões eventuais – e o acréscimo de outras informações, além de achegas revisoras. Nessa direção, o próprio Marques faleceu em 1900 trabalhando um projeto reeditorial do Dicionário, não logrando fazê-lo, pois surpreendido com a “indesejada das gentes” cassando-lhe o destino entre os viventes, aos 74 anos . Deixou, contudo, revisões, verbetes novos e outras anotações relevantes.

Assumiu a tarefa de continuador desse esforço, todavia, um dos mais notáveis historiadores do Maranhão do tempo, Antonio Lopes. Este vianense encorpou o projeto reeditorial respectivo com qualificadíssima contribuição, fruto de sistemáticas investigações e chaves de compreensão sobre alguns temas e verbetes. Em que pese todo esse esforço, consumindo-lhe precioso tempo de vida, faleceu em 1950 sem vê-la, em folhas. Veio, após, a segunda edição, chancelada por Raimundo Nonato Cardoso, em 1970, entre os auspícios do “Maranhão Novo”, liderado pelo intelectual José Sarney.

Agora, a terceira edição do Dicionário, dirigida pelo escritor Jomar Moraes, coroando as celebrações alusivas ao centenário da Academia Maranhense de Letras: eis o prêmio que este sodalício concede à cultura historiográfica geral, mais especificamente referenciada ao Brasil e a Portugal. A rigor, edição pluriautoral, pois agrega a escrita de origem, revisada e ampliada pelo próprio Marques, o texto suplementar de Antonio Lopes, além e principalmente, as anotações e apuração textual elaboradas por Moraes. Também contribuições pontuais da Comissão César Marques e o Índice Remissivo organizado por Lino Raposo Moreira.

Ao dedicar mais de vinte anos de sua vida a preparar a presente edição, aliás, enquanto presidia a AML, Moraes chamou a si o cometimento próprio do chefe de um “patriarcado de loucos” varridos, numa república de letras. Para se tenha uma ideia do zelo extremado, ele escrutinou, letra a letra, a imensa fortuna de textos de todas as edições publicadas, das edições preparadas e não publicadas, notas prefaciais e conexas de todas elas; releu fontes. Elaborou 1.508 notas explicativas, cujo apuro confere ao leitor de hoje uma indispensável segurança na ancoragem das consultas.

Comovente o espírito manifesto de Jomar Moraes, revisando, anotando e verbetando essa obra, complementar e criticamente, em proveito das atuais gerações de pesquisadores das chamadas ciências do Homem. E quanto deixa pistas, à mostra, para a escritura dos pósteros.     

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Do romance Terra do Fogo


Geraldo Borges

Estava posto em sossego lendo o romance - Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, quando alguém tocou a campainha. Fui ver quem era. Na porta o carteiro me entregou um pacote. Era o romance – Terra do Fogo do escritor Edmar Oliveira, recém lançado pela editora  Viera Lent. Tive então de suspender a leitura do grande tijolo da literatura russa, e, comecei  a saborear o   biscoito da nossa literatura regional. - Terra do Fogo.  

               Ora lia em pé, ora sentado,  – Terra do Fogo. Um título é sempre um chamativo para o leitor curioso. Perguntei-me que terra do fogo é esta? Ao penetrar na leitura do livro fui entendendo. O romance tem como pano de fundo os incêndios na capital do Piauí, e todo um período que vai, desde a infância, a adolescência, a mocidade do narrador, desenrolando o seu leque de recordações. De modo que o leitor atento vai descobrindo que no romance existem duas histórias, uma que pode ser escrita com h, uma infra-história  e outra que pode ser escrita com é. Trabalhada simplesmente no campo da ficção, embora com o suporte dos fatos reais, que, de tanto passarem de boca em boca, terminam virando lenda.

               Os  personagens do seu romance, no meu modo de entender, estão classificados em duas categorias. Os que verdadeiramente dão dinâmica a estória. A começar por Jaci e Alaríco que mantém o eixo romântico do fluir da narrativa. Observa-se que os personagens imaginados têm mais força, e são, na verdade, quem conduzem o enredo do romance. Quanto aos históricos, são amorfos, embora ajam como vetores de transformações sociais, sobrevivem em livros didáticos ilustrando a nossa história contada ao sabor das conveniências ideológicas. São múmias petrificadas.

               O que notei na leitura do romance de Edmar Oliveira é que ele, embora narre e conte uma estória bem urdida, há momentos em que se empolga com a outra história, a história oficiosa e oficial o que se pode  notar com a escolha do título Terra do Fogo, que não passa de pano de fundo para a verdadeira estória  de ficção. Talvez por curiosidade, se alguém fosse desmontar o romance, ou condensá-lo, como se fazem  aos romances da revista Seleções, primaria por manter  na integra o texto narrativo, e capar de preferência a dissertação sobre os incêndios. Claro que a atmosfera do incêndio poderia continuar, mas em pequenos tópicos, como subtexto, como, por exemplo, o sonho pesadelo nas paginas 88, 89, 90.

               Sei que Edmar vivenciou, por muito tempo, esta estória, desde menino. O personagem narrador é autobiográfico. E teve de se utilizar de um truque, bastante inteligente, muito conhecido na história da literatura ocidental. Trata–se do resgate de um documento onde existe um manuscrito, um dossiê, de onde pode-se  extrair uma pista para uma estória. O vazio, as brechas, podem ser preenchidas pela imaginação e memória criativa do autor.

               O romance de Edmar Oliveira, ainda tem as influencia de seus primeiros livros, dois, - Ouvindo Vozes, da editora Viera Lent e Von Meduna, editora Oficina da Palavra, os quais ele  mescla crônicas, contos, relatos, bem acabados,   onde traça perfis de tipos populares, juntamente com seu trabalho acadêmico. Pois a ênfase dos livros, os anteriores, está colocada em relatar resultados de pesquisas e projetos. Com pequenas pitadas de especiaria devido ao seu estilo leve e envolvente. Este último - Terra do Fogo, revela a grande  potencialidade que  o seu autor tem para a arte de ficção.

De um pequeno ponto, que é o casamento de Jaci com Inácio, seu primo, que morre afogado; depois viúva, ainda menina, casa se  com Belizário, um truculento fazendeiro que a maltratava, e o aparecimento de Absalão, que a tira de seu lugar de origem,  oferecendo  lhe liberdade para a aventura do romance, o autor tricoteia  uma estória que vai perpassando toda uma época com a duração de  meio século. Dentro de todo esse período Jaci se envolve com vários homens que, em certo momento, representaram algum valor em sua vida. É a personagem mais exponencial da estória do romance e com ela que o autor dá inicio ao seu romance

Depois da morte de Jaci, aconteceu algo que só agora posso revelar.”

Esta revelação esta no dossiê. E repare como o romancista aguça logo no começo a curiosidade do leitor. Jaci já está morta quando a estória começa, mas, é justamente a personagem mais viva do romance.

               São muitos os personagens que se aglomeram pelo vasto cenário suburbano da cidade de Teresina na época dos incêndios. Multidões aflitas, vendo seus lares devorados pela fúria do fogo, tiveram que pagar pela modernização arquitetônica da cidade.

O romance de caráter histórico ainda é uma vertente importante na literatura ocidental, e o escritor Edmar Oliveira estreia muito bem neste ramo de ficção. Não obstante, alguns reparos feitos por um resenhista bisonho que agora volta a enfrentar Guerra e Paz.   

Fonte: blog Piauinauta

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Café Literário


EXALTAÇÃO AOS MISSIONÁRIOS: cegos, mudos e surdos

Escritor Monteiro Lobato

 Jacob Fortes

Ainda tocado pelo efeito duradouro do clima Natalino, circunstância natural quando se trata da celebração da data máxima da cristandade, sou instado a lembrar, sobretudo aos que foram agraciados com leitos emplumados, acerca da importância de serem doados às pessoas mais desamparadas de recursos, mormente estudantes pobres, os missionários que, na inatividade, repousam ociosos no vão das estantes: os livros.

Pobre também ler. Exemplificativamente, vejamos. Apesar da ventura de ter tido uma infância pródiga em honra — oferta de um casal apedeuto, de sertanejos, que agia sob o imperativo da retidão — desventuradamente o destino flagelou o período juvenil do estudante Adalberto com uma pobreza de invejar qualquer monge franciscano. Naqueles distantes tempos juvenis regados à escassez, Adalberto vivia a pedir aos ricos: cadernos, lápis, borrachas e livros, porém, escondidos atrás das suas indiferenças, eles não o viam, nem ouviam. Apesar de tudo Adalberto sagrou-se vitorioso pelo caminho do estudo. Pobreza não é circunstância impeditiva à leitura, pelo menos nos tempos em que a internet, o celular e a televisão não tinham primazia sobre a leitura; não tinham o poder de declarar interdita a prática desse mister.

A presente exaltação aos missionários não a faço por mero diletantismo, mas no apego à convicção de que milhares de pessoas podem ser salvas por eles, talqualmente Adalberto. Esses abnegados missionários têm o condão de informar, transformar, maravilhar, reflexionar, sanear motivações enfermadas, amolgar corações empedernidos, amansar a incivilidade, ensinar a escrever e outros benefícios incontáveis. Por aplicação analógica esses missionários são como as abelhas: durante o seu trajeto elas vão espalhando por sobre os ovários das flores os grãos de pólen que carregam nas suas corbículas, realizando, desse modo, a polinização responsável pela fecundação de frutos e, consequentemente, das árvores.

Gostaria que esses abnegados pudessem missionar no País inteiro, rua acima grotão abaixo, mas entre o ideal e a infactível quadratura do círculo, melhor que me contente apenas em exaltá-los para que, ao menos, sirva de refrigério ao meu ideário, atenda a uma realização sonhada.

A esses missionários todo me devotei e ainda dedicarei todo o meu devotamento para que o desábito à leitura não prospere. Agradeço a eles as horas de boa leitura muitas das quais se prestaram, também, a lenir melancolias e até mesmo distrair o choro do bucho quando a algibeira, desfalcada de haveres, não podia aprovisioná-lo do essencial, sequer uma mamadeira de guaraná. Apesar do injusto labéu de serem portadores de deficiência (cegos, mudos e surdos), asseguro que enxergam quando alguém lhes apalpa, febril do prazer da descoberta; falam quando precisam dissipar a dúvida; ouvem quando precisam exercer ação terapêutica sobre a ignorância.

Em favor desses prestimosos amigos, tão singelos quanto às crianças, transcrevo as palavras de um amigo ainda mais fervoroso, Monteiro Lobato:

Um país se faz com homens e livros”.
Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é, portanto, compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome. O batom diz à mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se. Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde. Suprimam-se o livreiro e estará morto o livro. Com a morte do livro retrocederemos à idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpetua, a trêmula chamazinha da cultura”.”   

domingo, 5 de janeiro de 2014

Seleta Piauiense - João Ferry


Fim de Escola


João Ferry (1895 - 1962)

Na escola toda vez, quando aparece
O exame final do fim do ano,
Nervoso cada qual faz uma prece,
Receando sofrer um desengano.

Boas notas só tem quem as merece,
E quem as obtém vaidoso e ufano,
Muitas vezes até depressa esquece,
Da professora e seu trabalho insano.

E o aluno fica alegre e mui contente,
Para gozar as férias bem feliz,
No lar para onde volta sorridente.

Mas acontece que o aluno mau,
Que de vadio estudar não quis,
Volta pra casa, mas só leva pau!...     

sábado, 4 de janeiro de 2014

Os Carvalho do Piauí: novidades do passado


Gilberto de Abreu Sodré Carvalho

O trabalho de pesquisa genealógica de Edgardo Pires Ferreira, “Os Castello Branco e seus entrelaçamentos familiares no Piauí e Maranhão”, 2013, em edição revista e, digo, imensamente ampliada, é obra indispensável de ser lida e consultada. Dentre as inúmeras novidades ou achados novos que contém, principalmente confirma quem foram os protagonistas da chamada conquista do Piauí. No livro, juntam-se, não por coincidência simplória, genealogia e história ao cuidar-se das pessoas e famílias que se reportam a Francisco da Cunha Castello Branco, fidalgo português que veio ao Maranhão no final do século XVII.

Ora, a conquista do Piauí? Atos de guerra, muita morte e mesmo genocídio? Talvez sim, ou bem assim. No entanto, sem isso não haveria o Piauí que temos hoje. Nenhum de nós, hoje viventes, teria existido. A história muda a dinâmica dos fatos, cria possibilidades novas e frustra o que vinha sendo e foi podado. Por certo, os episódios da tomada de terras dos índios corresponderam à sua morte ou afastamento para a Amazônia; ou à assimilação de muito da cultura indígena e do DNA nativo pelos filhos dos portugueses brasílicos. E o mais intrincado: a dificuldade para se ter uma argumentação histórica comum a todos os piauienses. Eles se veem divididos entre serem descendentes de índios degolados ou de o serem de portugueses assassinos. De fato, descendem de ambos.

A mesma tensão ocorre no Brasil inteiro. Uma vez que se evoque a nossa negritude de cultura e DNA, teremos dúvidas na mente dos pardos ou morenos. Os filhos e netos dos novos emigrantes dos séculos XIX e XX – como dos espanhóis, dos alemães, dos italianos, dos japoneses, dos árabes - mais ainda se dividem, porque, ao mesmo tempo, querem e rejeitam uma história não vivida mas adotada, em parte ou no todo, conforme a sua porção de sangue estrangeiro em disputa com o lado brasileiro. Confio que a crescente miscigenação resolva todos esses conflitos de identidade e se chegue a uma história politicamente correta, de verdade, que não escolha estar do lado de nenhuma das nossas etnias. Uma história revista em sua argumentação ufanista dos portugueses, mas não a ponto de nos voltarmos contra os fatos vistos nos seus contextos e época em que foram encenados.

Escrevo tudo isso para dizer que não devemos ter vergonha irrestrita e apressada dos nossos antepassados portugueses.

Nessa linha de pensar, é muito valiosa a saga dos cinco irmãos Carvalho, a saber: capitão-mor Manuel Carvalho de Almeida, capitão-mor Antônio Carvalho de Almeida, padre Miguel de Carvalho, padre Thomé de Carvalho e Silva e padre Inocêncio Carvalho de Almeida. Todos eles nasceram em Portugal e foram filhos de Belchior Gomes de Cunha e de Isabel Rodrigues. O sobrenome Carvalho, que adotaram de forma variada, com ou sem o “de” Carvalho, ou o “de Almeida” ou o “e Silva”, é resultado de a tomada de apelido ser livre para aqueles que chegavam à idade adulta. Não se impunha o sobrenome ao se nascer, como ocorre agora, desde os anos 30 do século XX. O apelido Carvalho deve ter sido decorrente da afiliação espiritual dos irmãos frente a seu tio Bernardo Carvalho de Aguiar, comandante da Conquista. De relevante se tem que os cinco irmãos foram protagonistas das campanhas de dizimação do chamado gentio. Manuel e Antônio como militares e, sem dúvida, matadores de índios, abrem espaços larguíssimos para a pecuária e para a Cruz. Os dois se casam; o primeiro, Manuel, com uma filha de Francisco da Cunha Castello Branco; o segundo, Antônio, com uma neta do mesmo Francisco e filha de João do Rêgo Barros, outro conquistador. Os três sacerdotes são o famoso padre Miguel, pároco muito influente e o primeiro cronista do Piauí, e os dois outros menos conhecidos, padre Thomé e padre Inocêncio, também esses vigários e hábeis na geração e uso do poder secular.

Tudo faz concluir que os irmãos Carvalho agiram em conjunto, a combinar o poder militar com o da Igreja, para o engrandecimento do seu prestígio político e da propriedade de terras e gados. Percebe-se a importância da ajuda fraterna que tiveram Manuel e Antônio, tanto para a obtenção de enormes sesmarias como de suporte de retaguarda na submissão das almas nas suas novas terras. O início do século XVIII presenciou grande poder da Igreja e da Inquisição.


O livro de Edgardo Pires Ferreira é abundante em dados sobre essa era remota, aos quais ele nos faz presentes pela liga com o povo de carne e osso que hoje vive no Piauí e no Maranhão. Essa gente precisa saber que é a história viva e miscigenada de uma epopeia que começa noutros tempos e contextos.   

Fonte: Portal Entretextos

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Noturno em dor maior



NOTURNO EM DOR MAIOR

Elmar Carvalho

na noite ca’lad(r)a
      um cão ladra
      sem resposta
um galo canta
sem o eco doutro galo
um vaga-
lume vaga
sem lume
vaga-
        rosa/mente
        demente
na noite vaga
uma ave
noctívaga
navega
na vaga
do m’ar sem movimentos
nos cataventos
      sem ventos
e de mirantes
       sem mira/gens
a morte espreita
nos olhos vidrados
do enforcado.