sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A TRISTE PARTIDA DE “MALAQUIAS SORRISO”

Fonte: Google


A TRISTE PARTIDA DE “MALAQUIAS SORRISO”


Alcione Pessoa Lima


A paz e a tranquilidade dominavam um certo lugar. E quem ousava quebrar o silêncio? Nem os pássaros...! Tampouco um olhar, um sorriso, um gesto amigo, na tentativa de confortar uma alma angustiada. Nem mesmo a ameaça, o terror, nada o faria acordar. 

De repente, uma palavra rude, uma insinuação irônica, daquelas que magoam pessoas sensíveis, fizeram-no lançar o olhar e, em um gesto de reprovação, balançar a cabeça, de maneira reprovativa, como a pedir respeito.  


Naquele momento em que fotografava o silêncio, colhia pétala por pétala das flores que coloriram o seu caminho. E sem que desejasse, sentia a dor da morte, que o acenava, convidando-o para um passeio. Era a liberdade desejada. 


De arreios e esporas uma besta lhe mostrava os dentes, convidando-o a uma cavalgada última, por um desfiladeiro, naquela despedida solitária de tudo quanto lhe foi valioso. 


Por um momento, oscilante, vagueou por campos e prados, visitou a todos os amigos de jornada, tomou um gole de cachaça, revitalizou a alma, que insatisfeita não queria a separação. O corpo caindo aos pedaços não alcançava o espírito, que batia asas e planejava o voo, dispensando qualquer tipo de palpite ou modo de se conduzir.  


E prostrado frente àquilo que achava ser sua grande realização, praguejou-se despido de qualquer escrúpulo, repetindo Goethe(Mefistófeles-Fausto): “De que serve o eterno criar, se a criação em nada acabar?” E foi-se assim, em um último suspiro, sem que deixasse para os que presenciaram a sua partida, um sorriso, gesto que o marcou por toda sua vida.  

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

DIFERENÇA QUE AS PALAVRAS FAZEM...



DIFERENÇA QUE AS PALAVRAS FAZEM...


Antônio de Pádua Seixas

Poeta, cronista e memorialista


Era primavera em Paris e a cidade estava linda com as flores que coloriam os jardins e o verde vibrante das árvores do parque Bois de Boulogne (Bosque de Bolonha). O  dia estava maravilhoso, sol que não queima a pele, só acaricia, temperatura amena e uma suave brisa compunham o cenário. 

A bela jovem caminhava tranquila para seu trabalho e quando chegou na esquina de um das ruas mais movimentadas da cidade notou que havia um senhor sentado num banquinho tosco com um cartaz que dizia : “SOU CEGO, POR FAVOR ME AJUDEM” e ao lado dele uma caixa de papelão onde eram depositados os donativos, naquela altura apenas com poucas moedas. A jovem parou colocou um donativo na caixa, se agachou pra pegar o cartaz e o senhor sentiu o perfume que emanava dela e o reconheceu “FLEUR DE ROCAILLE” o preferido de sua esposa recentemente falecida, seus olhos marejaram mas ele não falou nada. Por sua vez a jovem também sem falar nada pegou o cartaz, virou-o, escreveu algo no verso e seguiu seu caminho. 

Pouco tempo depois o senhor percebeu que os donativos aumentavam continuamente e a caixa foi se enchendo de moedas, até notas surgiram e quase ao final do dia a jovem voltando do trabalho ao ver a caixa cheia de donativos esboçou um sorriso e o senhor sentindo novamente o perfume reconheceu a jovem que havia escrito algo no verso de seu cartaz e dirigiu-se a ela assim: Hoje pela manhã você passou aqui e escreveu alguma coisa no meu cartaz e eu acredito que por causa disso os donativos aumentaram muito. 

Como o senhor sabe que fui eu que fiz isso? Ele respondeu, eu a reconheci por causa do perfume que está usando. Que era o preferido da minha esposa. Mas, me diga, o que você escreveu no meu cartaz? 

A jovem se desculpou por ter alterado o que ele escrevera  sem ter pedido a permissão dele e disse que apenas tinha escrito  o mesmo que ele porém com outras palavras. Eu escrevi: 

É PRIMAVERA EM PARIS, O DIA DEVE ESTAR LINDO MAS EU NÃO CONSIGO VER AS FLORES.

E ambos se deixaram dominar pela emoção e, em silêncio, se despediram e ela agradeceu a Deus por ter-lhe escolhido pra ser a protagonista desta história.    

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Restauração do Túmulo de Luíza Amélia


 

Restauração do Túmulo de Luíza Amélia

 

Elmar Carvalho

 

Acabo de receber das mãos do Dr. Valdeci Cavalcante, presidente do sistema FECOMÉRCIO/SESC/SENAC, o opúsculo O Túmulo da Poetisa Luíza Amélia, de nossa autoria.

O mausoléu da “Princesa da Poesia do Piauí” se encontrava em estado de quase total abandono, já se transformando numa quase ruína, quando pleiteamos ao Dr. Valdeci, notável mecenas da literatura, do teatro, da música e de outras manifestações artísticas, a sua restauração, com urgência, já que suas lápides estavam prestes a cair, o que tornaria, talvez, impossível a sua restauração.

Valdeci Cavalcante, de imediato, prometeu fazer, a suas expensas, a delicada restauração desse mausoléu, que é, por sua beleza e valor histórico, um patrimônio de valor inestimável. Esse meticuloso trabalho já está sendo executado, e em breves dias teremos a sua conclusão.  

No evento comemorativo de sua restauração, no Cemitério da Igualdade, o pequeno livro será distribuído aos presentes, e, depois, aos interessados em literatura, história e cultura.  

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A LINEARIDADE DO TEMPO E AS CURVAS DA VIDA

Fonte: Google

 

A LINEARIDADE DO TEMPO E AS CURVAS DA VIDA


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                 

Não há nenhum fundo de verdade na expressão “alguém vive à frente de seu tempo”; também não se pode viver de passado. Vive-se, e é muito bom que isso aconteça, tão somente o momento presente. Pode-se relembrar, saudosa, alegre ou tristemente, instantes vividos ontem; pode-se, claro, até ficar feliz diante de certas lembranças; porém, não se revive o passado – segundo Machado de Assis, exumar o passado é devassar o futuro -. Quanto a este, sequer se pode recordá-lo, haja vista ser ele, meramente, uma probabilidade, uma possibilidade; diferentemente, daquele, que já ocorreu e do presente, que ocorre.

As pessoas que buscam, verdadeiramente, a felicidade, vivem em tempo real, agora; porque, como afirmam tanto os teóricos ou iluminados, quanto aqueles que viveram esse estado de beatitude, a felicidade é um sentimento intermitente e, por vezes, imiscível, do ponto de vista quantitativo; conquanto ninguém se engane quando está diante de um momento feliz. Contudo, não é incomum, tempos depois de nos ter acontecido algo que, à época, não soubemos precisar se fora tão bom ou melhor do que várias sensações ou experiências com que, simultaneamente, convivemos, tardiamente, reavaliarmos e externarmos, então sim, com certeza, ter sido aquilo um evento bem mais interessante do que as outras experiências.

O tempo não nos engana, nem nos martiriza, apesar de, não raro, deixar em nós marcas que se assemelham a estigmas, às quais, depois cura, restando, no máximo, cicatrizes pouco importantes. Não são as rugas castigo que o tempo nos impinge por tentarmos vencê-lo; não nos vence o tempo porque não somos adversários num campo de batalha; nada é mais pacífico e resoluto que ele. Não é ato dos mais honestos afirmar que determinado malefício ou benefício veio com o tempo, ou que foi este que facilitou sua chegada. Ele não é o criador do mal ou do bem, não participa de sua logística, tampouco, é responsável por seu transporte.

Meu tempo é diferente do seu, ainda que vivamos ao mesmo tempo, e não porque eu seja jovem e você não, ou vice-versa, mas por sermos, todos e cada um, universos com arcabouços físicos e existenciais diferenciados e específicos.

Ninguém viveria por mim, envelheceria por mim, seria feliz por mim, como eu, mesmo que se lhe fosse dado passar pelo que passei, viver o que vivo e da forma como vivo.

O tempo é uma dimensão muito previsível, que escorre na lentidão ou com a pressa percebida por cada um. Sua imutabilidade reside no fato de que ele não repousa, não cansa nem descansa, segue seu curso, ininterruptamente, a despeito de nossa vontade.

A juventude, a maturidade e a velhice não são pontos de encontro que marcamos com o tempo - que desenvolve uma trajetória linear - nas curvas de nossa vida, que, por sua vez, corre em círculo, com imutáveis paradas ou fases – nascer, viver, crescer e morrer –, ainda que muitos não consigam percorrê-las todas. Por conta desse viés geométrico, é que em qualquer estação de nossa existência, podemos nos afastar do tempo ou o perder, para sempre, de vista.

Só uma força, que se confunde com a própria natureza, tem poder capaz de fazer curvas no tempo: o Criador.

É fato que não temos direito de exigir que o Todo-Poderoso faça isso, mas, certamente, não é pretensão descabida solicitar-Lhe que encurve o tempo de modo que este conflua, longa e demoradamente, com as curvas da vida daqueles a quem amamos ou queremos bem. Fique à vontade, Senhor, afinal, pedir não é crime!           

domingo, 9 de janeiro de 2022

Seleta Piauiense - João Ferry

 

Fonte: Portal dos Mitos/Google

O CABEÇA DE CUIA        

 

João Ferry (1895 – 1962)

 

Com o sol a pino, um dia, no Poti,

Um pescador voltou da pescaria;

Vinha fulo, porque no seu pari;

Um peixinho sequer, nele caía.

 

Alegre a velha mãe o aguardava

Com o almoço frugal que de costume,

Para o filho querido preparava,

Quando vinha feliz com seu cardume.

 

Nesse dia, zangado, o belo moço,

Tratou mal a velhinha e aos palavrões,

Recusou-se aceitar o seu almoço,

Uma ossada gostosa de pirões.

 

Em vão a velha mãe bondosamente,

Com mimos, com carinho e com amor,

Procurou acalmar o imprudente,

Que tomando um osso, um “corredor”...

 

Bateu na velha mãe, em louca fúria,

Esmurrou-lhe a cabeça veneranda

E cobrindo-a de apodos e de injúria,

Mostrou sua alma vil, negra e execranda.

 

Com a dor, a velhinha atordoada,

No terreiro da casa ajoelhou,

Filho ingrato, cruel, desnaturado,

E mil pragas do céu invocou...

 

Filho maldito, o rio há de tragar-te,

E entre todas as suas agonias,

De monstro que tu és, para salvar-te

Haverás de engolir 7 Marias...

 

E o filho como um louco caiu n’água

No lugar “Poti Velho” e ali sumiu-se,

E a velhinha corando sua mágoa,

Ao sol quente, de dores, sucumbiu-se.

 

E é voz corrente que o Poti gemendo,

Quando a cheia do rio em fúria desce,

O “Cabeça de Cuia”, um monstro horrendo,

Nas águas a boiar sempre aparece.

 

E ao que consta, até hoje, o imprudente,

Não conseguiu tragar uma só Maria...

E há de viver assim eternamente,

Um fantasma de dor e agonia.

 

Fonte: Antologia dos Poetas Piauienses (2006), de Wilson Carvalho Gonçalves

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

O 4º REI MAGO (*)





O 4º REI MAGO (*)


Autor desconhecido


Há uma lenda de que, sem fazer parte da Revelação, nos ensina o que Deus espera de nós.


Dizem que houve um 4º Rei Mago, que também viu a estrela brilhar em Belém e decidiu segui-la.


Como presente, pensou em oferecer ao Menino um baú cheio de pérolas preciosas.

No entanto, em seu caminho, ele encontrou várias pessoas que estavam pedindo sua ajuda.


Este Rei Mago os assistiu com alegria e diligência, e ele deixou a cada um deles uma pérola. Mas isso estava atrasando sua chegada e esvaziando seu baú.


Ele encontrou muitos pobres, doentes, aprisionados e miseráveis, e não podia deixá-los sem supervisão.


Ele ficou com eles pelo tempo necessário para aliviar a dor e depois partiu, o que foi novamente interrompido por outro desamparado.


Aconteceu que quando finalmente chegou a Belém, os outros reis magos não estavam mais lá e o Menino Jesus fugira com seus pais para o Egito, porque o rei Herodes queria matá-lo.


O Rei Mago continuou procurando-o sem a estrela que o guiara antes.


Ele procurou, procurou e procurou ... e dizem que ele passou mais de trinta anos viajando pela terra, procurando a criança e ajudando os necessitados.


Até que um dia chegou a Jerusalém justamente no momento em que a multidão enfurecida exigia a morte de um pobre homem.


Olhando-o, ele reconheceu algo familiar em seus olhos. Entre dor, sangue e sofrimento, pode ver em seus olhos o brilho daquela estrela.


Aquele que estava sendo executado era a criança que ele havia procurado por tanto tempo.


A tristeza encheu seu coração, já velho e cansado pelo tempo.


Embora ainda guardasse uma pérola na bolsa, era tarde demais para oferecê-la à criança que agora, transformada em homem, pendia de uma cruz. Ele havia falhado em sua missão. E sem mais para onde ir, ficou em Jerusalém para esperar a morte chegar.


Apenas três dias se passaram quando uma luz ainda mais brilhante do que mil estrelas encheram seu quarto.


Foi o Ressuscitado que veio ao seu encontro!

(*) O filme O Quarto Sábio é baseado nessa narrativa tradicional. Pode ser assistido através do You Tube ou do Looke.   

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Reisado e a liberdade

Foto meramente ilustrativa   Fonte: Google


O Reisado e a liberdade 


Altevir Esteves 


Meu pai era muito generoso com o reisado.  Recebia-os com alegria,  abria espaço no salão,  servia a melhor cachaça e pagava em dinheiro na despedida.  Não era só um.  Tantos quantos fossem os pagadores de promessa ao "Santos Rei", tal era os grupos que batiam à nossa porta mas madrugadas de janeiro,  até o dia seis.  

Mas,  quando "me entendi como gente", meu pai já não morava conosco.  Os "caretas " como se chamavam os dançarinos mascarados,  principal atração do show,  continuavam a comparecer em nossa casa,  talvez ainda gratos por tantas doações anteriores, dos anos de ouro do Sítio Novo, nossa morada e propriedade rural produtiva.   Agora, no entanto,  eram recebidos por minha mãe,  sonolenta,  cansada de tanto serviço, sem pinga,  sem alegria. Ao fim da demonstração,  poucas moedas,  notas dilaceradas e algumas frutas da época.  Ao redor,  meninos,  muitos meninos. 

Eu ficava mais pra trás porque morria de medo dos homens.  Vestindo fantasias de palha de coqueiro,  couro de boi, eles dançavam e cantavam uma toada triste e, para mim incompreensível. 

Uma figura em especial assustadora trazia uma cabaça acima de sua cabeça,  com buracos formando olhos,  nariz e boca,  por onde passava a luz de uma vela acesa no seu interior.  

Certa vez uma senhora compareceu à luz do  dia com a imagem dos Reis pedindo auxílio. Disse que era sozinha, pobre e doente,  razão pela qual não podia esmolar  à noite. 

O Reisado continua vivo em muitas comunidades rurais e até mesmo na MPB, na voz  marcante do Tim Maia.  Mas está difícil abrir as portas para mascarados na calada da noite; distribuir brindes e simpatia quando se foge de vírus e bactérias; quando   se procura uma hora,  que seja,  de silêncio para recuperar as forças de tanta labuta; quando um tostão vale um milhão diante da fome inquietante; quando se desconfia que tudo o que está em liberdade é perigoso, é nocivo,  faz mal. 

Não podendo abrir as portas à noite,  nem de dia,  resta-nos lembrar que os Reis foram guiados por uma estrela.  Que essa mesma luz nos sinalize um bom caminho, que nos ilumine a cada instante,  que saibamos cantar mesmo na madrugada,  nos poucos instantes que nos sobra e que aproveitemos a liberdade de pensar,  de sonhar,  de viver com os recursos de que dispomos.  

Hoje é o dia da festa de Santo Reis.  

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Resenha de Noturno de Oeiras e outras Evocações



Resenha de Noturno de Oeiras e outras Evocações

 

Paulo Costa

Poeta e escritor

 

O título da obra por si só faz lembrar a composição clássica de Frédéric Chopin - Noturno em Mi bemol maior, op. 9 n° 2 - e talvez seja essa a mais conhecida desse gênio da música erudita. A lembrança é reforçada quando se percebe que “noturno” é uma composição que evoca ou simplesmente é inspirada pela noite.

O primeiro aspecto do corpo do livro que cativa a atenção é a linguagem, um ótimo vocabulário. O vernáculo em sua expressividade mais eloquente e sem qualquer significado vazio. A utilização de termos rebuscados demonstra prontamente o nível de leitura e conhecimento do autor. Ao mesmo tempo, quase que forma paradoxal, sua poesia é compreendida de forma simples, com versos livres e impregnada de uma tonalidade clássica irretocável.

Há uma notável sensibilidade poética na obra, uma vez que desperta paulatinamente no leitor uma sensação de deslumbramento, além de atiçar a curiosidade sobre o momento da escrita, as ruas da cidade de Oeiras com seus casarões, o calçamento que suportou inerte e silente o peso de uma infinidade de tempo e memória. Em momento oportuno da obra, como uma complementação, o cemitério exsurge como um deleite de mistério e luto, morte e (quase) esquecimento.

As crônicas têm uma narrativa perspicaz sobre temas variados. Algumas personalidades são homenageadas, como Nogueira Tapety, Expedito Rêgo, Balduíno Barbosa de Deus, dentre outros. O autor transforma cultura em memória, memória em versos, e versos em sensações. Paira no ar quase que uma nostalgia acerca de um lugar que ainda não foi visitado pelo leitor, um anseio por ler a luz do luar na cidade de Oeiras ao som da orquestra de bandolins.

O autor além de derramar seus versos e crônicas, encara de forma madura a crítica literária. A tarefa que para muitos é árdua em demasia, se desenvolve muito naturalmente ao longo da obra. O crítico lê nas mesmas páginas o que outras pessoas viram, mas não enxergaram.

Noturno de Oeiras e outras Evocações é uma moldura de encantamento. A cidade de Oeiras foi arrebatada por uma obra de grande entusiasmo e consideração. Não resta dúvidas de que este livro será utilizado como fonte de estudos de história e literatura, por consagrar de forma ímpar a essência de um povo.   

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O Piscinão do Visconde

Fonte: Cidade Verde/Google


O Piscinão do Visconde 


Carlos Rubem


Passei as festividades do Ano Novo em Teresina. Ontem (02.01.2022), fui a Oeiras, levar o meu neto, o infante Joaquim Miguel, onde moramos, que veio, às pressas, no SAMU Avançado, à Capital, na antevéspera do réveillon, submeter-se a tratamento de saúde, vomitava muito. Afastada a suspeita de diabetes, meningite, broncopneumonia. Foi acometido de severa sinusite.


Acordei-me manhã cedo, hoje. Retomei a leitura do livro “Marcas que marcam”, substancioso relato do publicitário Silvio Leite. Abatia sobre a cidade torrencial chuva atingindo mais  de 100ml, certamente. Algumas avarias constatadas. 


Chamou-me atenção o “Piscinão do Visconde” que se formou no Momento 24 de Janeiro, localizado às margens da BR 230, no sentido que demanda a Picos, divulgado, em vídeo, nas redes sociais.


Quis logo conferir este previsível alagamento, mas, por obrigação moral, cabia-me assistir à posse administrativa da nova Diretoria da OAB/PI, Subsecção de Oeiras, da qual o meu filho, Gérson Oeirense, é o Tesoureiro desse colegiado.


Depois do almoço, retornei à Cidade Verde. Antes fui conferir o estrago havido naquele equipamento público. Cena triste de se ver!


Desde 2014, venho me batendo sobre aquele marco levantado em reverência à data cívica que assinala a efetiva “Adesão do Piauí ao Grito do Ipiranga”, movimento emancipacionista muito bem urdido pelos nativos, sob a liderança de Manoel de Sousa Martins — Visconde da Parnaíba —, que apeou do poder os portugueses que administravam a Capitania do Piauí, sendo Oeiras sede do governo, então. Nova ordem política foi  instituída.


Depois de tantos reclamos e omissão de muitos, enfim, no dia 13.08.2021, a obra foi inaugurada, com a presença do ilustre conterrâneo Welington Dias, governador do Estado e luzida comitiva.


Mas uma iconografia referente a tal efeméride ainda não foi exposta ao distinto público. Espera-se que isto ocorra o quanto antes, inclusive por se tratar o fluente ano do Bi-Centenário da Independência do Brasil.


Salta aos olhos a necessidade de se engenhar uma pavimentação ao derredor daquele prédio de apelo turístico-cultural. Servirá de estacionamento e consequente escoamento das águas pluviais. 


Lá, existe uma rampa de acesso que serviu, ante o toró matutino, de vertedouro pelo avesso. Ante o charco constatado, as águas se direcionaram para o subsolo onde há um espaço reservado para galeria de artes.


É bem verdade que na vizinhança está sendo construído um condomínio residencial pela Invicta Incorporadora, do Grupo Engipec, que contribuiu, sobremodo, para a aludida inundação, uma vez que uma camada de areia se formou, provinda da área em tela, no meio da rua potencializando dano material (e moral).


Independentemente disso, impõe-se a adoção de obras complementares visando evitar este tipo de transtorno.


Antes de empreender viagem, fiz imagens daquele desolador cenário. Garotos banhavam naquela sazonal poça.


Lembrei-me dos mergulhos que dei no velho Riacho Mocha, judiado pela cidade ingrata.

domingo, 2 de janeiro de 2022

UM LANCE DE BÚZIOS

Fonte: Google

 

UM LANCE DE BÚZIOS


Elmar Carvalho

 

O grande búzio

soltava seu super sopro

feito de sonho e ilusão

e soprava suas conchas multicores

seus búzios bizarros e bizantinos

que saíam se iam e se esvaíam

transformados em flores

borboletas e besouros

que entravam em outra dimensão

pelo portal – pórtico triunfal –

de outro grande búzio

e voltavam a ser conchas e búzios

do além-mar da morte.   

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

ANO NOVO, ANO VELHO



ANO NOVO, ANO VELHO


José Expedito Rêgo (1928 - 2000)


Conheci velho ferreiro português, Mestre Orlando Peixe, com fama de burro. Nem tanto assim. Tinha habilidade com o martelo e a bigorna, fazia bonitas grades e utensílios de ferro.

Seu grande amigo, o Sr. José de Abreu, era dono de bar, jantava sempre com o ferreiro. Se José de Abreu não chegasse na hora, achava o prato feito. Não admitia impontualidade.

Uma noite, José de Abreu encontrou Mestre Orlando, no quintal, fazendo uma casinha de cachorros. O improvisado canil tinha duas portas, uma baixa, outra mais alta. Não havia divisões interiores. José de Abreu perguntou: – Mestre, porque duas portas?

– Ora, Senhor José de Abreu, uma porta grande para o cachorro maior e uma porta pequena para o cachorro menor.

– Bastava, então a porta grande, Mestre.

– Não, Senhor! E por onde passaria o cachorro pequeno?

Era assim Mestre Orlando. Uma noite de 31 de dezembro, estava ele a tomar uma cervejinha gelada, no bar do José de Abreu. O amigo veio cumprimentá-lo: – Feliz Ano Novo, Mestre Orlando!

– Ano Novo não! Ano Velho.

– Como assim, Mestre?

– Ora, se o senhor tem 68 e eu 69, quem é o mais velho?

– Senhor!

– Então? O ano 69 é mais velho do que o de 68. Assim, o ano que vai chegar é o ano velho, pois não?

Será que o Mestre Orlando tinha razão? O tempo não existe, é pura convenção. Não passa o tempo, nós é que passamos. Nada muda, tudo é sempre o mesmo. Cumprimentamos nossos amigos e parentes pela passagem do ano, desejamos saúde e felicidades para todos, mas tudo não passa de esperança vã.

Continuaremos no mesmo ramerrão de todo o sempre, falando mal do governo, queixando-nos da carestia da vida e da falta de dinheiro. Alguns poucos felizardos permanecerão bem de vida, independente da mudança de ano.

O tempo só mudou para o Mestre Orlando e o Sr. José de Abreu, que já descansam em paz, estão livres de aperreios.

O NEUROLOGISTA SILVA NETO




O NEUROLOGISTA SILVA NETO


Wilton Porto 


NA DÉCADA DE 80, integrantes de movimento popular e dos grupos ativos da igreja católica, principalmente de todo o Piauí, acorriam para Esperantina-PI, onde Pe. Ladislau João da Silva, filho da cidade de  Pedro II, atuava como Pároco daquela região. 


Seguindo os passos  do Concílio Vaticano II, na Colômbia, e Puebla, no México, que fizeram com que a Igreja Católica Apostólica Romana assumisse a preferência pelos pobres, Pe. Ladislau, com o seu trabalho libertador, tornou-se um dos ícones da igreja,  no Norte do estado, com irradiação para além dos batentes do Piauí. Esperantina recebia gente de várias cidades e de outros países, que comungavam das mesmas ideias. 


Eu era ativo na Igreja. E ia com frequência a Esperantina. Ficava lá a semana toda. Porque, eu fazia muitas palestras, cumpria missão em várias partes do Piauí e Maranhão.

Foram nessas idas e estadas em Esperantina, na década de 80, que conheci, o hoje Neurologista Raimundo Pereira da Silva Neto. Mais conhecido na atualidade como Neurologista Silva Neto.


Silva Neto, como muitos jovens de Esperantina, não ficou alheio às ações e comentários sobre Pe. Ladislau. Acompanhou de perto o desenrolar da história e, fez mais: foi parte ativa dessa história. 


Eu iniciei nas letras muito jovem. E Silva Neto também. Esta sintonia de sensibilidade aprouxinou-nos com maior integração. Silva Neto mostrou-me seus poemas e aproveitei para publicar em coluna que tinha em Parnaíba.

Segundo, o próprio Neurologista, o pai dele tinha uma carroça de fretes, e como menino de sonhos elevados, ele ajudava o pai nessa tarefa. Além disso, o jovem completava as suas ações de contribuir em casa, vendendo dindin e frutas.

Na foto de 1983, período em que nos conhecemos, diz Silva Neto: "O cenário era de extrema pobreza!" 


A pobreza foi razão sublimar para impulsionar muitas crianças e adolescentes e jovens a não se intimidarem com as adversidades. A não se deixarem colher nos braços da incompreensão e se atolarem nos vícios. 

Pe. Ladislau mostrava um Cristo Crucificado, que se importava com os decaidos,  desprezados, excluídos... E Silva Neto estava atento àquelas homilias. Nos encontros, o Evangelho era lido nas linhas e entrelinhas. E, se agia conforme falava.

Como à época dos primeiros cristãos, todos se ajuntavam e se ajudavam. 

Eu próprio fui em missão no interior e ajudei na construção de casa, à base do mutirão. 

"Terminei o ensino médio em Esperantina, aos 16 anos de idade, sem nunca tirar uma nota diferente de 10. Apesar de ter estudado sempre em escola pública, passei no vestibular para Medicina, na UFPI", afirmou o Neurologista. 

Esta determinação, tenho visto em muitos  que são tocados pelo Espírito Santo desde ternra idade. Vi essa Força agir em mim, quando eu ainda não sabia direito a importância do Pai-nosso e nem a riqueza do Sinal-da-Cruz. Compreendia a necessidade de ser arrimo de  família aos oito anos de idade, contudo, era-me inexplicável o destino pregar-nos tal peça. Não devo entrar no mérito de tal trajetória. 


Silva Neto também foi lapidado com um esmeril de mente elevada. Uma Força Maior do que a dele agia com sapiência na  mente e no destino dele desde sempre.

Embora, a situação de pobreza, ele se destacava na escola. A sua mente não é tão nova. A bagagem que esse Neurologista possui, os enfrentamentos que encontrou na sua trajetória de caminhada, o que esse rapaz já conquistou e o destaque que vem alcançando, falam por si só. 

Se o brilho que irradia da fronte desse esperatinense, tivesse a receptividade no Brasil, como o tem em outros países, a neurologia brasileira, acima de tudo no tocante à cefaleia, que deixa tanto com muitas faltas no trabalho, poderiam olhar de frente este nordestino, que usando de uma metáfora, é sol escondido nas nuvens da incompreensão, que gera o estufado ego, na medicina dos elevados cifrões. 


O jovenzinho que muitas vezes prometeu a si próprio, nos dias de Sol a pino, que seria um nome escrito com os raios do Sol piauiense, cumpriu a sua meta, superou todos os obstáculos, com sete livros publicados incontáveis artigos publicados em revistas internacionais,  prêmios de alto valor, disse-me com o ar de tristeza, ele que nasceu numa cidade de batalhas tantas e cores inúmeras, que hoje a sua integração em grupo é só da igreja, "a política muito me decepcionou!" 


"Sou membro da International Headache Society(Sociedade Internacional de Cefaleia), em Londres.

Reviso artigos científicos para as principais revistas da Europa e EUA.

Ganhei o prêmio do Melhor Artigo, publicado na América Latina.

Alguns meses antes da pandemia, recebi um convite para estágio de Pós-Doutoral, em Cambridge, na Universidade de Harvard(sonho adiado pela pandemia).

Há alguns meses, convite da Editora Springer para escrever um livro sobre cefaleia.  Esta Editora distribui os seus livros em todos os Continentes. Aceitei o convite e o livro está na fase de correção. Terei como coautora a Dra. Dagny Holle-Lee, uma renomada Neurologista da Universidade de Essen, na Alemanha", disse-me. 


Ele também trabalha na Universidade do Delta do Parnaíba, como Professor, Doutor Adjunto de Neurologia, na graduação em medicina, atuando no ensino, pesquisa e extensão; Professor Doutor Permanente na Pós-Graduação em Ciências Biomédicas, como orientador do curso de mestrado. Médico Neurologista Especialista em Cefaleia (Cefaliatra), na Clínica Neurocefaleia,  em Teresina, a primeira clínica do Norte e Nordeste do Brasil, especializada no diagnóstico e tratamento das cefaleias. 


Para um jovem que ajudava o pai, como carroceiro, e completava a renda da família, vendendo dindin e frutas, que em 08 de abril 1989 enviou-me uma poesia, em que versava sobre um amor platônico, quanto crescimento! Quantas vitórias!

Ele merece um olhar, que não lhe leve a um furtivo sorriso platônico.  

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

AS RODAS DE SÃO GONÇALO

Imagens pescadas no Google


AS RODAS DE SÃO GONÇALO


Elmar Carvalho


Recebi a visita do professor Alexandre Costa. Fazia meses que não o via. Estava feliz, porque fora eleito delegado de Regeneração em um congresso cultural e porque irá cursar mais uma especialização. Lembrei-lhe que, desde que assumi a Comarca de Regeneração, tanto para pessoas com interesse cultural, como nos eventos culturais de que tenho participado, venho defendendo a ideia de que o município deve restaurar os folguedos das danças e cantigas de São Gonçalo.

Tenho dito que, bem ou mal, o folguedo bumba meu boi vem sendo preservado, tanto na capital como em vários municípios do estado. Defendo que em terras gonçalinas, mormente em Regeneração, cuja matriz foi erigida sob a invocação desse santo alegre, violeiro e festeiro, o grande diferencial seria o cultivo das rodas de São Gonçalo, que outrora eram praticadas em vários municípios.

Já observei que Amarante, situada a dezoito quilômetros de Regeneração, vem preservando as suas tradições, a sua cultura e os seus folguedos, como a dança do cavalo piancó, as danças portuguesas, o seu patrimônio arquitetônico, que é um dos mais ricos do Piauí, o cultivo do poeta maior Da Costa e Silva e da literatura amarantina.

O professor Alexandre revelou-me que, para minha satisfação, a comunidade de Morro Branco vem realizando as rodas de São Gonçalo, e que, de uniforme novo, patrocinado pelo município, fez bela apresentação no dia 2 de dezembro passado. Contou-me que o Ponto de Cultura de Regeneração, dirigido pelas Irmãs Franciscanas, conseguiu aprovar o projeto “Fulô de Piqui”, que contempla, entre outras metas, o apoio e incentivo a esse grupo gonçalino de Morro Branco, para que a dança e as cantigas de São Gonçalo voltem a ter a pujança que já tiverem no passado.

E isso fará jus à história da Vila de São Gonçalo da Regeneração, outrora habitada pelos índios gueguês e acoroás, que tanto gostavam de cantar e dançar, como igualmente gostava o padroeiro São Gonçalo, conquanto para finalidades pias. 

4 de março de 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Pecado que não cometi




Pecado que não cometi


Carlos Rubem 


Nesta data em que assinala o nascimento de Cristo da Palestina — 25.12.2021 — como diria o lunático Geraldo Sá, acordei tarde. Na noite anterior, participei da ceia natalina na casa do vovô Joel. Muita reza e comilança. A petizada brincou pra valer!


Feita as abluções diárias, tomei meu café, ainda sonolento. Pelas 11h, dirigi-me à casa do meu avô paterno, Natu Reis, situada no coração de Oeiras, isto é, na Praça das Vitórias, donde se descortina evocativo cenário colonial.


Lá, encontrei as minhas irmãs Ceiça e Amada que foram visitar a tia Dóris, solteirona. A prima Darinha se fazia presente. Caiu um chuvinha mansa, fazia um friozinho gostoso. Afloram muitas lembranças familiares. 


Então, relatei um fato que me marcou para sempre, adiante exposto.


Natal de 1965. Os meus avós maternos passavam temporada na Casa-de-Fazenda Canela, encravada, hoje, no perímetro urbano. Quando pulei da rede, vi os presentes que Papai Noel me trouxe. Fiquei exultante!


Num quarto contíguo havia uma bicicleta que a mana Amada ganhou. Apesar das rodinhas laterais, ela não se aprumava neste veículo.


Sem que ninguém notasse, montei-me na bicicleta. Rumei-me ao centro da cidade. Passei na residência dos meus pais localizada na Rua da Feira. Estive na Igreja da Conceição onde era celebrada uma missa. Permiti que meninos do me tope desse umas voltinhas.


Depois, fui à casa do vovô Natu. Ao estacar defronte à calçada, a tia Dóris, deduzindo apressadamente, veio me parabenizar pelo presente que havia sido contempla.Nada lhe disse, porém. No fundo, queria que fosse verdade.


À tardinha, o meu pai, Ditinho Reis, como de praxe, usando um terno de linho branco, foi fazer parte da tradicional roda com seus irmãos, também enfatiotados, e demais familiares, na casa de seus pais. E ficou sabendo que eu teria dito que aquela bicicleta era minha.


Carrancudo, muito severo, à noite daquele dia, papai apareceu na Casa do Canela. Chamou-me às falas. Asseverei-lhe que não havia dito que a bicicleta a mim pertencia. Não acreditou. Aplicou-me três lapadas de palmatórias em cada mão. Pisa conversada para que nunca invejasse brinquedos das outras crianças.


Tudo se deu pela atrapalhação da tia Dóris. Nunca me esqueci desta injustiça sofrida. Por outro lado, não sou afeito ao pecado da cobiça!   

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

ENTREVISTA AO NEUROLOGISTA SILVA NETO



ENTREVISTA AO NEUROLOGISTA SILVA NETO 


Entrevista concedida ao jornalista Wilton Porto


1. Nome completo?


Raimundo Pereira da Silva Néto


2. Idade?


55 anos


3. Formação/Profissão?


Médico Neurologista


4. Local de nascimento?


Nascido no povoado Várzea, no município de Esperantina-PI, no dia 9 de julho de 1966.


5. Locais onde atua?


Trabalha na Universidade Federal do Delta do Parnaíba, em Parnaíba-PI, como Professor; Doutor Adjunto de Neurologia, na graduação em medicina, atuando no ensino, pesquisa e extensão; e Professor Doutor Permanente na Pós-Graduação em Ciências Biomédicas, como orientador do curso de mestrado. Além disso, atua como Médico Neurologista Especialista em Cefaleia (Cefaliatra), na Clínica Neurocefaleia, em Teresina, a primeira clínica do Norte e Nordeste do Brasil, especializada no diagnóstico e tratamento das cefaleias.


6. Universidades de formação?


Graduação em Medicina na Universidade Federal do Piauí e Pós-Graduação na Universidade Federal de Pernambuco (Mestrado e Doutorado) e Universidade Federal do Piauí (Pós-Doutorado).


7. Cursos mais importantes?


 diplomado

Em 1995. Concluiu o curso de Medicina (UFPI, Teresina); em 1998, a Residência Médica em Pediatria (Hospital da Restauração, Recife); em 2001, a Residência Médica em Neurologia (Hospital da Restauração, Recife); em 2002, a Especialização em Cefaleia (São Paulo); em 2012, o Mestrado em Neurologia

(UFPE); em 2016, o Doutorado em Neurologia (UFPE); e em 2021, o Pós- Doutorado em Ciências Farmacêuticas (UFPI).


8. Áreas que mais atua nas formações?


Atua, quase que exclusivamente, na área das Cefaleias.


9. Por que a cefaleia é uma doença de tanta ação no Brasil?


A cefaleia é a principal queixa da humanidade e um dos sintomas de mais de 300 doenças. Ela pode ser secundária a qualquer doença, mas pode ser primária, sendo gerada pelo próprio cérebro e caracterizando-se por ser a própria, como, por exemplo, a migrânea (conhecida, popularmente, como enxaqueca).

A enxaqueca acomete, aproximadamente, 15% dos brasileiros. Dos 100% dos sofredores de enxaqueca, apenas 5% são acompanhados por especialistas. O não tratamento torna a enxaqueca como a doença que mais ocasiona dias perdidos (aquele dia que você não viveu). Segundo a OMS, a enxaqueca é a segunda doença mais incapacitante.

No Brasil, temos a Sociedade Brasileira de Cefaleia que promove ações de capacitação médica e conscientização da população.


10. Somos um país de muitos acidentes e povo displicente no uso de cinto de segurança e capacete. Temos uma medicina preparada para evitar tantos traumas?


Infelizmente não. Antes da pandemia da Covid-19 (quando o Brasil divulgava dados epidemiológicos de outras doenças), os acidentes de trânsitos eram responsáveis pela ocupação de 90% dos leitos das emergências. Acredito que são necessárias medidas mais  rígidas, de conscientização e punição.


11. Brasileiro gosta de farmácia e não de médico. Existem 300 tipos de dor de cabeça. Acho que se trabalha com menos de 10 por cento. Quais os risco de sermos nossos próprios médicos?


A Classificação Internacional das Cefaleias (International Classification of Headache Disorders, Third Edition – ICHD-3) confirma a existência de mais de 300 tipos diferentes de dores de cabeça. A imensa maioria não é tratada. Esses sofredores, por diversas razões, recorrem à automedicação, sem noção dos seus riscos. Há vários riscos de sermos nossos próprios médicos, dentre eles, o desenvolvimento de uma cefaleia denominada “cefaleia por uso excessivo de analgésicos”. O analgésico em excesso (mais de 2 comprimidos por semana, por mais de 3 meses) causa o efeito contrário. Mas há riscos mais graves, como as lesões gástricas (hemorragia digestiva) ou insuficiência renal.


12. Quais seus enfrentamentos para ser um médico de destaque internacional?


Nos últimos 25 anos, tenho me dedicado à ciência, sem nenhum apoio institucional. Tudo o que consegui foi às custas de meus próprios méritos. Muitas vezes, gasto do meu próprio dinheiro para pagar as pesquisas (nunca recebi ajuda financeira). Participo de congressos médicos para atualização de conhecimentos, também sem ajuda. Minhas publicações me projetaram internacionalmente.


13. Hoje, o Sr. é mais conhecido no exterior do que no Brasil. Onde está a falha?


Primeiro, a imensa maioria dos médicos brasileiros não se atualiza. Se eu escrevo um artigo científico em português, poucos leem. Por isso, passei a escrever em inglês. Lá fora, meus artigos são lidos e citados.

Segundo, a não valorização da prata da casa. Aqui, se valoriza o que é de fora. Por exemplo, muitos piauienses, principalmente os mais abastados, vão a São Paulo para tratar suas dores de cabeça. Mas chegando lá, o médico que os atende me conhece e os manda de volta ao Piauí.

Terceiro, a maldita politização de tudo. Vou citar dois exemplos. Em 2018, fui convidado para um entrevista na TV Globo, no Jornal Nacional, mas alguém me cancelou. Em 2020, eu concorri ao Prêmio de Melhor Artigo Científico publicados nos EUA, um feito nunca conseguido antes por um brasileiro, e fiquei em 5o lugar. Naquele mesmo ano, ganhei um Prêmio no México pela melhor pesquisa em cefaleia na América Latina (pesquisa que foi realizada em Parnaíba). Isso mereceria um destaque na mídia piauiense? Eu acredito que sim. Isso seria bom para o Piauí. Gravei uma entrevista para uma TV no Piauí, mas cancelaram minha entrevista porque votei em um candidato que a TV não gosta.


14. Quantos livros publicados e o valor deles dentro da medicina mundial. São estudados?

 Aplicados?


Já publiquei 7 livros que se encontram em todas as universidade brasileiras e, em algumas delas, esses livros são adotados como livros textos. Mas a nível mundial, meus livros circulam por alguns países do mundo. No início do próximo ano, publicarei mais um livro pela Editora Springer, uma editora internacional e terei uma médica alemã como coautora.


15. Consideraçõesfinais...


Apesar de eu ser mais conhecido no exterior do que no meu país, isso não muda minha rotina, nem minhas amizades. Continuo aquela mesma pessoa humilde que veio de Esperantina. Sou um pesquisador que trabalha sempre pensando em ajudar as pessoas, independe do reconhecimento.

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Li uma Entrevista, em que, Silva Neto cresceu enfrentando imensas dificuldades. Até lembrei de mim, que quando criança, vendi tojolinhos de doce de leite e engraxei sapatos.

Silva Neto também foi um vendedor ambulante.

Se a fome bateu muitas vezes, com ele não foi diferente.

Aquele menino ousado, que quebrou todos os tijolos, que nadou em rios poluidos, que pulou muralhas e se machucou em pedras, ainda assim, foi grande destaque  nas escolas, hoje, é o Neurologista de nível internacional, com a mesma tenacidade, com sublime humildade.

Tenho que tirar o chapéu, aplaudir,  dizer-lhe que, muitos passaram por isso e se não tiveram o brilho reconhecido na Terra, nos Céus a tocha é elevada.

Estamos a dois dias do Natal. Cristo é o nosso maior exemplo.

O pão que um dia nos faltou; se o reconhecimento não nos veio na Terra, no Alto Escalão Celeste há um Livro com tudo registrado com letras garrafais e douradas.  

domingo, 26 de dezembro de 2021

MÚSICA VIVA

Fonte: Google

 

MÚSICA VIVA


Elmar Carvalho

 

Passarinhos cantando

saltitavam e dançavam

sobre os fios elétricos

– pássaros ou dedos sobre cordas

de violinos, violas ou violões –

eletrocutando corações.

Aladas notas vivas

fazendo acrobacias e coreografias

sobre as paralelas da pauta.

O vento que passava fazia

coro e uma música celeste

se evolava.

sábado, 25 de dezembro de 2021

MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA


 

MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA

 

Antonio Gallas Pimentel

Jornalista, poeta e escritor

 

"É uma casa portuguesa com certeza

É com certeza uma casa portuguesa"

(Refrão de uma famosa canção portuguesa difundida no mundo todo na voz de Amália Rodrigues e de outros cantores de fado das terras d'além mar).

 

             Manhã de sábado,  18 de dezembro deste ano de 2021. Recebo comunicado de que dr. Roberto Cajubá,  meu confrade da Academia Parnaibana de Letras estaria em minha residência,  à minha procura. Por conta de um problema de saúde que me havia apresentado na madrugada do dia anterior tive dificuldades em sair da cama de imediato para ir ao seu encontro. Pedi que abrissem o portão e que o mandassem entrar,  enquanto eu me arrumaria para recebê-lo,  como assim manda a etiqueta social.  Porém,  neste momento minha esposa  entrega-me uma sacolinha amarela com um livro dentro e disse-me que no livro algo estaria relacionado à minha pessoa.

 

                            Alegrei-me evidentemente, fiquei feliz pelo gesto, pela consideração do amigo confrade em me prestigiar e trazer à minha residência um livro escrito por sua esposa Maria Tereza, filha de um ilustre cidadão português que muito contribuiu, com sua verve, com os seus conhecimentos,  para a educação brasileira, especialmente para a educação parnaibana - professor Eduardo Augusto Lopes, de saudosa memória.

 

                 Imediatamente iniciei a leitura do referido livro,  e, ao chegar à página 50, deparei-me com trechos de uma crônica feita por mim e lida nos microfones da Rádio Educadora de Parnaíba, por Reginaldo Mendes ou Gilvan Barbosa, não lembro agora, no Programa "Rádio Repórter Educadora" dirigido pelo também saudoso Jornalista Batista Leão, e  na sequência final, "A Crônica da Cidade" lamentando o trágico acontecimento ao ilustre mestre da educação parnaibana naquela fatídica tarde de 16 de setembro de 1975.

 

                         O fato de ver, no presente livro,  a citação e reprodução trechos  de minha crônica, escrita e publicada há 46 anos, deixou-me surpreso, emocionado e ao mesmo tempo trouxe-me um alívio para as dores que sentia, tanto assim que, enquanto dedicava-me à leitura  do livro, esquecia a angustia e o sofrimento que me causavam a crise de saúde pela qual passava naquele momento.

                                Também, o poeta V. de Araújo e o Jornalista Rubem Freitas que  manisfestaram seu pesar através da imprensa, mais especificamente através do Jornal "Folha do Litoral" estão citados na obra.

                                  Tive o prazer de trabalhar com o professor Eduardo e dona Oneide no Colégio  Édson Cunha. Eu, professor de Língua Inglesa, ele, Superintendente do Complexo Escolar Regional Parnaíba I  e a professora Oneide como coordenadora da disciplinas de Estudos Sociais. Fui professor de dois do seus filhos: Luiz Augusto funcionário aposentado do Banco do Nordeste do Brasil  e Eduardo Augusto,  conceituado médico otorrinolaringologista. 

                                  Aprendi com o professor Eduardo que as tristezas devem ser esquecidas e que devemos tocar a vida com alegria, pois ele era uma pessoa bastante alegre,  como citei no início da crônica que fiz em sua homenagem: "possuía, o professor Eduardo, por sua maneira alegre e agradável, um grande número de amigos nesta cidade, e todos gostávamos de sua presença. Onde quer que estivesse o ambiente tornava-se alegre".

                              O livro "Minha Família Portuguesa" muito bem escrito por Maria Tereza de Melo Lopes Cajubá de Britto, mostra a árvore genealógica de seus parentes portugueses pelo lado paterno,  bem assim narra,  de uma forma que torna a leitura agradável, a história de uma família humilde, determinada que soube vencer com galhardia as intempéries da vida e galgar lugar de destaque não apenas na Europa mas em países do outro lado do atlântico como o Brasil, com particularidade Parnaíba,  cidade na qual, descendentes da família destacam-se na sociedade local,  principalmente no ramo da medicina e odontologia.

"O tempo é passageiro e tudo isso um dia será só saudade e lembranças, mas, a melhor parte é poder contar para meus filhos e sobrinhos que essa é a MINHA FAMÍLIA PORTUGUESA", finaliza a autora.

                                   Talvez tenha sido eu um dos primeiros a ler "Minha Família Portuguesa" de  Maria Tereza de Melo Lopes Cajubá de Britto, livro que desde o dia em que o recebi passou a ter um lugar de destaque em  minha ESTANTE DE LIVROS. Agradeço ao confrade Roberto Cajubá pela consideração e por haver me proporcionado uma leitura agradável e rica em conteúdos sobre uma família nobre das  "terras d'além Mar", da qual, sua esposa, a autora, é descendente.       

Fonte: Blog do Professor Gallas

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Uma certa lembrança de Natal

Fonte: Google

 

Uma certa lembrança de Natal


Elmar Carvalho

 

Um amigo me solicitou fizesse um texto sobre um certo aspecto do Natal. Tentei atender esse velho amigo. Mas não consegui. Me faltou jeito, talento, engenho e arte, e até a memória não me foi propícia. Não me lembrei de certos detalhes e não me veio à mente nada que eu considerasse relevante para um texto literário.

O que me veio à memória, com muita insistência, foi a lembrança de um presépio humilde, como a gruta em que Jesus nasceu, feito de papel, que meus pais montaram em minha infância. O abrigo e as figuras eram recortadas e pintadas, e deveriam ser montadas e grudadas no local indicado do piso.

Ali estavam os hieráticos reis magos – Gaspar, Baltazar e Melchior – com os seus presentes, os humildes pastores, o anjo com sua trombeta, a estrela e alguns animais, como ovelhas, um camelo e um burro. José e Maria, a sagrada família, se postavam ao redor do berço do menino Jesus, em atitude acolhedora e de adoração.

Porém o mais importante era a devoção e o respeito de meus pais para com a sagrada família, o modo como eles falavam do nascimento de Jesus. Não havia preocupação com comidas, presentes e muito menos bebida. O simbolismo religioso daquele simples presépio de papel cartonado é o que importava.

Para lhe dar maior beleza, minha mãe lhe adicionou um espelho com areia ao redor, para simular uma pequenina lagoa, e plantou numa lata sementes de arroz, cujas plantinhas, tenras e muito verdes, simulavam capim. Ainda hoje não esqueço o lindo verde daquele pequenino arrozal, que encheu de vida, graça e beleza o humilde (humilde como o verdadeiro) presépio de meus pais.

Esse presépio, que não me sai da memória, ainda foi montado, creio, mais duas ou três vezes, e se perdeu amarrotado em algum desvão do tempo, e meus pais agora são saudade, encantados na celestial eternidade. É a lembrança desse presépio de papel e a doce saudade de meus pais, que me punge a alma neste instante de suave melancolia.

E isso me traz à lembrança um tempo em que eu acreditava no papai Noel. Será se eu ainda acredito no bom velhinho? Talvez. Porque eu ainda acredito que este nosso mundo será um mundo melhor, com pessoas melhores. E essa crença é o meu melhor presente de Natal.   

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A São João dos velhos tempos

Fonte: Google


A São João dos velhos tempos


João Libório


Era bem simples a nossa cidadezinha, porém bem bonitinha. Os quarteirões quadradinhos, e as ruas tão retas que até podíamos ver as duas extremidades.

Eram somente três ruas. A Rua Grande, onde morávamos, era a principal e parecia não ter fim quando com nossas perninhas infantis precisávamos ir ao outro lado, geralmente a mando de algum adulto. No meio dela, se localizava a pracinha, que também servia de divisória entre o lado de cima e o lado de baixo, toda de mosaicos, com passeios sinuosos sempre ladeados por fileiras de boas-noites e bons-dias, e que às tardinhas nós passeávamos animadamente com velocípedes, sempre disputando corridas com outros meninos.

Sempre faltava luz elétrica, pois o velho motor diesel geralmente se encontrava com defeito, e que por isso, tão logo anoitecia, os mais velhos sentavam-se às calçadas para infindáveis conversas com os vizinhos, e nós, os meninos, saíamos à rua, ainda descalça, para nossas brincadeiras típicas de meninos do interior que não tinham outra coisa para fazer senão brincar de esconde-esconde, adivinhações ou contar estórias, enquanto as meninas brincavam, com muita gritaria, de “bola envenenada”, ou cantando em uníssono, bem afinadas, lindas canções de rodas, que devido ao silêncio se ouvia de muito distante.

Também não havia água encanada, mas no nosso quintal havia um poço cacimbão, com água salobra, que supria nossas necessidades e que também serviu para demonstrar mais tarde, que eu estava crescendo, pois já conseguia girar o grande carretel que puxava o balde e ajudar na tarefa de encher os potes e reservatórios de água da casa. Para nossa alegria água para beber íamos buscar em cacimbas no rio, (Beco do Potão) momento que aproveitávamos para tomar banho e passar grande parte do tempo brincando na areia, fazendo castelos, casas e os nossos próprios sonhos.

E assim fomos crescendo, juntamente com nossa pequena cidade, que hoje tem muitas ruas, todas calçadas, muitas praças, muitos carros, muita gente, mas que também, assim como nós, deve sentir saudades do sossego e da paz dos velhos tempos.

Teresina (PI) novembro/01.