terça-feira, 15 de novembro de 2016

O jeep do Curador

Foto meramente ilustrativa

O jeep do Curador

José Pedro de Araújo
Romancista, contista, cronista

Em um tempo em que as estradas de acesso ao velho e querido Curador não passavam de caminhos para uso da tropa de animais, o município ganhou um presente e tanto: um Jeep Willys novinho. Vou começar essa história bem do começo, para que fique mais clara e inteligível.

Em uma região conhecida como Japão, situada no centro do estado maranhense, uma florescente vila foi ganhando vida, se organizando, e logo mais já clamava por liberdade, desligando-se do município mãe, Barra do Corda, para escrever a sua própria história. Teria um futuro promissor por se situar em região estrategicamente bem localizada, por onde passavam muitos caminhos rumo a diversas partes do estado. E isso, aliado ao fato de possuir terras férteis e livres, fez a comunidade nascente se desenvolver rapidamente. Com o pomposo nome de Curador, uma homenagem ao velho morador que usava suas mezinhas feitas a partir de raízes e folhas de plantas nativas para curar enfermidades de muitos que por ali transitavam, galgou a posição de município em dezembro de 1943, mas somente em junho de 1944 aconteceu a tão ansiada solenidade de emancipação política. Dai ser esta a data escolhida para festejarmos o seu aniversário. Mas, essa parte da história todo o mundo já sabe, ou quase todo o mundo, e me detive nela apenas para dar fluência e extensão ao texto.

E eis que quando os maranhenses de outras bandas já iam se acostumando com o nome do novo município, Curador, a Assembleia Legislativa do Estado, através de uma proposta de Lei apresentada pelo deputado José Martins Dourado, muda-lhe o nome, ou altera o seu topônimo, como se diz tecnicamente, para Presidente Dutra. Eurico Gaspar Dutra, como todos também sabem, era o Presidente da República do Brasil, e acolheu o presente com muita alegria, afinal, seu nome passaria à posteridade e jamais seria esquecido.

Mas, ao que parece, a coisa não se deu de maneira tão bonita assim. O presente ofertado teve lá o seu custo, e importou em algumas retribuições por parte do homenageado. E tudo isso acontecia com a participação de Vitorino Freire, felpuda raposa que dominou a política estadual sem nunca ter sido governador. Vitorino havia retornado ao Maranhão tão logo Dutra assumiu a presidência e, instantaneamente, passou a articular politicamente o blocão que iria controlar a política estadual por décadas, até a tomada do poder por outro grupo hegemônico, a oligarquia Sarney.

Mas eu dizia que a mudança do topônimo do novo município teve um custo para o homenageado. Correu célere pelas ruas poeirentas da cidade, pelos becos, e até mesmo belos babaçuais que cercam a sede municipal, a notícia de que Vitorino Freire, com o apoio, ou a conivência, do Presidente da República, havia comprado a alteração do nome de Curador para Presidente Dutra. Bem, isso pode não ter acontecido exatamente dessa maneira, mas os tempos comportavam todo tipo de notícia, até mesmo as fantasiosas e, deste modo, a oposição ainda machucada com a derrota na eleição de Ariston Leda, passou a divulgar essas histórias como se verdadeiras fossem.

Verdadeira ou não, o certo mesmo é que o presidente da república, sensibilizado pelo gesto, presenteou o novo município com a destinação de verbas para a execução de obras de infraestrutura, especialmente para a construção do campo de aviação na nova cidade, no valor de 50.000 cruzeiros. Até mesmo o colégio das irmãs, por essa época enfrentando grandes dificuldades para a sua conclusão, foi presenteado também com uma verba de 50.000 cruzeiros. Essa notícia foi alardeada pelo jornal Diário de São Luís na sua edição do dia 20 de fevereiro de 1949. E não apenas isto, o município ganhou de presente também um Jeep Willys, de fabricação americana. Mas aí advieram novos problemas, novas histórias sobre a doação desse veículo que, em última análise, se constituiria no primeiro veículo automotor a pertencer ao município, e o primeiro também a pertencer à municipalidade.

O tal veículo, na verdade, foi uma doação da Cooperativa de Usineiros de Pernambuco, que congregava os produtores de açúcar, conforme se pode observar em uma série de telegramas trocados pela tal cooperativa, a presidência da república, e também o governador do estado, Sebastião Archer da Silva, com o prefeito eleito. Abaixo transcrevo um deles:

(Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco – Rio de Janeiro, Abril de 1949. Exmo. Senhor Presidente General Eurico Gaspar Dutra – Nesta.

Prezado Senhor Presidente,

Por intermédio do nosso amigo, Senador Vitorino Freire, tivemos ciência da criação do município “Presidente Dutra", no estado do Maranhão. Nós os usineiros de açúcar de Pernambuco, ficamos satisfeitos com tal manifestação do povo do Maranhão porque reconhecemos, solidários com os maranhenses, o quanto V. Excia. vem realizando em benefício da Nação em seu governo de Justiça, Ordem e Respeito. E desejosos de manifestar a nossa simpatia, pedimos licença a V. Excia para oferecer o automóvel “Jeep” cujos documentos de embarque anexamos a esta, com o objetivo de facilitar o transporte de utilidades para o novo município, concorrendo assim para o seu rápido progresso. E também veja V. Excia neste nosso oferecimento uma modesta homenagem que lhe prestamos como reconhecimento).

Deixo à análise dos leitores deste humilde texto, as razões para tão desprendida manifestação de uma entidade que, em ultimo caso, nada, ou pouco, tinha a ver com o estado maranhense. No mínimo um grande gesto de reconhecimento para com o esperto Vitorino Freire, tão pernambucano quanto a Cooperativa de usineiros. Mas, o fato é que o Jeep foi doado e há registro de que logo estava rodando sobranceiro por esses caminhos ermos e mais acostumados à pata das cavalgaduras do que propriamente aos pneus dos veículos automotores. E vem daí outras histórias que não me cabe aqui averiguar se são verdadeiras ou não. Noticio o fato apenas e tão somente como fato histórico, e para que também fique registrado nos anais do velho e bom Curador.

A oposição passou a divulgar que o veículo doado era utilizado pela família do prefeito como se fora seu. E que até fora levado para Tuntum, quando da emancipação daquele município, deixando Presidente Dutra sem o seu automóvel. Não sei dizer se essa história é verdadeira ou se devemos tratá-la como mais uma picuinha política criada pelas oposições. Como todos sabemos, as histórias políticas comportam muitas versões, todas “verdadeiras”. E como se diz nos dias de hoje, “uma mentira tantas vezes repetida, acaba se transformando em verdade”. Pode ser este o caso. Ou não. Existiu, contudo, o fato histórico aqui registrado nesta crônica.

Para quem não sabe, o tal campo de aviação foi transformado muito depois na importante Av. Tancredo Neves, uma das maiores artérias do velho e progressista Curador. Ponto para a comunidade.

E Dez anos depois, o velho general foi outra vez homenageado e teve o nome posto em outro município nordestino, desta vez no estado da Bahia. Ficou o Brasil com dois municípios “Presidente Dutra”.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Meio pão e um livro


Meio pão e um livro

Arnaldo Boson Paes
Mestre, doutor em Direito
e desembargador do TRT/PI

“Livros! Livros! Palavra mágica que equivale a dizer: “amor, amor”, e que os povos deviam pedir como pedem pão ou anseiam por chuva após semearem. Eu, se tivesse fome e estivesse abandonado na rua, não pediria um pão, pediria meio pão e um livro”. Estas são palavras do escritor espanhol García Lorca, anunciadas em setembro de 1931, ao inaugurar uma biblioteca em Granada, sua terra natal.

Lembrei-me delas quando acompanhava o noticiário local sobre a doação de livros para instalação de uma modesta biblioteca na Vila Jerusalém, periferia de Teresina. O escritor piauiense Cineas Santos, idealizador do projeto social, explicou o simbolismo da iniciativa: "É só um jeito de dizermos àquela gente esquecida: nós nos importamos com vocês. Aonde chegam livros chega alguma esperança”.

Os dois atos estão separados por um oceano e quase um século. Mas se entrelaçam e convergem para o mesmo objetivo: dois consagrados escritores buscam inocular na alma do povo de sua aldeia o "vírus" do amor aos livros e à leitura. Consideram ótimo que todos comam, mas consideram melhor que todos tenham saber. Por isso procuram semear livros, cultivar leitores e fazer o povo pensar, abrindo janelas para o mundo.

Em tempo de crise econômica, dominado pela austeridade, parece insensato e supérfluo o cultivo da paixão pelos livros. Mas esse contexto adverso mais justifica a criação de bibliotecas, um tesouro que a coletividade deve buscar e preservar a todo custo. Isso porque a difusão dos livros e a promoção da leitura são essenciais à vida, caminhos para o cultivo do espírito, fortalecimento da solidariedade, desenvolvimento coletivo, construção da visão crítica do mundo e realização de nossos sonhos.

O escritor Cineas Santos, meu querido professor no ensino médio, foi seduzido ainda muito jovem pela magia do livro. E não se contentou em guardar para si, apenas, o saber e as emoções que foi acumulando a cada leitura. Procurou repassar à sua aldeia, através dos diversos meios ao seu alcance, desde a impressão artesanal em mimeógrafo à publicação de livros em escala industrial, o poder sublime da palavra, nas suas mais variadas formas de expressão artística ou didática.

Há muitos anos, ele abraçou o projeto cultural “A cara alegre do Piauí”, levando para as comunidades do interior a literatura, oficinas de texto, recitais, saraus, cursos de música. Um esforço para inserir essas comunidades no contexto cultural do Estado. Sua luta pela difusão do livro inspirou mais tarde a criação do Salão do Livro do Piauí (SALIPI), o mais importante evento da cultura piauiense.


Então, quando Cineas Santos, no comando do Conselho Estadual de Cultura do Piauí, arregimenta forças para a instalação de uma biblioteca em comunidade pobre da periferia, apenas dá mais um passo como aquele semeador de livros à mão cheia. Move-se pela ideia de que não só de pão vive o homem e de que os livros nos ajudam a sermos melhores e a melhorarmos o mundo, modelando-nos com a argila dos nossos sonhos.

domingo, 13 de novembro de 2016

Seleta Piauiense - Herculano Moraes


Mulher

Herculano Moraes (1945)

Molécula original,
óvulo vencido,
pólen navegante,
fertilização.

Vagido primal, substância,
mito, sumo, rito, tolerância,
embrião, alma, consciência.

Gérmen, transcendência, etnia,
vício, pecado, perdão.

Os nervos dos sentidos,
os desejos expostos
ou reprimidos,
concupiscência, paixão.

Sumo, fosfeno,
o pigmento moreno,
pele, epiderme,
cardiopalmia, razão.

Os nervos dilatados,
músculos tensos, relaxados,
sístole, diástole da emoção.     

sábado, 12 de novembro de 2016

A Bíblia proibida


A Bíblia proibida

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Nos últimos dias, a intolerância religiosa serviu de debate, inclusive em tema de redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Ao mesmo tempo, Papa Francisco acelerava o processo de desarmamento entre igrejas cristãs fincadas em territórios divergentes.

Em 28 de outubro, o Papa Francisco compareceu à  Federação Luterana, na Suécia, pelos 500 anos da Reforma Protestante de Martinho Lutero. E repetiu o que já afirmara em outras ocasiões:  “Lutero levou a Bíblia às pessoas e elogiou sua defesa na mudança... Lutero deu um passo decisivo colocando a palavra de Deus nas mãos do povo. A importância das reformas e da Bíblia são dois dos elementos fundamentais nos quais podemos ter um apreço mais profundo ao falar da tradição luterana". Nem o Concílio Vaticano II, do Papa João XXIII, foi tão longe no plano ecumênico de entrar em território dos “irmãos separados”.

“Lutero levou a Bíblia às pessoas” – tem razão Papa Francisco, porque, durante séculos, a Igreja Católica não permitiu o acesso de leigos à leitura da Bíblia. Até nos seminários, só se aprendia a teologia, isto é, a interpretação da palavra de Deus, através da doutrina dos Santos Doutores da Igreja (Patrística), como Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho.

Além das barreiras impostas pelo Vaticano de acesso à leitura bíblica, outros motivos desestimulavam o contato com as Sagradas Escrituras: os livros bíblicos não seguiam a ordem que se vê, unidos todos numa mesma edição. Os textos eram escritos a mão, artisticamente belos, em couro bem curtido de animais (pergaminhos), vendidos a preços elevados. Ler pergaminho era privilégio da nobreza, à qual o clero servia. Qualquer obra literária adquirida custava o valor de um rebanho ou propriedade. Só privilegiados monges conservavam tais joias em mosteiros. Graças a eles, obras clássicas chegaram até nós. Ensina-se por aí que “o clero atravancou o progresso”, baseando-se na doutrina iluminista-marxista, apesar dos desacertos do Vaticano com a ciência.

Depois da invenção da imprensa, abriram-se escolas e universidades. O livro era bem mais barato do que os pergaminhos. Universidades mais prestigiadas da Europa foram fundadas pelo clero, como Sorbonne, de Padre Sorbonne. Mas a imbecilidade tenta desmistificar o mérito da Igreja.

Com o surgimento da imprensa de Gutemberg, os textos bíblicos organizaram-se em único volume. Mesmo assim, não estimulados à leitura pelo Vaticano, para despertar interpretações contrárias ao princípio de Santo Agostinho: “Roma falou, questão resolvida”. Foi do clero, porém que partiram divergências. Contra as ordens do Vaticano, Padre Jacques Lefévre, em 1530, traduziu a Bíblia em francês (latim era obrigatório), aproximando o povo das Escrituras. O alemão Padre Lutero seguiu-lhe os passos. Aí veio o cisma e a Reforma.


Há mais de dez anos, escrevi uma crônica, SÃO LUTERO, ORA PRO NOBIS. Acho que eu tinha razão. Não é Papa Francisco?    

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Arraial


Arraial

Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras

Por muito tempo se asseverou, de forma errônea que a cidade de Arraial, no Médio-Parnaíba piauiense tivesse sua origem numa aldeia onde foram arraialados os índios acoroás e guegués. Porém, este fato não é verdadeiro, e somente onde hoje se situa a cidade de Regeneração é que foram, na região, aldeados indígenas das duas nações.

Escritores de alto coturno chegaram a confundir a localização da aldeia de São João de Sende com a da fazenda Arraial, quando hoje sabemos sem sobra de dúvidas onde se situava aquele aldeamento indígena. Está no município de Tanque do Piauí, tendo o nome sofrido mutação para São João de Sene, no linguajar sertanejo.

A cidade de Arraial tem suas origens numa fazenda de criar medindo quatro léguas de comprimento e três de largura, fundada no primeiro quartel do século XVIII, pelo pioneiro criador Antônio Dias, que a povoou na condição de posseiro. Mais tarde, ele a vendeu ao criador Mathias Gonçalves e este ao abastado fazendeiro Miguel de Araújo Reymão, que então ocupava a patente de sargento-mor. Em meados daquele século, o velho militar a deu em dote a Antônio Borges Teixeira, seu genro, em face do casamento com sua filha Joana da Silva Pinto. E até o ano de 1754, todos esses criadores pagaram renda ao sesmeiro baiano Domingos Jorge Afonso, como sucessor de Julião Afonso Serra, um dos quatro maiores desbravadores e sesmeiros do território piauiense. Essas valiosas informações, até agora inéditas, constam na lista dos possuidores de terras elaborada pelo desembargador Francisco Marcelino de Gouveia, em 16 de novembro de 1762.

Segundo consta em censo descritivo finalizado em 6 de julho de 1765, naquele tempo residia na fazenda Arraial o senhor do lugar, Antônio Borges Teixeira com a esposa Joana da Silva Pinto, as filhas Ignácia e Francisca da Silva, ambas solteiras, e o filho Antônio Borges, o moço, com a esposa Ana Ramos da Assumpção, acompanhados de quinze escravos, sendo oito do sexo masculino e sete do feminino. É esta a gênese do lugar. Foi em face dessa população de pouco mais de vinte pessoas, morando na sede da fazenda, que o lugar desde cedo ganhou o nome de Arraial.

E como simples fazenda de criar se demorou por cerca de dois séculos. Somente em princípio do século vinte foi a sede de fazenda tomando o aspecto de um pequeno povoado. Então, no ano de 1920, o cônego Antônio Cardoso de Vasconcelos, vigário de Regeneração respondendo também pela freguesia de Amarante, em visita pastoral reuniu os principais moradores do lugar e os conclamou a construir uma capela sob o orago de Nossa Senhora de Santana. Para isto organizou uma comissão que levou a obra a termo, iniciando-a em 1921 e a inaugurando em maio do ano seguinte. Até então as cerimonias religiosas eram celebradas ao ar livre. Nessa mesma época, por sugestão do referido vigário, foi o nome da povoação mudado para Campo Alegre.

Por esse tempo, animados com a construção do templo religioso e a prosperidade do lugar, alguns moradores de fazendas vizinhas fixaram-se na povoação, gerando surto de progresso. Logo, iniciou-se as feiras semanais aos sábados, onde se comercializava frutas, legumes e cereais produzidos na região, assim como tecidos, ferragens e gêneros em geral que vinham pelo porto e casas comerciais de Amarante.

Depois de quarenta anos os arraialenses conquistaram a sua emancipação política. Foi a povoação elevada à categoria de cidade e município pela Lei n.º 2.559, de 9 de dezembro de 1963, com o antigo nome de Arraial, sendo o território desmembrado de Amarante. Porém, a instalação oficial somente ocorreu em 31 de janeiro de 1967, com a posse das primeiras autoridades eleitas no ano anterior. Foram prefeitos do Município: Vitório Rosa de Oliveira(1967 – 1970, 1973 - 1976), Odontino Ferreira dos Santos(1971 – 1972, 1989 – 1991)), Francisco Alvarenga da Rocha(1977 – 1983, 1993 – 1996), Zacarias Pereira Lima(1983 – 1989), Raimundo José da Rocha(1997 – 2000), Eulália Lúcia da Silva Alves Santos(2001 – 2004, 2005 – 2008), Lanero da Silva Marinho(2009 – 2012 e 2013 – 2015) e Numas Porto(eleito em 2016).    

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Histórias de Évora - Capítulo XXIX


HISTÓRIAS DE ÉVORA

Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem sendo escritos.

Capítulo XXIX

Revelações

Elmar Carvalho

Quando eu tinha sessenta anos de idade e já morava na capital há muitos anos, ao passar um final de semana em Évora, revi o meu amigo Anselmo Miranda, que fora morar em Brasília há mais de três décadas. Na banca de revista do Dourado, situada na Praça Lucas Mendes Furtado, ou simplesmente praça central ou da matriz, soube que ele se encontrava na cidade e estava hospedado na casa de seu irmão Jonas, o secular casarão de seus pais, já falecidos.

Após conversarmos sobre amenidades, cultura e assuntos do cotidiano de nossas vidas, bem como sobre velhos temas eborenses, o Anselmo, sem pruridos de vergonha, receios de censura familiar ou freios inibitórios morais, narrou-me a história de sua avó materna, a matriarca de sua família, sustentáculo de sua mãe e de seus tios.

Como desejo fazer um resumo e também por não ter capacidade de reproduzir suas frases com fidelidade, prefiro contá-la com as minhas próprias palavras, da maneira mais simples possível, porque o que tem importância neste texto é a história em si, e não os atavios e figuras de estilo que pudesse lhe colocar.

Disse-me Anselmo que, quando garoto de seus doze anos, ao brincar no quintal com dois irmãos e alguns amigos, acometido na época por certo tipo de verminose, foi procurar no muro um torrão de barro, que lhe parecesse mais saboroso, para comer. O muro era de adobe, mal conservado, um tanto desaprumado, pelo menos em certos pontos, e apresentava muitas gretas e furos, em que eventualmente se escondiam carambolos e lagartixas.

Ao procurar a sua 'iguaria', acabou encontrando num dos buracos, enrolado num saco plástico, um papel esmaecido, que lhe pareceu ser uma carta, escrita à mão, com caneta tinteiro ou bico de pena. As letras estavam um pouco borradas, mas eram grandes, firmes, bem delineadas e escritas com tinta azul. Anselmo a guardou com cuidado e a levou até sua avó, a quem se dirigia a missiva.

Tudo fazia supor que quem a escrevera tivesse boa instrução, o que era uma raridade na data de sua assinatura: 24 de dezembro de 1936. Estava assinada por Pedro Tavares de Mendonça. Sua avó, com muita delicadeza, retirou a carta do invólucro plástico. Colocou-a sobre a mesa e a desdobrou com toda cautela, para não danificá-la.

Mandou que Anselmo se sentasse à mesa, perto dela. Contraiu as feições; seus olhos marejaram um pouco, mas era uma mulher forte, de fibra e logo se recompôs. Afinal, sozinha, sem a ajuda do marido, cujo paradeiro nunca se soube ao certo, criara os nove filhos, lavando, passando e costurando para algumas famílias abastadas de Évora. O jovem imaginou que lhe seria revelado constrangedor segredo familiar.
– Meu neto, esta carta trouxe de volta uma história antiga de nossa família, que eu pensava já estar enterrada há muitos anos. Mas o destino e a sua curiosidade de garoto desenterraram esse segredo familiar. Vou ler a carta para você.

Leu-a com razoável desembaraço e sem se deixar trair pelas fortes emoções que certamente lhe transtornavam o espírito. Anselmo teve a grande surpresa de descobrir que a sua avó não era analfabeta, como ele pensara desde que se entendera por gente. Ela lhe revelou que desde o momento chocante em que leu essa carta, pela primeira e única vez, tomara a decisão de nunca mais ler nem escrever coisa alguma. Por isso todos pensavam fosse ela iletrada, quando na realidade aprendera a ler e a escrever com considerável desenvoltura. Ao terminar a leitura, fez o seguinte comentário (a que se seguiu a história de sua vida, que sem dúvida daria um belo romance):
– Esta carta foi o presente de natal que seu avô me deu no ano de 1936. Abandonou-me e fugiu com uma mulher nova para lugar incerto e não sabido, como dizem os advogados como ele. Pelo menos deixou a casa e os móveis. Não deixou nenhum níquel para o sustento de nossos nove filhos, que criei com muito esforço e trabalho pesado. Mas Deus nunca me faltou e nem há de faltar.

A carta era iniciada por um longo e lacrimejante pedido de perdão, a que se seguia uma injustificável justificativa, uma justificativa que na realidade nada justificava. O último parágrafo era um patético e exagerado adeus, algo semelhante a um trecho de dramalhão, em que dizia não ter ‘culpa de haver se apaixonado perdidamente’ por sua nova amada, que ‘ninguém mandava em seu próprio coração’. Encerrando, dizia que fora fraco, covarde mesmo, mas não tivera coragem de lhe contar pessoalmente essa sua incontrolável e irresistível paixão.

Dona Rosa Soares de Mendonça, cujo nome de casada sempre foi mantido, desfiou a sua história como se quisesse mesmo desabafar, botar para fora uma história que escondia há muitos anos. Dizia apenas que o marido fora embora para o Amazonas, em busca de fortuna, onde teria morrido, já que nunca mais mandara notícias. Nascera ela em Angical. Quando tinha 15 anos, o advogado Pedro Tavares de Mendonça, vindo não se sabe ao certo de onde, apareceu na cidade e botou banca de advocacia. Era dez anos mais velho que ela.

Quando fez 16 anos foi a uma festa e dançou com ele no clube da cidade. Era considerado um bom partido, apesar de as informações sobre as suas origens familiares serem vagas. Alguns rapazes, talvez enciumados, murmuravam que talvez ele tivesse feito “mal” a alguma moça, irmã e filha de valentões, e tivesse fugido. Também alguns pais, ciosos da honra de suas filhas, disso suspeitavam, todavia sem nenhuma informação concreta.

Rosa, no auge de sua juventude, era considerada a moça mais bela de sua cidade. Séria, prendada, diligente, ainda sabia ler e escrever, mesmo numa época em que a instrução pública era muito incipiente e elitista. O doutor Pedro sabia que para tê-la como mulher teria que se casar. Portanto, não perdeu tempo. Logo a pediu em casamento. Um ano após a cerimônia, alegando que seu escritório de advocacia não prosperara, e já com o primeiro filho nascido, resolveu se mudar para Évora, uma cidade maior, onde com certeza teria mais clientes.

Depois ela passou a desconfiar de que, além dos motivos profissionais, ele desejava uma cidade maior para mais bem dissimular e esconder a sua vocação boêmia, a sua incurável índole de dom Juan. A bem da família e da paz conjugal, procurou não saber de informações e nem de boatos, e tampouco buscou averiguar as suas desconfianças e indícios de infidelidade do marido. O desfecho do seu caráter fora aquela carta e a sua fuga com a amante.

Quando o meu amigo Anselmo terminou o seu relato familiar, aparentemente sem muita emoção, talvez porque tivesse aceitado isso como um fato irrevogável, contra o qual não adiantava se rebelar, imaginei como seria o muro no qual, em esconso furo, ele encontrara a velha e esquecida carta. Não pude deixar de trazer à memória estes versos de Alberto de Oliveira, que li e reli em minha surrada antologia da Fename: ‘É um velho paredão, todo gretado, / Roto e negro, a que o tempo uma oferenda / Deixou num cacto em flor ensanguentado’.


Conquanto desnecessária, faço a ressalva: em lugar de cacto, cujos espinhos também pungem, leia-se carta.”   

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Juiz Auxiliar da Presidência lançará livro no dia 18 de novembro


Juiz Auxiliar da Presidência lançará livro no dia 18 de novembro
  
Com o título “Jurisdição Constitucional: Diálogos Institucionais como Terceira Via entre o Ativismo e a Autocontenção Judicial”, o Juiz Auxiliar da Presidência do TJPI, Antonio Oliveira, lançará livro no auditório do Tribunal de Justiça no próximo dia 18 de novembro.

A obra, na sua essência, reproduz sua dissertação de mestrado, defendida no ano de 2015, em Lisboa, Portugal. Nela o autor presta contribuição à magistratura e ao meio acadêmico, tendo em vista que aborda, entre outros, temas que continuamente se encontram em delicada tensão, tais como constitucionalismo versus democracia, Poder Judiciário versus Poder Legislativo, supremacia Judicial versus supremacia Parlamentar, além de ativismo judicial versus autocontenção judicial.

O evento contará com a presença do Presidente do TJPI, Desembargador Erivan Lopes – responsável pela apresentação do livro -, além de Desembargadores, Magistrados, Servidores do TJPI, Membros do Ministério Público, Advogados, Professores, alunos, amigos e familiares do autor, além de convidados diversos.

Confira trechos da apresentação do livro:

“O leitor, doravante, tem à sua disposição uma das mais instigantes e arrojadas obra de Direito Constitucional contemporâneo. O livro de Antonio Oliveira é fruto de adaptações pontuais da sua dissertação de mestrado, defendida no dia 11 de setembro de 2015, junto à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), em Portugal, perante a seleta banca composta pelos Professores Doutores Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da banca e atual Presidente da República Portuguesa), Luís Pedro Pereira Coutinho (orientador), Alexandre Sousa Pinheiro (arguente) e Alexandra Leitão (vogal), que lhe atribuíram a festejada e merecida nota máxima!

Antonio Oliveira, em seu “Jurisdição Constitucional: diálogos institucionais como terceira via entre o ativismo e autocontenção judicial”, não submete o leitor a uma narrativa enfadonha acerca do papel assumido pelas diversas Cortes Constitucionais mundo afora, tampouco se restringe a conceituar e descrever os famigerados fenômenos da judicialização e do ativismo judicial.

Cuida-se, na realidade, de ousada obra pautada numa densa e refinada pesquisa científica, na qual o autor, lastreado em diferentes teóricos nacionais e estrangeiros, apresenta reflexões críticas sobre o ativismo e a autocontenção judicial, associando esses fenômenos aos modelos de supremacia judicial e supremacia parlamentar, respectivamente.

[...]

Pautado num estilo de escrita suave e de marcante tessitura lógica, Antonio Oliveira consegue abordar com muita clareza o atual comportamento dos Poderes Constituídos no Brasil quanto às suas funções constitucionais – nomeadamente em relação à interpretação constitucional -, demonstrando que o descrédito da população perante os Poderes Políticos tem “legitimado” o Poder Judiciário a preencher os “vácuos” deixados pelos atores políticos, sobretudo o Poder Legislativo. Lado outro, alerta para o perigo de uma instância hegemônica, reivindicadora da pretensa última palavra na interpretação da Constituição, despertando reflexão sobre a adoção de mecanismos que possibilitem o diálogo institucional na construção do melhor sentido e interpretação dos direitos.

As argumentações do Autor, conquanto bastante balizadas no meio acadêmico, não se esgotam unicamente na ótica doutrinária, haja vista que se espraiam por diversos precedentes de distintos Tribunais do país, destacadamente, polêmicos julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), que, chamado a se manifestar acerca de uma miríade de demandas, não apenas se contenta em decidir, mas reivindica abertamente o status de último intérprete da Constituição.

[...]

Fica evidente, pelas pistas até aqui deixadas, que o livro do Professor e Magistrado Antonio Oliveira transcende a ciência do Direito Constitucional, porquanto seu conteúdo transita facilmente entre o Direito, a Ciência Política e a Filosofia. Conquanto elaborada em apurado âmbito acadêmico, sua obra não fica adstrita a alunos de pós-graduação e graduação, servindo de preciosa fonte de consulta para profissionais de distintas áreas – jurídica ou não -, ávidos por conhecer e entender assunto tão caro e relevante em tempo coetâneo, mas que escapam das lentes míopes e tradicionais que não vislumbram a expansão global do Poder Judiciário e seus desdobramentos numa sociedade pluralista como a brasileira.

[...]

O Autor é Juiz de Direito no Estado do Piauí – atualmente Juiz Auxiliar da Presidência do TJPI -, onde exerce com escorreita vocação seu mister. Ao lado da judicatura, exerce com elevado entusiasmo e paixão o magistério, no qual se notabiliza na área do Direito Público, designadamente o Direito Constitucional, Direito Processual Penal e Direito Penal, tendo vasta contribuição na pós-graduação lato sensu da Escola Superior da Magistratura do Estado do Piauí (ESMEPI), nos cursos institucionais promovidos pela Escola Judiciária do Piauí (EJUD), além de experiências exitosas na graduação e em cursinhos da área jurídica, sendo reconhecido por seus alunos como docente que alinha com destreza conteúdo, didática e humildade.”

Fonte: ASCOM - TJPI   

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Capitão Francisco Pereira da Silva

Cidade de Brejo do Piauí

Capitão Francisco Pereira da Silva

Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras

Hoje vamos acender luzes sobre a memória de um antigo ancestral, que viveu no período colonial, o abastado fazendeiro, militar e político Francisco Pereira da Silva.
Ele nasceu e viveu toda a sua existência na fazenda das Mutucas, depois rebatizada de Malhada, no médio curso do rio Piauí, então termo de Oeiras, depois, sucessivamente, de São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Canto do Buriti e, atualmente, de Brejo do Piauí. Era o penúltimo dos nove filhos do casal de colonizadores portugueses que entraram no Piauí e se estabeleceram na referida fazenda logo depois da instalação da vila da Mocha(1717), descendentes do ilustrado clã dos Pereira, Antônio Pereira da Silva, cavaleiro da Ordem de Cristo e sua esposa Maria da Purificação. Para informação do leitor, foram seus irmãos os que seguem em ordem decrescente de idade: 1. José Pereira da Silva (1.º do nome), fazendeiro, membro da Junta Trina de Governo(1789), foi casado com Maria Josefa Alves da Fonseca; 2. Manoel Caetano Pereira da Silva, fazendeiro, em 8.1.1774, na matriz de N. Sra da Vitória, casou-se com Rosa Maria da Silva, filha de Manoel do Rego Monteiro e D. Maria Teixeira de Andrade; 3. Capitão Antônio Pereira da Silva, seu sócio em empreendimentos agropecuários, também membro da Junta de Governo e sobre quem escreveremos algumas notas; 4. Josefa Maria da Conceição, foi casada com Hilário Vieira de Carvalho(2º); 5.  Maria Pereira da Silva, foi casada com José Vieira de Carvalho(irmão do antecedente);6. Leandra; 7. Simoa; e, 9. Padre João José Caetano Pereira da Silva, residente na fazenda das Mutucas, coadjutor na freguesia de N. Sra. da Vitória(informações de 29.1.1784 e 30.8.1800).
Na carreira militar, desde cedo sentou praça nas tropas da guarnição do Piauí, requerendo confirmação da carta patente no posto de alferes da Companhia de Cavalaria Auxiliar, em 20 de abril de 1796; em 25 de setembro de 1801, solicita confirmação na patente de capitão de ordenanças do 2.º Regimento de Cavalaria Miliciana da Guarnição do Piauí, cujo posto já exercitava por nomeação do capitão-general do Estado.
O capitão Francisco Pereira da Silva exerceu os mais elevados cargos públicos em sua terra, inclusive o de Provedor da Real Fazenda e dos Ausentes, no ano de 1797; nesse mesmo ano, também no exercício do cargo de vereador do Senado da Câmara de Oeiras, que exerceu por diversas vezes, e juiz ordinário mais velho da mesma câmara foi alçado a ouvidor-geral da Capitania e, por força do cargo, exerceu a presidência da Junta de Governo do Piauí, inscrevendo-se assim, entre os governantes da Capitania do Piauí. Nesse aspecto, substituía o irmão Antônio Pereira da Silva (2º), que exerceu os mesmos cargos no exercício anterior.
Em face do exercício desses cargos públicos e por conta de perseguições políticas, no início do ano de 1801, esteve por alguns dias preso em São Luís do Maranhão, a exemplo de muitos outros políticos piauienses do período, logo mais conseguindo a sua liberdade.
Porém, o maior destaque do capitão Francisco Pereira, foi na atividade pecuária e na exploração de seu comércio, de que foi sócio com o referido irmão Antônio Pereira da Silva, estando eles entre os maiores criadores piauienses do período.De 1782 a 1784, foi juntamente com o mesmo irmão, arrematante dos dízimos da freguesia de Oeiras.No ano de 1800, exportaram juntos somente de suas fazendas estabelecidas na freguesia de Jerumenha, inclusive a Rio Grande, hoje cidade de mesmo nome, 380 cabeças de gado vacum para a cidade de São Luís do Maranhão.
Em 9 de janeiro de 1775, na fazenda Buriti, também no vale do rio Piauí, casou-se com Izabel Francisca Soares (em alguns documentos aparece Izabel Maria da Conceição), filha de Manoel Ribeiro Soares, então falecido e de Maria Josefa de Jesus, portugueses, senhores da fazenda da Onça, no rio Piauí; foram padrinhos do matrimônio, seus parentes Ignácio Rodrigues de Miranda e Antônio Pereira de Miranda, donos da fazenda em que foram celebradas as bodas. De seu consórcio deixou o capitão Francisco Pereira da Silva, sete filhos, a saber: 1. Comendador Valentim Pereira da Silva, chefe político de Jerumenha; 2. Maria Josefa da Conceição, foi casada com o major Antônio Pereira da Silva(3.º), Prefeito de Jerumenha ao tempo da Balaiada; 3. Teresa de Jesus Maria, que foi casada com o coronel Joaquim de Sousa Martins, Governador das Armas e irmão do Visconde da Parnaíba; 4. Isabel Brígida da Purificação, foi casada com o T.te-C.el Inácio Francisco de Araújo Costa; 5. Ana Pereira da Silva(Donana), foi casada com o T.te-C.el. Francisco Manuel de Araújo Costa, irmão do antecedente; 6. Major José Pereira da Silva (bat. 25.7.1781), residente na fazenda Malhada, foi casado com a prima Inês Maria do Nascimento; e, 7. Rita, batizada em 29.12.1787.
Quando o governador Carlos César Burlamaque foi injustamente preso no Maranhão, o capitão Pereira foi um dos que se manifestou em abaixo-assinado em seu favor.
Em outubro de 1811, em face de pedido do governo, concorre com mantimentos e cavalgaduras para suprir a tropa capitaneada por José Dias Soares, no combate aos índios Pimenteiras, nas cabeceiras do rio Piauí (CABACap. Cód. 161, p. 149/149v).

São essas algumas notas sobre esse importante criador, militar e político piauiense, que viveu toda a sua vida no Piauí, tendo co-governado a Capitania.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR DE 1950 (Final)


POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR  DE  1950 (Final)

Alcenor Candeira Filho


VIII.    O U T R O S G R A N D E S L Í D E R E S

A)           A) MIROCLES DE CAMPOS VERAS

          Médico, pecuarista e político.  No primeiro governo de Getúlio Vargas ( 1930-1945) exerceu o mandato de prefeito de Parnaíba, duas vezes por nomeação e uma vez por vontade popular nos períodos de 1934-1936 e 1937-1945.
          Prestou relevantes serviços à cidade como médico e como administrador ao longo de mais de cinquenta anos.
          Principais realizações:
- criação da Maternidade Marques Basto
- fundação da Sociedade de São Lázaro, depois Colônia do Carpina
-  idealizador da Sociedade Feminina de Assistência aos Pobres, hoje Abrigo São José
- instalação da Biblioteca Municipal
-construção do Jardim Humberto de Campos
- instalação do Centro Telefônico
- comemorações do 1º Centenário de Parnaíba

B)           EPAMINONDAS CASTELO BRANCO

          Fazendeiro, latifundiário, jornalista e político, o coronel Epaminondas foi chefe político do PSD em Parnaíba, com forte influência em municípios circunvizinhos, a partir de 1928 quando se elegeu deputado estadual, reeleito em 1947, 1951 e 1955. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, que em 1946 elaborou e aprovou a Constituição Estadual. Foi deputado federal nos anos 30.
          Político e jornalista combativo, tendo fundado vários jornais na cidade.
          Como deputado muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade através de recursos financeiros a ela destinados.

C)           JOSÉ MENDONÇA CLARK
-
          Empresário, diretor comercial dos Estabelecimentos James Frederick Clark, presidente da Associação Comercial de Parnaíba e presidente da Associação Brasileira de Exportadores. Senador da República.
          São precárias as fontes de informação sobre a sua atuação política no Piauí.
          Lembro vagamente que ele era ferrenho adversário dos irmãos Caldas Rodrigues.


C)           JOSÉ PINHEIRO MACHADO

                           Empresário, professor e político.
                           Governador do Rotary. Um dos fundadores da Faculdade de Administração de Parnaíba e do Igara Clube, do qual foi o primeiro presidente. Fundou em Parnaíba o Instituto Cultural Brasil/Estados Unidos e presidiu a AGESPISA e a Associação Comercial de Parnaíba. Bacharel em Direito e professor da Universidade Federal do Piauí.
                              Exerceu dois mandatos de vereador e presidiu a Câmara Municipal de Parnaíba. Deputado federal em três legislaturas: 1971-1982.
                               Como deputado muito lutou pela criação da Superintendência do Vale do Parnaíba e pela conclusão do Porto de Luís Correia.


D)             ANTÔNIO JOSÉ DE MORAES SOUZA

Empresário e político, com cinco mandatos sucessivos de deputado estadual a partir de 1983 e um de deputado federal (2003-2007). Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Piauí e da Associação Comercial de Parnaíba. Vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria e Secretário Estadual de Indústria e Comércio.
          O deputado Moraes Souza foi político equilibrado e conciliador. Mais cerebral que sentimental. Resolveu vários problemas dentro de seu grupo político provocados pelo temperamento explosivo de seu irmão Mão Santa.
          Como presidente da Federação das Indústrias realizou obras em vários municípios piauienses:
          - construção do edifício sede da FIEPI em Teresina
          -construção de escolas de diversos níveis de ensino
          - construção de centros de saúde
          - construção de quadras poliesportivas.


E)            MANUEL DOMINGOS NETO

                                    Historiador, professor, pesquisador, escritor e político. Deputado federal pelo Piauí (1989-1991) e doutor em História pela Universidade de Paris.
                                   No período da ditadura militar foi preso e torturado por ter sido militante da clandestina “Ação Popular”.
                                   Superintendente da Fundação CEPRO (Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí) no início do segundo governo de Alberto Silva  do qual se afastou por divergências políticas.
                                     Vice-presidente do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
                                     Professor da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Federal Fluminense.
                                     Autor de vários livros publicados.

IX.  M I N I S T R O     J O Ã O P A U L O  D O S     R E I S  V E L L O S O

     Economista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Master em Economia pela Universidade de Yale (EUA).
      Ministro do Planejamento durante os governos de Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel (1969-1979).
     Autor de vários livros publicados.
     Atualmente preside o Fórum Nacional onde são discutidas soluções para os problemas econômicos do Brasil.
     A Enciclopédia Wikipédia registra, dentre outras, a seguinte informação sobre o ilustre piauiense:

“Avesso a atividades políticas, recusou um convite para se candidatar ao Senado pelo PDS do Piauí em 1982, após sondagem feita pelo então governador Lucídio Portella”.

     A respeito desse registro faço um esclarecimento: em verdade a candidatura de Reis Velloso ao Senado foi cogitada em Parnaíba. Lembro até de uma festinha na residência do professor José Nelson de Carvalho Pires, onde presenciei o Ministro dançando animadamente, mas sem muito jeito, com simpatizantes de sua candidatura, enquanto em Teresina o governador Lucídio Portella abortou de vez essa pretensão com a frase:“Se soltarem Reis Velloso na Praça da Bandeira, ele não saberá voltar para o Luxor Hotel e por isso não será candidato”.
     O Ministro Reis Velloso, parnaibano que sempre se preocupou com os interesses do Piauí, viabilizou muitos recursos para a execução de obras no Estado. Daí a frase do presidente Geisel: “O ministro Reis Velloso passa o dia planejando para o Brasil e dorme sonhando com o Piauí”.

X.  C O N C L U S Ã O

          O excesso de partidos políticos, muitos dos quais simples agremiações dominadas por pessoas oportunistas, e o elevado custo das campanhas eleitorais no país vêm impedindo o surgimento de novas lideranças.
          Em Parnaíba, por exemplo, consolidou-se apenas uma liderança nova no século XXI:o atual prefeito Florentino Alves Veras Neto, que não conseguiu reeleger-se em 2016.
          Com as recentes modificações nas regras de financiamento de candidaturas e no tempo de duração de campanha eleitoral, houve nas eleições municipais de 2016substancial redução de gastos.
          Parnaíba aguarda a efetiva participação dos jovens na política.


          Parnaíba,outubro de 2016. 

domingo, 6 de novembro de 2016

Seleta Piauiense - Cineas Santos


Nada Além

Cineas Santos (1948)

O amor bate à porta
e tudo é festa.
O amor bate a porta
e nada resta.    

sábado, 5 de novembro de 2016

LENDO "PULANDO NUVENS"


LENDO "PULANDO NUVENS"

 “Meu Deus,  creio que estais aqui presente!”*

  Cunha e Silva Filho

          Será, leitor, que existe crítica literária para certos  livros? Digamos, assim,  para a Bíblia Sagrada,  para As confissões, de Santo Agostinho (354 d.C- 430 d.C),  e para outras  obras  superiores   da cultura universal? Sim e não,  não importa. O que releva é a sua grandeza. Livros há que  são forjados por  inteiro  pelo  universo  fabuloso das subjetividades e sobretudo no terreno das  afetividades,  lexema do campo semântico  que tanto peso  tem na obra ora lançada, que é Pulando nuvens (Teresina: Bienal  Editora, 2016,148 p), do jornalista e escritor Zózimo Tavares, piauiense de coração, mas nascido no Ceará
        A pergunta acima não é uma blague,  mas uma  constatação que me inclina mais  para o não, visto que,  no domínio literário, o que prevalece  é a qualidade da linguagem e o sentido  específico  de como  o tema  foi  trabalhado  artisticamente pelo autor.
        Formalmente,  o livro  é ousado na sua construção e me lembra logo de cara  uma estratégia, tão bem entrevista  numa  ensaio “A ciranda da malandragem” de  Jesus Antônio Durigan acerca da  escrita do contista João Antônio (1937-1996), na  qual  o  ficcionista   não só se vale da imaginação - espaço  do domínio da ficção, da mimese -, mas do que lhe oferece a vida, a realidade que,  no caso do livro,  são textos que se contextualizam e se unificam ao mundo  de esperanças e de anseios de Daniel,  jovem  sintonizado com  os modos  de vida e os costumes  saudáveis de sua geração.
        Deste modo,  se inserem, de maneira alusiva,  ao  texto  geral dos relatos  o capítulo inicial de Feliz Ano Velho, de  Marcelo Rubens Paiva, uma letra de música de Gabriel, o Pensador,  o soneto “Amarante” de Da Costa e Silva (1885-1950),   um excerto de uma peça teatral de Ariano Suassuna (1927-2014), um famoso  fragmento  poético de Gonçalves Dias( 1823-1864), um fac-símile  do poema “O menino que descobriu as palavras,”  de autoria de Cinéas Santos e Gabriel Archango, marcado por Daniel  a lápis e com  as respostas  escritas à mão, um fac-símile  de um “manifesto redigido à mão,  dirigido aos condôminos  de um prédio  e  reivindicando  liberdade  e respeito aos direitos de brincar no espaço comum do moradores. O nomezinho  de Daniel (p.34) aparece no espaço  reservado aos subscritores, assinalado à mão,    um  texto de um jovem  que  sabe expressar-se literariamente,  como  o Dilson Tavares,  irmão de Daniel Tavares,este último assunto nuclear  da obra de Zózimo. 
        Escreve sobre si mesmo e principalmente sobre Daniel.  Ao mesmo tempo  busca  em outros  textos  complemento  de sua inquietação extravasada belamente,  harmoniosamente,  no texto em seu todo, gerando uma unidade de sentido e verossimilhança narrativa,   ao fazer convergir outra vozes que, ao cabo,  se confundem  e de alguma forma, mutatis mutandis, se equivalem.
       Ora,  construir uma obra  assim  exige esforço  e criatividade,  porquanto,  na ficção, ou no gênero híbrido em que se   materializa  este livro, misturando  memórias,  textos alheios,  inserções autorias compatíveis  no campo   da linguagem  literária, inclusive   a parte  referente aos textos virtuais, em forma de anexo  ao texto  geral da obra só a  vivificam ainda mais. Na realidade, decorre desses recursos  do autor a qualidade do texto.
       O  exemplo mais ilustrativo  dessa singularidade  textual, dessa recolha de textos diversos  mas que tenham  direta ou indiretamente  ligação cultural com a vida de  Daniel  Tavares,  é haver Zózimo Tavares pinçado o tocante   texto, acima  citado,  “Daniel mano” (p. 115) escrito para servir, como  título  e, a meu ver,  como  metáfora do livro e do seu  personagem  principal,  Daniel  Tavares,  um  jovem que, aos 21 anos,  filho  do autor,  com  toda  as esperanças  de uma vida  vitoriosa,  é de repente,  pelos insondáveis arcanos da vida terrena, afastado de nós mortais.
      Zózimo Tavares, jornalista   tarimbado,  de estilo  objetivo, contudo não destituído  de uma  profunda sensibilidade que, por vezes, alcança  as fontes do lirismo, como  seria  exemplo,  entre outros  no livro,  aquele  trecho  em que ele,  menino,  em Água Branca, Piauí,  avistava,  da calçada da igreja,  na distância, aquele tempo  católico que lhe parecia  cada vez maior  à medida que   dele se aproximava, situação  tão bem  expressa  da perspectiva  da memória e linguagem   infantis: “Chega dava tontura!”  (“De volta ao começo,” primeira seção,  p. 21).
     Pulando nuvens é mais um  livro sobre a vida,  e não sobre a morte, pela  vida  pulsando  delicadamente  na memória  do autor e cobrindo  todas as lembranças  tenras,   guardadas  no fundo do coração  do  escritor.
   É uma narrativa que se propõe provocar, na sensibilidade dos leitores, o compartilhamento  dos deliciosos  momentos  da presença   querida desse  jovem belo,  forte,   amante da vida  intensa e de todas  as alegrias que a  existência pode  propiciar a quem  sabe amá-la com  o peito aberto às amizades,  aos amores  de juventude,   às predileções culturais,  seja  na música,  no teatro, na   dedicação ao parkour, à arquitetura e às passarelas,  no campo da imagem  publicitária,  na vida familiar. E que exemplo  de  bem-aventurança  familiar   nos dá o autor, até mesmo  no sentido  pedagógico de um  pai extremoso, responsável e intensamente  amoroso de sua família!.
        Tudo isso é  muito bem   relatado  pela  voz paterna que, ao contrário de outros autores,  não faz  da tragédia familiar  um oceano  de  lamúrias, mas conserva, no limite do possível,   resguardar  o que de vivo e amado o filho lhe deixou.
        O  espírito do  livro  se bifurca entre  as recordações  do autor e as do filho  trazido  ao texto  pela força  da linguagem   que  sustenta  a narrativa através da exaltação  à vida – urge sublinhar -   suscitada pelas  múltiplas e preciosas recordações do filho vivo,  falecido precocemente em acidente  ao pular da ponte sobre o rio Longá, em Esperantina,  interior piauiense.
       Em algumas passagens do livro  não há como   se comover até às lágrimas   diante de situações  que são  verdadeiros modelos de amor, de amizade,  de solidariedade, entre o autor e o filho,ou entre o autor e a família.
     Confesso que, durante a leitura desse livro de afetividades – repito -   lamentei  não ter conhecido e abraçado (o abraço forte desse menino-gigante),  esse rapaz que, no verdor dos anos, admirado  pelos amigos e por todos os que por acaso o   conheceram. Daniel, na verdade,  não  foi embora, não. Está vivo e esbelto  não apenas na memória  impressa de Pulando nuvens – milagre do poder da linguagem -, a qual, em forma de arte, se torna, fenomenologicamnte,    vida  perene -  mas também  no pensamento fiel e recorrente das reminiscências   que duram  porque  são eternas.


*Cf. Orações do meu dia a dia,  coordenação do Pe. Lourenço Ferronatto.São Paulo : Associação Católica  Nossa Senhora de Fátima. 1ª ed.,  2016, p.7-8.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

UM ANO SEM A VOZ DO JAIME LINS


UM ANO SEM A VOZ DO JAIME LINS

Antonio Gallas

                Há um ano, precisamente no dia 03 de novembro, calava-se uma das mais eloquentes vozes da comunicação parnaibana. Falecia Jaime Lins – o comunicador da saudade. 

            A notícia do falecimento do nobre radialista pegou-nos a todos de surpresa e deixou um vazio, uma tristeza, não apenas para os seus colegas da comunicação, mas, também para a sociedade parnaibana e, principalmente, para sua grande legião de fãs que se deleitava ao ouvir sua voz na apresentação do programa “Recordação e Saudade”.

            Não faltaram manifestações de apreço e solidariedade à família do radialista falecido.  As emissoras de rádio, TVs e os blogs, até mesmo da capital noticiaram o falecimento de Jaime Lins.

            Vejamos o que foi dito quando da morte deste grande radialista:

Morre aos 68 anos em Parnaíba o radialista Jaime Lins

            “A trajetória do radialista foi marcada pela grande audiência conquistada ao longo de sua atuação, desde a década de 1960 através das Rádios Educadora e Igaraçu AM. Os últimos programas apresentados por Jaime Lins foram levados ao ar pelas rádios FM o programa “Recordação e Saudade” foi o último trabalho deixado por ele”. (Portal Costa Norte em 03 de novembro de 2015. Matéria assinada por Tiago Mendes.)

            “...O conhecimento de Jaime Lins quando falava sobre o rádio e a música popular brasileira ainda hoje impressionam até mesmo seus contemporâneos. Esse conhecimento que lhe garantiu entre os profissionais ainda vivos uma unanimidade todas as vezes que se fazia necessário falar sobre esta parte da comunicação moderna e quando era constantemente convidado a dar palestras dentro e fora de Parnaíba...”         “...Agora essa caixa-preta com tudo aquilo que tinha dentro sobre a música popular brasileira e a história do rádio no mundo e no Brasil em particular foi embora com ele. Será impossível daqui a muitos anos, quando o mundo estiver cada dia mais próximo pelo incremente de novas tecnologias da comunicação, recuperar tudo aquilo que foi acumulado durante décadas e mais décadas de pesquisas e vivências...” (Jornalista Antonio de Pádua Marques em seu artigo “A Caixa Preta de Jaime Lins” publicado nos blogs da cidade.)

           

            “Jaime Lins é um importante nome do rádio e já atuou em emissoras no Piauí. Juntamente com outras personalidades foi destaque na comunicação nas décadas de 1970 e 1990. Atualmente, apresentava um programa com seu nome sobre a Música Popular Brasileiro (MPB). Jaime Lins sempre evidenciou largo conhecimento quanto a cultura do rádio e da cultura musical brasileira e a história do rádio”. (Daniel Santos para o Proparnaiba.com)

                “Faleceu mais um dos meus grandes amigos. Claro que a tristeza, feito faca, nos corta o coração. Foram anos e anos juntos, lado a lado, na Rádio Educadora fazendo jornalismo. Ficou uma grande amizade e a certeza de que ele era um homem probo, correto, decente, amigo de verdade”.

         “Até mais, meu amigo. Estou chorando porque acho que pessoas feito você eram para estar perto da gente por mais tempo”. (Bernardo Silva no Blog do B Silva)



         “Quando recebemos a notícia da morte de um ente querido, seja este um familiar ou não, nós choramos.  Quando as lágrimas não nos vêm à face choramos em nosso íntimo, internamente, no dizer popular, choramos por dentro, que é mais doloroso ainda.
Assim foi que na manhã desta terça feira, 03 de novembro, recebemos a notícia do falecimento do nosso colega Jaime Lins.”

         ““... Completaria 69 anos de idade neste mês de novembro. Seria no próximo dia 26. Não quis a festa terrena que certamente seus amigos, seus familiares, seus irmãos evangélicos preparariam para lhe homenagear. Preferiu a festa do céu, que lógico, tem muito mais brilho e muito mais valor”.

         “... Através de seus programas radiofônicos Jaime Lins cultuou a saudade, divulgando músicas que fizeram sucesso no passado e que se perpetuaram na mente e nos corações de quem viveu numa época em que a música, na verdadeira acepção da palavrara, era um deleite não apenas para o coração, mas, principalmente para os ouvidos de quem as escutavam. Seu último programa de rádio foi na extinta Rádio Atlântica FM. Tinha o título de “Recordação e Saudade” e ele costumava dizer que “recordar é viver”. Pois bem: o homem que cultuou a saudade e que dizia que “recordar é viver”... (JAIME LINS - O Comunicador da Saudade. Antonio Gallas para os blogs de Parnaíba e Blog do Poeta Elmar em Teresina-PI).

                Muitas outras palavras  foram escritas e ditas para homenagear  o Jaime Lins. O seu irmão, o jornalista e escritor João Tércio Solano Lopes autor do livro “Parnahyba na história da Aviação” estará lançando brevemente em nossa cidade o livro intitulado JAIME LINS - O Comunicador da Saudade – Memórias de um radialista. No livro que terá aproximadamente  400 páginas, o autor destaca o homenageado como um parnaibano que viveu a fase de ouro do rádio, narrando a infância, as origens e a paixão pelo saudosismo, a família, e como ele (Jaime Lins) conseguiu ser admirado e estimado por todos aqueles que o ouviram ou que privaram da sua amizade. Narra também episódios da década de 60, a trajetória a partir dos alto falantes de bairros até o ingresso nas rádios de difusão (broadcasting radios). Este livro, coube-me   a honra de prefacia-lo.

                        Alguém, não lembro quem,  disse-me certa vez que saudade é a vontade de ver e de vivermos de novo. Quem não gostaria de vermos e de ouvirmos outra vez o Jaime Lins à frente de um microfone apresentando no rádio um programa de saudade?

            O Jaime Lins não morreu! Ele continua vivo em nossa memória, em nossos corações, e vai voltar a fazer seus belos programas até porque foi Jesus Cristo quem disse em João Capítulo 11 Verso 25: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. E nós cremos, e ele Jaime Lins também creu!