segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Com Pretextos




*Francisco Miguel de Moura – escritor

            Não há pretexto melhor para uma crônica do que a morte de um homem simples e genial, que tinha suas próprias convicções, mas nunca foi político nem escreveu livros, exceto “Minha experiência em Brasília”, depois de ter colocado na prancheta o projeto da cidade mais original e mais moderna que existe no mundo. A corrupção política não chegará ao cúmulo de corromper ou fazer ficar esquecida essa obra gigantesca da arte, no mundo contemporâneo. Editores, estão dormindo? Sonhando com vampiros? Acordem.
            Brincando comigo mesmo, digo que minha meta de vida é a do Niemeyer: viver muito e produzir mais e melhor. Bem que eu gostaria de escrever algo daqui para frente muito melhor do que já escrevi. Também fazer como o Oscar Niemeyer: Não misturar ideologia com arte. Pouca coisa se escreveu sobre ele, salvo as entrevistas, uma ou outra notícia que se tornaram manchetes de jornais e revistas. Mas o suficiente para ter uma ideia de sua biografia pode ser encontrado na internet/wikipedia. Neste país se escreve tanto sobre políticos e políticas que dá nojo. Até sobre uma Sra. Zélia de Tal (que não pode ser a escritora Zélia Gatai), e sim aquela que foi ministra do Color, rechassado do poder por causa da prepotência e da corrupção. Já escreveram livros até sobre o Lula, repetindo tolices publicadas na imprensa. Tem gente querendo que ele seja intocável, um ídolo, um santo, com uma estátua na praça, só porque ele disse “nunca ninguém antes, neste país...” como se o Brasil tivesse começado com ele e os petistas.  A frase, eu completaria apenas assim: “Nunca antes, neste país, um governante eleito conseguiu juntar tanta gente ruim na cúpula e na formação do governo como ele fez. Quem não assistiu e está assistindo até o último momento ao “julgamento do mensalão”? Graças ao Poder Judiciário, que, apesar de ter seus membros nomeados pelo Executivo, não se corrompeu”. Foram só alguns que deixaram rastros, outros ou muito mais poderiam ser enquadrados. E o próprio Lula, ficou de fora (até agora), porque “não sabia de nada, não viu nada”... Quem acredita nisto? 
    Fala-se mal de Fernando Henrique, que não foi tão ruim e não precisa ser “demonizado”. Mas ninguém fala em Juscelino Kubtschek, o construtor de estradas, o desbravador do Planalto Central, criador de Brasília para ser a nova Capital do Brasil, com a grande, imensa ajuda artística de Niemeyer. Foi assim: - Oscar Niemeyer e Juscelino tornaram-se amigos desde quando este era Prefeito de Belo Horizonte. Daí, praticamente começou a parceria artístico/política. Nosso Oscar Niemeyer já havia realizado o prédio do Ministério da Educação, no Rio, concluído em 1945, a primeira obra inovadora da arquitetura contemporânea. Nos anos 1940, sendo prefeito de Belo Horizonte o Dr. Juscelino Kubtschek de Oliveira (este que se tornaria, mais tarde, o melhor Presidente do Brasil), encomendou a Niemeyer o desenho do conjunto arquitetônico da Pampulha.  Começara ali a bela parceria cujo alto momento foi Brasília, nos anos 1960. “Niemeyer foi o arquiteto que inventou o Brasil na ponta dos dedos”, até mesmo alguns severos críticos admitem esta verdade, registra a revista VEJA (ed. de 12-12-2012).  Desde o início suas obras foram influenciadas por seu mestre franco-suíço Le Corbusier. A essa influência, o mestre Oscar Niemeyer acrescentou sabiamente a linha curva, em cuja direção fez milagres.
    “A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo ela será mais simples.” Esta frase representa bem sua ideologia política: o humanismo, justiça e liberdade.  No fundo, Kubitschek também queria a mesma a coisa, tinha os mesmos princípios aos quais aliava, à fé, a força e a ousadia. Queriam justiça, não por cima, nem por baixo, mas para todos, pelo meio. Basta olhar-se a igualdade dos prédios de apartamento do Plano Piloto, para que tenhamos a prova.  Para fazer o país mudar, em apenas CINCO anos, construiu estradas, rompeu com o FMI e levantou Brasília no barro vermelho do solitário Planalto Central. Empregou muita gente. Não deu esmolas. Era um homem simples, perdoava os seus perseguidores (e teve alguns): Mandava prendê-los hoje e amanhã já os soltava, perdoando a todos. Nunca mais tivemos um Presidente como ele. E talvez demore muito, por causa dos desmandos da era “petê”. Como também ninguém sabe quando virá um artista inventivo, genial, como Oscar Niemeyer, com suas linhas curvas. E aqui, eu, como um simples observador da natureza, não acredito que haja linha reta, todas são curvas no universo. O que chamam de linha reta são apenas pontos iguais, na mesma direção, como se fossem soldados em fila, de prontidão, ou mendigos em busca de alguma esmola. Todos os grandes artistas são curvos, tortos como o anjo de Drummond, também nosso maior poeta do século XX. 
    Eis a obra de Oscar Niemeyer, o mestre de toda uma geração: “Todos os mais de 600 prédios, palácios, residências, templos e monumentos assinados por ele, em 15 países. Ficarão como marcas indeléveis do que houve de belo no séc. XX, um tempo sangrento de duas guerras mundiais, do embate de morte entre duas concepções de mundo, o capitalismo e o comunismo defendidos ferozmente por arsenais nucleares de lado a lado que, combinados poderiam destruir o planeta Terra milhares de vezes. Niemeyer nunca teve dúvida qual era o seu lado. Sempre foi comunista” (Gabriela Carelli, VEJA, 12-12-2012). Ora, naquele tempo, quem não era comunista, sobrava a pecha de ser fascista, estar do lado de Hitler. O homem é sua vida, seu tempo e sua obra. Revolucionário na obra - na vida foi um cidadão pacato, comum, sem marcas que desmintam o homem direito que foi. Sabia distinguir as teorias, a política e a arte. Normalmente aqueles que assim não agem terminam por arrepender-se. Niemeyer não se perturbava com a rotineira pergunta da imprensa: “Você é comunista?” Desde os anos 1960 até a morte, respondia “sim” e acrescentava: “Estou velho demais para mudar”.
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*Francisco Miguel de Moura – escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, reside em Teresina, PI, e é também membro da IWA -International Writers and Artists Association - Estados Unidos.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O Solitário - Seleta Piauiense



O Solitário

Oliveira Neto (1907 - 1983)


Tristonho e desolado, um homem solitário,
imitava, no aspecto, o Cristo no Calvário.

Em chagas tinha os pés, as mãos e o peito abertos,
e andava a mendigar o pão pelos desertos.

Na voz tinha a ternura e o amor do Nazareno,
prendendo todo mundo em doce olhar sereno.

Solícito e discreto a todos atendia.
Pregava o amor de Deus – nosso Pai e Guia.

Tratava com carinho e amor as criancinhas,
em cuja voz ouvia a voz das andorinhas.

Cantava de manhã, “rezava a Ave-Maria”,
um hino ao sol tecia ao fim de cada dia.

Sem ódio e sem rancor, na trilha da verdade,
pregava sem temor – Justiça e Liberdade!

Chicoteado e preso ao tronco de madeiro,
sincera a voz soltou no verso derradeiro:

Não sou Nero, nem Judas, nem Caim,
tenho a chaga do amor dentro de mim!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Revelações fantásticas em sonhos




José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com


Fui avisado, em sonho, de que seria milionário. Despertado, mais tarde, dirigi-me ao local da mina, mas nem liguei para atender ao aviso do céu. Bem feito! Perdi uma bolada da loteria.
Faltavam poucos meses para eu me casar. A Loteria Esportiva, na época, oferecia os mais cobiçados prêmios. Domingo à noite, durante o programa Fantástico da TV Globo, o mascote da zebrinha anunciava o resultado dos jogos na coluna 1(vitória), coluna do meio(empate) ou coluna 2(derrota).
Uma noite sonhei preenchendo bilhete lotérico. Alguém me soprava: "Assinala só coluna 1 e a do meio. A coluna 2, não." Às 10 da manhã, o anjo parecia me guiar, meio a trânsito intenso e dificuldade para estacionar o automóvel. Encontrei, enfim, uma vaga - olhe só - frente a loja lotérica, ao lado do Banco do Brasil, Centro. Lembrei-me do sonho, mas virei as costas e me dirigi ao comércio. De volta ao local, novamente a sugestão:" joga! Joga!" Não dava ouvido a invisível mensageiro. Domingo à noite, a zebrinha anunciou: "Pela primeira vez, não se registra nenhum resultado na coluna 2. Ninguém acertou." Nem eu, na minha audácia de menosprezar sonho milionário.
A oniromancia, previsão do futuro pela interpretação dos sonhos, dominou a cultura dos povos antigos. No Islamismo, os sonhos bons são inspirados por Alá e podem trazer mensagens divinatórias, enquanto os pesadelos são considerados armadilhas de Satã.
Filósofos ocidentais eram céticos quanto ao tema religião e os sonhos, por alegar que não haveria controle consciente durante os sonhos, mas estudos recentes, analisando movimentos dos olhos (REM) durante o sono, mostram resultados cientificamente comprovados.
A Bíblia relata fantásticos sonhos e revelações, inclusive profecias messiânicas. A Noé um aviso dos céus revelou-lhe a tragédia do dilúvio. Acreditou, construiu a barca, salvou a família e os animais. Abraão, em sonho, foi convocado para morar em longínqua região, hoje Israel. Despediu-se da rica parentela, na Mesopotâmia, acompanhado da esposa, Sara. Viajaram 600 KM, estabeleceram-se na terra da promessa, enriqueceram, geraram as raízes do povo hebreu e muçulmano. Jacó acreditou nos sonhos, abriram-se-lhe os caminhos da riqueza e do casamento. José, filho de Jacó, abandonado e vendido pelos irmãos como escravo no Egito. O adolescente sonhava e decifrava manifestações oníricas dos outros, que lhe valeram o posto de vice de faraó.
A vinda do Messias ao mundo e sua morte foram sonhadas por dezenas de profetas, muitos séculos antes. Isaías, o mais fotográfico de todos, descreveu-O, sete séculos antes, esbofeteado, ferido e sem beleza. José, esposo de Maria, viu em sonhos o anjo advertindo-o de não molestá-la, por se encontrar grávida do Messias, sem participação de homem. Em sonho, também foi-lhe avisado levar a criança para o Egito, porque o rei Herodes queria matá-Lo. Em outro sonho, foi avisado para regressar, dois anos depois. A esposa de Pôncio Pilatos lhe pediu para não condenar Jesus, "pois sofrera em sonhos naquela noite".
Pensadores, cientistas e matemáticos tiveram, em sonhos, visões reveladoras. Descartes, em viagem à Alemanha, sonhou descobrindo um novo sistema matemático e científico. Kekulé propôs a fórmula hexagonal do benzeno, após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda. O pai da Tabela Periódica, Dmitri Mendeleiev, afirmou ter tido um sonho no qual lhe era mostrado o modelo da tabela periódica atual.
Sonhos revelam o que somos, nossas angústias, alegrias, ressentimentos, insatisfações, através de figuras e associações de objetos sem nexo. O importante é decifrar o significado, que pode revelar desejos recalcados, sintomas físicos ou emocionais. Em geral, pessoas simples e desapegadas, com intensa atividade espiritual, recebem avisos proféticos, um privilégio divino.
Depois de experiências amorosas frustradas, pedi ao Espírito de Deus que me honrasse com uma namorada para casar. Eu a contemplava em sonhos: tinha a cara da Rita. A zebrinha festejou minha sorte por esse imenso tesouro, que não tem preço mas valor. Sem gordas contas bancárias. Sem preencher bilhete da loteria.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O livro Bernardo de Carvalho - o Fundador de Bitorocara já se encontra à venda


O livro Bernardo de Carvalho - o Fundador de Bitorocara, de Elmar Carvalho, já foi posto à venda nas livrarias Entrelivros (Av. Dom Severino, 1045 - Bairro de Fátima), Nova Aliança (Rua Olavo Bilac, 1259 - Centro) e Universitária (shoppings Riverside e Teresina), ao preço de apenas R$ 10,00. O livro resgata a lembrança desse que foi considerado por Padre Cláudio Melo como "a maior expressão da História Colonial do Piauí", que se encontrava injustamente esquecido.

Um primeiro passo, mas já é um começo



Cunha e Silva Filho


Com a vitória da votação dos membros permanentes da ONU para o pleito do Estado da Palestina ter direito ao status de “Estado Observador”, à semelhança do Estado do Vaticano, os palestinos conseguiram, com muito esforço, a aprovação de considerável parte dos membros da ONU. Os palestinos, a partir de agora, já podem ter acesso a uma instância de extrema relevância, o Tribunal Penal Internacional (TPI) através do qual poderá reivindicar queixas contra violações de atentados, massacres, crimes de guerra e e crimes contra a humanidade e outros delitos cometidas pelos governantes israelenses. Ressalve-se que a minha crítica não se destina ao povo judeu na sua maioria, mas ao seus sistema de governança no âmbito das relações internacionais e de geopolítica num conflito entre os dois países que se arrasta desde a divisão do território que caberia a Israel e à região territorial destinada aos palestinos. O conflito mais acirrado atualmente diz respeito ao avanço dos judeus por parte do território que pertence aos árabes, por exemplo a Faixa de Gaza controlada pela facção Hamas.

O nó górdio entre judeus e palestinos tem implicações maiores no campo  da divisão territorial de partes de regiões que deveriam ficar sob o controle palestino, e não apenas servindo de munição para que os judeus continuem isolando as fronteiras do dois países e ainda por cima unilateralmente praticando ilícitos quando avança pelo território palestino a fim de aumentar seu próprio espaço geográfico.

Seria preciso que ambos os lados desarmassem os espíritos e pensassem em encontrar uma via que os levaria a uma estado de convivência pacífica sem ódios nem retaliações de parte a parte. Se o Estado judeu cessar a sua ambição de querer tomar à força marcos fronteiriços já assentados pelos órgão internacionais competentes, como a ONU, isso  já seria  outro passo  notável na  relação com os  palestinos. O que não pode persistir é este estado de beligerância constante entre as duas nações que não resultaram, até hoje,  em nenhum bem para a paz entre os dois povos.

Por que não permitir que a velha Jerusalém se torne uma espaço comum compartilhado harmoniosamente entre palestinos e israelenses, uma espécie de lugar santo aberto aos dois povos, uma área geográfica livre de confrontos religiosos e políticos, na qual só haveria espaço para a convivência e a pacificação.

Porém, não é assim que pensa o Premiê Netaniahu que, ao lado dos Estados Unidos, não vê com bons olhos essa pequena vitória do povo palestino. Netaniahu me parece sempre estar com um pé atrás em relação às palavras do Presidente Mahmud Abbas, segundo ele discurso que esconde falsa propaganda e outras intenções que não as que conduzem à paz. Ao contrário, vejo o Premiê judeu sempre iracundo e com fisionomia hostil no que diz respeito a discussões entre os dois países, ao contrário de Abbas que me dá a impressão de desejar uma saída para a paz. Mesmo quando os dois países estão se guerreando, o saldo de mortes é muito mais elevado para o lado palestino. É só ver as estatísticas, que falam mais do que as palavras.

Qualquer pretensão maior da parte dos palestinos na tomada de decisões conducentes a uma trégua com os judeus será barrada pelos EUA e Israel – os dois grandes aliados prontos a vetarem no Conselho de Segurança da ONU reivindicações dos palestinos. Esta união destes dois países em nada contribuirá para melhorar de vez o conflito e os crimes praticados entre Israel e os palestinos. Obama , tanto quanto os seus predecessores, mantêm a mesma fidelidade incondicional em propiciar aos judeus afagos e apoio em todos os sentidos, o que é lamentável para o EUA e para a suas relações internacionais

O governo brasileiro está de parabéns porque se solidarizou com a vitória dos palestinos na conquista de ser um novo “Estado Observador" e, de certa forma, ter mais visibilidade junto aos membros permanentes da ONU. Os 138 votos favoráveis aos palestinos foram um grande indício de que nações importantes não veem o povo palestino como uma nação aventureira e sim como um povo que almeja conquistar a paz duradoura.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

UM MONUMENTO ÀS TRÊS RAÇAS EM CAMPO MAIOR



12 de dezembro   Diário Incontínuo

UM MONUMENTO ÀS TRÊS RAÇAS EM CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho


Comentando pequena nota publicada em meu blog, em que eu informava que meu livro Bernardo de Carvalho – O Fundador de Bitorocara se encontrava à venda na sede da ACALE – Academia Campomaiorense de Artes e Letras e na Drogaria São Judas Tadeu, e cujo produto da venda será doado para campanha comemorativa dos 300 anos de instalação da Freguesia de Santo Antônio do Surubim, o Cláudio Rogério, no espaço destinado a comentários, postou a seguinte observação: “É lamentável ver um evento de grandiosa valia cultural para nossos munícipes ser tão pouco prestigiado. Noto pelas fotos que nem nossos acadêmicos tiveram a fineza de aparecer. Vai entender... Parabéns Dr. Elmar Carvalho, que Deus continue iluminando sua mente para cada vez mais nos agraciar com seus textos e obras”.

No espaço apropriado, logo abaixo do comentário supra, cravei a seguinte resposta: “É, caro Cláudio Rogério, para você ver como são as coisas... Eu só não desisto porque sou um tanto teimoso e persistente, e realmente tenho vocação para as letras, e não estou nessa luta por simples diletantismo”. A seguir, anunciei que comentaria o lançamento em meu blog. Este registro de agora, neste Diário, se destina a cumprir essa finalidade. Não irei dissecar possíveis causas sociológicas e culturais, nem tampouco farei conjecturas outras para tentar explicar o pouco número de pessoas presentes ao evento.

Conforta-me o fato de que compareceram parentes e pessoas de minha amizade e devoção, e que gostam de assuntos históricos e culturais. Por outro lado, o genial escritor Machado de Assis, em hipérbole às avessas, dizia ter apenas meia dúzia de leitores, e o José Saramago, que era José Saramago, em vários registros de seus Cadernos de Lanzarote, se dava por satisfeito quando, em lançamento de livros ou palestras, contava com um público de algumas poucas dezenas de pessoas.

Tudo isto me deu força e ânimo. Portanto, não me deixei abater, e falei com a mesma vibração, firmeza e entusiasmo como se estivesse falando para um grande auditório. É lógico que lamentei a pouco assistência, pois iria falar de temas campomaiorenses importantes, como aspectos de sua história, de sua sociologia, de sua arquitetura, de sua bela paisagem, ao tempo em que lançaria, como de fato o fiz, duas sugestões, que considero relevantes e originais, ao menos em termos de Piauí, sobre as quais me reportarei neste breve registro.

Sem querer polemizar, coisa que não é de minha índole, disse que Bernardo de Carvalho e Aguiar, o senhor de Bitorocara, era um homem de bem, que chegou a angariar o respeito de várias tribos de índios; que vários grupos indígenas pediram para ficar sob sua orientação, vez que ele não adotava os métodos brutais da Casa da Torre; que chegara a libertar índios aprisionados por prepostos dos Dias D' Ávila.

Aduzi que padre Cláudio Melo, em suas pesquisas, inclusive em Lisboa, colhera a informação de que Bernardo, nos momentos mais duros das campanhas chegava ao ponto de marchar a pé, para que os feridos tivessem montaria, e que nas ocasiões em que o alimento escasseava, ele se contentava em comer “uma só mão cheia de farinha por dia, dando o mais a seus servidores que por vezes o viram sem alimento de forma alguma”.

Expliquei que julgar-se um homem pelos padrões de hoje, sem se levar em conta as leis, os costumes, as crenças, as circunstâncias e os fatos históricos da época em que essa pessoa viveu seria uma crassa injustiça e um anacronismo. Mas disse que, pelos padrões de qualquer época, Bernardo de Carvalho pode ser considerado um homem de valor e de bem, desde que não se proceda de forma maniqueísta e preconcebida ideologicamente.

Afirmei, e isto está no meu livro, que o historiador Cláudio Bastos, no verbete referente a Mandu Ladino, registra que o padre Cláudio Melo considerava que esse indígena seria filho natural de Bernardo de Carvalho, evidentemente tendo como mãe uma índia. Acrescentei que mantive vários contatos pessoais com esse eminente historiador e sacerdote, no período de 1995, ano em que ele me prefaciou a segunda edição de Cromos de Campo Maior, até final de 1997, quando fui o presidente do Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, em função de cujo cargo lhe solicitei, algumas vezes, textos para as nossas publicações, tanto das obras completas de Monsenhor Chaves, como da revista Cadernos de Teresina, que era publicada com regularidade, a cada quatro meses.

Num desses encontros, Pe. Cláudio Melo me revelou ter a convicção de que Mandu Ladino (provavelmente) seria filho de Bernardo. Encaminho o leitor ao meu livro, em que teço maiores considerações sobre essa hipótese. Esse historiador, em lisboa, pesquisou vários documentos sobre a vida do fundador de Bitorocara. Acho que essa convicção lhe veio da leitura desses velhos papéis.

Ele não tinha certeza absoluta quanto a essa filiação, claro; tinha convicção, baseada em suas ilações, extraídas do cotejo de diversos documentos. Chegou a me dizer, inclusive, que estava pensando em escrever um romance histórico, em que Mandu apareceria como filho de Bernardo de Carvalho. Lamentavelmente, sua morte, acontecida um pouco depois, não lhe deu a oportunidade de cometer essa grande façanha literária.

Após falar nesses dois grandes vultos históricos, disse que um dos principais líderes da revolta popular Balaiada, o Raimundo Gomes, alcunhado de Cara Preta, era filho de Campo Maior. Então, após repetir que “somos o que somos; somos o amálgama de três raças, e a nossa civilização é o cadinho do que elas construíram ao longo dos séculos”, como coloquei em epígrafe no meu livro, disse que o município de Campo Maior deveria erguer, na Praça Bona Primo, um monumento às três raças.

A raça branca seria representada pelo fundador de Bitorocara (Bernardo de Carvalho), a indígena, pelo seu grande líder Mandu Ladino, e a negra, por Raimundo Gomes, o Cara Preta, porquanto são figuras eminentes da História do Piauí. O monumento, além de representação escultórica, deveria ter lápides com epígrafes de Monsenhor Chaves e Pe. Cláudio Melo, nossos grandes historiadores, sobre esses três grandes vultos históricos, ilustres representantes das três raças que construíram a nossa civilização, da qual fazemos parte, quer queiramos ou não. Talvez o monumento às três raças viesse a servir de paradigma, em termos de homenagem, à miscigenação piauiense e brasileira. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO


Com a belíssima charge do amigo Fernando Di Castro, desejo aos frequentadores deste blog um Feliz Natal e um Ano Novo abarrotado de felicidade e prosperidade.
Que Papai Noel seja uma verdadeira cornucópia, a esbanjar sua prodigalidade!...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O amor em tempo de "non ho l'etá"



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com


A Internet tem dessas coisas: a gente navega, à deriva, logo aparece o nome, a mensagem, a voz, a emoção, um estilo de época de amar.

Deparei-me com a linda cantora italiana Gigliola Cinquetti cantando uma de suas deliciosas canções: "Non ho l'etá, non ho l'etá per amarti, per uscire sola con te..." Tradução completa: "Não tenho idade, não tenho idade para amar-te./ Não tenho idade para sair sozinha contigo,/E não teria, não teria nada a dizer-te,/ Porque tu sabes muito mais coisas que eu./Deixa que eu viva um amor romântico,/Na esperança de que chegue aquele dia, mas agora, não.../Se tu quiseres, se tu quiseres esperar-me,/ Naquele dia, terás todo o meu amor para contigo..."

1969, novo e luxuoso Cine Royal, único com ar refrigerado, Rua Coelho Rodrigues, a poucas quadras da Praça Pedro II. Um guia impecavelmente vestido, lanterna na mão, conduzia os clientes até às poltronas. Tela panorâmica na moda. Lotado, a partir das 5 da tarde às 9 da noite dominical. Escurinho do cinema, delicioso sarro com a namorada. Não passava dos beijinhos na boca. Só. Avançar blusinha adentro saía caro, um carinhoso tabefe. "Dio, come ti amo", com Gigliola Cinquetti, atraiu milhares de adolescentes, dias seguidos, que emocionou, umedeceu olhos. Rostinho gracioso e romântico, Gigliola traduzia a candura dos apaixonados de primeira viagem, como eu.

Amores antigos construídos de cândidas esperanças e de sonhos sem drogas e idas a motéis. O texto da música de Gigliola traduz o perfil cultural da maioria adolescente de algumas décadas atrás, acostumada a lições de educação religiosa na família e na escola: "Não tenho idade para sair sozinha contigo...para amar-te... mas agora, não." Um não em desuso na modernidade do ficar, do experimentar o fruto proibido. Ou como se dizia, naquela época, do sex appeal.

Instintos e paixões apressadas desencadeiam nos jovens, especialmente mulheres, inconsequentes decisões, de transformar a relação amorosa em aventuras sexuais baratas e fáceis, descartada que só camisinhas contraceptivas.

Amor e sexo, depois do paraíso, não há prazer igual. Sem básicas virtudes, porém, viram inferno a longo prazo. Adolescentes avançam, cada vez mais cedo, em experiências sexuais, sem tempo para filtragem das condutas. Comida saudável exige seleção, disciplina e tempo de degustação.

Analisando letras de antigas músicas, descobre-se o fascínio e encantamento sadios, dificilmente encontrados na música popular contemporânea, algumas vulgares e animalescas. Foram-se os versos ricos de sutilezas e candura, sem abordagem daquilo:"Quero beijar-te as mãos, minha querida; Aquele beijo que te dei nunca, nunca mais esquecerei... a noite linda de luar; Olhos nos olhos, quero ver o que você diz; o amor é um deserto e seus temores." Letras simples, ricas de ternura.
O sonho não acabou. O amor é que não pode ser substituído pelo pesadelo da droga ou das breves aventuras. Talvez falte exercitar o lirismo sadio de Gigliola Cinquetti e de tantos românticos atuais.

domingo, 9 de dezembro de 2012

O amor - Seleta Piauiense


O AMOR

Luiz Lopes Sobrinho (1905 - 1984)



Sem amor, este mundo é um exílio!

Sem amor, nosso lar é uma prisão!

Sem amor, não há mãe e nem há filho!

Sem amor, não nos pulsa o coração!





Sem amor, não há paz nem alegria!

Sem amor, tudo, enfim, é solitário!

Sem amor, os tormentos de um só dia

São iguais aos tormentos do Calvário!





Ai! o amor não traz só felicidade!

Também traz, o amor, imensas dores,

Dessas dores que nascem da saudade!





Mas, é muito melhor ser desgraçado,

Sofrer do próprio amor os dissabores,

Que ser feliz e nunca ter amado!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A VOLTA BREVE AO ROMANTISMO



Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


       As correntes filosóficas praticamente se esgotaram e os filósofos desapareceram. Ficaram apenas a poesia e seus poetas. Na publicação de Um depoimento pós-moderno, Edições, Cirandinha, Teresina, 1989, eu dizia já prever a volta do romantismo no começo do séc. XXI, porque poetas e leitores não vivem sem poesia.
            Acabo de receber notícia do grande poeta renovador mineiro, Márcio Almeida, que conheci pessoalmente, nas décadas 1960/1970. Como disse, ele revolucionava a poesia brasileira com seus livros e ações em torno dos movimentos poéticos. A notícia veio por intermédio do também poeta mineiro Paschoal Motta, amigo dele e meu. Leiamos o teor:
        “Meu caro Paschoal, ‘Não panfleteie ideologia, / não holografe em atari, / não louversonhe as maras, / não palavre: Signatari’ (Márcio Almeida, Assassigno, 1987). Versinhos em homenagem ao Décio Pignatari, n. 20-8-1927 (Jundiaí) – f. 02-12-2012 (São Paulo), para quem o poema é o disigner da linguagem, que conheci em evento, quase um fracasso absoluto, em Belo Horizonte, juntamente com Carlos Ávila, que também perdeu o pai faz pouco tempo, escrevi a quadra, inclusa no Assassigno, cujo revival agora está de volta na publicação deLeituras indesejáveis, que você receberá nesta semana. Outro dia você me mandou um e-mail que também me deixou um pouco perplexo. É que as pessoas boas estão morrendo, os jornais mal e porcamente registram e rapidamente caem em esquecimento quando não no silêncio cínico, caso dos nossos Henry, Adão, Duílio Gomes, José Afrânio Moreira Duarte e tantos outros que se vão e pronto. E assim será, com toda certeza, também conosco. Temo pelo absoluto ostracismo em menos de uma década após a nossa morte. Meus filhos nunca me perguntaram o que estou produzindo, nunca leram artigo meu publicado em jornais, não conversam comigo sobre Literatura, nunca me perguntaram sobre a qualidade de um livro que lêem. Amanda já anunciou que quando eu morrer vai dispor de minha biblioteca em dois tempos: a chegada e a saída do caminhão para doar tudo para uma entidade. Isto, comigo. Não tenho referência se existe uma biblioteca com o nome do Adão que o reverencia, idem com o Henry e assim sucessivamente. O neoliberalismo com sua forçada equiparação por baixo faz com que as pessoas se achem todas no mesmo nível e assim todas se dão o direito de serem rigorosamente iguais em tudo. Dia desses quase rompi com um amigo porque ele estava espalhando via internete que para produzir miniconto o conhecimento da gramática era inútil, desnecessário. Sou pessimista em relação à sobrevivência da Literatura do futuro-já, mormente com a expansão do tablete e você lerá eu já tratando do assunto em Leituras indesejáveis. As pessoas (bem menos do que hoje) continuarão lendo, mas textos curtos, impactantes, encomendados. O que chamamos de Literatura tornar-se-á cult, arte devocional de apreciadores muito especiais. É um palpite. Sem uma Sociedade dos Poetas Mortos, sem uma ‘Sociedade’ que nos lembre a todos, indistintamente, além de virarmos pó, nossos nomes serão apagados de quase tudo. Seremos lembrados historiograficamente: ou porque, no seu caso, foi editor do SLMG (Suplemento Literário do Minas Gerais), ou porque foi professor de uma faculdade em DV, ou porque nasceu SPF e construiu uma biblioteca. Quantas pessoas se lembraram de um poema nosso? E quando essas pessoas morrerem? Lembra-se do filme Farenheit 45, do François Truffault? Não é à toa se ele é um dos meus prediletos. Sou mesmo veementemente contra Academia, mas ela tem uma vantagem: respalda vida e obra dos autores; conserva sua memória, vira e mexe, traz à tona o legado daqueles que realmente tem valor. Outro dia li na Folha de São Paulo que amigos cariocas do Bartolomeu Campos de Queirós iam prestar homenagem a ele no Rio, com exibição de documentários, exposição de suas obras etc. Está claro que sua morte ainda é recente, mas foi lembrado. Dinorah Maria do Carmo me enviou e-mail ontem à noite convidando para a leitura de poemas de Bueno da Rivera, em Santo Antônio do Monte, que também está sendo lembrado. O que falta mesmo é uma sociedade que preserve a memória dos autores, não os permita serem esquecidos e os mantenha vivos para os pósteros, pois em vida foram lidos, premiados, serviram de exemplo, dignificaram Minas” (e-mail de 03-12-2012).
         Na resposta do poeta Paschoal Motta há jóias como: “Há muito que fazer, Márcio, e principalmente pela humanização da Poesia Escrita, começando com a retomada do lirismo.”
               São três depoimentos em favor da volta da poesia mais suave, mais doce, mais amiga, mais gente falando que desenhos e figuras. Esse é o lirismo poético de um Márcio Almeida, autor deste depoimento fabuloso que nos enviou, assim como o do próprio Paschoal Motta. Romantismo numa linguagem nova, com a originalidade de cada um para todos. O fogo da Literatura deve ser passado à frente como o das tochas Olímpicas. Todos os povos são românticos e querem sobreviver por terem feito alguma coisa boa. E os escritores, justo porque escrevem, naturalmente pensam na escrita, na prosa e na poesia e no próprio nome, como forma de sobrevivência histórica.  “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. (Evangelho, segundo São João). Acredito também que no fim também é o Verbo e o Verbo é Deus. E Deus é poesia.  E tudo isto é linguagem, tudo isto é poesia, tudo isto é lirismo e romantismo.

Fonte: blog Revista Cirandinha

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

FAZENDA ININGA – A FESTA DA RESTAURAÇÃO


Elmar, Marcelino e Lirton



3 de dezembro   Diário Incontínuo

FAZENDA ININGA – A FESTA DA RESTAURAÇÃO

Elmar Carvalho

No sábado, em companhia da Fátima, atendendo convite do professor, museólogo e ator Paulo de Tarso Libório, que foi entregue na APL pelo ilustre magistrado e historiador Lirton Nogueira, fui a José de Freitas para participar da Festa da Restauração da Casa Grande da Fazenda Ininga. Já a conhecia, de vezes anteriores, desde que ela foi adquirida pelo Paulo, seu atual proprietário. Nessas duas ocasiões, ele me mostrou os dormitórios e as demais dependências da casa, e me contou algumas coisas sobre sua rica história. Sua construção remonta ao ano de 1823.

A vetusta casa, no imaginário do povo simples, como toda morada secular, é povoada por fantasmas de antigos moradores. Pertenceu a importante estirpe livramentense, os Sampaio Castelo Branco. Muitos membros dessa velha família ficaram na História do Piauí. O padre Joaquim Sampaio e o engenheiro Antônio José Sampaio nasceram nela. O primeiro foi um grande orador sacro e jornalista; confessor da princesa Isabel. Eleito deputado geral, com o advento da República não pôde assumir o cargo. O segundo foi o fundador da Fábrica de Laticínio de Campos, hoje Campinas do Piauí. O transporte das peças da fábrica foi uma verdadeira odisseia, que custou muito trabalho, esforço e dinheiro, em que muitas reses morreram exaustas nessa luta, que se revelou inglória.

A fábrica, bem situada, em termos de terra, gado e pastagem para criação extensiva, não o era em termos de logística de transporte e distribuição. Em pleno agreste, numa época em que não havia estrada e nem carro, ficava muito distante do Parnaíba e dos centros consumidores. O sonho do engenheiro Sampaio malogrou, em meio a dívidas e insatisfação dos colonos trabalhadores, a maioria de origem italiana. Hoje, existe um outro sonho; restaurá-la, e transformá-la em museu e espaço cultural. Alguns utensílios da velha fábrica estão expostos na Ininga, em recinto que homenageia o engenheiro e empresário. O Paulo Libório anuncia escrever um ensaio sobre a Ininga, e pelo que lhe conheço da personalidade até os fantasmas terão vez e voz.

Nas minhas visitas anteriores, permitiu-me tirar fotografias, que serviram para que eu ilustrasse o meu poema Livramento: Pedra e Abstração (roteiro sentimental de José de Freitas). Mandei confeccionar um banner e fui deixá-lo no casarão onde ele morava em Teresina, que na verdade era um museu de arte sacra, exposto em cenário arquitetônico apropriado. Portanto, mais do que um museólogo, o Paulo de Tarso, sobrinho de Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório, que por muitos anos foi bispo da episcopal Parnaíba, é um criador de museu. Ele colocou o banner em bela moldura, e o afixou numa das salas do solar, para honra e gáudio meu.

Quando cheguei, já ocorrera o Ofício de Nossa Senhora. O terço já fora recitado e a procissão de Nossa Senhora da Piedade, protetora da Fazenda Ininga, já circulara no entorno da casa grande, situada no alto de suave colina, de onde se tem uma bela visão das árvores nativas, que dão um aspecto bucólico ao lugar. Essas duas primeiras partes da Festa tiveram a participação do Grupo de Canto Litúrgico Homens do Terço da paróquia livramentense.

As pessoas já estavam sentadas no grande alpendre da vetusta casa, esperando o início da missa, no momento de minha chegada. Procurei um lugar vago, e este não me poderia ser mais propício, pois fiquei perto dos amigos Lirton e Marcelino Leal Barroso de Carvalho, meu mestre no curso de Direito; ele restaurou, na sua Amarante, a Festa do Divino, e a exemplo do anfitrião também criou um museu, no caso, o do Divino Espírito Santo. Antes do início da missa, mantivemos breve conversa, sobre assuntos diversos e aleatórios.

Enquanto a celebração religiosa não tinha início, pude ouvir, por breve momento, o canto metálico de cigarras, que também aconteceu durante o culto, quase em surdina, como se esses insetos não quisessem perturbá-lo, mas também desejassem dele participar, rendendo sua prece musical ao Criador. Devo confessar que também ouvi a melodia aflautada de um sabiá, que parecia vir de um frondoso oitizeiro, talvez secular, que se erguia perto da varanda, à sombra do qual várias pessoas preferiram ficar. Como uma bênção do céu, debulhada em gotas, houve até um rápido chuvisco, que contribuiu para refrescar o tempo.

A canícula, que nos trazia o cheiro do incenso, espargido pelos turíbulos, movimentados como pêndulos perto do altar, vinha amena e refrescante. Enfim, a natureza, as nuvens, os pássaros e as cigarras pareciam desejar contribuir para o brilhantismo da Festa da Restauração. Até o pequeno sino do alpendre, uma espécie de aldraba da casa, deu a sua contribuição, quando fez dueto com as campainhas, de timbre mais argentino, com as suas badaladas mais graves e mais encorpadas, na hora da consagração das hóstias.

A música, mais do que sacra, foi divina. O Madrigal Vox Populi nos encantou com belos cantos em latim, entre os quais destaco Kyrie Eleison, Gloria in Excelsis Deo, Credo in Unum Deo. Os seus componentes estavam devidamente paramentados, o que dava um aspecto mais solene e mais antigo ao grupo, com o uso de vestes talares e capuz. A participação do Coral Homens do Terço parecia vir de dentro da casa, o que dava ao responso um ar quase sobrenatural, como se o canto viesse de mais longe ou talvez das entranhas da terra. Não sendo eu entendido em música sacra não posso afirmar categoricamente, mas tive a impressão de que dois ou mais números eram cantochões gregorianos, magníficos, embora quase monocórdios, como são esses cantos.

Em suma, em tudo parecia haver o perfeccionismo e detalhismo do professor Paulo de Tarso Libório, desde a beleza do convite e do folheto da missa, até a escolha e disposição das peças, que compõem o museu, inclusive a ambientação dos dormitórios, das salas e das acomodações dos trabalhadores (senzala). Tudo ele reconstituiu meticulosamente. As madeiras que já não existiam foram substituídas por outras igualmente antigas, encontradas em taperas ou velhas casas demolidas. Ele ainda, com o auxílio do Lirton, conseguiu uns ladrilhos artesanais, que ainda eram fabricados em Campo Maior.

Chegou mesmo ao requinte de adquirir algumas reses da raça pé duro, para que a Fazenda da Ininga ficasse ainda mais caracterizada como tal. Retornou, o máximo possível, a casa ao seu projeto original, tendo para isso arranjado trabalhadores, que talharam pedras jacaré com machado. Mandou retirar um forro, que conspurcava a antiguidade do solar. Ouvi falar que ele mandou destelhá-lo, para que as telhas fossem lavadas uma por uma, e depois repostas, de modo a não haver goteiras. O perfeccionismo do meticuloso anfitrião se refletiu até no almoço, que foi supimpa, farto e saboroso.

A última e definitiva prova desse gosto apurado e detalhista foi o brinde da festa, distribuído na porteira de saída da velha Ininga: uma pequenina e artesanal panela de barro, com um arco de arame, para servir de pegador. Detalhe: o arame era antigo, e nele se viam os vestígios da passagem do tempo, como um símbolo da antiguidade da casa grande da Fazenda Ininga, de muita glória, fama e história.  

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Egocentrismo



EGOCENTRISMO

Elmar Carvalho

     espirrei
na réstia de luz
da janela do meu quarto
e fiz surgir um
              arco-íris
              arco-do-triunfo
sob o qual
napoleonicamente passei
sobre o qual caminhei
em busca do
              velocino de ouro
coroado com o
              l’ouro
de minha própria
     alquimia

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Flagrante futebolístico do Gervásio

Texto e charge: Gervásio Castro


O Sr. Fanfarrão Scolari, em sua primeira entrevista como novo técnico(?) da seleção brasileira de futebol, deixou claro que continua o mesmo, no quesito grosseria. Meteu os pés pelas mãos e vomitou um monte de asneira.

Da importância atual da língua inglesa na universidade



Cunha e Silva Filho


Leandro Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wattagin da Unicamp assinou oportuna matéria acerca da atual importância do domínio da língua inglesa como veículo de comunicação para cursos ministrados na universidade brasileira. O artigo tem por título “Nossas universidades precisam falar inglês” (Folha de São Paulo, 25/11/2012).

O tema abordado tem sua pertinência, sem duvida. Mostra que, no âmbito internacional do ensino superior, universidades portuguesas já oferecem cursos superiores lecionados em inglês. Os portugueses, que são bem zelosos com a sua/nossa própria língua, não estão dando nenhuma demonstração de falta de nacionalismo por incluírem essa novidade nos seus cursos. Este é, conforme se infere do artigo em exame também o ponto de vista do articulista.

Acredito que, no Japão, na China, na Alemanha em Israel, por exemplo, já existam universidades que oferecem seus cursos ministrados em inglês.

Concordo com o autor do artigo quanto a não vislumbrar essa incorporação de inglês como lingua franca em universidade pelo mundo como formas de dominação, elitização ou neo-colonialismo cultural ou como perda de “soberania nacional”, mas sim como afirmação positiva de elevar o nível de intercâmbio dos saberes entre estudantes e professores em escala global.

Tessler relembra o fato histórico, no período da Idade Média, no século 12, de alta relevância para a intercomunicação cultural de nações europeias, cujo canal linguístico usava o latim, com o qual os estudiosos de Oxford ou de Bologna podiam trocar conhecimentos, informações ou ideias com outros estudiosos de universidades do porte de Salamanca ou Sorbonne.

O articulista ainda assinala que o nosso pais dispõe de um número reduzido de universidades incluído nas 500 melhores do mundo.

Segundo o professor da Unicamp, se nosso país não alavancar recursos materiais e humanos para podermos inserir em nossas universidades cursos dados no idioma inglês, como já existe na Argentina, estaremos perdendo uma grande oportunidade de elevarmos o nível da universidade brasileira e fazê-la ingressar num circuito internacional com evidentes benefícios recíprocos para as universidades estrangeiras e as nacionais.

Todavia, teoricamente esta necessidade esbarra em alguns pontos dignos de maior explicitação. Dispomos há anos no país (desde o final dos anos de 1930) dos cursos de Letras responsáveis máximos pelo desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização de nossos cursos de língua portuguesa, literatura brasileira e literatura portuguesa, bem com de outras graduações em diversos idiomas neolatinos e anglo-germânicos (inglês e alemão), além de idiomas clássicos de línguas mortas, o latim e o grego. Bem mais tarde, foram incluídas na grade curricular de algumas universidade federais, cursos de literaturas africanas de expressão portuguesa e curso de graduação em árabe, russo, japonês, o que foi um notável ganho para os nossos estudos literários. Hoje, pode-se dizer, sem qualquer ufanismo, que nosso ensino público, estadual e federal, de Letras, atingiu, em diversas universidades, inclusive em algumas particulares, um bom e por vezes excelente nível de qualidade de ensino não só na graduação como na pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado).

Por que, numa primeira etapa, em nosso ensino de Letras, não intensificamos os cursos de português para estrangeiros com aulas ministradas em inglês? Isso já e bastante difundido em cursos particulares ou nos chamados cursos in-company. Esta seria uma saudável forma de valorizarmos a nossa língua como requisito básico a incluirmos na grade curricular geral dos diversos cursos de graduação (antigo bacharelado e licenciatura) a serem ministrados em inglês. Tal inovação bem poderia ser simultânea à introdução da língua inglesa como instrumento de comunicação na mencionada graduação e, depois, pós-graduação. Não haveria nenhum inconveniente nisso. O importante seria, agora, a preocupação com o preenchimento de quadros docentes à altura dessa inovação pedagógica.

No país há tempos existem escolas para estrangeiros nas quais os cursos fundamental e médio são ventilados no idioma inglês, como é exemplo no Rio de Janeiro a Escola Americana.

Sabemos que as propostas do professor Tessler têm fundamento e são exequíveis. Entretanto, elas precisam, pelo menos na experiência brasileira, de serem bem equacionadas, porquanto redundam em custos e melhor qualificação de professores com domínio perfeito da língua inglesa tanto brasileiros, quanto nativos ou de outra nacionalidade mas com igual proficiência oral e escrita no idioma de Shakespeare. Obviamente, a nova modalidade de graduação em língua inglesa abriria novo campo de trabalho de profissionais atendendo a estas exigências.

Penso, ademais, que a mão de obra qualificada não seria tão facilmente adquirida, uma vez que, mesmo no ensino superior de nossas universidades há carências de docentes com estas competências linguísticas e mesmo há aqueles que nem mesmo desejam aperfeiçoar seu inglês por não gostar da língua ou por se interessar por outra língua moderna. A questão da mão de obra não é tão simples assim.

Por outro lado, vejo que o nosso país está muito longe de alcançar um nível de excelência do inglês ou espanhol em nossas escolas públicas ou privadas, sendo raras as exceções. Ao contrário do que ocorre com países adiantados ou mesmo menos adiantados, os quais investem seriamente no ensino público fundamental e médio. Alunos egressos destes níveis mostram uma proficiência oral e escrita bem mais avançada do que a média do estudante brasileiro.

É claro que, notadamente nas áreas técnico-científicas muito tem a aproveitar a implantação de cursos de graduação falados em inglês, como nos cursos de matemática, física, biologia, química, medicina, engenharia, arquitetura, veterinária, odontologia, fisioterapia, entre outros.

Numa segunda etapa mais desenvolvida, teríamos cursos de Letras, jornalismo, direito, filosofia, história, geografia, dramaturgia, belas artes, enfim, em outros cursos de humanidades.

Um último aspecto da maior importância levantado pelo artigo de Tessler é aquele em que salienta a relevância de termos um produção científica escrita no idioma inglês ou como ele próprio afirmou: “Publicações acadêmicas em inglês atingem a um público maior e têm mais impacto sobre o desenvolvimento científico e cultural da humanidade”

Estão aí sugestões sobre este assunto registradas pelo professor Leandro Tessler, assim como outros pontos de vista que expendi suscitados pelo articulista da Unicamp. Resta, pois, às autoridades do MEC, dos Conselhos (estaduais e federal) da Educação e de outros órgãos correlatos refletirem maduramente sobre estas mudanças de rumo no ensino universitário brasileiro. O debate está, portanto, aberto à comunidade acadêmica.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Bernardo de Carvalho – O Fundador de Bitorocara



O livro Bernardo de Carvalho – O Fundador de Bitorocara, da autoria de Elmar Carvalho, que contém o perfil biográfico de um dos mais importantes vultos históricos do Piauí colonial, e que traz ainda outros temas de interesse de Campo Maior, encontra-se à venda na sede da ACALE e da Gráfica e da Drogaria São Judas Tadeu. O produto da venda será doado para a comemoração dos 300 da Freguesia de Santo Antônio do Surubim.

O Rubi - Seleta Piauiense



O RUBI

Martins Vieira (1905 - 1984)

Rubríssimo cristal aceso, ensanguentado,
reverberando ao sol, pelas faces polidas,
lembra o rubi a guerra, o sacrifício e as vidas
envoltas num fragor hostil, desesperado...

Porque resulte assim lágrimas compridas,
de dor, de provocação, do mais pungente fado,
congrega tantos ais num glóbulo encantado,
que verte sangue e luz das lâminas feridas.

Das rosas triunfais ardentes e vermelhas,
arrebatando o sumo, espinhos e centelhas,
ruborizou-se a gema, em purpurino efeito.

Tingiu-lhe o poliedro a rubra cor do vinho
que faz tremeluzir o aspérrimo caminho
do esforço universal em busca do direito.