sábado, 17 de fevereiro de 2018

APAL trata de convênio com a Fecomércio e lançamento de livro

Valdeci, José Luís e Gallas
O presidente da Academia Parnaibana de Letras, José Luiz de Carvalho, acompanhado do secretário-geral Antonio Gallas Pimentel, esteve na tarde desta sexta-feira dia 16 na Federação do Comércio do Piauí tratando com o presidente Valdeci Cavalcante sobre assuntos relevantes para a entidade.



Segundo o presidente José Luiz de Carvalho foi marcada a data de lançamento do livro Eixo do Tempo, de Alarico da Cunha, às 19h, no dia 23 de março no SESC Avenida e cuja renda será revertida para a Academia Parnaibana de Letras.

Também foi tratado o convênio entre a APAL e o SESC. Valdeci Cavalcante, empresário, advogado e escritor, toma posse na cadeira 39, que tem como patrono seu pai, o comerciante e ex-vereador Gerardo Ponte Cavalcante, no dia 13 de abril no Espaço de Eventos, bairro de Fátima. 

Fonte: APAL. Fotos: APAL/SESC. Edição: APM Notícias.   

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Sucesso literário



Sucesso literário

Daniel C. B. Ciarlini



Ao falar do escritor escocês Walter Scott, e mais detidamente do flamengo Hendrock Conscience, Otto Maria Carpeaux, num dos raros momentos de posição em sua História da literatura ocidental, deixou entrever o seguinte juízo: “Não existe relação entre os valores literários e os efeitos sociais: o sucesso não é prova de valor; a mediocridade não exclui consequências benéficas” 1. Esse pensamento depõe contra o senso comum que acredita o sucesso literário edificar um nome no disputado mundo das letras.

Mais do que isso, a fala de Carpeaux esconde algumas verdades que rondam as letras pelo menos desde Voltaire, que num arroubo de autoafirmação costumava escrever nos jornais sobre si e as suas próprias obras ou fazia com que os outros escrevessem, elogiando-o (as), numa espécie de marketing pessoal que ainda perdura – hoje avolumado por “campanhas” que se espalham em redes sociais motivadas por noviços escritores, marqueteiros em sua essência.

Em “Conselho aos jovens escritores”, Baudelaire infere que “o sucesso é, numa proporção aritmética ou geométrica, a consequência da força do escritor, o resultado dos sucessos anteriores, frequentemente invisíveis a olho nu” 2. Essa força e esses esforços de que fala o grande nome da poesia francesa não se relacionam a campanhas em nome próprio, mas ao brio estético com que o verdadeiro escritor se depara ao longo da vida.

À dedicação diuturna pela forma ideal, que o obriga muitas vezes a vencer as limitações receptivas de um tempo, rompendo com as expectativas de um público afeito e viciado a modelos pré-definidos; eis aqui o grande esforço: ser propositor ao invés de reprodutor. Se esses sucessos são invisíveis a olho nu é porque nem sempre eles virão em tempo hodierno, mas depois que, vencidas as limitações de leitura, uma dada geração ser capaz de absorver o bem simbólico produzido.

Obra medíocre, portanto, é aquela que se furta em exigir de outrem uma meditação ou, no mínimo, uma leitura mais profunda, antes cumpre apenas o papel de apreensão imediata, da ordem do dia, dando ao público exatamente as imagens superficiais que ele se identifica – como o é a maior parte dos best-sellers, que não excluem “consequências benéficas” aos seus criadores. Esse valor de mercado, como indica Bourdieu, é inversamente proporcional ao valor literário, traduzido por Flaubert como aquele que quanto mais consciência se põe no trabalho menos proveito pecuniário se tira dele.

Isso porque novos códigos exigem novos leitores, que só se formam a médio e a longo prazos, daí porque os lucros que dele se tiram são os mais duradouros e mais alicerçados na história das letras, já que não flutuantes e nunca efêmeros como a moda do dia. Não por acaso se atribui ao tempo o grande juízo dos fatos. O que é bom permanece, o que é ruim é esquecido.

A história nos indica que pouquíssimos foram os escritores que alcançaram o sucesso em vida, e mesmo esses, quando o conquistaram, já estavam nas últimas primaveras de vida, como os recentes casos de Gabriel García Márquez e José Saramago, que agradavam tanto ao público comum como aos leitores mais competentes.

Ainda não vivi o tempo necessário para dizer que acumulei experiência produtiva de vida, todavia, no abreviado tempo que já passou, vi sujeitos começarem nas letras muito bem, conquistarem algum espaço e depois, convencidos de sua pretensa “genialidade”, tropeçarem no próprio orgulho, no exibicionismo precoce e na prepotência – características que foram inevitavelmente transplantadas à produção, que muito perdeu em riqueza e polissemia.

Esses mesmos sujeitos são aqueles que formaram em torno de si capelinhas de elogio, e porque se puseram a crer em julgamentos de amizade, perderam o senso crítico real sobre os próprios trabalhos e, no que tange aos ganhos artísticos (que são diferentes desse capital social pernicioso), o que um dia estava em ascensão repousa na mais infame horizontalidade.

Medir a projeção de uma obra não é sondar e ter na ponta do lápis todos aqueles que a celebram e a leem, porque esses são os amiguinhos de plantão que a contemplam não pelo objeto, mas pela inescapável cordialidade de todos os dias. O verdadeiro ganho de um autor contraditoriamente dilui-se pelos dedos, constituído por um público discreto que aprecia mudo e sequer o conhece, senão através do escrito. Os livros quando produzidos e distribuídos não nascem para serem sondados, mas para os espaços jamais imagináveis e as prateleiras dos mais exigentes leitores.

Teresina, 2 de novembro de 2017.   

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O TALENTO ESCULTÓRICO DE BRAGA TEPI

Fonte: Google

O TALENTO ESCULTÓRICO DE BRAGA TEPI

Elmar Carvalho

Hoje à tarde fui acordado de um cochilo por um recado de meu irmão César Carvalho, que me mandava entregar um álbum com fotografias coloridas de esculturas de Braga Tepi, que foi convidado a expor suas obras na H. Rocha Galeria de Arte, no Rio de Janeiro. A exposição será aberta no próximo dia 04 de março e se estenderá até o dia 23 do mês seguinte.

Confesso que ainda não ouvira falar nesse artista, e, portanto, não conhecia seus trabalhos. Por isso mesmo, olhei o fólio lentamente, com muita atenção. Surpreendi-me com a qualidade das peças. São obras construídas com sucatas de ferro. Mas nota-se que o artista teve muito cuidado na escolha das peças e no modo como as interligou, como as encaixou e dispôs, dando harmonia ao conjunto.

Mesmo nas esculturas grandes e pesadas, pode ser visto, em certas partes da composição, um toque detalhista, uma minúcia de obra minimalista, como se fora um trabalho de delicada ourivesaria, fazendo como que um contraste com as partes maiores e mais compactas. Apenas pelo título de algumas obras, que remete à cultura humanística e clássica, percebe-se que Braga Tepi não é um artesão ingênuo, e muito menos primitivista.

Dentro do que é possível nesse tipo de escultura, concebida com a montagem das mais diferentes peças de sucatas de ferro, que não permite uma moldagem total, pode-se afirmar que ele é um figurativista de alta linhagem, mas sem ser um copiador servil e fotográfico da natureza, porque sabe distorcê-la artisticamente, adicionando elementos colhidos na imaginação, na mitologia, nos sonhos, podendo-se tirar a conclusão de que ele agrega a algumas de suas esculturas, com muito refinamento e graça, elementos extraídos do surrealismo.

Sem dúvida, pelo que pude perceber das peças constantes do álbum, é um dos maiores escultores do Piauí, e inegavelmente é um dos grandes artistas brasileiros. Por isso, não me chateei de ter o meu cochilo sido interrompido abruptamente. Até porque mergulhei num sonho maior e melhor, que é a arte mágica, supra e surreal de Braga Tepi.   

12 de fevereiro de 2010   

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol (4)



As Minhas Copas do Mundo de Futebol (4)

José Pedro Araújo
Romancista, cronista e historiador

Fomos à França em 1998 defender o nosso título, ganho nos estados unidos em 1994. Não precisamos jogar as eliminatórias, uma vez que o campeão do mundo já está automaticamente classificado para a copa seguinte, ele e o país anfitrião, e isso nunca é bom porque a seleção se prepara para o duro embate apenas jogando amistosos. Portanto, não sabíamos como chegaríamos às disputas por pontos no curto torneio que é uma copa do mundo. Sem o nosso talismã da copa anterior, Romário, cortado quando a seleção já se encontrava na França para a disputa, depositamos as nossas fichas num jovem atacante que tinha ido à copa dos EUA apenas como coadjuvante: Ronaldo, o fenômeno. E ele fez bonito na sua primeira competição mundial como ídolo de uma nação louca por futebol. Isso, apesar de contarmos com um camisa dez de respeito, Rivaldo, o craque de pernas tortas, quase tão envergadas como a de Garrincha, e também com o nosso camisa sete da copa anterior, Bebeto.

Ganhamos os dois primeiros jogos contra Escócia e Marrocos, e perdemos o terceiro para a Noruega. Classificamo-nos em primeiro do grupo, mas ficamos com aquela dúvida se o time teria forças suficientes para chegar a mais um título. Fomos para as oitavas-de-final e despachamos o Chile com uma goleada por 4x1 e seguimos em frente. E nas quartas-de-final foi a vez da Dinamarca pegar o voo de volta para casa, 3x2. Melhoramos bastante durante a competição e o melhor do mundo, Ronaldo, vinha fazendo o seu papel muito bem. Na semifinal encaramos a Holanda, adversária que estava ficando comum em todas as copas do mundo. E foi o que se viu: um jogo difícil, amarrado e perigoso, decidido somente nos pênaltis. 1x1 no tempo normal, 4x2 nos pênaltis, estávamos na final mais uma vez.

Assistíamos aos jogos no sítio que tínhamos em sociedade com a minha irmã, e a festa que começara com poucas pessoas, ia engrossando a plateia jogo a jogo até chegarmos a grande final, quando a torcida já era enorme.  A comemoração terminava sempre do mesmo jeito: dentro da piscina. Estávamos no melhor dos mundos. Tomávamos todas ao ponto de a borda da piscina ficar cheia de copos e garrafas de cerveja, serviço extra para o caseiro. Enquanto isto, no seu entorno, amarradas em árvores, bandeiras e faixas alusivas ao Brasil tremulavam e davam um aspecto festivo ao ambiente.

Duas tevês haviam sido instaladas, uma na sala e outra no alpendre, para que todos pudessem assistir aos jogos sem atropelos. Muito diferente dos tempos em que ouvíamos o locutor se esgoelar pelo rádio, ou víamos os jogos em aparelhos que só nos mostrava a bola de tempos em tempos, tal era a qualidade ruim da imagem ofertada.

Mas ai veio a final, e, quando já nos encontrávamos à postos e bem acomodados para assistirmos mais uma final da nossa seleção, veio a notícia arrasadora: o nosso principal jogador, Ronaldo, havia sofrido uma convulsão no dia do jogo e, provavelmente não jogaria. Foi uma ducha de água fria. Enquanto isso, do lado do nosso adversário na final, a dona da casa, a França, uma franco-argelino, Zinedine Zidane, vinha assombrando com um futebol de altíssimo nível.

Já estávamos certos de que o Brasil jogaria sem o seu principal jogador, quando eis que Ronaldo aparece no gramado. Cabisbaixo, sem demonstrar aquela força e agilidade que o caracterizava, veio para o jogo meia-bomba, como dizem no jargão futebolista. As mulheres, pouco afeitas ao metiê, até se assanharam quando o careca entrou em campo. Mas nós, um pouco mais entendidos das coisas do futebol, ficamos em suspense o jogo inteiro. Não deu outra: perdemos a final para os donos da casa por largos 3x0. A tristeza foi geral. Já estávamos acostumados às grandes comemorações, e fomos chorar dentro da piscina, onde as nossas lágrimas não poderiam ser vistas por se confundirem com a azul e límpida, uma vez que era trocada a cada jogo.

Dava pena ver a criançada em total desespero, afinal, o futebol passou a ser um alento para as nossas mazelas, e derrotas em outros campos da vida, há muito tempo. E o nosso país, tão cheio de fraquezas e notícias diárias ruins, tem no seu futebol uma válvula de escape para os nossos tormentos, as nossas fraquezas.

Quatro anos depois estávamos novamente com o bloco na rua. Com Ronaldo Fenômeno no auge da sua forma, após passar por um grave problema em um dos joelhos, partimos para o Japão/Coréia do Sul, com uma seleção muito desacreditada, depois de jogar as eliminatórias de forma muito defensiva, e se classificar em terceiro lugar, atrás de Argentina( que ficou a anos luz da gente), e Equador. Mas, enfim, estávamos lá, e isso aqui no país é motivo para muita festa, apesar de os jogos terem sido disputados em horários impróprios, sempre de madrugada. Passarmos bem pela primeira fase, em primeiro lugar do grupo, após passar fácil por Costa Rica, China e Turquia. E nas oitavas batemos a Bélgica com certa facilidade e pegamos a Inglaterra nas quartas-de-final. Este sim, foi um jogo duríssimo contra os inventores do futebol. Ganhamos por 2x1, com um gol de Ronaldinho Gaúcho no melhor estilo espírita. Não deu para saber até hoje se ele teve a intenção de cruzar a bola na área ou se bateu mesmo para o gol.

As comemorações, confesso, eram meio frias, sem aquele estilo carnavalesco das outras copas. Tudo porque os jogos eram realizados nas madrugadas, como já falei, e íamos dormir para acordar próximo à hora do jogo. A torcida também era muito reduzida, pois a insegurança quer já começava a assombrar o país nos mantinha em casa. Foi a copa do mundo em que a cerveja sobrou na geladeira por falta de consumidor. Por outro lado, ainda assistíamos aos jogos na velha TV Sharp adquirida duas copas antes. Imagem, contudo, perfeita, para os padrões de então. Na semifinal ganhamos pelo magro placar de 1x0 de uma seleção pouco assídua em copas do mundo até então, a Turquia. Jogo chato, difícil para um time que se acostumou a depender do trio Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e, principalmente, Ronaldo Fenômeno. E nesse jogo estávamos sem o nosso poderoso camisa dez, expulso na partida anterior contra a Inglaterra.

Enervado e com a pressão nas alturas, fomos para mais uma final, contra a temível seleção da Alemanha. Nesse dia precisei mais do que nunca do amparo da cerveja para controlar os nervos. Não dormi a noite inteira, antes fiquei assistindo a tudo o que era programa esportivo até a hora da grande final. Foi pior. Deveria ter ido dormir, pois os nervos estavam à flor da pele quando o jogo começou. Completo outra vez, o time brasileiro emparedou a Alemanha e fez um jogo memorável. Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, e o Fenômeno estavam demais da conta e o Brasil venceu a forte retranca adversária com dois gols de Ronaldo. Estávamos nos acostumando a ganhar copas do mundo outra vez. Em três disputadas, ganhamos duas e fomos finalistas na terceira. Nada mal. E a ainda vimos a Argentina ficar logo na primeira fase. O que poderíamos querer de melhor? Quanto aos meus nervos, até que estavam no lugar, tal o futebol que jogamos contra os nossos temíveis adversários.   

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CARNAVAL



CARNAVAL

Pádua Marques

...negra, estroboscópica, psicodélica, rítmica, submarina...

Uma portaria assinada pelo juiz da Vara de Menores da Comarca de Parnaíba, José de Anchieta Mendes de Oliveira naquele dia 15 de fevereiro de 1976 ordenava que, entre outras, fossem observadas algumas determinações que aos olhos atuais podem ser consideradas ingênuas. Parnaíba ainda tinha boa parte das ruas sem calçamento, estava no meio de um grande inverno com mais de doze mil casas danificadas, segundo o relatório da CAVI, a Comissão de Amparo às Vítimas das Inundações, criada por entidades da igreja e dos clubes de serviços.

A portaria do Juízo de Direito da Vara de Menores dizia claramente que nenhum festival carnavalesco poderia se realizar com a presença de menores sem o competente alvará judicial era proibido a permanência ou participação de menores de 16 anos em salões públicos ou outros logradouros, bem como em qualquer local onde se realizassem bailes noturnos com entrada livre.

Nas vesperais infantis, que teriam início depois das três horas da tarde e deveriam se encerrar por volta das seis, somente participando os menores com idade superior a três anos desde que acompanhados de seus pais ou responsáveis. Em relação às matinais, deveriam se iniciar às nove da manhã e encerrar ao meio-dia obedecendo a uma separação entre estes menores até 13 e de 14 aos 18 anos. Haveria um intervalo de dez minutos de hora em hora para descanso sendo proibida a participação dos adultos nos folguedos, mas liberando suas entradas como acompanhantes.

O que mais chama a atenção, passados mais de quarenta anos, é a determinação sobre as matinais e vesperais infanto-juvenis e nos bailes noturnos frequentados por menores de dezoito anos. Deveria ser mantida a iluminação comum nos salões ou dependências sendo proibido o uso de “luz negra, estroboscópica, psicodélica rítmica, submarina e outras semelhantes”.

Outra determinação da legislação eleitoral dizia que estavam proibidas referências elogiosas ou não através dos corsos carnavalescos a políticos e autoridades brasileiras. Qualquer bloco que fizesse menção a nomes de pessoas, tanto no carnaval de rua ou nos clubes, estaria sujeito a sofrer a repressão por força de lei. Às comissões julgadoras seria determinado que o bloco fosse eliminado da competição.  

Fonte: IHGGP. Fotos: web. Edição: APM Notícias.  

INFLAÇÃO




INFLAÇÃO


Elmar Carvalho

A inflação está
tão alta que
papel-moeda
virou papel higiênico.

E papel higiênico
virou artigo de luxo.   

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O JUIZ RAIMUNDO CAMPOS



O JUIZ RAIMUNDO CAMPOS

Elmar Carvalho

         Em virtude da reforma que será feita no prédio do Fórum Dr. Raimundo Campos, desta Comarca de Regeneração, foi feita a mudança da repartição para uma casa antiga, situada no centro histórico da cidade, mais perto da matriz de São Gonçalo, santo de origem portuguesa, em cuja honra existiam as antigas rodas e cantigas que levavam seu nome, hoje quase extintas, sem ninguém que as dance, sem ninguém que as cante.

         Há quem diga que São Gonçalo do Amarante, tradicionalmente conhecido como alegre, festeiro e violeiro, não chegou a ser canonizado, mas teria chegado apenas ao posto de beato nos procedimentos católicos. De qualquer forma, o povo o canonizou e ele se tornou santo de fato, e como tal é reverenciado por clérigos e profanos.

         O Dr. Raimundo Campos foi juiz de Regeneração e Amarante por vários anos. Homem sem jaça, de reputação ilibada. Nasceu em Oeiras, em 10 de agosto de 1881, descendente de importante estirpe da velha capital. Era pai do grande teatrólogo e professor piauiense José Gomes Campos, cuja obra prima é o Auto do Lampião no Além.

     Para que se tenha uma pálida ideia desse magistrado, basta que se diga que ele recusou a governança do Estado do Piauí e, posteriormente, o cargo de desembargador. Numa época de muita ganância, muito egoísmo e ânsia por cargos, uma atitude como essa causa admiração, senão mesmo perplexidade.

      Era ele um homem austero, talvez um tanto circunspecto, mas tratava todos com cordialidade e fazia suas obras filantrópicas, sendo certo que tinha o respeito e a consideração dos seus jurisdicionados. Contou-me Nileide Soares, que seu pai fora amigo do juiz e falava muito bem dele, considerando-o um homem correto e digno.

          Dele ficou a memória de um caso anedótico, em que teria dado uma decisão contra um homem por causa de um delito de pequeno potencial ofensivo, como se diz hoje. O infrator o abordou, insistindo para que ele desse um “jeitinho”. Pelo visto o chamado jeitinho brasileiro já deveria existir naquele tempo. O Dr. Raimundo Campos, com inegável senso de humor, respondeu-lhe que era formado em Direito e era juiz de Direito, e, portanto, não poderia ser torto, e indeferiu a súplica verbal de forma liminar e peremptória.

10 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

As minhas Copas do Mundo de Futebol (3)

Fonte: Google


As minhas Copas do Mundo de Futebol (3)

José Pedro Araújo
Romancista, cronista e historiador

A Copa do Mundo de 1986 deveria ter sido realizada na Colômbia. No entanto, as dificuldades econômicas sofridas pelo país à época, somada às exigências das marcas comerciais aliada às da própria FIFA que solicitava, além de grandes estádios, inúmeras regalias para os dirigentes da entidade, levaram o país sul-americano a renunciar à escolha da sede. Assim, houve uma disputa entre México, Estados Unidos e Canadá para definir o novo anfitrião do Mundial. Como o torneio havia sido realizado dezesseis anos antes no país latino com enorme sucesso, os mexicanos venceram de maneira unânime o pleito realizado em 1983, tornando-se os primeiros a abrigar duas Copas diferentes.

Nessa copa do mundo já estava residindo na minha própria casa, onde moro até hoje, e me preparei para ela comprando uma televisão maior que a da copa anterior, de 20 polegadas, o maior tamanho encontrado no mercado naqueles distantes tempos. Era uma Sharp com controle remoto, e com uma imagem de tirar o fôlego. E o melhor: além da mulher, tinha agora três filhos para animar a festa. Mas, apesar disso, e do mundial ser disputado no México, país em que ganhamos a nossa última copa, não estávamos tão confiantes assim, pois a seleção brasileira havia se classificado sem brilho nas eliminatórias, enquanto a Argentina havia passado voando baixo pelo seu grupo. E ainda contava com Maradona, o melhor do mundo na época. Aquela copa haveria de ser deles, por tudo que o Pibe fez. Apesar de contarmos com alguns craques da copa anterior, o time estava muito mudado, e já não apresentava a mesma qualidade da anterior.

Até que fomos bem na primeira fase: vencemos as três partidas jogadas. Sem muito brilho, é bem verdade, mas mesmo assim, vencemos. 1x0 na Espanha, 1x0 na Argélia e 3x0 na Irlanda do Norte. Parecia que melhorávamos jogo após jogo. Fui me empolgando, e os preparativos para os jogos foram melhorando também em minha casa: bandeiras, camisas, a música que antecedia aos jogos, e um grupo de amigos que aumentava jogo a jogo. O campeonato agora tinha uma nova distribuição de fases. Assim, passamos para as oitavas de final em jogo eliminatório, quem perdesse voltava para casa, como acontece hoje em dia. Ganhamos de forma incontestável da Polônia por 4x0, classificando-nos para a fase seguinte, as quartas-de-final. E isso nos animou bastante. Fomos para o jogo contra a França de Michel Platini com a maior confiança possível. A seleção estava engrenando dentro do torneio, crescendo jogo a jogo, e a adversária, apesar de não ser uma carne-frita, não era uma ganhadora de copas.

Foi um jogo nervoso e que terminou empatado em 1x1. E como era eliminatório, fomos para os pênaltis e, para grande desgosto, eliminados. Voltamos mais cedo para casa mais uma vez. As festas acabaram aqui em casa. Os amigos não apareceram mais para ver os jogos solidariamente. E ainda vimos os nossos piores adversários, a Argentina de Maradona, ganharem a copa com uma vitória sobre a Alemanha. Decepção total!

A Copa do Mundo de 1990 foi disputada na Itália, e não estávamos tão confiantes com o time que mandamos para lá, a começar pelo treinador, um tal Sebastião Lazaroni. Apesar de tudo, em casa preparamos tudo mais uma vez para festejarmos o evento com o maior carinho. A nossa TV ainda era a mesma que fora adquirida para a copa anterior, pois não havia necessidade de uma nova. A chamada seleção do Dunga não nos empolgou na primeira fase, apesar de termos ganho todas as três partidas. O placar apertado nos jogos sobre adversários fracos, ia nos preparando o espírito para o pior. E isso aconteceu da pior forma possível: contra o nosso adversário mais intragável, a Argentina. Até jogamos melhor, mas perdemos o jogo por 1x0. A copa do mundo passou a ter a qualidade de uma festinha do tipo tertúlia, com o mesmo sabor de quando temos que dançar com uma irmã.

E enquanto para nós transcorria tudo na maior desanimação, íamos vendo a Argentina de Maradona crescer dentro da competição, ultrapassando adversários poderosos até chegar a final contra a Alemanha. Para nós, aquela copa ia ficando cada vez mais intragável, sem graça. Preparamos uma festinha chocha, sem muito emoção, para vermos a final, todos torcendo contra a nossa vizinha de América do Sul. Menos mal que a Alemanha venceu e nos deu um pouco de alento ao bater a Argentina na final. Ficou aquele gostinho aético de nos alegrarmos com a derrota dos outros. Mas gostamos do resultado mesmo assim.

Em fim, chegamos à Copa do Mundo de 1994 a ser disputada nos EUA, país sem nenhuma tradição no futebol. Filhos já crescidos, foram eles que conduziram a animação, pois eu mesmo não comecei muito empolgado aquela copa. E para demonstrar isso, basta dizer que fiz reserva de hotel em São Luís para passar alguns dias de férias com a família exatamente no período coincidente com as semifinais do torneio. Não acreditava que o Brasil chegasse até lá. Mas, mesmo assim, comprei uma televisão nova de 29 polegadas, tela plana. Queria me utilizar das novidades que teríamos nas transmissões, situação propagandeada pela Globo diariamente.

Passamos bem pela primeira fase, com vitórias sobre a Rússia, Camarões, e empate com a Suécia. Apesar de tudo, o Brasil jogava um futebol de pouco brilho, levado pela genialidade de um certo baixinho letal, Romário, coadjuvado por outro azougue, Bebeto. Passamos para as oitavas-de-final com certo louvor, em primeiro lugar do grupo. Encaramos os donos da casa, os Estados Unidos, e passamos com um apertado 1x0. Enquanto isso, os Argentinos foram eliminados pela Romênia: dupla vitória nossa.

Nas quartas-de-final enfrentamos um adversário que se tornaria frequente em copas do mundo: a Holanda. Dessa vez vencemos por 3x2. Estava começando a me animar com aquela copa do mundo, e a torcida só crescia em casa. A decoração para as festas também.  Mas, como já afirmei, tive que assistir às partidas semifinais em um apartamento de hotel em São Luís do Maranhão. Assisti aos jogos dessa fase sem festa e quase sozinho, pois os meninos preferiam aproveitar a piscina do hotel. Passamos outra vez pela Suécia em jogo muito difícil, adversário da primeira fase com quem havíamos empatado em 1x1. Ganhamos o jogo com um gol de Romário. Sempre ele.

Animei-me para assistir à final em um lugar mais alegre e festivo, e viajei para o meu torrão natal, Presidente Dutra, a convite do meu irmão que praticamente inaugurava a sua casa nova. Lá a festa estava armada. Na área da piscina estava toda a família, além de alguns amigos queridos. Se a churrasqueira não parava de funcionar, o freezer não fazia feio também e vomitava cervejas estupidamente geladas. Quanto à partida contra a Itália, já faz parte da história: empatamos no tempo normal e na prorrogação, e fomos ajudados pelo craque deles, Roberto Baggio, que chutou o último pênalti para fora. Foi de Baggio o mote para o “gran finale”: fomos todos comemorar dentro da piscina. Como coube tanta gente, não sei explicar. Foi a única partida de Copa do Mundo que assisti pela TV na minha terra natal até hoje. E foi inesquecível a comemoração do Tetra Campeonato buscado pelo Brasil desde aquela festa monumental no México, 24 anos passados.  

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Vou rebolar minha bunda, hoje


Fonte: Google

Vou rebolar minha bunda, hoje

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

         Antes, desculpe o vulgar título. Afinal, vou pisar em cloaca fétida da música popular. Primeiramente, repare curiosa informação publicada no Portal Natal, ao comparar dois momentos da cultura musical no Brasil. Um quadro da seleção dos melhores artistas musicais, no ano de 1987, e a outra, de 2017:

1987: Primeiro Lugar: Roberto Carlos; 2-Djavan; 3-Marisa Monte; 4- Caetano Veloso; 5- Legião Urbana; 6- Gal Costa; 7- Gilberto Gil; 8- Marina Silva; 9- Renato Teixeira  e Almir Sater; 10- Zé Ramalho.

2017: Primeiro Lugar: Pablo Vitar; 2- Luan Santana; 3- Anitta; 4- Marília Mendonça; 5- Ludmila; 6- Nego do Borel; 7- Simone e  Simara; 8- Maiara e Maraísa; 9- MC Kevinho; 10- Thiaguinho.

         As duas relações, claramente incompletas, porquanto ficaram fora, na primeira, nomes consagrados, como Tom Jobim, João Gilberto, Tim Maia, Elis Regina, Mílton Nascimento, Luís Gonzaga, Rita Lee, Raul Seixas e dezenas de outros de notável criação artística, presentes nas paradas das rádios e tevês. Jovens se encantavam, pediam bis, entendiam e interpretavam os versos bem elaborados, porque estudavam português e literatura sem os temperos da mediocridade.

         A segunda relação, 2017, avança em ordem cavalar. Pouca gente se liga nos artistas, digamos, tragáveis, como Ivete Sangalo e algumas exceções sertanejas. O símbolo sexual da geração atual está marcada pela Anitta, rainha da favela funk e da bundície.  Extenuante exposição erótica nos shows e programas de tevê, além de outras mais. Milionárias, afinal o produto comercial é de fácil digestão, apesar dos efeitos colaterais. Observe só um trecho de VAI, MALANDRA:  Vai malandra an, na/E tá louca, tu brincando com o bumbum/ An, an tutudum an, na/Tá pedindo, an, na/Se prepara, vou dançar presta atenção/An, an tutudum an, na/Cê aguenta an, na/Se eu te olhar/Descer, quicar até o chão/Desce, rebola gostoso/Empina me olhando/Te pego de jeito.

         Em recente artigo no jornal O Globo, o jornalista Marco Antônio Villa denominou a atual geração dos apaixonados por Anitta e similares antidepressivos, REPÚBLICA DOS RASTAQUERAS, termo arcaico de origem francesa que significa rude, ignorante, vampiro, cara de rico. Segundo o jornalista, crítico ferino da atual conjuntura esquerdista, “o Brasil tinha, há algum tempo, uma presença no mundo ocidental, dialogava, trocava ideias, projetava grandes artistas, como Chico Buarque, Caetano, João Gilberto...  Hoje, somos um país fragmentado... O Brasil vive uma crise de identidade cultural... A ignorância se transformou em política oficial... Nesta conjuntura, é possível compreender como algumas figuras caricatas tomaram conta do cenário cultural. A cantora Anitta é o melhor exemplo. É elogiada como um verdadeiro símbolo do Brasil contemporâneo. Uma representante do país para o mundo. A música “Vai malandra” já foi chamada de novo hino nacional... No réveillon, na Praia de Copacabana, foi considerada a grande estrela. Brindou o público com frase de rara profundidade filosófica, como uma Hanna Arendt dos trópicos: “Vocês acharam que eu não ia rebolar a minha bunda hoje?” No país da Anitta, é indispensável dizer sim, sempre dizer sim. Há o medo manifesto de ser hostilizado por defender uma outra visão de mundo”. Perdoem-me, mais uma vez, mas que país é este onde até uma sessentona Grecten ainda posa de bumbum surrado para entrevistas e festivais?! PUM pra vocês da cloaca cult!     

OS MISTÉRIOS DA LAGOA DA VELHA

Fonte: Google


OS MISTÉRIOS DA LAGOA DA VELHA

Des. Valério Chaves

Da ALMAPI


             Dizem que o mundo ficou sem mistérios.
           Lugares míticos como a floresta de Brocelianda – palco das aventuras dos cavaleiros da Távora Redonda – não existem mais. Só na imaginação.
            Nada disso.
            No Piauí, por exemplo, além das lendas do “Cabeça de Cuia”, e  “Não se Pode” em Teresina, das “Sete Cidades” e “Serra da Capivara” – que intrigam arqueólogos com seus vestígios com mais de 3 mil anos – existem vários outros acidentes geográficos naturais que resistem a ação predatória do homem, com seus segredos, mistérios e lendas.
            Poderíamos citar, como exemplo, a “Lagoa da Velha”, de aproximadamente um quilômetro de extensão, localizada no povoado Caiçara no município de Landri Sales, região centro-sul do Piauí (300 km de Teresina), que guarda segredos, lendas e mistérios até hoje não desvendados.
            O que se sabe, através de estórias contadas por pescadores da redondeza, é que no meio das águas dessa lagoa, existe (ou existiu) uma ilha de terra firme medindo aproximadamente 200 metros quadrados que durante a noite se movimenta, ou seja, anoitece  (cia) numa margem amanhece (cia) na outra, misteriosamente. Por essa razão, chamam-na de “ilha encantada”, sem qualquer comprovação segura, claro. Segundo a lenda, sempre à meia-noite, ouvem-se vozes misteriosas vindas da ilha, parecendo chamar as pessoas para o meio das águas.
            - Talvez seja a voz de um monstro ou de uma princesa encantada pedindo socorro– diziam os mais assustados.
            Mas a Lagoa da Velha não ficou conhecida só por causa dessas estórias de lendas e causos contados alhures sem nenhuma prova concreta ou compromisso com a verdade.
            Lá, existe ou existiu, também, um fenômeno que por sua magnitude, mereceu no passado não muito distante, uma reportagem (não publicada) de um grande veículo de comunicação do sul do país.
            Trata-se de uma espécie de óleo inflamável, de cor preta, que com  frequência descia do alto das encostas da lagoa, como gotas petrificadas, até alcançar as águas, e era capaz de pegar fogo quando algum curioso mais afoito jogava palitos de fósforo acessos. Acreditava-se ser sinais de vulcão ou petróleo.
           
            A verdade é que, hoje, talvez pela ação predatória no local, não existe nenhum sinal desses eventos, nem tampouco as belezas naturais da Lagoa da Velha com suas águas cheias de encantos e magias, que apesar de perdidas nas brumas do tempo, certamente não deixam de encantar aqueles que um dia (como este vil escrevinhador) tiveram o privilégio de pescar e contemplar, in loco, seus inspiradores mistérios.
            Um dia, quem sabe, teremos a oportunidade de conhecer a verdade e  saber que eventos sobre mistérios e lendas sem nenhuma evidência científica concreta, não passam de mera invenção de contadores de estórias perdidos nas areias do tempo.
            Afinal, como afirmam os estudiosos do assunto, os mitos e as lendas existem apenas como forma do homem compreender e dar sentido aos fatos e eventos da vida e do mundo.    

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Valdeci Cavalcante vai tomar posse na Academia de Letras de Parnaíba



Em reunião realizada no Hotel Cívico, região central de Parnaíba, o presidente da Academia Parnaibana de Letras, José Luiz de Carvalho tratou dos detalhes da posse do advogado, empresário, presidente da Federação do Comércio do Piauí e escritor Valdeci Cavalcante naquela entidade, tendo como patrono seu pai, o comerciante e ex-vereador Gerardo Ponte Cavalcante.


O presidente José Luiz de Carvalho estava na ocasião acompanhado do secretário-geral da APAL, Antonio Gallas Pimentel, da escritora Maria Dilma Ponte de Brito. O futuro acadêmico é presidente da Federação do Comércio do Piauí.. Ficou acertado o dia 13 de abril às 19h no Espaço de Eventos, antigo Castelo do Thor, no bairro de Fátima.

Valdeci Cavalcante será recepcionado pelo escritor e acadêmico Elmar Carvalho e lança o livro Oriente Médio, História, Religião, Cultura e Desenvolvimento. Segundo o presidente José Luiz de Carvalho, na reunião da semana passada, foi tratado o convênio da academia com o SESC acentuando o projeto Academia Viva. 

Fonte: APAL. Fotos: APAL/ web. Edição: APM Notícias.   

Ouves?

Fonte: Google

Ouves?


Rosal Benvindo

''Fecho os olhos
E encosto a concha do búzio
Na concha de minha orelha''
No sono antes infringido
Dormi um instante o ouvido
Aos búzios de Elmar Carvalho
E que dizem os búzios?
Invisíveis moluscos deste litoral
Veladas areias de Fortaleza
Eu estivera fosco ao que dizem
Tosco ao sonoro
Ás auréolas imemoriais dos búzios
E tão pouco os escutei
Fragmentos de signos antigos
Celulares micro búzios do esquecimento
Acordei sobressaltado
Ao sol da cidade
E não havia búzios que falam
Aos ouvidos de homens surdos
Que disseram teus búzios
poeta Elmar Carvalho?
Que mais diriam
Se eu os escutasse plenamente?
Arranho rastros no sopro das dunas
E no vapor da ausência
Evanesce o som que perscruto
Que disseram teus búzios?
Que diz o gris
Das espumas de Iracema?
Que diz o concreto da elegância
Nos edifícios do Meireles?
Que disseram teus búzios?
Que diz o emaranhado de pelos
Nos braços vermelhos de meu pai
Em que cada enrolar-se
É senão um verso?
Que diz o cheiro adocicado
De cebola e almoço
Nas mãos de Mundica às 11 horas?
Questiono ao mundo
Que disseram os búzios?
Que dizem os coisificados
E as coisas simples
Na placidez de suas iconografias?
Que dizem as moças
Que transitam esquisitas
E seus olhos de esfinge
Por serem moças ainda?
E em sua esfinge superior
Que diz a mulher madura?
Que diz a balzaquiana?
O acadêmico absoluto
Suas referências frígidas
Entretanto intocáveis
De paráfrase e citações
Que diz sua voz?
Sabe ainda o acadêmico
Que tem voz?
O olhar materno
Para o velho retrato
Do filho perdido
Em termos confusos
Que diz o silêncio
De um morto
À sua mãe?
O feto do mar abissal
Que um escafandrista gerou
Sozinho e em sonho
Nada diz?
A quem sussurrara
O primeiro isolar-se
Na claustrofobia das tintas
Dos depósitos e salas e cozinhas
E organizadíssimas camas
Das casas brancas de família?
Que dizem os fantasmas
Nos tetos destas casas?
Que dizem os analistas
Dos testes psicométricos
De concursos públicos e colégios?
Aos que praticam Cooper
E às marcas dos sadomasoquistas
Que dizem as passarelas de asfalto
Os instrumentos fálicos
Chicotes e tênis gastos?
Que diz o couro e o látex
Nos preservativos e bustos?
Questiono ao mundo
E o mundo diz o mínimo:
Tampouco sei
Poeta Elmar Carvalho
Que disseram os búzios?
A lâmpada queimada de instante
no quarto imensamente noturno
Do menino que é o único
E da septuagenária viúva
Que diz o escuro ao escuro?
E que diz o escuro do útero
Ao íntimo óvulo?
Finda a guerra
Que diz o nascituro
Ao gêmeo natimorto
No escuro do útero?
Que diz a fibra grotesca
Dos nervos encrespados
Do gato que nunca morre
O gato que permanece gerúndio
Morrendo infinitamente
Na mais fina ironia dos posfácios?
Que diz a insistência
Do mal poeta noviço?
E o gênio que nada escreve
Quanto diz seu vazio?
Habitariam o não dito
Os poemas serenizados
Na perfeição da semântica
Submersa a toda linguagem?
Calariam a falha inescusável
Das palavras de Heidegger
Os poemas não escritos?
Que disse Rimbaud
Aos anos não escritos?
Porquanto observo
Todo luxo obscuro
Me é dado ouvir
Os ruídos mínimos
Do tampouco do mundo
Me é dado o nunca olvido
Ao muito intangível
O predestino de ser capaz
Do amor oblíquo
Como a Vinícius
Fora dado o predestino
E a prerrogativa de ofício
De ouvir o que diz
Aquilo que nada diz
E o que diz o silêncio
Dos poemas não escritos
Dormentes nos búzios 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A PROPÓSITO DE DOIS PEQUENOS POEMAS


Fonte: Google

A PROPÓSITO DE DOIS PEQUENOS POEMAS  

Alcenor Candeira Filho

     Há tempos publiquei um artigo relacionado com o poema “Carga”, que apresenta vinculações com elementos da vida cotidiana e que vem se destacando no conjunto da minha obra poética, a ponto de merecer referências e transcrições em livros, jornais, revistas, comentários em salas de aula, cartões postais, exposições em varais de poesia e declamações em recitais. Eis o poema:

               “Carrego uma carteira  de identidade
               e mais outra de motorista
               um título de eleitor
               um certificado de reservista
               um cartão de CPF
               uma certidão de nascimento
               e outra de casamento
               um diploma de bacharel
               um seguro de vida
               (em todos eles ALCENOR RODRIGUES CANDEIRA FILHO)
               carrego uma calça
              (uns trocados no bolso)
              uma camisa
              uma cueca
              um sapato
              muitas chaves
              um automóvel
              e um relógio
              - e mais o peso abstrato da existência.”

     Escrito em 1975,  o poeminha se fez espontaneamente, sem grande esforço. Aliás, os motivos prosaicos da vida, tão presentes em “Carga”, me inspiraram no mesmo dia o poema “Este Esta”, onde igualmente objetos de uso cotidiano são enumerados:

               “este sapato me aperta
               este relógio me espreme
               esta gravata me sufoca
               este paletó me abafa
               esta calça me atormenta
               esta cueca me enche o saco

              - vontade de ser nu!”

     Em 1976 o jornal teresinense O ESTADO publicou três poemas de minha autoria, todos curtos e motivados em fatos e/ou personagens do dia  a dia: “Carga”, “Registro” e “Aquele Menino”. Essa transcrição seria o marco inicial de várias outras, que fazem de “Carga” o mais divulgado de meus poemas.
     Em 1978, “Carga” figurou em AVISO PRÉVIO, antologia poética editada em Teresina pela Livraria e Editora Corisco e Grupo Andreas de Ensino, reunindo poemas de Paulo Machado, Afonso Lima, Ral, Cineas Santos, João de Lima, Meneses & Moraes, Alcenor Candeira Filho e Rubervam du Nascimento.
     O jornal paulista SAGA, por indicação de Fontes Ibiapina, também publicou o poema, na edição nº 04.
     O pequeno poema  foi transcrito em 1985 no livro POEMÁGICO: A NOVA ALQUIMIA, antologia que contém poemas de Paulo Veras, Alcenor Candeira Filho. V. de Araújo, Jorge Carvalho e Elmar Carvalho, editada pelo Projeto Petrônio Portella/Secretaria da Cultura, Desportos e Turismo.             Comentando essa obra,  o escritor Renato Castelo Branco destaca “Carga” como um dos melhores momentos de minha participação na coletânea, onde se encontra, segundo  ele, “depois do hermetismo das chamadas escolas  de vanguarda (...) uma retomada da verdadeira poesia, um reencontro  com a beleza, sem artificialismo, vigorosa, meridiana, sensível, humana.”
     No natal de 1979, o Sistema Integrado de Comunicação O DIA distribuiu entre clientes e assinantes belíssimo cartão de natal e ano novo em que, além de fotografias coloridas de uma peça de artesanato do mestre Dezinho e de uma tela de Dora Parente, figuram poemas de autores piauienses, inclusive “Carga”.
     Através do jornal O DIA (1990), em matéria denominada “Esses Imortais Provincianos”, o jornalista Abdias Silva, piauiense que morou em Brasília.  refere-se a alguns intelectuais do Piauí (H. Dobal,  Wilson Brandão, A. Tito Filho), incluindo no artigo a minha pessoa, lembrada exatamente pela transcrição do poema “Carga”, a propósito do qual declara: “Pouca gente consegue extrair de elementos prosaicos como seus documentos e suas roupas uma expressão tão poética para a carga da existência.”
     O jornal parnaibano A LIBERTAÇÃO também publicou o poema em 1990.
     No livro  ANOS 70: POR QUE ESSA LÂMINA NAS PALAVRAS?, de José Pereira Bezerra, editado em 1993 pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves, foram transcritos  oito dos dezenove versos  que compõem o poema, com o seguinte comentário: “Em CARGA, de Alcenor Candeira Filho, essa inquietação e ansiedade chegam ao paroxismo de um mal estar existencial (...) em que os aparatos identificadores de um cidadão de classe média representa um peso amorfo, que se soma ao peso do vazio da própria existência, revelando um sentido crítico diante do mundo.”
     Em 1995, “Carga” chama a atenção mais uma vez, abrindo a série de composições de minha autoria na mais importante antologia poética piauiense  -  A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX  -, organizada por Assis Brasil e publicada pela Imago Editora Ltda, em convênio com a Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
     Não sei a que atribuir o pequeno sucesso do minúsculo poema. Através da enumeração de simples objetos impostos pelo mundo do consumo e da burocracia em que vive sufocado o homem moderno, o poeminha encerra forte carga emocional ao tangenciar uma temática complexa de natureza transcendental. É sem dúvida um poema interessante, simples, despojado, comunicativo, conciso. Já  escrevi poemas mais extensos e qualitativamente superiores. Mas nenhum tem sido mais mencionado do que “Carga”.
     Agora falarei de outro pequeno poema de minha autoria  -  “Sonetilho”  -  que também vem merecendo especial atenção de artistas e professores.
     “Sonetilho” foi escrito em  2013 e figura na catracapa de meu livro PARNAÍBA: MEU UNIVERSO, cuja capa foi criada pelo grande artista parnaibano Fernando Castro, bem como no livro-álbum PARNÁRIAS: POEMAS SOBRE PARNAÍBA, organizado em 2017 pelos poetas Alcenor Candeira Filho, Elmar Carvalho e pelo fotógrafo e escritor Inácio Marinheiro.
     Em caricatura feita por Fernando Castro em que sou retratado com camisa do Flamengo sentado em banco da praça da Graça ao lado do Monumento da Independência, o primeiro quarteto de “Sonetilho” foi evidenciado.
     O poeminha foi traduzido para o inglês pelo professor Augusto Santos e apresentado em 2017 em evento internacional promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
     Segue o poema na versão original e na tradução:

              SONETILHO

               “a cidade
               é o cimento
               que concreta
               a vida.

               berço-cama-mesa
               universo
               e verso
               reais

               beira rio
               beira vida
               -  Parnaíba

               minha vida
               concreta
               e completa.”


                TRADUÇÃO

               “the city
               is the cement
               that concretes
               life.

               crib-bed-table
               real
               universe
               and verse

               border river
                border life
                -  Parnaíba

               my life
               concrete
               and complete.”    
                       
     Recentemente “Sonetilho” foi musicado pelo maestro Beetholven Cunha, pernambucano radicado em Parnaíba. O trabalho do maestro será brevemente apresentado ao público pelo Coral da Cidade/Projeto Corais do Mar.
     Assisti no SESC/Caixeiral a um dos ensaios do coral comandado pelo grande maestro e fiquei bastante emocionado com o que vi e ouvi.          

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O PROTESTO DO JUDAS



O PROTESTO DO JUDAS

Elmar Carvalho

No sábado de Aleluia
batizaram e enforcaram
um Judas de pano e molambo,
o qual não estrebuchou
e nem se lamentou da sorte,
mas apenas protestou em testamento
por via do nome execrável (do político)
com que lhe batizaram.    

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

OS POEMAS E OS PEIXES DE DOM RUBERVAM

Fonte: Google


OS POEMAS E OS PEIXES DE DOM RUBERVAM

Elmar Carvalho

Nesta madrugada sonhei que participava de um encontro de literatos, sobretudo poetas.  Só gravei do sonho o momento em que o poeta Rubervam Du Nascimento discursava. Não recordo suas palavras. Eu o via em carne e osso, mas era como se o visse através de um televisor. Meus olhos pareciam ter uma espécie de zoom, pois o seu rosto parecia estar enquadrado em um close, de modo que não lhe via o restante do corpo.

Conheço-o desde os idos de 1978, quando ambos éramos colaboradores da página literária coordenada pelo vate Menezes y Moraes, e quando houve uma forte interação cultural entre poetas teresinenses e parnaibanos. Nessa época existiu uma forte aproximação literária entre as duas cidades. Poetas da capital e litorâneos fizeram parte das mesmas antologias e coletâneas. Foram partícipes dos mesmos eventos literários.

Certa vez, Rubervam foi a Parnaíba a serviço de sua repartição. Fui visitá-lo no hotel em que se hospedou. Trouxera uma pequena máquina de escrever portátil, e com todo o entusiasmo de sua juventude produziu alguns poemas no apartamento. Depois, ao longo da vida, mantivemos a amizade, mas nunca nos frequentamos com assiduidade. Contudo, sempre mantivemos uma admiração e fraternidade recíprocas. Quando nos encontramos, casualmente ou não, a conversa flui com muito entusiasmo e alegria.

Embora não tenha ele se transformado num ermitão, tornou-se um tanto arredio a certas instituições e confrarias, sobretudo as de elogio recíproco e as de caráter corporativista. O poeta nunca aceitou e nunca fez concessões espúrias. Sempre manteve a sua postura um tanto reservada e arredia, embora seja cordial e de fácil convívio. Manteve sempre a sua linha poética, comprometida com o novo e com a pesquisa, buscando sempre as soluções inventivas, e não as de fácil apelo ao gosto popular.

Mantém-se íntegro e fiel a si mesmo. Ganhou dois importantes prêmios literários nacionais, com dois de seus livros, um dos quais Os Cavalos de Dom Ruffato, mas, ao que parece, nunca fez muita questão de divulgá-los na província. Casado, há muitos anos, com a poeta Carmem Gonzales, que oficia na sua mesma linhagem poética, que busca a síntese, o inusitado e a inventividade.

Seguindo na contramão do usual, publica seu principal livro, A Profissão dos Peixes, a cada cinco anos, em edição revista e diminuída, de modo que essa obra se torna cada vez mais magra, como se passasse por radical lipoaspiração literária. Num paroxismo, poderíamos dizer que o poeta poderia alcançar a síntese ou o símbolo do peixe, que seria talvez a sua espinha, ou seu fóssil estampado em alguma pedra multimilenar. Dom Rubervam é um bom amigo e um poeta visceral.

9 de fevereiro de 2010