sexta-feira, 13 de março de 2015

Itamar e Simão Teles Bacellar


Carlos Said
Jornal Meio Norte
Edição do dia 13/032015

     O conceituado medico José Itamar Abreu Costa (Cruzeiro , município de Altos, Piauí). Cardiologista conhecido como "doutor do coração" presidente da Academia Longaense de Letras, Cultura, História e Ecologia -ALLCHE-colocou em versos a maestria do  atleta SIMA, o popular Simão Teles Bacellar, o maior goleador da história do futebol do Piauí, pai de LUCAS, filhote tentando seguir os passos do inigualável genitor. Ademais , é a procura  de divulgar nomes de importantes piauienses brilhando nas mais diversas áreas do conhecimento humano.

Doutor Itamar, como é mais conhecido no ITACOR, hospital que dirige com zelo e eficácia profissional, discorreu respeitosamente sobre  a vida do atleta e, por contingência do destino, colocou em evidência a simbologia  do apelido SIMA, no cenário  esportivo atual:

I

"'E bom saber, Sima 67 anos para completar,/
Tem o continuado desejo para divulgar:/
Da Costa e Silva, Toinho, Petrônio, Torquato Neto.../
E tantos outros com extraordinário, afeto.

II

"Simão Teles Bacelar, amigo do João de Deus e Ismar,/
Na AABB, tocando a bola, goleador precioso,/
Em Magníficos passes  amigos para amar/
Nada envaidecido, sempre atencioso.

III

"Por onde passou, Brasil inteiro conheceu,/
O artilheiro de gols espetaculares./
Sima do Piauí, ainda ofereceu.

IV

"Disciplina e educação, jóias oficiais/
Nos diversos esportes populares/
Tão prejudicados nos dias atuais".    

quinta-feira, 12 de março de 2015

CIDADÃ AMARANTINA DEIXA MARCANTE HISTÓRIA

Bizinha em solenidade da Academia de Letras do Médio Parnaíba

CIDADÃ AMARANTINA DEIXA MARCANTE HISTÓRIA

Luís Alberto Soares (Bebeto)

     EMÍLIA DA PAIXÃO COSTA, a popular BIZINHA, nasceu em 22-05-1929, cidade de Regeneração (PI) e há mais de 60 anos residia em Amarante onde recebeu o título de cidadã amarantina. Faleceu em 10-03-2015 (Teresina). Sepultada no Cemitério de São Gonçalo (Amarante). Era tetraneta materno de Jozé da Costa Veloso que foi detentor da Carta de Data e Sesmaria das terras da então Vila de São Gonçalo de Amarante e Freguesia do Porto. Escritora, poeta e historiadora de primeira categoria; acadêmica da Academia de Letras do Médio Parnaíba. Portadora de um riquíssimo acervo cultural. Gostava de estender a mão amiga.  

     Solidária, generosa e sempre presente nos grandes acontecimentos que envolvem Amarante. Convidada especial para palestras, seminários e outros encontros cultuais e educacionais. Era uma apaixonada pela história popular e intelectual do povo amarantino. Escritora renomada no Piauí e estava prestes a lançar seu novo livro; vereadora e prefeita de Amarante (1977 a 1983). Bateu recorde em trabalho. Criou a Banda Nova Euterpe Amarantina, Os Geniais (Carlos Gomes) e Os Naturais; instituiu os símbolos municipais de Amarante e da Ordem do Mérito da Saudade; construiu o Jardim Velho Monge, o Largo da Saudade e várias ruas, avenidas e postos de Saúde.

      Vale esclarecer que a memorável Bizinha tinha uma missão na terra: frequentar a todos os velórios ao seu alcance. Não se sabe ao certo: uns, atribuem promessa, outros, cumprimento de humanidade e dos mandamentos de Deus. Ela ficava muito sentida por não saber de gente falecida, não importava a distância do velório. Bizinha era prestativa nos momentos ruins de nossos semelhantes, especialmente na solidariedade com as famílias de enfermos e mortos. Ela não dava importância para quem lhe chama de Papa Defunto, “Veloreira” e “Difunteira”. O que se sabe também é que a inesquecível Bizinha era uma mulher corajosa. Recentemente, na sua residência (Amarante), ela matou várias cobras (Jararaca do rabo de osso), com seu próprio bastão.

Amarante (PI), 12-03-2015  

quarta-feira, 11 de março de 2015

À espera do amor


À  espera do amor

Neide Moscoso

Na paz dos  lençóis
com um pouco
de preguiça
na intimidade do
quarto de dormir
faço uma prece
pra ver se você volta
e fica pertinho
de mim
na mansidão da
espera
transbordo um amor
sem danos
num jeito quieto de
te apaziguar
transito no silêncio
te isento da demora
do regresso
no palco desse
suntuoso preparo
te bendigo
és muito bem vindo     

terça-feira, 10 de março de 2015

Café Literário - Demétrios Galvão & Luiz Vilela


Belchior: Por causa de vocês


Belchior: Por causa de vocês

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

             A galera leva jeito. Meio a tanta mediocridade musical e poética, uma legião de jovens se encanta com lirismo de primeira. A produção artística rasteja entre o inútil e a vulgaridade amorosa. Estudantes recorrem aos antigos arquivos musicais, árduos de encontrar uma casta de bons vinhos da música, diante da calamidade de criação atual.

Frequentemente, recebo e-mails relatando prazerosas experiências com músicas de qualidade. Solicitam-me opinião. Ou quando me encontram na praça de alimentação do Teresina Shopping, solicitam-me dicas.

Aconteceu na última sexta, noite, enquanto bebericava taça de vinho. Jovem universitária sentou-se à minha mesa e me pediu para ler e comentar o poema-música de Belchior, SANGUE LATINO, produção de 1976, em pleno regime militar. A estudante atendia a uma tarefa de seu professor de comunicação, que exigia análise do sentimento de protesto contido nas entrelinhas da música de enorme sucesso na época.

Primeiramente, contei minha convivência com Belchior, colega de seminário dos capuchinhos, em Messejana, perto de Fortaleza. Passara no vestibular para medicina aos 16 anos, mas teve que aguardar maioridade para se matricular. A convite de Frei Higino, internou-se, nesse período de espera, no seminário. Rara inteligência, Belchior destacava-se no grupo pelo talento literário. Convidou-me para passar um dia com a sua família. Abandonou o curso de medicina e se entregou à carreira musical. Hoje, travessa cruel momento, peregrinando fora do Brasil, procurado pela Justiça, acusado de dívidas trabalhistas, diárias de hotéis, pensão de ex-esposa e quatro filhos, fisicamente bastante envelhecido. Banco famoso convidou-o para retornar à brilhante carreira musical, prometendo-lhe pagar as dívidas, em troca de publicidade. Recusou peremptoriamente. Na verdade, o espírito franciscano continua imerso no despojado artista, conhecido pela generosidade com os necessitados.

Depois de conhecer um pouco da trajetória de Belchior, a estudante interessou-se pelo texto: “Eu sou apenas um rapaz/Latino-Americano/Sem dinheiro no banco/Sem parentes importantes/E vindo do interior/Mas trago de cabeça/Uma canção do rádio/Em que um antigo/Compositor baiano/Me dizia/Tudo é divino/Tudo é maravilhoso/... E não tenho um amigo sequer/Que ainda acredite nisso, não/Tudo muda!/E com toda razão/Mas sei/Que tudo é proibido/Aliás, eu queria dizer/Que tudo é permitido/... Tenho um compromisso
E não posso faltar/ Por causa de vocês/ Mas se depois de cantar/Você ainda quiser me atirar/Mate-me logo! ...” O texto foi reduzido, por economia de espaço. Ressalta o sentimento de protesto durante a ditadura, que proibida qualquer manifestação crítica ao regime militar. Observe o temor velado ao expressar o termo PROIBIDO, já motivo de afronta ao Poder. A criação artística driblava a censura com recursos estilísticos. Neste caso, o tratamento VOCÊ(S) aponta para os militares, bem como uma crítica velada a Caetano Veloso e demais baianos, românticos melosos, segundo o texto, alienados à causa social.


Em tempo de tanta aridez musical e de consciência crítica, professores e educadores precisam estimular os estudantes a extraírem o néctar da produção literária. Urgentemente.    

segunda-feira, 9 de março de 2015

Lançamento de "Confissões de um juiz"


O Pequeno


O Pequeno

Hélio Soares Pereira

É noite fria

de vento forte

e pequenas mãos

roxeadas

apertam os joelhos

contra a barriga vazia



E tenta adormecer

E tenta esquecer

a fome do dia



Não é casa

nem barraco

onde o pequeno

lavador de carro

dorme

como vagabundo



É debaixo do banco

da parada de ônibus

no abandono dos pais

na indiferença do mundo         

domingo, 8 de março de 2015

Seleta Piauiense - Ednólia Fontenele


Espaço livre

Ednólia Fontenele (1960)

Na poesia
não há espaço
para coisas
pequenas, fugazes.


Falemos pois
da fome do povo,
da miséria do trabalhador,
das injustiças,
das dificuldades dos menos
favorecidos.


Falemos da lama verde
que enche os olhos e bolsos
daquela gente de lá.


Na poesia
não há espaço
para coisas pequenas,
amores mesquinhos.


Falemos pois
dos homens que
cultivam espinhos,
escondem loucuras,
roubam sonhos,
colhem sangue
de toda gente!      

sexta-feira, 6 de março de 2015

“CONFISSÕES” ENTREGUES A DOM PEDRO

Iaiá, Dom Pedro e Lozinha

Dom Pedro Casaldáliga e Lozinha

6 de março   Diário Incontínuo

“CONFISSÕES” ENTREGUES A DOM PEDRO

Elmar Carvalho

Por solicitação de Fátima, enviei, através dos Correios, três exemplares de meu livro Confissões de um juiz, com destino a São Félix do Araguaia, todos aos cuidados de Lozinha, sua irmã, a quem um deles se destinava. Os dois outros foram oferecidos ao magistrado Francisco Rogério Barros, titular da Comarca de Rondonópolis, e ao bispo emérito de São Félix, Dom Pedro Casaldáliga, cujo trabalho social e de pregação sempre admirei, desde a minha juventude, como já tive ensejo de registrar neste diário.

Por whatsapp, Lozinha enviou fotografias em que registra o momento em que Dom Pedro recebia as minhas Confissões, ele que certamente deve ter lido e relido o verdadeiro monumento literário que são as Confissões de Santo Agostinho, um dos maiores teólogos da Igreja Católica. Encontrava-se presente a esse singelo, porém significativo acontecimento a Iaiá, filha de Lozinha.


Certamente a minha não tem a profundidade e visceralidade da obra confessional agostiniana. Contudo, devo admitir, procurei não faltar com a verdade, embora tenha omitido certos detalhes, especialmente alguns nomes, para não ferir a suscetibilidade de ninguém, assim como para evitar possível demanda judicial. Só me resta almejar que Dom Pedro Casaldáliga delas possa tirar algum proveito, ainda que tão-somente como simples entretenimento.

A saudável leitura dos gibis



A saudável leitura dos gibis

José Pedro Araújo (*)

Sem querer polemizar com ninguém, sobretudo com aqueles que acham que a leitura de revistas em quadrinhos mais atrapalha do ajuda a criançada, acredito fortemente que o gosto que tenho hoje pela leitura adveio das minhas revistinhas e livretos de aventura. Posso afiançar mesmo que gostava muito, e ainda gosto, pois continuo lendo todo e qualquer gibi que me cai nas mãos. Atrai-me o cheiro de tinta fresca que emana das publicações novas. Não dispenso um bom gibi, pois também evoca lembranças que permaneciam escondidas no mais recôndito espaço da minha memória. Hoje, a leitura de um bom livro tem uma importância fundamental na minha vida. Eu diria até que é a minha principal forma de diversão. É através deles que faço viagens memoráveis pelo mundo inteiro sem sair da poltrona da minha sala. E a preços módicos. Por conseguinte, a boa leitura é uma viagem sem o cansaço e sem os custos das que fazemos quando visitamos outras regiões ou outros países. 

Tudo isso começou quando me deparei com a primeira revistinha do Pato Donald. Encantei-me com a história singela daquele estabanado bípede emplumado e suas peripécias incontáveis para ganhar o coração da sua amada, a charmosa pata Margarida. Depois vieram as revistas do Mickey e do Pateta, as do Zé Carioca e do Tio Patinhas. Com o tempo, avancei para as de Cowboy, editadas pela EBAL. Depois, misturei tudo. Vieram a do Zorro, o cavaleiro solitário (Não o de capa e espada, mas o Lone Ranger) e Tonto, David Crockett, Judas, Tarzan, Roy Rogers, Juvenil Mensal – com ídolos como Buck Jones, Tim Holt e Tom Mix. Também transitei por outras HQs como Nevada Kid, Chacal, Epopéia Tri, Durango Kid e, a principal delas, Tex Willer. Tex, aliás, é uma legenda. Revista italiana criada pelo roteirista Gian Luigi Bonelli e pelo desenhista Gallep, ainda hoje pode ser encontrada nas bancas. Existe em todo mundo uma verdadeira legião de leitores que não permitem que ela desapareça como aconteceu com a maioria dos quadrinhos que citamos atrás. Eu me incluo entre esses leitores que nas horas vagas relaxam da dureza da vida apreciando as correrias de Tex Willer, Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre, contra bandoleiros sanguinários e índios em pé de guerra.

Aventura também era conseguir alguma dessas revistas para ler. À falta de uma banca de revistas no nosso velho e querido Curador, recorríamos a parentes e amigos em viagem para Teresina, São Luís ou Fortaleza, para lhes pedir que comprasse para nós alguma das revistinhas de que mais gostávamos. Deixávamos de gastar os poucos trocados que conseguíamos juntar em outras coisas para poder ter em mãos um desses livretos mágicos que tanto nos encantava.

Para superar a falta de uma banca de revistas na cidade, um grupo de leitores organizou um sistema de trocas que funcionava maravilhosamente bem. Funcionava assim: Ao término da leitura de uma nova revista, partíamos em busca de algum colega para lhe propor uma troca por outra ainda não lida. Nesse sistema, as revistas nunca eram emprestadas, somente trocadas. Depois, lida aquela segunda revista, recorríamos a outro colega para trocá-la por outro exemplar inédito. E assim, a revista que havíamos comprado se transformava em várias outras, multiplicando o nosso suado dinheirinho. 

Desgosto maior mesmo somente quando sabíamos que alguma nova revista ia fazer parte da coleção que um leitor estava organizando. Ai, adeus! Era pouco provável que aquele exemplar viesse a ser movimentado na nossa rede de trocas. Os colecionadores não nos davam nenhuma chance de vir a ler aquela revista tão ansiada. 


Guardo boas recordações daqueles tempos. Ler uma revista em quadrinhos é um ato de profunda concentração. Concentração na história, concentração nos detalhes dos desenhos e, principalmente, concentração no desfecho da trama. São histórias simples e que não podem ser comparadas à de um bom romance, é bem verdade. Mas, elas têm o seu charme, a sua beleza plástica, pois engloba a criatividade do roteirista com a arte do desenhista. Talvez esteja na simplicidade e pureza da história, o seu maior chamariz, a sua principal atração. Todavia, e sem a mínima dúvida, está na afirmação do hábito da leitura a sua principal vantagem.          

(*) Servidor público federal, historiador e escritor.

quinta-feira, 5 de março de 2015

AS PIRIGUETES DO REGINALDO

Foto meramente ilustrativa

5 de março   Diário Incontínuo

AS PIRIGUETES DO REGINALDO

Elmar Carvalho

Não se sabe de onde elas vieram, mas um dia apareceram na Várzea do Simão, e o Reginaldo Silva prontamente as acolheu, e lhes criou grande estima. São duas cadelinhas vira-latas, e ninguém nunca pôde saber quem era seu antigo dono. Talvez, covardemente, tenham sido abandonadas por ele, que provavelmente seja residente em outra localidade da redondeza.

As pessoas, em seu espírito jocoso, logo lhes puseram o apelido de “piriguetes”. Os mais sensíveis e delicados hão de achar essa alcunha politicamente incorreta, porquanto elas são recatadas e nada promíscuas. O nome oficial delas, entretanto, é “Aparecidas”, que até o momento nunca “pegou”. São irmãs, muito semelhantes e amigas. E se bastam em sua convivência, e com a proteção e os cuidados do Reginaldo, que lhes provê alimento e outras providências.

Elas se “apropriaram” do sítio, e, à noite, defendem o território da aproximação de intrusos e desconhecidos. Durante o dia, principalmente em presença do dono, são dóceis e não costumam nem latir nem rosnar. Logo cheiram os pés dos novos conhecidos, em reconhecimento olfativo amigável.

Em certa tarde, eu e o Natim Freitas fomos até a beira do Parnaíba, para apreciarmos a paisagem do rio, das matas ciliares, das coroas e da ponte do Jandira, que se vê ao longe. Um pouco depois, quando o céu já começava a se colorir de tons avermelhados, as duas cadelinhas passaram à nossa frente, e seguiram a montante de onde nós estávamos, sentados nos bancos da Toca do Velho Monge.

Foram ao encontro de outra cachorrinha amiga delas e do mesmo tope, também vira-lata, algo parecida com elas. As três seguiram para o rio, num ponto em que ele é raso e arenoso. Tomaram banho, e começaram a brincar entre elas mesmas. Saltavam. Corriam uma atrás das outras. Fingiam se morder e se arranhar, enquanto saltitavam e volteavam.


Na hora melancólica do cair da tarde, em que a noite começa a tudo envolver em sua sombra, senti, comovido, que até certos bichos, ditos irracionais, sentem necessidade de se confraternizar e brincar, e parecem precisar da companhia de seu semelhante, sem agressões, sem ofensa, sem bullying. Em perfeita paz e inocência.   

quarta-feira, 4 de março de 2015

Agonia


Agonia

Neide Moscoso

às vezes
os dias são longos
choro às escondidas
entendimento agonizando
histórias que não têm fim
desperto dragões desde
a hora clara
entre paredes tão conhecidas
em meu ermo habitat    

terça-feira, 3 de março de 2015

Ideologia servil e consciência crítica saudável


Ideologia servil e consciência crítica saudável

José Maria Vasconcelos 
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Ando desencantado com a cultura atual de se engolir sem mastigar. Destaco, especialmente, ideologias que escravizam paixões sem freios da consciência crítica. Explico.

Ideologia, conjunto de ideias, doutrinas e visões de um indivíduo ou grupo para ações, principalmente políticas. Ideologia para convencer e impor uma doutrina, geralmente de discurso populista, demagógico, cuja retórica pode resvalar na força física e convulsão social. A ideologia exige lideres falantes, às vezes medíocres, donos de bordões e frases de efeito.

         O mundo vive uma babel de ideologias e paradigmas políticos, religiosos, filosóficos, fascistas, comunistas, capitalistas, anarquistas, nacionalistas, conservadores e modernistas. O filósofo alemão Karl Mark construiu sua ideologia baseada na aversão à classe burguesa (empresários, clero, governantes), dominadora e controladora da sociedade, no período da Revolução Industrial, que gerou mais lucros com as máquinas e segregou a classe proletária. Daí, meio passe para o comunismo (sistema de igualdade social), na Rússia e outros países. Depois, o fascismo alemão, entre outros países. A ideologia capitalista, surgida em países ricos, como Inglaterra e Estados Unidos, que visava à defesa dos lucros e riqueza. A ideologia democrática, defendida na Grécia antiga, ressurgiu nos iluministas da Revolução Francesa.

Jean-Paul Sartre, filósofo francês, marxista, encantava-me no tempo de estudante. Jovens dos anos 60-70 inspiravam-se no anarquismo e náusea à sociedade de consumo de Sartre. Nascia o movimento hippie, constituído de jovens burgueses, alienados. Vestiam toscas roupas, calçavam tamancos e chinelos rústicos, sobreviviam do artesanato primário, nas praças e avenidas, consumindo maconha, mas pacíficos, adeptos da contracultura e do Paz e Amor. Sartre recusou o prêmio Nobel de Literatura e distinções oficiais, arredio à furupa burguesa. Ainda me recordo de um de seus princípios: “O homem está condenado à liberdade”. “Ouro de Tolo”, canção do rebelde Raul Seixas, traduz bem o espírito hippie.

Grupos que defendem uma ideologia, frequentemente, tentam convencer outras pessoas a seguirem a mesma ideologia, provocando confrontos, conflitos de rua e de governos. Exige-se, portanto, prudência e sensatez na formação da consciência crítica: acompanhar fontes diversas da informação sobre ideologias que se pregam a toda hora, especialmente no meio político e na mídia. Analisar e filtrar o discurso e testemunhos de vida. Imprensa livre não vive arribada pelo governo. Partidários das ideologias doentias não toleram a imprensa livre, sempre alcunhada de venal, golpista, fascista e burguesa, bordões surrados da falange esquerdista. Elegem culpados para suas mazelas e interesses. O populista Hitler atribuiu aos prósperos judeus a mísera situação da Alemanha. As esquerdas, aos americanos. O petismo ao Fernando Henrique  e Cardoso.

Em momento de convulsão ideológica, devemos exercitar a consciência crítica, baseada no patrimônio de saberes que herdamos das gerações anteriores e que partilhamos com a comunidade de virtudes cristãs a que pertencemos.        

segunda-feira, 2 de março de 2015

Tempo de memórias em José Ribamar Garcia


Tempo de memórias em José Ribamar Garcia

Cunha e Silva Filho (*)
  
          Depois do sucesso de Filhos  da mãe  gentil (Litteris Editora, Rio de Janeiro,  2011),  e do bom  acolhimento, sobretudo no Piauí,   de Contos da minha  terra (Nova Aliança, Teresina, PI,    2012, 196 p.),o  contista, o romancista e cronista   piauiense  José Ribamar  Garcia lança seu mais recente  livro,  de título  enigmático com certo tom   lírico-metafórico, E depois, o  trem (Litteris Editora, Rio de Janeiro, 2015.166 p.).
       Desta vez,  não foi  buscar  sua  criatividade  nos gêneros  em que   mais  produziu sua  pena. Os tempos  passaram. Estamos  à altura dos quinze anos  do   século  21. O  autor   já provou que  tinha    fôlego  para  dar continuidade à sua vida literária,  aos  seus projetos de produção  em idade  mais  madura,  já tendo alcançado boas  décadas   de vida, quer dizer,  aquela  fase existencial que, segundo  o grande crítico  Álvaro Lins (1912-1970)  se encontra com  maior  equipamento    tanto   de experiência  acumulada   quanto   de domínio  da linguagem  para  uma   incursão  em  novo  gênero, o das  memórias,  gênero  de natureza  estrutural  algo  híbrida, porque  se aproxima   e se imbrica  com  outros  assemelhados em  alguns   pontos  comuns: a confissão,  a autobiografia, o diário.
        Essa espécie de forma  literária remonta  à literatura  egípcia antiga, penetrou em todas as literaturas   do Ocidente e, para simplificar,  no   domínio da  língua  portuguesa,   foi fértil em Portugal e tem  bons exemplos no  Brasil. Praticaram-na escritores   como Joaquim  Nabuco, Taunay,   Humberto de Campos, com as suas Memórias,  Memórias  inacabadas, que li  ainda em Teresina,   Medeiros de Albuquerque,    Álvaro  Moreyra,    Gilberto  Amado Graciliano  Ramos, Rodrigo  Otávio, Pedro Nava, entre  outros.
     A extensão  das memórias  varia  muito de  acordo com  o temperamento  do escritor, a sua disposição  para  narrá-las,   o seu estilo   de escolha  de fatos, lembranças  e acontecimentos  que mais se  lhe  insinuaram no  espírito.
     Os relatos   que se fixaram  em E depois, o trem, exigiram, a meu  ver,  do  autor   um  esforço  cuidadoso de seu  estilo   objetivo,   sintético,  ágil  conhecido  de quem  se acostumou  com  a sua   ficção vívida,  visual,  movimentada, traços  que  o distinguem como  um  escritor  que  constrói seu texto  com  a determinação,   no fundo  estilístico-composicional, de  não ultrapassar  em  excessos  de palavras, mas  armar   sua  exposição ou  o seu  relato  na justa medida   de precisão  fática, visual e estético-emotiva. 
  O memorialista   não  cansa o leitor,  não o enfastia  com   o que seja   dispensável. Sabe dosar o seu quinhão  de  reminiscências e vai  naquelas que  não poderiam  absolutamente  deixar  despercebidas  da história  de sua vida.  Por outras  palavras,   contenta o leitor com um texto   onde cabe tanto a emoção,   a tragédia  quanto   uma  boa dose de humor.
  A arrumação de suas  recordações,  gratas  ou  ingratas,  obedece  a um tempo  não-linear. De um parágrafo  a outro,  vem  o relato  de uma   fato  novo ou de uma   reflexão  que  lhe determinam, no  plano  literário,  a sua  visão de vida  dos homens,  dos fatos  e das  instituições.
    O que releva  considerar  numa   resenha  como  esta  são os  pontos  centrais  de suas memórias:  a  de dar conta   de sua vida  desde as mais remotas   lembranças  da infância  no seio da família: fala  de si como  criança  travessa e irrequieta,  mas viva  e observadora..
    Fala  do pai, seu  grande  ídolo,  fala de sua mãe,  a sempre amada   Dedé,  relata   sua  formação escolar em Teresina, fala de sua família  em geral,  de seus  antepassados mais  próximos,  da sua  mudança  para o Rio de Janeiro aos quatorze anos, de seu  ingresso na universidade  para cursar Direito, da sua formatura de estudante  universitário  pobre que nem dinheiro tinha para  pagar  as despesas  que lhe cabiam  para a colação  de grau.
      Alude aos seus muitos  percalços   vividos  por um adolescente  desejoso de conquistar o seu espaço com dignidade,   garra  e sabedoria na  cidade  do  Rio de Janeiro em tempos difíceis de ditadura  militar. Por sinal,  Garcia, como o autor desta resenha,   atravessou todo  o  período da ditadura, porém  ele, já como  estudante de Direito,  prestou  depoimento  a propósito do assassinato do  estudante  paraense  Edson Luís  Lima Souto, que causou  consternação nacional, ou seja,  o  memorialista  se tornou, assim,   parte da história  brasileira no que tange ao  incidente  da morte de Edson Luís Lima  Souto.
       O assassinato  desse jovem de  17 anos, após a invasão  policial  do restaurante de estudantes   secundários  e universitários  Calabouço, em fins de marco de 1968,  foi o ponto  alto das manifestações  estudantis  contra  a repressão da Ditadura Militar, culminando com  a chamada  passeata dos Cem mil pelo centro da cidade.   
      O memorialista  revela um dado  pouco  conhecido  sobre  o estudante  morto  por policiais. O jovem morto fora  transformado por gente da esquerda, conforme  anota o memorialista, em  “estudante”  meramente para  fins   de reforçar  a opinião  pública   de que um estudante  do  restaurante Calabouço  fora  covardemente   fuzilado  por um  policial. Cito as  palavras do  memorialista  a este respeito: “Quando viram  que o morto era o 'paraense,’ imediatamente preencheram uma ficha de inscrição do curso de Madureza com o nome dele, sem os dados pessoais, ignorados  até então.” (p.119). Garcia  presenciou  todo  o desenrolar daquele fatídico dia e ainda  prestara   declarações ao jornal  O Globo no ano de 1968. Na verdade,  declara  Garcia,  Edson  Luís era apenas um jovem  que frequentava  o Calabouço e ali fazia  “pequenos  biscates.”
   Faz referência a Caryl Chessman, escritor americano, condenado  à cadeira  elétrica e finalmente executado.   Na cela escreveu  alguns livros   que se tornaram famosos  na  época. A leitura  daquele autor, segundo  Garcia,  despertou  nele, no início da adolescência em Teresina,    a vontade de se tornar escritor.
    As memórias de Garcia são as de um  jovem que,  sem favor  algum,  foi  um vitorioso tanto  na profissão    que escolheu, a advocacia,  quanto  no campo da Literatura;  as duas  atividades que  o absorveram  sempre.
   Às vezes,  tenho a sensação de que não estou lendo apenas  as  lembranças   de Garcia, e sim o autor  ficcionalizando-as  em algumas  partes  do livro,  o qual tem   tantas  vinculações com o romance de formação, também chamado de Bildunsgroman ou Künstlerroman E, na realidade,  quem  conhece  sua  obra   publicada,   percebe  bem  que  nele a ficção  de alguns  livros   mantém  fortes liames    factuais  com  essas  memórias  ora   dadas ao  público e mesmo são por ele   próprio  reconhecidas  quando,  no final de seu  texto,  explica, à maneira  de  Manuel  Bandeira em  O Itinerário de Pasárgda,  os  objetivos  que o levaram  a  tematizar    situações  da vida  humana, o que vem  corroborar  o fato de que   o conjunto de sua obra  em parte  está  fortemente  associado  a   aspectos autobiográficos. Ora,  tais   subsídios  dados  pelo  próprio autor tem  grande significado  para o  crítico  literário, já que a  crítica   literária  nunca  esgota as suas  escavações  analíticas.
  O autor  se saiu  bem em duas vertentes de seu  percurso até hoje:  a)  relata  com  competência   a sua  caminhada  de   advogado e neste sentido  nos dá  informações  valiosas   quanto a suas atitudes e ao seu   dinamismo    de experiência advocatícia;b) narra  de  forma muitas vezes admirável   fatos de sua vida  pessoal e familiar. Não há quem  não se comova  com  as passagens em que fala  de  seus  pais, sobretudo de sua  mãe, a Dedé,  figura sempre  presente  e extremamente querida  e amada  por toda a família  Garcia.
    A passagem  da doença   que a acometeu e a levou  à morte  é um  texto de nobreza,    de amor,  de grandeza de um  filho  para com a mãe. Um trecho  de sua página dedicada  à narração das  últimas horas de sua  mãe, Dedé,  merece  a citação seguinte: “Nada tão pungente quanto  a expressão  nunca mais” (p.134).
    Garcia  é exemplo vivo  de  um filho extremado,    para quem   o amor à mãe só podemos  entender   no plano   altamente  espiritualizado. Para os irmãos, os    parentes em geral,  há sempre uma nota  de  sentimento de  solidariedade  e de amor. Dos seus filhos,   fala  como pai  superiormente  dedicado  -    uma espécie de pai que  todos   queríamos  ter   em vida.   Bom filho, pai  grandioso e   advogado   que, combinando  a vocação   do Direito com a da  Literatura,  se completa como  homem e individualidade.
     As  memórias  do autor fazem  convergir  vários  planos:  o existencial, o afetivo,   o da amizade, o da  generosidade, o da gratidão, o da coragem,  o da determinação  para  colimar   seus  projetos  de vida profissional  e literariamente.
   Vale a pena, para concluir   esta resenha,   constatar  um  fato:  estas memórias  testemunham a figura de um  homem  visceralmente  amante da vida,   entendida  em  suas múltiplas circunstâncias. O amor  à natureza,  às viagens,  à terra natal,  ao país, o amor  à vida em toda a sua  plenitude, contraditoriamente  não   por  crenças   religiosas. Que contradição! Define-se como não apegado  a credo  religioso, mas, por outro lado, para quem  o conhece com  maior   intimidade,  Garcia  é daqueles   homens  que  têm  um  profundo   sentimento   da emoção,  da beleza artística,  da  beleza moral  e é um  amigo  das  horas  dos desesperos, um solidário  com  o ser humano e,  para completar-lhe a figura  humana,  um   homem  de bem  que,  no entanto,  não    se dobra  às injustiças, sejam  individuais,   sejam  coletivas. 
   “E depois, o trem é uma obra  de lutas,    de  renúncias,  de  desejos   de  atingir  os valores mais   prezados   pela  humanidade: a liberdade,  a justiça, a felicidade  que  deveria  ter todo   ser que habita  o nosso  planeta.Um adendo:  na leitura  desta edição   identifiquei alguns senões  que escaparam à revisão, como,  por exemplo,  sinal da crase  onde não há necessidade.Louve-se  a beleza da capa e o bom  texto  da orelha assinado  por Antenor  Rego Filho  tanto quanto  o   pequeno e bem  redigido texto da contracapa


(*) Cunha e Silva Filho é crítico  literário e Pós-Doutor  em  Literatura  Comparada  pela UFRJ.

Lançamento do livro Finalmente concursado!


domingo, 1 de março de 2015

Seleta Piauiense - Rogério Newton


ATO

Rogério Newton (1959)


p                  a

lavra lavra lavra
lavra lavra lavra
lavra lavra lavra





com puta dor
escrevo prazer
na máquina de
escrever





minha alma
pátio de colégio abandonado
meninos jogam bola
andam de bicicleta
esquecem o tempo





sinal
vermelho
chicletes
olhar
giletes





não te queixes
pássaros têm signo
de peixes





cigarra


farpas de canto
na estaca da cerca





vagalume
na escuridão
me ascende





o vento age
na folhagem







no quadro negro
escrevo a giz
sou feliz





sinto que sou
sinto que vou
sinto que vôo





paciência
ímpar
ciência





que é tudo?
quietude





a b c d f g h i j k l m o p q r s t u v w x y z e n





meu corpo lateja
minha alma diz
assim seja





velho jardim
gotas de orvalho
na folha da taioba





as cidades devim ser
sempre pequeninas
como tuas mãos
nas minhas